Tenho um amigo que reclama muito do PT. Sua frase preferida
é: “voce me disse que este partido era legal”. Realmente disse isso, nos anos 1980,
quando este amigo estava entrando no PT. E hoje, mais de 30 anos depois, feitas as
contas de tudo o que passou no Brasil e no mundo, não tenho dúvida nenhuma de
que valeu e segue valendo a pena cada segundo gasto na construção do PT. E meu critério é bem
simples: o esforço que a classe dominante faz para nos destruir confirma a
importância do PT na luta de classes no Brasil.
Respeito quem escolheu outra trajetória. Há espaço e há
necessidade de várias esquerdas, até porque as classes trabalhadoras
brasileiras não são homogêneas. Mas respeitar não significa concordar. Aliás, acho
que discordar é uma das formas de respeitar.
Por isso, não sei bem como responder a reclamação feita por
Valério Arcary, segundo o qual eu teria me excedido e sido injusto ao dizer
que, se ele “continuar nesta linha de argumentação” e se “algum dia ele vier
para o PT”, “não estaríamos do mesmo lado”, pois ele Valério estaria “na ala
direita”.
Ora bolas! Eu passei a maior parte da minha vida "à direita" de Valério. No
PT foram uns 10 anos, quando ele militava na Convergência Socialista e eu na
Articulação. Depois foram uns 20 anos em que ele militava no PSTU, enquanto eu seguia
no PT. Agora, ele está no PSOL e eu continuo no PT. Na maior parte deste tempo,
meu senso comum indica que eu estive “à direita” e ele “à esquerda”.
Sendo assim, não me sinto cometendo excesso nem injustiça ao
constatar que as posições que Valério expressou sobre estratégia (https://valterpomar.blogspot.com/2019/03/a-estrategia-segundo-valerio.html) estão “à direita” das
posições que eu defendo.
Isto não tem nada de “cartográfico”, nem é uma “mania
da esquerda brasileira”. Até onde eu consigo enxergar, todo partido político tende
a ter uma “esquerda” e uma “direita”, ou até várias.
Compreendo que a luta interna travada no PSTU possa ter
deixado marcas na maneira de pensar de Valério, inclusive certa reserva em
utilizar determinados adjetivos. Mas, mesmo que a gente não use os adjetivos,
continuarão existindo programas, estratégias e táticas que estão mais “à
direita” e outros mais “à esquerda”. Pois estes termos designam situações reais,
posições relativas assumidas pelos partidos e organizações frente aos dilemas
postos pela luta de classes.
Claro, há gente que usa isto de forma abusiva, como mero
xingamento e para desqualificar os outros. Mas até onde eu consigo perceber, este não é o meu caso.
Inclusive porque, na
minha opinião, as vezes pode ter razão quem está “à direita”. E pode estar errado quem
está “à esquerda”. É o que penso da posição defendida por Valério, quando ele
estava na Convergência e no PSTU. Ele estava “à esquerda” e estava errado.
Hoje Valério está no PSOL. Fico feliz que ele esteja feliz e
satisfeito com seu atual partido. Mas não posso deixar de registrar que suas
palavras acerca do papel do PSOL na reorganização da esquerda brasileira me
lembram frases semelhantes que ele disse ou escreveu, acerca do papel do
PSTU na reorganização da esquerda brasileira. Assim como não posso deixar de
mencionar que, nesses mais de 20 anos de polêmica, já ouvi inúmeros prognósticos
negativos acerca das decisões que o PT poderia vir a adotar, ou acerca do destino
amargo reservado à tendência petista Articulação de Esquerda. Teria todo o
prazer de polemizar a respeito, mas o problema é que isto seria fugir do tema.
E o tema não tem nada que ver com o partido A ou com a
tendência B. O tema é: qual deve ser a estratégia da esquerda brasileira? Nesse tema,
a posição que eu defendo é realmente muito diferente da posição que Valério
defende. E a posição que Valério defende tem fortes pontos de semelhança com as
posições defendidas por (digamos assim, para não ferir suscetibilidades)
setores moderados do PT, assim como por outros setores da esquerda brasileira.
Por isso é que, onde quer que estejamos, se Valério seguir defendendo estas
posições, eu não estarei ao seu lado quando
o debate for sobre a estratégia.
