Segue a transcrição editada do que falei na abertura do segundo debate entre as dez teses inscritas ao Congresso Nacional do PT, em representação da chapa e tese "A esperança é vermelha".
O debate foi realizado dia 4 de maio e transmitido ao vivo pela página do Partido dos Trabalhadores.
"Para compreender a situação nacional, acho positivo voltar um pouco atrás e pegar um fio condutor.
Desde 1989 a vida política do Brasil é polarizada pelo conflito entre o bloco neoliberal e o bloco democrático-popular. O bloco neoliberal ganhou as eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998.
O bloco democrático-popular ganhou as eleições de 2002, 2006 e 2010.
Os neoliberais tinham a expectativa de recuperar a presidência em 2014. Isso não aconteceu e eles se jogaram no golpe, e tiveram sucesso no golpe.
O golpe foi vitorioso por quais motivos?
Primeiro é importante sempre lembrar que o golpe foi feito contra o nosso governo e contra os acertos nossos e contra o potencial de mudança que nós representávamos.
Mas o golpe só foi vitorioso por conta de erros que nós cometemos.
E eu quero aqui lembrar quais foram alguns dos principais erros: Temer como vice-presidente da República; a maioria das indicações feitas por nós ao STF se revelaram golpistas; financiamos a mídia golpista, a Globo, a Veja, os grandes jornais, todos financiados com recursos públicos, enquanto a mídia progressista, a mídia democrática, os blogueiros, sobrevivia em péssimas condições e as rádios comunitárias eram reprimidas.
Outro erro: o discurso, já lembrado aqui, em favor de um país de classe média, que obviamente não era capaz de mobilizar a classe trabalhadora em defesa do governo quando ele foi ameaçado pelo golpismo.
A confiança no grande empresariado, a ilusão, a conciliação de classe com o grande empresariado.
E, entre os erros, eu cito mais um: não ter percebido que havia ocorrido uma mudança no período histórico, ou seja, a classe dominante brasileira não estava mais disposta a respeitar nem os parâmetros sociais previstos na Constituição de 1988, nem respeitar a legalidade, a democracia e o voto, atitudes que não devem surpreender ninguém que conhece a trajetória da classe dominante brasileira.
Apesar disso, muitos setores da esquerda brasileira e do próprio PT não acreditavam que o golpe pudesse ocorrer, porque tinham se acostumado a uma dinâmica – passageira, como a história mostrou – de vitórias eleitorais sendo respeitadas pelo lado de lá.
Como o período mudou e a classe dominante tem consciência disso, o programa deles é ultrarradical: realinhar o Brasil aos Estados Unidos, rebaixar o nível de vida da classe trabalhadora e reduzir as liberdades democráticas.
E o sonho deles é chegar em 2018 e eleger um direitista neoliberal limpinho com legitimidade para continuar conduzindo o Brasil.
Eles implementaram o programa deles com muita velocidade.
Entraram destruindo o pré-sal, entregando terras brasileiras para venda a estrangeiros, terceirização, reforma trabalhista, reforma da previdência...
Com o que é que eles não contavam? Que problemas eles enfrentam?
Primeiro a situação internacional. A situação internacional não é a que eles imaginavam que seria e está criando enormes dificuldades para eles.
Em segundo lugar, eles não contavam com a resistência popular. Resistência popular que se expressou no dia 28 de abril, nessa possante greve geral que já foi citada; e que se revela também nos índices do companheiro Lula nas pesquisas de opinião.
Se o lado de lá não fizer nada, Lula será eleito presidente da república em 2018.
Só que o lado de lá vai fazer absolutamente tudo pra tentar impedir que isso ocorra.
Primeiro, acelerando as contrarreformas. Em segundo lugar, buscando interditar a esquerda política e social, interditar o PT e interditar o companheiro Lula. E, em terceiro lugar, se necessário for, mudando o regime político do Brasil, adotando o parlamentarismo, adiando as eleições -- como já foi lembrando aqui como uma hipótese.
E não se iludam: se a coisa chegar ao ponto que torne isso necessário, os militares vão voltar a ser chamados. A este respeito, leiam a entrevista do comandante do Exército, senhor Villas Boas, na revista Veja.
Já é um absurdo que um ministro do Exército dê entrevistas, num país que tem um Ministério da Defesa. E o que ele diz ali nesta entrevista é a senha para “se necessário for nós estamos aqui no aguardo”.
O que fazer frente a isso? Que a esquerda deve fazer frente a esse cenário?
