A versão
original deste texto foi debatida pela direção nacional da AE nos dias 15 e 16
de agosto de 2015. Alguns capítulos do texto foram difundidos publicamente, mas
o conjunto ficou pendente para divulgação posterior às manifestações de 20 de
agosto e da Conferência Nacional Popular de 5 de setembro. No dia 14 de
setembro, o secretariado nacional da AE debateu novamente o texto e fez várias
atualizações, inclusive na parte inicial, que serviu de base para um projeto de
resolução apresentado – não apenas pela tendência petista Articulação de
Esquerda, mas também pelas tendências Avante, Mensagem ao Partido, Militância
Socialista -- na reunião da comissão executiva nacional do PT realizada dia 17
de setembro. Finalmente, o texto serviu de base para propostas elaboradas para
apresentação nas reuniões do Conselho da Fundação Perseu Abramo, dia 18 de
setembro, na reunião do “conselho consultivo da presidência do PT”, dia 21 de
setembro.
Um momento
decisivo
Sob
o título “O caminho do PT é a defesa da democracia e do programa eleito em 2014”,
Articulação de Esquerda, Avante, Mensagem ao Partido, Militância Socialista apresentamos no dia 17
de setembro de 2015, à reunião da comissão executiva nacional do PT, o texto a
seguir.
Vivemos um momento decisivo na história do Brasil que exige uma firme posição do Partido dos Trabalhadores em
defesa da democracia, do mandato popular da presidenta Dilma e por uma nova política econômica.
A presidenta Dilma foi eleita pelo povo brasileiro para
cumprir um programa a favor do desenvolvimento, da democracia, da soberania
nacional, da distribuição de renda e das reformas estruturais populares.
A
opção do governo por um ajuste recessivo é contraditória com este programa que o povo escolheu em outubro de 2014, cuja
implementação
é o melhor caminho para defender as liberdades democráticas e enfrentar o golpismo. Para defender a democracia é preciso outra política econômica.
Como vimos na investida da oposição de direita no
Congresso Nacional pelo impeachment no dia 15 de setembro, na chantagem dos
meios de comunicação e do grande capital, há na direita os que defendem
publicamente soluções golpistas, falam em volta dos militares e atentam contra
sedes e dirigentes da esquerda. As
tentativas de golpe parlamentar ou judicial em marcha exigem a mobilização do PT e das forças democráticas. Essa
ofensiva golpista terá o repúdio da democracia brasileira.
Há
também os que diuturnamente
investem, através de mobilizações de rua e do inconstitucional oligopólio da mídia vitaminado por verbas públicas, na desmoralização
das esquerdas e do governo junto a amplas camadas do povo.
Há, finalmente, os que utilizam sua presença nos diferentes níveis do aparato de Estado (judiciário, ministério público, polícias, legislativo e executivo) para sabotar ou até mesmo tentar impedir nosso governo, desmoralizar e inviabilizar política e legalmente a esquerda.
O Partido dos Trabalhadores cerra fileiras em defesa do
mandato da presidenta Dilma Rousseff e do programa eleito em outubro de 2014.
Ao mesmo tempo, proclama com clareza: basta de golpismo, basta de concessões
neoliberais!
Para defender nosso governo das variadas formas de
golpismo, para proteger as liberdades democráticas, para preservar a
esquerda e os movimentos sociais, uma condição incontornável é reatar os compromissos com os setores democrático-populares que foram fundamentais para eleger Dilma presidenta no
segundo turno das eleições presidenciais.
E para reatar estes compromissos, é necessário mudar a política econômica, deter e reverter a
recessão, gerar empregos e recompor salários.
Nesse sentido, o Partido dos Trabalhadores considera que
o conjunto de medidas anunciadas no último dia 14 de setembro, inclusive o propósito de enfrentar o déficit e cumprir o superávit primário, não constitui uma resposta adequada aos reais problemas nacionais.
Essas medidas afetam a remuneração dos servidores, os
concursos públicos, o PAC, o Minha Casa Minha Vida, o PRONATEC, as obras de infraestrutura, o orçamento da saúde, as garantias dos preços agrícolas
e a Previdência.
Ao mesmo tempo, somos a favor da ampliação de novas
receitas para o Sistema Único de Saúde e não compactuamos com a
falsa avaliação de uma “crise da Previdência”.
