Última chance?
Em editorial publicado na primeira página, o jornal Folha de S.Paulo fez neste domingo 13 de setembro uma chantagem explicita contra a presidenta Dilma Rousseff.
Segundo a Folha, a presidenta Dilma deve tomar "medidas extremas", a saber: "cortes nos gastos terão de ser feitos com radicalidade sem precedentes", concentrando-se em "benefícios perdulários da Previdência", " subsídios a setores específicos da economia" e "desembolsos para parte dos programas sociais", "desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação" e contenção nos "salários para o funcionalismo".
A Folha considera que --se Dilma tomar tais medidas extremas-- o governo então terá crédito para demandar "alguma elevação da já obscena carga tributária, um fardo a ser repartido do modo mais justo possível entre as diversas camadas da população".
A Folha reconhece que "serão imensas (...) as resistências da sociedade a iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo".
A Folha mente.
O país e a presidenta tem outra escolha.
Esta outra escolha é simples: cumprir o programa vencedor nas eleições de 2014.
Resumidamente: reduzir a taxa de juros, alongar o pagamento da dívida pública, impor controle de câmbio, lançar mão das reservas internacionais, tributar as grandes fortunas e compreender que o caminho para superar a crise passa pelo crescimento e o crescimento exige ampliar --e não cortar-- os investimentos públicos e sociais.
Além de mentiroso, o editorial da Folha omite as consequências da escolha que defende.
O que a Folha defende é que a presidenta Dilma rasgue a Constituição de 1988 e promova um auto-golpe, no qual ela derruba a si mesma, em favor do programa derrotado nas eleições de 2014.
Este caminho levaria a uma ruptura entre a presidenta, seu Partido, sua real base de apoio e seu eleitorado. E a transformaria numa marionete do sistema financeiro, marionete que será descartada tão logo julguem necessário.
Numa palavra: o editorial da Folha é, mais que chantagista, golpista. O título é muito claro: "última chance". Ou seja: caso Dilma não aceite destruir os direitos sociais, eles destruirão Dilma.
Mais uma vez fica evidente que, para defender a democracia, o governo precisa mudar a política econômica.
Cabe ao PT dizer à presidenta que conte conosco, caso decida responder ao ultimato implementando o programa e exercendo o mandato que as urnas lhe concederam em outubro de 2014.
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Última chance – Editorial – Folha de S.Paulo
Às voltas com uma gravíssima crise político-econômica, que ajudou a criar e a que tem respondido de forma errática e descoordenada; vivendo a corrosão vertiginosa de seu apoio popular e parlamentar, a que se soma o desmantelamento ético do PT e dos partidos que lhe prestaram apoio, a administração Dilma Rousseff está por um fio.
A presidente abusou do direito de errar. Em menos de dez meses de segundo mandato, perdeu a credibilidade e esgotou as reservas de paciência que a sociedade lhe tinha a conferir. Precisa, agora, demonstrar que ainda tem capacidade política de apresentar rumos para o país no tempo que lhe resta de governo.
Trata-se de reconhecer as alarmantes dimensões da atual crise e, sem hesitação, responder às emergências produzidas acima de tudo pela irresponsabilidade generalizada que se verificou nos últimos anos.
Medidas extremas precisam ser tomadas. Impõe-se que a presidente as leve quanto antes ao Congresso -e a este, que abandone a provocação e a chantagem em prol da estabilidade econômica e social.
Também dos parlamentares depende o fim desta aflição; deputados e senadores não podem se eximir de suas responsabilidades, muito menos imaginar que serão preservados caso o país sucumba.
É imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação econômica. Cortes nos gastos terão de ser feitos com radicalidade sem precedentes, sob pena de que se tornem realidade pesadelos ainda piores, como o fantasma da inflação descontrolada.
A contenção de despesas deve se concentrar em benefícios perdulários da Previdência, cujas regras estão em descompasso não só com a conjuntura mas também com a evolução demográfica nacional. Deve mirar ainda subsídios a setores específicos da economia e desembolsos para parte dos programas sociais.
As circunstâncias dramáticas também demandam uma desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa revisão desses dispêndios no futuro.
Além de adotar iniciativas de fácil legibilidade, como a simbólica redução de ministérios e dos cargos comissionados, devem-se providenciar mecanismos legais que resultem em efetivo controle das despesas -incluindo salários para o funcionalismo-, condicionando sua expansão ao crescimento do PIB.
Embora drásticas, tais medidas serão insuficientes para tapar o rombo orçamentário cavado pela inépcia presidencial. Uma vez implementadas, porém, darão ao governo crédito para demandar outro sacrífico -a saber, alguma elevação da já obscena carga tributária, um fardo a ser repartido do modo mais justo possível entre as diversas camadas da população.
Não há, infelizmente, como fugir de um aumento de impostos, recorrendo-se a novas alíquotas sobre a renda dos mais privilegiados e à ampliação emergencial de taxas sobre combustíveis, por exemplo.
Serão imensas, escusado dizer, as resistências da sociedade a iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo.
Dilma girará à direita. Ela é somente uma "fralda" de Lula, que usada será descartada. Lula voltará para completar o ajuste.
ResponderExcluirO artigo está bom, mas pergunto porque o controle do câmbio? Isso já foi tentado inúmeras vezes, inclusive no primeito mandato do FHC, sem sucesso. Precisamos de uma política flexível que garanta que o Real não esteja supervalorizado, para resgatar um elemento importante da política de recuperação do setor industrial
ResponderExcluire de substituição de importações.