Do ponto de vista tático há uma grande unidade entre nós: lutar em defesa dos direitos, com destaque para o tema da reforma da previdência; lutar pelo Fora Temer; lutar pelas Diretas Já. E lutar para que Lula seja eleito presidente da república. Sobre isso não há divergência entre nós.
Mas é preciso considerar outro tema, que é a dimensão estratégica daquilo que deve ser feito.
Eu desdobraria essa dimensão estratégica em dois aspectos.
Primeiro, discutir no Partido e na esquerda brasileira o que fazer se o lado de lá levar os seus planos até o final.
O que fazer, por exemplo, se eles interditarem Lula.
Nós vamos fingir que nada aconteceu? Nós vamos lançar outra candidatura? Vamos apoiar outro nome? Vamos participar da eleição como estivéssemos em condições normais? Ou o Partido dos Trabalhadores vai convocar a desobediência civil contra este estado de coisas?
Esse é um debate estratégico que deve ser feito.
Outro debate estratégico que deve ser feito é: na hipótese deles não terem sucesso, na hipótese de Lula ser candidato, vencer as eleições e tomar posse, o nosso governo não pode ser como os que fizemos de 2003 até 2016.
Porque a realidade mudou, porque é impossível fazer aquilo de novo, porque é preciso fazer governos muito mais radicais, muito mais conflitivos, muito mais próximos daquilo que é o programa do Partido.
Isso se traduz no quê, concretamente?
Primeiro, na revogação das medidas adotadas pelo governo golpista.
Em segundo lugar, não fazer apenas políticas públicas, fazer reformas estruturais.
Em terceiro lugar, não se limitar a tentar administrar a partir do Estado que nós temos, portanto convocar uma Assembleia Constituinte.
Se quisermos ter um governo popular no país, é preciso reformar de alto a baixo o Estado brasileiro, não apenas uma reforma política, mas uma reforma dos meios de comunicação, uma reforma do conjunto do aparato de Estado, uma reforma tributária, uma reforma agrária, uma reforma urbana, um conjunto de mudanças que só uma Assembleia Nacional Constituinte tem a capacidade de implementar.
E um governo nosso precisa substituir a governabilidade baseada nas alianças com partidos de centro e de direita, uma governabilidade institucional, por uma governabilidade baseada na organização e na luta popular.
É outro tipo de governabilidade.
E isso supõe não repetir a conciliação de classe, não repetir as ilusões republicanas, não repetir as ilusões no grande capital, que marcaram o nosso período de governo e que continuam marcando hoje a atitude de muitos setores do Partido, haja visto o apoio que setores do Partido deram à proposta de votar em golpistas na Câmara dos Deputados.
Esse mesmo Rodrigo Maia que foi citado agora, havia dentro do PT quem defendesse votar nele, como votaram o Eunício de Oliveira e Cauê Macri na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Ou seja, as ilusões de classe não foram abandonadas.
As ilusões nas alianças com setores de centro e direita continuam existindo.
Tanto para implementar essa tática quanto para implementar a estratégia que nós defendemos, é preciso um PT de novo tipo.
O PT que nós tivemos até hoje não é capaz de implementar essa tática e essa estratégia que a situação exige.
É necessária uma mudança na linha política, uma mudança na estratégia, uma mudança na conduta do Partido.
É essencial que o PT recupere o apoio da classe trabalhadora, uma parte grande da classe trabalhadora se dissociou de nós, está desconfiada de nós, está magoada conosco, com razão!
E nós temos que reconquistar o apoio da classe.
E precisamos de uma nova direção. Porque nas "trocas de provocações" que a gente faz aqui, já foi dito por alguém que me antecedeu e já foi embora, o deputado Paulo Teixeira, que uma parte dos problemas que nós tivemos tem que ver com as finanças do Partido, que não foram conduzidas coletivamente. Foram conduzidas de 1995 até 2017, vinte e dois anos, por dirigentes de uma única tendência partidária. Isso precisa ser dito, porque isso revela uma concepção de Partido, que não é democrática.
Por fim, estou totalmente de acordo com aquilo que o Gilney falou sobre o tema do socialismo. Mas não acho que a gente deva tratar o tema do socialismo como tratam muitos crentes, para dias de domingo. O tema do socialismo se materializa nos programas que nós defendemos. Ele tem que se materializar no enfrentamento ao grande capital, ele tem que se materializar no enfrentamento à lógica do lucro, ele tem que se materializar num programa de transformação da sociedade brasileira que seja democrático, popular e socialista.