A previdência pública tem como se manter e expandir com a retomada do crescimento e da geração
de empregos formais. Além disso, o PT sempre foi a favor de um sistema tributário mais justo, de modo que os detentores de grandes riquezas e rendas
contribuam proporcionalmente mais.
A
política econômica que o PT defende é a do crescimento econômico, com distribuição de renda e de riqueza. Crescimento exige ampliar - e
não cortar - os investimentos públicos e sociais. Mesmo o
aumento de impostos e a busca por novas receitas devem estar associados a este
objetivo maior: retomar o crescimento com distribuição de renda e riqueza.
Do ponto de vista emergencial, isto supõe
reduzir a taxa de juros, alongar o pagamento da dívida pública, controlar o câmbio, tributar as grandes fortunas e heranças, dividendos, remessas de lucros e combater a sonegação.
No médio prazo, inclui a realização das reformas estruturais defendidas pela Frente Brasil Popular: reforma
do Estado, reforma política, reforma do poder judiciário, reforma na segurança pública com desmilitarização das Polícias Militares,
democratização dos meios de comunicação e da cultura, reforma
urbana, reforma agrária, consolidação e universalização do Sistema Único de Saúde, reforma educacional e
reforma tributária.
A agenda de que o país necessita é composta ainda de medidas como a Constituinte exclusiva e soberana do sistema
político, o enfrentamento aos oligopólios
financeiro e empresariais que controlam a economia nacional, o controle público sobre o Pré-Sal e seus recursos para educação e saúde contra as tentativas atuais de destruir a Lei da Partilha e a política de conteúdo nacional e combater a corrupção e suas raízes de maneira não-seletiva, incluindo o veto presidencial ao financiamento
empresarial das campanhas eleitorais. De igual modo, conclamamos a finalização do
julgamento da ação de inconstitucionalidade no STF sobre o tema, bem como
repudiamos a manifestação abusiva e antidemocrática do ministro Gilmar Mendes,
revelando sua incompatibilidade com o cargo que exerce.
Como sempre, os setores populares não podem ter nenhuma
ilusão na postura da classe dominante, de seus políticos e de seus meios de comunicação.
Apesar das divergências também presentes entre eles, as
diferentes frações da classe dominante, seus órgãos de comunicação e
seus representantes políticos compartilham três objetivos estratégicos: a) realinhar
plenamente o Brasil com os interesses do imperialismo, b) reduzir os direitos
econômicos, sociais e políticos da classe trabalhadora, c) encerrar o ciclo de governos da esquerda.
Por isto, mais do que nunca, as classes trabalhadoras, os
setores populares e democráticos devem confiar em suas
próprias forças. Motivo pelo qual saudamos a criação da Frente Brasil Popular e
conclamamos a militância petista a participar ativamente de sua organização em todo o país e da mobilização nacional por ela organizada no dia 3 de outubro em
defesa da democracia, de uma nova política econômica e dos direitos do povo brasileiro sobre o petróleo.
O Partido dos Trabalhadores defende, pública e claramente, outro caminho para enfrentar a crise. Por isto,
convocaremos nos próximos dias uma reunião do Diretório Nacional do PT que
reposicione nosso partido contra a ofensiva conservadora e trace uma estratégia de defesa e reorientação do partido, inclusive com a realização de plenárias municipais e estaduais
de mobilização e o debate sobre a realização de um Encontro nacional extraordinário.
A
presidenta Dilma contará com o forte apoio da nossa
direção e militância no cumprimento do mandato e do programa que as urnas lhe concederam em
outubro de 2014, bem como na defesa da democracia e de uma nova política econômica.
Cortes confirmam: “ajuste” não serve ao país nem aos setores populares
No dia 14 de setembro, o governo federal anunciou um conjunto de
medidas, supostamente com o propósito de enfrentar o déficit e cumprir o
superávit primário.
Segundo o noticiário, as medidas afetam a remuneração dos servidores, os
concursos públicos, o PAC, o Minha Casa Minha Vida, obras de infraestrutura, o
orçamento da saúde, as garantias dos preços agrícolas, as desonerações e
estímulos fiscais, a Previdência e o Sistema S/Sebrae. Anunciaram-se também
algumas medidas tributárias.