Minha divergência com Valério se dá em três terrenos, a
saber: a) como usamos a categoria “estratégia” e b) qual deve ser a estratégia
da luta pelo socialismo no Brasil; c) como se articula esta estratégia com a luta
contra o governo Bolsonaro.
Valério acha que podemos estar diante de um “mal entendido
porque viemos de distintas tradições teóricas. Socialismo, se entendido como estratégia,
é um objetivo histórico, portanto, invariável diante de qualquer governo.
Voltamos á estaca zero de elaboração”.
De fato viemos de distintas tradições teóricas. Mas seguramente compartilhamos o respeito à lógica. Assim, vou expor de forma esquemática como entendo o assunto
e tentar apontar onde está a diferença.
O objetivo de longo prazo é uma sociedade
comunista. Entre esta sociedade comunista e o ponto em que estamos, haverá um
longo período histórico de transição. Esta transição é o socialismo. O ponto de
partida da transição socialista é a conquista do poder, por parte da classe
trabalhadora. A estratégia é, enquanto prática, o processo real através do qual
a classe trabalhadora conquista o poder e, enquanto teoria, a definição acerca
de qual é o caminho que nos leva a
conquistar poder. Portanto, eu reservo a categoria estratégia para aquilo que
diz respeito ao caminho para a conquista do poder.
Isto posto, fica mais fácil explicar no que discordo da frase “socialismo, se
entendido como estratégia, é um objetivo histórico, portanto invariável diante
de qualquer governo. Voltamos á estaca zero de elaboração”. Acho que esta frase
tem imprecisões. O socialismo não é uma estratégia, é uma transição histórica
que pretendemos realizar. Quando nos referimos a uma “estratégia socialista”, o
que estamos querendo dizer é: uma estratégia que permita conquistar o poder e
dar início à transição socialista. Neste sentido, a estratégia não se relaciona
com “governos”, mas sim com “poder de Estado”. Portanto, tem razão Valério quando diz que a estratégia é “invariável
diante de qualquer governo”. Mas me espanta que Valério deduza daí que “voltamos
à estaca zero de elaboração”.
Pois na vida real, a maior parte da esquerda brasileira
abriu mão (na prática e muitas vezes na teoria) da luta pelo socialismo. Dai deduzo eu ser muito importante não apenas defender o socialismo, mas também insistir na importância de elaborar e aplicar uma
estratégia que nos permita conquistar o poder para dar início à transição
socialista.
Na minha tradição, isto implica em discutir programa, alianças
estratégicas, vias de tomada do poder, caminhos para acumulação de forças e
articulação disto com as batalhas táticas concretas.
Por isto é que me insurgi contra o emprego do termo
estratégia, para denominar apenas e tão somente a linha política adotada frente ao governo
Bolsonaro. Na minha opinião, mesmo que não seja esta a intenção, esta atitude
nos conduziria a deixar na geladeira a luta pelo poder e a luta pelo socialismo.
Claro, vivemos num país livre, assim nada impede que alguém
fale em “estratégia para derrubar o governo Bolsonaro”. Mas me parece óbvio que
nesse caso estaríamos falando de duas coisas distintas, ainda que articuladas:
uma estratégia para derrubar um governo não é a mesma coisa que uma estratégia
para conquistar o poder.
Claro, ainda, que se pode deixar a vida nos levar. Mas não acredito que a "tática processo" seja uma boa alternativa.
Claro, também, que se pode formular acerca do socialismo, do
poder e da luta contra o governo, sem usar a palavra estratégia. Mas mesmo que
não usemos as palavras, o problema real continuará no lugar: qual a relação que
existe entre nossa luta contra o governo Bolsonaro, nossa luta pelo poder e nossa luta pelo socialismo?
Sobre esta questão real me parece existir uma divergência
também importante entre o que eu penso e o que Valério escreveu.
Valério diz que “na conjuntura atual não estamos em uma
situação revolucionária, ao contrário, ela é reacionária. Não se trata de lutar
pelo poder. Trata-se de lutar para bloquear um governo de extrema-direita com
perigosas inclinações bonapartistas autoritárias”.