É isso que nós defendemos para o congresso do PT."
O debate foi realizado dia 4 de maio e transmitido ao vivo pela página do Partido dos Trabalhadores.
"Para compreender a situação nacional, acho positivo voltar um pouco atrás e pegar um fio condutor.
Desde 1989 a vida política do Brasil é polarizada pelo conflito entre o bloco neoliberal e o bloco democrático-popular. O bloco neoliberal ganhou as eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998.
O bloco democrático-popular ganhou as eleições de 2002, 2006 e 2010.
Os neoliberais tinham a expectativa de recuperar a presidência em 2014. Isso não aconteceu e eles se jogaram no golpe, e tiveram sucesso no golpe.
O golpe foi vitorioso por quais motivos?
Primeiro é importante sempre lembrar que o golpe foi feito contra o nosso governo e contra os acertos nossos e contra o potencial de mudança que nós representávamos.
Mas o golpe só foi vitorioso por conta de erros que nós cometemos.
E eu quero aqui lembrar quais foram alguns dos principais erros: Temer como vice-presidente da República; a maioria das indicações feitas por nós ao STF se revelaram golpistas; financiamos a mídia golpista, a Globo, a Veja, os grandes jornais, todos financiados com recursos públicos, enquanto a mídia progressista, a mídia democrática, os blogueiros, sobrevivia em péssimas condições e as rádios comunitárias eram reprimidas.
Outro erro: o discurso, já lembrado aqui, em favor de um país de classe média, que obviamente não era capaz de mobilizar a classe trabalhadora em defesa do governo quando ele foi ameaçado pelo golpismo.
A confiança no grande empresariado, a ilusão, a conciliação de classe com o grande empresariado.
E, entre os erros, eu cito mais um: não ter percebido que havia ocorrido uma mudança no período histórico, ou seja, a classe dominante brasileira não estava mais disposta a respeitar nem os parâmetros sociais previstos na Constituição de 1988, nem respeitar a legalidade, a democracia e o voto, atitudes que não devem surpreender ninguém que conhece a trajetória da classe dominante brasileira.
Apesar disso, muitos setores da esquerda brasileira e do próprio PT não acreditavam que o golpe pudesse ocorrer, porque tinham se acostumado a uma dinâmica – passageira, como a história mostrou – de vitórias eleitorais sendo respeitadas pelo lado de lá.
Como o período mudou e a classe dominante tem consciência disso, o programa deles é ultrarradical: realinhar o Brasil aos Estados Unidos, rebaixar o nível de vida da classe trabalhadora e reduzir as liberdades democráticas.
E o sonho deles é chegar em 2018 e eleger um direitista neoliberal limpinho com legitimidade para continuar conduzindo o Brasil.
Eles implementaram o programa deles com muita velocidade.
Entraram destruindo o pré-sal, entregando terras brasileiras para venda a estrangeiros, terceirização, reforma trabalhista, reforma da previdência...
Com o que é que eles não contavam? Que problemas eles enfrentam?
Primeiro a situação internacional. A situação internacional não é a que eles imaginavam que seria e está criando enormes dificuldades para eles.
Em segundo lugar, eles não contavam com a resistência popular. Resistência popular que se expressou no dia 28 de abril, nessa possante greve geral que já foi citada; e que se revela também nos índices do companheiro Lula nas pesquisas de opinião.
Se o lado de lá não fizer nada, Lula será eleito presidente da república em 2018.
Só que o lado de lá vai fazer absolutamente tudo pra tentar impedir que isso ocorra.
Primeiro, acelerando as contrarreformas. Em segundo lugar, buscando interditar a esquerda política e social, interditar o PT e interditar o companheiro Lula. E, em terceiro lugar, se necessário for, mudando o regime político do Brasil, adotando o parlamentarismo, adiando as eleições -- como já foi lembrando aqui como uma hipótese.
E não se iludam: se a coisa chegar ao ponto que torne isso necessário, os militares vão voltar a ser chamados. A este respeito, leiam a entrevista do comandante do Exército, senhor Villas Boas, na revista Veja.
Já é um absurdo que um ministro do Exército dê entrevistas, num país que tem um Ministério da Defesa. E o que ele diz ali nesta entrevista é a senha para “se necessário for nós estamos aqui no aguardo”.
O que fazer frente a isso? Que a esquerda deve fazer frente a esse cenário?
Do ponto de vista tático há uma grande unidade entre nós: lutar em defesa dos direitos, com destaque para o tema da reforma da previdência; lutar pelo Fora Temer; lutar pelas Diretas Já. E lutar para que Lula seja eleito presidente da república. Sobre isso não há divergência entre nós.