Adotar o controle do câmbio, e da remessa de lucros ao exterior! Derrubar os juros, repatriar o ouro que estão nos cofres do FMI, como fez Chávez na Venezuela
ResponderExcluirAdotar o controle do câmbio, e da remessa de lucros ao exterior! Derrubar os juros, repatriar o ouro que estão nos cofres do FMI, como fez Chávez na Venezuela
ResponderExcluirPois ela não vai fazer nem uma coisa, nem outra. Nem o corte drástico e inconstitucional de gastos com Saúde, Educação e Previdência que a Folha defende e nem cumprir o programa vencedor nas eleições de 2014. Os resultados desse governo mezzo esquerda/mezzo direita, com Nelson Barbosa no Planejamento e Joaquim Levy na Fazenda, falta de apoio político e popularidade no fundo do poço nós já estamos vendo e, se não houver impeachment, veremos por mais três anos de crise e confrontos internos e externos permanentes.
ResponderExcluirTovaritsch Valter:
ResponderExcluirRidícula a FSP, essa estirpe é assim. Acham que o Brasil é deles. Mas,....
"instalar-se no leme e olhar para nada ver, até que as circunstâncias nos atire pelos olhos qualquer calamidade não é dirigir. Para dirigir é necessário prever." (J. Stálin)
Não quero fazer um tratado, em bora mereça, mas cansa, pois está tudo aí!..
Vamos lá:
Após o grande esforço da militância, movimentos sociais, sindicais, Partidos de Esquerdas em geral, artistas e intelectuais progressistas para reeleger a companheira Dilma, nos dias seguintes, não sei se pelos sucessivos golpes aplicados contra o PT pelos condutores da "famigerada" Operação Lava-Jato; que provavelmente, penso, afetou e aturdiu a liderança petista, o certo é que deu um bug na condução do processo.
De modo que é incompreensível e/ou angustiante, que Dilma e o Partido não tenham constituído um Comitê - Estado Maior - para avaliar a situação, fazer um diagnóstico de posição, analisar pontos fortes e fracos do ambiente interno, ameaças e oportunidades do ambiente externo, estabelecer um posicionamento estratégico e um Plano de Ação para a transição com vistas ao segundo mandato.
Assim, o processo ficou ao sabor dos acontecimentos, com as lideranças tontas, e, ao que tudo indica, por conta da cabeça, tão somente, de Dilma.
O PT aturdido, Dilma pressionada pelo PIG e pela Oposição de Direita derrotada - mas vencedora no Congresso - sem retaguarda, resolveu agir por conta própria.
Aí, sem considerar de maneira correta os fatos da situação econômica, saca da cartola o tal Ajuste Fiscal, nomeando o sr. Levy, a pedido do mercado, para comandar a Fazenda Pública, depois de ter "defenestrado" o companheiro G. Mantega, que saiu pelas portas dos fundos, depois de relevantes serviços prestados ao País, tanto no governo Lula quanto no dela, a ponto de o mesmo ser achincalhado publicamente.
Traz a crise econômica para o Brasil, que não existia até 13 de dezembro de 2014!...
Nos leva para uma guerra sem ter nos preparado para ela, e, o que é pior, sem perguntar se gostaríamos de entrar nela!...
Agora, o que vemos um erro querendo concertar o outro!....
Está sobejamente demonstrado que não houve elevação de despesas pelo governo Federal, seja pelos investimentos, seja pelos programas sociais.
Houve sim redução de Receita. Explicada pela queda no preço das chamadas commodities, de cujo Brasil e fortemente dependente. Para se ter uma ideia, o preço do ferro que no inicio de 2014 girava em torno de 120 dólares USA por tonelada hoje está sendo comercializado por US 52, o mesmo pode se dizer do petróleo e outros...
Assim, qual a solução?.....Aumentar receita, claro! Como? TAXANDO OS MAIS RICOS, A GRANDES FORTUNAS. TRAZENDO A CPMF DE VOLTA, POIS ESTA TAXA A ECONOMIA INFORMAL E TODOS OS SONEGADORES!...
Esta seria a opção inicial correta de Dilma, que explicando bem ao povo brasileiro, ganharia o seu apoio, pois não acarretaria desemprego, redução da atividade econômica e ameaça aos programas sociais, que precisam avançar.
Como brilhantemente demonstra T. Piketty no seu, O Capital no Século XXI, só o fortalecimento do Estado Fiscal pode regular o inerente crescimento da desigualdade própria do capitalismo.
Fico imaginando o quanto ela cresceu no Brasil nos últimos 12 anos, mesmo com todos os Programas Sociais dos governos do PT.
A conta é simples, conforme demonstra Piketty, o Capital se valoriza muito mais que a economia Nacional de qualquer País. Enquanto o PIB de uma Nação cresce entre 1,5 a 2% ao ano, o Capital se valoriza entre 7 a 10%, ou seja, o milionário de 2005 ficou bilionário em 2006, trilionário 2007, quadrilionário em 2008, etc....
Assim, qual as medidas?....Tributar as grandes fortunas com imposto progressivo, o capital inútil, trazer a CPMF de volta, combater a informalidade, a sonegação, a corrupção e auditar a dívida interna.
Essas são as medidas. O resto é desconhecimento!...
AVANTE PARA O CONCERTO DO CAPITALISMO NO BRASIL!...