Esta nova rodada de cortes confirma que a política de ajuste recessivo
provocou mais desajuste fiscal, além de recessão e desemprego.
Fica evidente, ademais, que o "ajuste" não será de curta
duração. E que a presidenta Dilma segue sequestrada pela concepção que
supõe inevitável este tipo de ajuste, contra todas as evidências do desastre
que isto implica.
Sendo esta a situação, o Partido dos Trabalhadores precisa dizer para a
presidenta Dilma que tais medidas não constituem uma resposta adequada aos
reais problemas nacionais.
Pelo contrário.
O Brasil precisa de crescimento econômico, com distribuição de renda e
de riqueza. Crescimento exige ampliar --e não cortar-- os investimentos
públicos e sociais.
Mesmo as alterações tributárias anunciadas só ganham sentido se tiverem
como objetivo retomar o crescimento com distribuição de renda e riqueza.
Do contrário, as novas receitas apenas reforçarão o caixa do capital
financeiro.
O Partido dos Trabalhadores precisa dizer para a presidenta Dilma que
outro ajuste é possível.
Por exemplo, reduzindo a taxa de juros, alongando o pagamento da dívida
pública, estabelecendo controle de câmbio, lançando mão das reservas
internacionais, tributando fortemente as grandes fortunas, cumprindo o
orçamento, retomando o papel da Petrobrás e do Minha Casa Minha Vida.
O PT não pode calar diante de um fato evidente: a política de ajuste
recessivo vai na contramão do programa vitorioso nas eleições presidenciais de
outubro de 2014.
Falando claramente: a política de ajuste recessivo é um golpe contra a
expressão majoritária do voto popular. Golpe que agride e desorienta nossas
bases sociais e alimenta o golpismo da direita.
Precisamos implementar o programa que o povo escolheu em outubro de
2014. Este é o caminho, também, para defender as liberdades democráticas e
garantir o mandato da presidenta Dilma.
Para defender a democracia é preciso outra política econômica.
Caso a direção nacional do PT não esteja convencida ou não esteja
disposta a dizer isto para a presidenta Dilma, deveria então convocar um
Encontro nacional extraordinário, para que as bases partidárias possam dizer se
estão de acordo em manter a atual relação entre o Partido dos Trabalhadores e o
governo Dilma.
Relação na qual -- atualmente-- o PT é o único partido que não disputa
os rumos do governo que elegeu.
O Partido precisa alterar a relação que mantém com o governo Dilma. O PT
precisa disputar os rumos do governo Dilma. Precisamos dizer --pública e
claramente-- que o Partido dos Trabalhadores defende outro rumo.
Não aceitamos rasgar a Constituição de 1988, atropelar as conquistas
desde 2003 e promover auto-golpe, em favor do programa derrotado nas eleições
de 2014.
Prosseguir neste caminho levará a uma ruptura de fato entre a
presidenta, seu Partido, sua base de apoio e seu eleitorado. A direita deseja esta
ruptura, não para preservar a presidenta Dilma, mas sim para desfazer-se dela
mais facilmente, tão logo julguem necessário.
Cabe ao PT reafirmar à presidenta que ela conta conosco para implementar
o programa e exercer o mandato que as urnas lhe concederam em outubro de 2014.
Assim como conta conosco contra qualquer tentativa de interromper seu
mandato.
Mas também conta com nossa opinião. E nossa opinião sincera é que o
atual caminho não passa de uma capitulação em câmera lenta.
Este não é o caminho para ganhar o apoio da maioria do povo em defesa
das liberdades democráticas. Esta não é a política capaz de derrotar as diversas
direitas, inclusive as que se expressam através das "agendas" de
Cunha e de Renan.
Faz parte da "agenda Cunha" a terceirização, a redução da
maioridade penal, a constitucionalização do financiamento privado empresarial,
a redução da idade mínima para o trabalho, a aprovação de um projeto de Lei
supostamente anti-terrorismo que possibilita a criminalização das manifestações
populares e dos movimentos sociais. Medidas que, em alguns lamentáveis casos,
contaram com a passividade ou até mesmo a iniciativa e apoio de setores do
governo e das bancadas parlamentares de esquerda.
A estes que claudicaram, lembramos por exemplo da chacina ocorrida em 13
de agosto, na Grande São Paulo, uma das muitas expressões do terrorismo de
Estado e que recebe estimulo da pauta conservadora defendida por Cunha.