Se Valério tivesse dito que não se trata da “luta direta” pelo
poder, eu concordaria. Mas ele não diz isso. Ele diz que “não se trata de lutar
pelo poder”. Mas do que se trata, então? Diz ele: “trata-se de lutar para
bloquear um governo de extrema direita”. Ou seja, nosso objetivo é impedir que
o péssimo vire mais péssimo ainda. Pergunto: e depois o quê? O que faremos, se
tivermos êxito em “bloquear” a transição do péssimo para o mais péssimo??
A maneira como Valério formula o problema nos conduz a uma
espécie de beco sem saída. Notem que esta última formulação é ainda mais cautelosa do
que a feita noutra passagem do texto, segundo a qual o “fim” é “derrotar
Bolsonaro, se possível tentar derrubá-lo”. E não apenas “bloquear” o governo.
Estas
oscilações na formulação correspondem, penso eu, a legítimas dúvidas sobre a
conjuntura, a tática e a correlação de forças. Mas, repito a pergunta, como
enxergamos a passagem desta situação descrita nos parágrafos anteriores para outra situação, de luta pelo poder?
Alguns setores da esquerda pensam esta passagem de maneira
muito simples: a eleição de 2022. Não é o caso de Valério. Mas o problema é que
a maneira como Valério formula o problema não oferece alternativa melhor do que 2022. Pois,
lembremos o que ele disse, “não se trata de lutar pelo poder”. Logo, uma eleição
pareceria uma saída razoável “na conjuntura atual”, em que “não estamos em uma
situação revolucionária”.
Na minha opinião, o raciocínio deveria começar de outro jeito, rejeitando a falsa disjuntiva "situação revolucionária quando se luta pelo poder" versus "situação reacionária quando não se luta pelo poder". E afirmando uma ideia simples: lutamos pelo poder sempre, lutamos diretamente pelo poder sempre que possível.
No concreto: vivemos uma situação em que a classe dominante mudou de estratégia, no que diz
respeito à relação com a classe trabalhadora. A nova estratégia adotada pela
classe dominante visa bloquear as possibilidades da esquerda disputar eleições,
eleger presidentes e governar de maneira transformadora. Também por isso, a classe
trabalhadora necessita de outra estratégia. E é a partir desta outra estratégia
que devemos enfrentar o tema sobre como fazer oposição ao governo Bolsonaro.
Portanto, o objetivo de “derrotar Bolsonaro, se possível
tentar derrubá-lo” precisa estar articulado com outros passos e objetivos. Se nós não
fizermos isto, estaremos pavimentando o caminho para que outros e outras estratégias se
imponham.
Quando Valério diz que “diante do governo Bolsonaro a
estratégia hoje deve ser defensiva, em função da situação reacionária, e tem
como fim a derrota da ofensiva contra os direitos, para travá-la”, ela não está
apontando qual o passo seguinte.
Quando ele diz que, quando possível, devemos “passar
à contra-ofensiva e tentar derrubá-lo”, ele novamente não diz qual o passo
seguinte.
E se a esquerda não definir aonde ela quer chegar, não tenho a menor
dúvida que vamos terminar sendo arrastados para a defesa da recomposição do regime
democrático-liberal.
Aliás, no recente encontro em favor do Lula Livre, o
presidente nacional do PSOL, no meio de um discurso bem interessante, destacou
a palavra de ordem: “salvar a democracia”. Se não qualificarmos o que isso
significa, o que prevalecerá será a defesa da Constituição de 1988.
É exatamente esta a posição defendida por setores moderados do PT: uma frente ampla em defesa da democracia, que se materializa no Estado de Direito tal e qual plasmado pela Constituição de 1988.
O principal problema desta posição é que ela é impraticável, irrealizável, utópica. Um dos muitos "paradoxos" da situação atual é que, tanto para os capitalistas quanto para a classe trabalhadora, é inviável retornar ao "ponto de equilíbrio" da Constituição de 1988.
Os capitalistas têm isso claro e defendem um neoliberalismo selvagem. Infelizmente, parte da esquerda brasileira (e não apenas parte do PT) ainda não percebeu que estamos num daqueles momentos históricos em que, até para se preservar o que se tinha, é preciso arriscar e lutar por "algo mais". Dito de outro jeito, não se sai de uma situação de defensiva estratégia, adotando uma estratégia defensiva.