Mas é preciso considerar outro tema, que é a dimensão estratégica daquilo que deve ser feito.
Eu desdobraria essa dimensão estratégica em dois aspectos.
Primeiro, discutir no Partido e na esquerda brasileira o que fazer se o lado de lá levar os seus planos até o final.
O que fazer, por exemplo, se eles interditarem Lula.
Nós vamos fingir que nada aconteceu? Nós vamos lançar outra candidatura? Vamos apoiar outro nome? Vamos participar da eleição como estivéssemos em condições normais? Ou o Partido dos Trabalhadores vai convocar a desobediência civil contra este estado de coisas?
Esse é um debate estratégico que deve ser feito.
Outro debate estratégico que deve ser feito é: na hipótese deles não terem sucesso, na hipótese de Lula ser candidato, vencer as eleições e tomar posse, o nosso governo não pode ser como os que fizemos de 2003 até 2016.
Porque a realidade mudou, porque é impossível fazer aquilo de novo, porque é preciso fazer governos muito mais radicais, muito mais conflitivos, muito mais próximos daquilo que é o programa do Partido.
Isso se traduz no quê, concretamente?
Primeiro, na revogação das medidas adotadas pelo governo golpista.
Em segundo lugar, não fazer apenas políticas públicas, fazer reformas estruturais.
Em terceiro lugar, não se limitar a tentar administrar a partir do Estado que nós temos, portanto convocar uma Assembleia Constituinte.
Se quisermos ter um governo popular no país, é preciso reformar de alto a baixo o Estado brasileiro, não apenas uma reforma política, mas uma reforma dos meios de comunicação, uma reforma do conjunto do aparato de Estado, uma reforma tributária, uma reforma agrária, uma reforma urbana, um conjunto de mudanças que só uma Assembleia Nacional Constituinte tem a capacidade de implementar.
E um governo nosso precisa substituir a governabilidade baseada nas alianças com partidos de centro e de direita, uma governabilidade institucional, por uma governabilidade baseada na organização e na luta popular.
É outro tipo de governabilidade.
E isso supõe não repetir a conciliação de classe, não repetir as ilusões republicanas, não repetir as ilusões no grande capital, que marcaram o nosso período de governo e que continuam marcando hoje a atitude de muitos setores do Partido, haja visto o apoio que setores do Partido deram à proposta de votar em golpistas na Câmara dos Deputados.
Esse mesmo Rodrigo Maia que foi citado agora, havia dentro do PT quem defendesse votar nele, como votaram o Eunício de Oliveira e Cauê Macri na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Ou seja, as ilusões de classe não foram abandonadas.
As ilusões nas alianças com setores de centro e direita continuam existindo.
Tanto para implementar essa tática quanto para implementar a estratégia que nós defendemos, é preciso um PT de novo tipo.
O PT que nós tivemos até hoje não é capaz de implementar essa tática e essa estratégia que a situação exige.
É necessária uma mudança na linha política, uma mudança na estratégia, uma mudança na conduta do Partido.
É essencial que o PT recupere o apoio da classe trabalhadora, uma parte grande da classe trabalhadora se dissociou de nós, está desconfiada de nós, está magoada conosco, com razão!
E nós temos que reconquistar o apoio da classe.
E precisamos de uma nova direção. Porque nas "trocas de provocações" que a gente faz aqui, já foi dito por alguém que me antecedeu e já foi embora, o deputado Paulo Teixeira, que uma parte dos problemas que nós tivemos tem que ver com as finanças do Partido, que não foram conduzidas coletivamente. Foram conduzidas de 1995 até 2017, vinte e dois anos, por dirigentes de uma única tendência partidária. Isso precisa ser dito, porque isso revela uma concepção de Partido, que não é democrática.
Por fim, estou totalmente de acordo com aquilo que o Gilney falou sobre o tema do socialismo. Mas não acho que a gente deva tratar o tema do socialismo como tratam muitos crentes, para dias de domingo. O tema do socialismo se materializa nos programas que nós defendemos. Ele tem que se materializar no enfrentamento ao grande capital, ele tem que se materializar no enfrentamento à lógica do lucro, ele tem que se materializar num programa de transformação da sociedade brasileira que seja democrático, popular e socialista.
É isso que nós defendemos para o congresso do PT."