Quanto a "Agenda Renan", dela faz parte um amontoado de
propostas neoliberais que sugerem ou apontam para a retirada ou restrição de
direitos sociais, direitos das classes trabalhadoras, previdenciários,
indígenas e ambientais. Se fosse levada a termo, a "agenda Renan"
equivaleria a rasgar tudo o que de progressista existe na Constituição de 1988.
Equivaleria também a destruir o regime de partilha do pré-sal e destruir a CLT.
A agenda
inclui propostas de revisão de marcos jurídicos de licenciamentos ambientais e
de áreas indígenas para incentivar "atividades produtivas”.
Reúne
ainda propostas requentadas como a criação de uma Instituição Fiscal
Independente e a aprovação de uma Lei de Responsabilidade das Estatais, com o
objetivo de esvaziar o controle público sobre a economia e sobre áreas
estratégicas do Estado brasileiro.
Em meio a
propostas laterais de tributação sobre heranças e repatriação de ativos
financeiros no exterior, aponta mais uma vez para os trabalhadores a conta da
crise, sugerindo a ampliação da idade mínima para a aposentadoria e a cobrança
de procedimentos no SUS, de acordo com a renda.
Em resumo
– tirante uma ou outra medida que foi colocada para distrair a atenção e
enganar os tolos—trata-se de uma “agenda” globalmente contrária aos interesses
da maioria do povo brasileiro, que visa retirar o que há de positivo na Constituição de 1988.
Se fosse levada a termo, a "agenda Renan" equivaleria a rasgar tudo o que de progressista existe na Constituição de 1988. Equivaleria também a destruir o regime de partilha do pré-sal e destruir a CLT.
A
"agenda" de que o país necessita é composta de outras medidas, tais
como o imposto sobre grandes fortunas e sobre grandes heranças, a
reforma política através de uma Constituinte exclusiva, a democratização da
comunicação, as reformas agrária e urbana, quebrar o oligopólio financeiro,
garantir o controle do Pré-Sal e verbas para educação e saúde, combater a
corrupção de maneira não-seletiva e enfrentando todos os oligopólios
empresariais que controlam a economia nacional.
Como sempre, os setores populares não podem ter nenhuma ilusão na
postura da classe dominante, de seus políticos e de seus meios de comunicação.
Claro que há divergências entre eles.
Alguns preferem manter o governo sequestrado até 2018. Outros querem
retomar imediatamente o controle total do governo federal. Para grande parte
deles, qualquer caminho é bom, desde que permita atingir seus objetivos
empresariais -- como reverter a lei da partilha, manter nas alturas a taxa de
juros e mudar a politica externa. Sem esquecer que para alguns líderes da
direita, seu compromisso democrático -- como se viu no silêncio que mantiveram
frente ao atentado à bomba contra o Instituto Lula -- depende do que interessa
mais ou menos para seus interesses eleitorais imediatos.
Mas para
além destas e de outras divergências, as diferentes frações da classe
dominante, seus órgãos de comunicação e seus representantes políticos compartilham
três objetivos estratégicos: a) realinhar plenamente o Brasil com
os interesses do imperialismo, b) reduzir os direitos econômicos sociais e
políticos da classe trabalhadora, c) encerrar o ciclo de governos da esquerda.
Por isto,
mais do que nunca, as classes trabalhadoras, os setores populares e
democráticos devem confiar em suas próprias forças. Motivo pelo qual saudamos a
criação da Frente Brasil Popular (dia 5 de setembro, em BH).
Por isto,
também, saudamos as mobilizações do mês de setembro, especialmente importantes
categorias de trabalhadores que estão em campanha salarial e a
mobilização nacional convocada para o dia 3 de outubro em defesa da democracia,
de uma nova política econômica e dos direitos do povo brasileiro sobre o
petróleo.
A crise e suas raízes
Há várias maneiras de compreender e explicar a presente conjuntura.
Alguns setores da esquerda tem dificuldades em aceitar que vivemos uma crise:
pensam tratar-se de um problema de “narrativa”, uma crise “política”,
“artificial”. Pensamos diferente
Em nosso ponto de vista, o que estamos vivendo hoje é uma crise de
múltiplas dimensões, como explicamos detalhadamente no item 7 do documento “No
olho do furacão”. (http://www.pagina13.org.br/resolucoes-e-documentos-da-ae/no-olho-do-furacao/).