Abaixo segue o texto comentado
Publiquei um post hoje ao final da tarde que é um rascunho de um artigo em construção. Poucas horas depois Valter Pomar publicou uma resposta disponível ao final destas linhas. O debate presencial e oral é muito comum na esquerda brasileira, mas não temos, infelizmente, muita tradição de debates sérios escritos. Indo ao ponto, Valter critica a definição que apresentei do que deve ser a estratégia da esquerda diante do governo Bolsonaro. Defendi que o fim a ser atingido é derrotar Bolsonaro, se possível tentar derrubá-lo. Valter defende que a estratégia deve ser a luta pelo socialismo. Bom, pode ser que estejamos somente diante de um mal entendido porque viemos de distintas tradições teóricas. Socialismo, se entendido como estratégia, é um objetivo histórico, portanto, invariável diante de qualquer governo. Voltamos á estaca zero de elaboração. Qual deve ser a estratégia específica depois da derrota mais séria que tivemos nos últimos quarenta anos?Estratégia e tática são termos importados pelo marxismo do vocabulário militar. São conceitos relativos. Estratégia são os fins, e as táticas são os meios. Nem mais, nem menos. Mas a luta política se desenvolve no contexto de uma situação concreta, em função da relação social e politica de forças. O tempo tem mensuração política. Na conjuntura atual não estamos em uma situação revolucionária, ao contrário, ela é reacionária. Não se trata de lutar pelo poder. Trata-se de lutar para bloquear um governo de extrema-direita com perigosas inclinações bonapartistas autoritárias.
A estratégia histórica é a luta pelo governo dos trabalhadores, ou seja, a revolução brasileira. Mesmo essa estratégia histórica é, também, relativa, portanto, tática porque a revolução brasileira, para marxistas, deve estar inserida na estratégia da revolução mundial para derrotar a ordem imperialista.
Mas dentro de cada etapa da luta de classes devemos eleger uma estratégia. Diante do governo Bolsonaro a estratégia hoje deve ser defensiva, em função da situação reacionária, e tem como fim a derrota da ofensiva contra os direitos, para travá-la.
E, quando possível, passar à contra-ofensiva e tentar derrubá-lo.
Derrotar significa, em termos táticos de curto prazo, bloquear a reforma da Previdência. E preparar as condições para tentar sair da defensiva, e passar à contraofensiva, como fizemos diante de Temer, para tentar drrubar o governo. Aliás, a possibilidade de derrubar Temer existiu há dois anos. E o Psol não titubeou depois da greve geral de 28 de abril e da marcha nacional a Brasília. Quando o governo Temer tremeu após a denúncia dos irmãos da JBS e as gravações no estacionamento do Palácio do Jaburu, o PSol tentou a via da mobilkização de massas pela antecipação de eleições diretas. Foi a maioria da direção do PT que fez o cálculo de que seria errado lutar pelo impeachment de Temer, porque apostava que Lula poderia não ser condenado, e se condenado não seria preso, e se fosse preso ainda assim poderia ser candidato. E todas estas previsões demonstraram-se erradas. Por excessiva confiança nas instituições do regime, e por subestimação do perigo da candidatura Bolsonaro.
Não satisfeito com este debate se a estratégia é derrotar Bolsonaro ou o socialismo, Valter fez uma leitura enviezada, porque acrescentou de seu próprio punho: “o fim a ser atingido é recompor o regime democrático-liberal”. Opa! Uma coisa é uma coisa e outra coisa é ...
Não escrevi isso. Mas, tudo bem, vamos admitir que foi um ex-abrupto, um excesso polêmico. A defesa dos direitos consagrados na Constituição de 1988 é somente uma tática diante da ofensiva reacionária em toda a linha do governo Bolsonaro. E mesmo esta defesa dos direitos inseridos na Constituição não deve ser confundida com a defesa do regime institucional do semipresidencialismo. Entretanto, se o governo Bolsonaro decidir destruir as liberdades democráticas, uma ameaça anunciada durante a campanha eleitoral, ainda hoje no campo das possibilidades que estão no horizonte, será correto fazer unidade ação com quem estiver disposto a resistir a prisões arbitrárias, ou outras provocações dos neofascistas.