O desvio do PT
ResponderExcluirMarcelo Mário de Melo
marcelomariodemelo@gmail.com
Nada a dizer sobre os partidos de direita e centro-esquerda que sempre foram exclusivamente eleitorais e mantêm o seu perfil. Mas o PT é um caso a se considerar, pois surgiu com uma forte influência dos movimentos sociais e criticando o modo de agir dos demais partidos. Propôs a participação das bases, com a incorporação de milhares e milhares de cidadãos e cidadãs ao processo político. No seu Manifesto Programa, de 1980, está escrito que a atuação nos meios institucionais não eliminaria a participação nos movimentos sociais e sua mobilização. A inflexão nessas duas vertentes se apresentava como o elemento diferencial e inovador, a cara do PT.
Com o tempo, o PT também resvalou para o exclusivismo eleitoral e as articulações de cúpula, relegando ao segundo plano, ou mesmo extirpando da sua dinâmica, o processo de organização e mobilização “nos locais de moradia, nos locais de trabalho e nos movimentos sociais”, conforme se ouvia nas rodas militantes nos anos 80 do século passado. Essa mudança de foco trouxe profundas repercussões na vida partidária, pois a feição organizativa de qualquer instituição é moldada pela sua prática cotidiana. Segundo o dito popular, “o hábito do cachimbo faz a boca torta”. E o PT entortou, sob os efeitos desse desvio político.
O DESVIO DO PT - CONTINUAÇÃO
ResponderExcluirHouve um tempo em que os órgãos de direção partidários e as assembléias eram as instâncias em que se discutiam as articulações políticas maiores, as estratégias eleitorais, as candidaturas etc. Era comum militantes fazerem referência a “o partido”. Com os primeiros parlamentares eleitos, uma nova instância de influência e poder surgiu e foi crescendo. E se passou a ouvir militantes se referirem a “o mandato”, com um evidente encolhimento da sua visão e da sua fidelidade política. Os gabinetes parlamentares passaram a agir com autonomia e a adquirir mais peso do que as direções partidárias.
A chegada aos cargos executivos, com o seu maior poder de influência, caneta e caixa, desencadeou um processo avassalador de invasão de atribuições e sujeição das direções partidárias. Elas passaram a funcionar como correias de transmissão dos interesses de governo, e não como direções políticas, responsáveis pelo controle do desempenho dos seus militantes nas diversas frentes de atuação, incluindo-se aí os seus representantes no parlamento e no executivo. Como decorrência, escapou-lhes das mãos a coordenação dos processos sucessórios. No mais tradicional estilo do caciquismo, um prefeito, governador ou presidente, passou a se achar com o direito de indicar o seu sucessor e a coordenar a campanha eleitoral, como se a candidatura pertencesse a ele, e não ao partido e a um conjunto de forças partidárias e não partidárias.
A reboque dos executivos, as instâncias dirigentes passaram a ter como foco principal de atuação as eleições bienais da república e, nos intervalos, as eleições internas, cujos resultados determinam o controle dos diretórios, a indicação de candidaturas e o acesso a recursos financeiros, na sua maior parte utilizados em campanhas eleitorais e quase nada destinados ao fortalecimento da estrutura partidária e à qualificação da militância. Vejam-se a precariedade dos diretórios – e a inexistência dos diretórios zonais - , sem funcionamento regular, sem estrutura de comunicação, sem preparação de atas ou, ao menos, de súmulas das reuniões.
Dentro desse padrão, com as direções partidárias destituídas das suas funções políticas maiores e restritas às mobilizações eleitorais, convenhamos que as coisas têm andado razoavelmente, com o reforço do serviço de marketing e da “militância” paga. Mas o fato de a atuação dos militantes junto aos movimentos popular e sindical, suas lutas e mobilizações, não integrarem mais as pautas das reuniões, retira um elemento diferencial importante e nivela por baixo o PT, sob o denominador comum do eleitoralismo. Essa auto-satisfação com os jogos da política convencional
enfraquece a formação de uma pressão democrático-popular independente e garantidora do alargamento e da velocidade dos processos políticos transformadores. E eleva o poder de barganha das forças mais atrasadas que integram alianças políticas e ocupam espaços governamentais.
(Publicado no Jornal do Commércio, Recife, alguns anos atrás)
ALERTA CONTRA UM PODEROSO VÍRUS POLÍTICO:
ResponderExcluirO CE6M3R – Centro Esquerda Moderada com Medo dos Militares da Mídia dos
Movimentos de Massa dos Ruralistas e Religiosos Retrógrados
Como todo vírus oportunista, ele costuma atacar onde as defesas se encontram mais frágeis.