"a) um setor importante da oposição de direita não aceitou o resultado das eleições de 2014 e opera desde então para desconstituir o governo Dilma, no prazo mais curto e através de quaisquer meios;
b) um setor importante do oligopólio da comunicação está engajado nesta campanha de desconstituição e vem utilizando seus potentes instrumentos (TV, rádios, imprensa, internet) para fomentar não apenas o descontentamento, mas também um ódio de tipo fascista contra a presidenta Dilma, contra o governo, contra o PT e contra a esquerda;
c) um setor importante do grande capital, articulado com interesses internacionais, está convencido da incompatibilidade entre seus interesses e a continuidade do governo encabeçado pelo PT: não lhes basta ajuste, não lhes basta a aprovação de reformas conservadoras, eles desejam muito mais do que sabem ser possível arrancar caso o PT continue ocupando a presidência da República;
d) parcelas importantes dos pequenos proprietários e das classes trabalhadoras estão profundamente descontentes com o PT e com o governo, por um mix de razões: a campanha da mídia, preconceitos e conservadorismo político, erros políticos graves de nossa parte, mas principalmente devido à piora nas condições econômicas e sociais;
e) a opção do governo pelo chamado Plano Levy transformou o que era um problema administrável de contas públicas, num quadro de recessão e desemprego, causando um sentimento de traição na base social e eleitoral que deu a vitória à Dilma, sem ganhar um único apoio entre aqueles que votaram na oposição;
f) neste contexto, o enfraquecimento do governo federal, somado à movimentação do Judiciário, do MPF e da Polícia Federal, mais a postura claramente oposicionista do presidente da Câmara dos Deputados, criou um conflito crescente entre as instituições de Estado;
g)tudo o que foi citado antes, ocorre num momento em que graves erros cometidos pelo PT (na estratégia, na relação com o oligopólio da comunicação, com setores da direita e do capital, ao aceitar receber financiamento empresarial privado, bem como no retardo e na timidez com que setores do Partido fazem autocrítica e mudam sua atitude frente a estes erros) facilitam a ofensiva conservadora."
"a) um setor importante da oposição de direita não aceitou o resultado das eleições de 2014 e opera desde então para desconstituir o governo Dilma, no prazo mais curto e através de quaisquer meios;
b) um setor importante do oligopólio da comunicação está engajado nesta campanha de desconstituição e vem utilizando seus potentes instrumentos (TV, rádios, imprensa, internet) para fomentar não apenas o descontentamento, mas também um ódio de tipo fascista contra a presidenta Dilma, contra o governo, contra o PT e contra a esquerda;
c) um setor importante do grande capital, articulado com interesses internacionais, está convencido da incompatibilidade entre seus interesses e a continuidade do governo encabeçado pelo PT: não lhes basta ajuste, não lhes basta a aprovação de reformas conservadoras, eles desejam muito mais do que sabem ser possível arrancar caso o PT continue ocupando a presidência da República;
d) parcelas importantes dos pequenos proprietários e das classes trabalhadoras estão profundamente descontentes com o PT e com o governo, por um mix de razões: a campanha da mídia, preconceitos e conservadorismo político, erros políticos graves de nossa parte, mas principalmente devido à piora nas condições econômicas e sociais;
e) a opção do governo pelo chamado Plano Levy transformou o que era um problema administrável de contas públicas, num quadro de recessão e desemprego, causando um sentimento de traição na base social e eleitoral que deu a vitória à Dilma, sem ganhar um único apoio entre aqueles que votaram na oposição;
f) neste contexto, o enfraquecimento do governo federal, somado à movimentação do Judiciário, do MPF e da Polícia Federal, mais a postura claramente oposicionista do presidente da Câmara dos Deputados, criou um conflito crescente entre as instituições de Estado;
g)tudo o que foi citado antes, ocorre num momento em que graves erros cometidos pelo PT (na estratégia, na relação com o oligopólio da comunicação, com setores da direita e do capital, ao aceitar receber financiamento empresarial privado, bem como no retardo e na timidez com que setores do Partido fazem autocrítica e mudam sua atitude frente a estes erros) facilitam a ofensiva conservadora."