Resumo da ópera. Existem vários tipos de lutas políticas. Podemos classificá-las, simplificando, em lutas “frontais”, lutas “laterais”, e lutas “internas”. As lutas frontais são aquelas que fazemos com os inimigos de classe e seus representantes. As lutas laterais são aquelas que fazemos entre as diferentes organizações de esquerda que combatem pela representação dos trabalhadores e dos oprimidos. As lutas internas são aquelas que acontecem no interior de cada partido, corrente ou movimento.
As lutas frontais são lutas que se expressam como luta de ideias, mas remetem à defesa de diferentes interesses de classe. As lutas “laterais” são lutas de ideias que remetem à defesa de diferentes programas, expressam distintas tradições, e podem responder a diferentes implantações sociais. As lutas internas entre aqueles que defendem o mesmo programa são a expressão das variadas pressões que resultam das vivências de cada um.
Valter Pomar é um dos dirigentes mais talentosos do PT. Inteligente, honesto e sério. E creio não ser injusto dizer que adora uma boa polêmica. Seus escritos são instigantes, às vezes ásperos e, frequentemente, demolidores. Já esgrimimos argumentos tantas vezes que, quem sabe, um dia publicaremos um livro só com elas. A polêmica é um recurso necessário e educativo na luta política: o debate de ideias pode ser feito de forma rigorosa, porém, respeitosa. Entre nós dois tem sido sempre assim.
Mas nessa resposta Valter resolveu brincar comigo, e se excedeu: “A diversão está em que, se Valério continuar nesta linha de argumentação e algum dia ele vier para o PT (quem sabe?), não estaríamos do mesmo lado. Seria ótimo: terminarmos de novo juntos no mesmo Partido, o Partido dos Trabalhadores, com Valério na ala direita”.
Não, não estou ofendido. Ainda tenho senso de humor para rir de mim mesmo. Mas ao escrever estas linhas Valter foi injusto. Há uma mania “cartográfica” na esquerda brasileira. È a redução dos critérios que devem orientar a avaliação do lugar da posição política de cada um em função de uma deformada teoria do espaço. Uma pergunta sincera: quem estava à esquerda, a partir de fevereiro de 2016, quando a burguesia brasileira se unificou para derrubar Dilma Rousseff? Quem lutou contra o impeachment, mesmo quando não apoiava, politicamente, o governo liderado pelo PT, como o Psol e o MTST? Ou quem se recusou a lutar contra o impeachment? Quem fala em todo e qualquer momento que é necessário fazer a revolução, parece estar à esquerda, mas, na verdade, está discursando, impotente, para si mesmo.
Quem está à esquerda ou direita de quem não é uma “régua” marxista. A melhor palavra de ordem não é aquela que está mais à esquerda. Tampouco é aquela que é mais popular. Uma palavra de ordem pode ter grande ressonância popular e, paradoxalmente, cumprir um papel desorganizador e até reacionário. Uma estratégia política não deve ser avaliada em função de uma bússola espacial. Um marxismo aberto deve ser boa ciência e usar como referência a realidade concreta da luta de classes.
Quanto a prognósticos, receio que o futuro de Valter no PT será muito menos feliz que o meu no PSol. Oxalá não aconteça o pior no 7º Congresso do PT, e não avance a posição daqueles que, já nas últimas eleições, queriam apoiar Ciro Gomes, e evitar lançar um candidato próprio. Oxalá o PT se posicione por uma oposição frontal contra Bolsonaro. Não vejo qualquer perspectiva, contudo, de que o PT venha a abraçar a estratégia socialista e revolucionária que Valter defende. Mais provável, portanto, que a Articulação de Esquerda venha a se frustar e, quem sabe, repensar o seu destino.
A dinâmica da lenta, difícil, e até sofrida reorganização da esquerda passa hoje, em primeiro lugar, pelo PSol, onde a Resistência milita, lealmente, para a preservação da Aliança. Valter e os valorosos quadros da AE serão bem vindos, se e quando o desejarem. Nem à nossa esquerda, nem à nossa direita. Ao nosso lado.
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