Pode se infiltrar completamente num organismo vivo, numa carga cerrada de todos os M. Atua em grupos aleatórios de M. Ataca com um ou outro M isoladamente.
A ação desse vírus tem efeito restritivo e inibitório. Estimula a redução do raio de ação de quem contamina, induzindo à fuga das programações ao vivo e à concentração nos circuitos fechados.
Sua disseminação é favorecida nas sombras, na obscuridade, nas conformações líquido-pastosas, nos recintos em que não entre a luz do sol e nos terrenos pantanosos.
Os pacientes contaminados apresentam como efeito mórbido característico, no seu comportamento, a ousadia na moderação, favorecendo um quadro patológico em que predomina a ousadia na moderação.
Alguns efeitos já comprovados do CE6M3R:
- Sacralização da anistia “recíproca"de 1979
- Cristalização dos super-poderes dos comandos militares das velhas doutrinas da Escola Superior de Guerra.
- Colocação de uma pedra em cima da questão agrária.
- Privilegiamento da agroindústria diante da agricultura familiar, em matéria de orçamento e financiamentos pelo BNDS
- Legitimação de terras griladas.
- Código florestal beneficiando os ruralistas.
- Perpetuação do modelo de recolhimento do imposto de renda.
- Rendição ante o Rei Mídia.
- Redução dos partidos políticos à condição de agências eleitorais, fundadas nos financiamentos de campanha pelos Caixa 1 e Caixa 2, no marketing político e na mão-de-obra terceirizada substituindo a militância.
- Estratificação da Esquerda Bienal, variante de agência eleitoral, que tem, como centro de atuação as eleições bienais da República Cortesã
Solicita-se aos interessados em enfrentar este vírus:
- Que novos efeitos da sua atuação sejam acrescidos à lista
- Que sejam sugeridas medidas profiláticas para evitar o seu contágio, considerando que ainda não se dispõe de vacina e que os atualmente contaminados são transmissores ativos e irrecuperáveis.
NOVAS MODALIDADES DO VÍRUS CE-6M-3R
[Centro Esquerda Moderada com Medo dos Militares da Mídia dos
Movimentos de Massa dos Ruralistas e Religiosos Retrógrados]
- Comunista 5 estrelas;
- Social-democrata de cobertura;
- Democrata de condomínio fechado,
- Liberal de sala VIP;
- Anarquista de salão;
- Agitador de corredor,
- Ativista de sala de espera;
- Guerrilheiro de facebook;
- Sindicalista de cadeira cativa;
- Cacique jovem guarda;
- Pré-candidato a cacique
- Liderança de outdor;
- Militância terceirizada
-Organização Neo-Governamental &
- Transparência com vidro fumê.
VIVA A REPÚBLICA IMPERIAL E CORTESÂ!
& SIGLAM EM FRENTE!
AS ETAPAS DA DECADÊNCIA PETISTA
ResponderExcluirPrimeiro, rejeitaram a revolução socialista, pois era coisa de utópico.
Depois, decidiram criar um partido político, pois a luta só pode acontecer dentro dos marcos da democracia burguesa.
Mais pra frente, concordaram em aceitar dinheiro do capital, pois não fazê-lo seria sectarismo e coisa de gente ultrapassada.
Em algum momento concluíram que era preciso fazer alianças com os partidos da ordem burguesa, pois só assim seria possível chegar ao tão almejado poder.
Em seguida, resolveram que fazer reformas no capitalismo era papo de doido, coisa de gente romântica. O lance era fazer o país crescer e não deixar o povo morrer de fome.
Mais um tempo se passou e avaliaram que era suficiente o trabalhador poder comprar uma geladeira e um carro. Pois, afinal, o carro é o símbolo máximo de emancipação do ser humano moderno.
"Agora não são mais nada"
Em certo momento, no meio disso tudo, decidiram mandar a ética às favas, pois "o mundo é assim mesmo, o que podemos fazer?".
Noutro momento mais adiantado, resolveram que a verdade também era coisa de gente alucinada, o importante era apenas o projeto.
Por fim, abandonaram o projeto, era muita metafísica para eles. Muito romantismo.
Hoje, grande parte deles está na prisão e os que estão fora apenas contam os dias para também chegarem lá.
Mas, é bom lembrar, tudo começou lá atrás, quando rejeitaram a luta anticapitalista e acreditaram piamente que conseguiriam domar o indomável. Foram tragados, digeridos e cuspidos. Agora não são mais nada.