Ademais, a presente crise tem dimensões estruturais. Desde o final dos
anos 1970 até hoje vem prevalecendo soluções parciais para os grandes problemas
nacionais e sociais.
A ditadura foi derrotada, mas não foi derrubada, motivo pelo qual
algumas de suas heranças estão até hoje entre nós.
A transição democrática não foi democrática o suficiente para as classes
populares, mas foi além da conta do ponto de vista das classes dominantes,
motivo pelo qual há reações díspares à Constituição de 1988: para o então
presidente Sarney a “Carta Cidadã” deixaria o Brasil “ingovernável”, para o PT
da época era tão conservadora que não merecia nosso voto.
A vitória de Collor e depois de FHC demonstraram a força das soluções
neoliberais, mas seus governos não conseguiram levar até o fim o desmonte do Estado e outras demais políticas que defendiam.
De maneira similar, as vitórias de Lula e depois de Dilma demonstraram a
força das camadas populares, mas seus governos tampouco conseguiram (em muitos
casos, nem tentaram) dar solução estrutural para os grandes problemas nacionais
e sociais.
Uma das sínteses desta “crise política estrutural” é a existência de um
Estado e de um sistema político que a todos desagrada, ainda que por motivos
distintos, mas que ninguém consegue força suficiente para reformar.
É isto que torna compreensível a natureza sistêmica da corrupção, a
violência endêmica contra as camadas populares, a desconfiança quase universal
na política e nos políticos, a crescente judicialização de todos os conflitos,
o regresso sistemático do discurso golpista em favor da “ordem”, bem como o "reformismo sem reformas" que entre nós viceja.
A “crise política estrutural” – como é óbvio – é consequência mas também parte das causas de um segundo processo de duração mais prolongada, que também devemos levar em consideração no nosso debate conjuntural.
A “crise política estrutural” – como é óbvio – é consequência mas também parte das causas de um segundo processo de duração mais prolongada, que também devemos levar em consideração no nosso debate conjuntural.
Referimo-nos à crise do padrão de desenvolvimento e acumulação
capitalista que passou a predominar no Brasil desde os anos 1930 e se estendeu
até os anos 1970.
Quando analisamos a política adotada (ou não) pelos governos
brasileiros, de Figueiredo até Dilma, devemos responder a esta questão: que
novo padrão de desenvolvimento e acumulação está sendo ou já foi construído?
Evidentemente, responder a esta questão implica em discutir que tipo de
relação o capitalismo brasileiro mantém com o mundo. E quando levantamos o
olhar para observar o mundo que nos cerca, fica claro que estamos imersos num
período internacional de crise e transição, que envolve e impacta nosso país.
Em nossa opinião, a crise do padrão de desenvolvimento e acumulação,
crise iniciada nos anos 1970 e que estalou com toda força nos anos 1980, ainda
não está resolvida.
Dito de outra forma: a solução neoliberal defendida pelo grande capital
estrangeiro, apoiada pela classe dominante brasileira e implementada nos
governos Fernando & Fernando não possui as características necessárias para
orientar um ciclo de desenvolvimento como o de 1930-1980.
Há várias explicações para isto, bem como várias hipóteses a considerar,
entre as quais:
1) as dificuldades de fazer funcionar e crescer um país com as
características do Brasil, baseando-se numa economia de “especulação, fazenda
& mineração”;
2) a dificuldade política de rebaixar o padrão de vida da classe
trabalhadora ao nível exigido pelo padrão de rentabilidade estabelecido pelo
capital financeiro e transnacional.
Por outro lado, a solução que se tentou adotar nos governos Lula &
Dilma tampouco conseguiu orientar um novo ciclo de desenvolvimento.
Há toda uma discussão, na esquerda, acerca da natureza da solução adotada e da caracterização do que foi feito desde 2003.
Há desde setores que consideram nossos governos como neoliberais,
passando pelos que nos acusam de social-liberais e indo até os que nos chamam
de neodesenvolvimentistas.
Por diversos motivos, não compartilhamos nenhuma destas explicações, Seja como for, mais importante do que o "apelido" que se dê ao que foi feito desde
2003, é compreender por quais motivos não tivemos êxito em construir outro
padrão de desenvolvimento e acumulação.
Novamente, há várias explicações para isto, bem como várias hipóteses a
considerar, mas destacamos duas:
1) as características da atual fase do capitalismo internacional e as
características históricas da classe dominante brasileira bloqueiam neste momento
as possibilidades desta classe dirigir um novo ciclo de desenvolvimento;
2) para que a classe trabalhadora brasileira pudesse dirigir um novo
ciclo de desenvolvimento, ela teria que estar disposta a realizar reformas
estruturais, ampliar a presença do Estado e da propriedade pública, bem como
controlar o grande capital oligopolista, transnacional e financeiro.
Acontece que em nosso Partido predominaram, desde 1995 até hoje, outras
ideias e outra estratégia: a de uma aliança estratégica com setores do grande
capital, em torno de um programa de mudanças que como sempre dissemos e a vida
confirmou, ao fim e ao cabo não tocaria em nenhum das grandes questões
estruturais do país. Aliás, a escolha por um ajuste recessivo – e o apoio envergonhado que esta posição teve por parte de amplos setores do Partido – revelam que o “pensamento econômico” da esquerda brasileira se encontra prisioneira do “keynesianismo social-liberal”, ou seja, de uma pensamento que transforma em limites absolutos aqueles que são os limites do grande capital.
Chamamos a atenção para tudo isto, porque a tática que devemos defender para enfrentar a atual conjuntura não pode
perder de vista as questões estratégicas.
Dito de outro jeito: estamos numa conjuntura que nos impõe uma tática
defensiva (defender nosso governo do golpismo, defender os movimentos sociais,
a esquerda e nosso Partido dos ataques).
Mas frente a esta conjuntura, os setores hoje majoritários no PT adotam
uma tática defensiva que – em nome de supostamente proteger o governo—corrói
ainda mais as possibilidades de atingirmos com sucesso nossos objetivos
estratégicos.
Do que necessitamos?
Precisamos formular uma tática que dê conta de enfrentar a situação em que estamos (ou seja, de uma "tática defensiva"). Mas precisamos de uma tática que contribua para que, futuramente, retomemos a ofensiva. Noutras palavras, precisamos de uma tática que nos permita criar as condições para sairmos da defensiva tática e passarmos à ofensiva em favor de nossos objetivos estratégicos.
Situação econômico-social e alternativas
Seja por razões táticas (derrotar a ofensiva da direita), seja por
razões estratégicas (construir um caminho para as reformas estruturais,
articulada com a luta pelo socialismo), consideramos essencial liberar o
governo das forças que o sequestraram.
Isto passa por mudar imediata e radicalmente a política econômica
vigente desde a posse de Joaquim Levy no ministério da Fazenda.
A escolha por um ajuste recessivo – e o apoio envergonhado que esta
posição teve por parte de amplos setores do Partido—revelam que o “pensamento
econômico” da esquerda brasileira se encontra prisioneira do “keynesianismo
social-liberal”, ou seja, de uma pensamento que transforma em limites absolutos
aqueles que são os limites do grande capital.
O “ajuste” demonstrou que a política econômica adotada desde 2003 possui
defeitos de fabricação, que estão relacionados não com o “populismo fiscal”
como diz a direita, mas sim com a incapacidade de enfrentar temas estruturais,
entre os quais destacamos a política tributária, a política industrial e
quebrar o oligopólio financeiro.
O fracasso do ajuste – entendendo por fracasso a incapacidade de entregar o que prometeu, ou seja, superávit (redução da meta para 0,15% do PIB em 2015), equilíbrio (déficit nas contas públicas da ordem de R$ 30 bilhões anuais), retomada do crescimento (queda na produção industrial anual por volta de -5% até junho, taxa de desemprego em torno de 8% no último trimestre) – demonstra entre outras coisas que o diagnóstico estava errado: transformou-se um problema de receitas em uma recessão.
Frente ao fracasso do ajuste, o governo insiste em mais ajuste,
demonstrando ser ilusão ou falsidade o discurso segundo o qual tratava-se de
uma opção passageira, depois da qual viria o crescimento, a tempo de bafejar as
eleições 2016 e 2018. As articulações em torno da “Agenda Brasil” mostram que
setores da direita e do governo querem transitar em direção a uma política de ajuste
recessivo de longo prazo.
Os efeitos do ajuste são brutais, causam desemprego e queda nos
salários, seus impactos políticos são tremendos e fazem depender nossa
continuidade no governo principalmente do inimigo, das dúvidas e opções da
classe dominante.
Contra o ajuste devemos propor um cavalo de pau.
No curtíssimo prazo, dar cavalo de pau significa: corte brutal na taxa
de juros e recomposição total do orçamento; no curto-médio prazo significa
retomada do setor da construção civil (especialmente Petrobrás, mas também um
programa Minha Casa Minha Vida de alto impacto e ampliação das obras de
infra-estrutura de transporte e saneamento); no médio prazo envolve um conjunto
de medidas estruturais, entre as quais destacamos o imposto sobre grandes
fortunas, mas também quebrar o oligópolio financeiro e mudar o padrão de
relação com o capital transnacional e os oligopólios nacionais, a exemplo
das grandes empreiteiras de contrução civil.
A oposição de direita
Se o ajuste implementado por Levy é um fracasso e vai contra os
interesses populares, para a classe dominante ele não é suficiente.
Para atingir os seus objetivos estratégicos (realinhar plenamente o
Brasil com os interesses do imperialismo, reduzir os direitos econômicos
sociais e políticos da classe trabalhadora, encerrar o ciclo de governos da
esquerda), é preciso ir muito além do ajuste. No limite, trata-se de anular
todos os aspectos positivos da Constituição de 1988 e todas as medidas populares
adotadas desde 2003. Este é o sentido das agendas de Cunha e Renan.
É este o sentido, também, do editorial publicado na primeira página do
domingo 13 de setembro pelo jornal Folha de S.Paulo.
Segundo a Folha, a presidenta Dilma deve tomar "medidas
extremas", a saber: "cortes nos gastos terão de ser feitos com
radicalidade sem precedentes", concentrando-se em "benefícios
perdulários da Previdência", " subsídios a setores específicos da
economia" e "desembolsos para parte dos programas sociais",
"desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e
educação" e contenção nos "salários para o funcionalismo".
O grande capital, a oposição de direita e o oligopólio da mídia sempre disseram que os
direitos previstos na Constituição de 1988 tornavam o país ingovernável.
Eles achavam isto em 1988 e seguem achando agora. Volta e meia dizem que
tais direitos estão acima da capacidade econômica do país, omitindo o quanto de
nossas riquezas é expropriada pela classe dominante e seus aliados externos e
internos. E não considerando o quando cresceríamos caso adotássemos uma
política econômica e de reformas estruturais que tivessem como objetivo
viabilizar aqueles direitos.
A “agenda Brasil” é uma das materializações desta opinião
anti-”constituição cidadã”. Os impactos da implementação desta “agenda” seriam
desastrosos, tanto para o povo quanto para o país.
Igualmente desastrosa, especialmente do ponto de vista estratégico,
seria uma eventual adesão do governo ou de setores da esquerda a esta “agenda”.
No caso da “agenda Brasil” ser convertida, no todo ou em parte, em
programa de governo, estaríamos diante de um programa de desmonte não apenas do
que foi feito desde 2003, mas de um de desmonte do que se conquistou nos anos
1980.
Fica patente que a crise não é apenas conjuntural. O lado de lá, assim
como lado de cá, estão insatisfeitos com o status quo mais geral. Por isto eles
apresentam uma espécie de “constituinte congressual sem povo”; por isto
crescentes setores da esquerda falam de Assembleia Constituinte.
Para quem ainda mantém ilusões sobre os propósitos de Renam, vale
conferir a manobra operada pelo senador a favor do PLS 131, de autoria de José
Serra, que desmonta o regime de partilha e o papel da Petrobras na exploração
do pré-sal.
Renan interferiu na escolha da presidência, da relatoria e na composição
da comissão especial para alcançar uma correlação de forças favorável ao
projeto de lei defendido pelos entreguistas e pelas empresas estrangeiras.
O governo deve estimular a contradição entre Renan e Cunha, mas isto não
significa aderir ao programa derrotado apresentado pelo policial bom,
supostamente para nos proteger do “policial malévolo”.
As divergências entre as principais forças da direita estão
principalmente no terreno da tática, especialmente sobre qual seria o melhor
caminho para retomar o controle completo do governo.
Sem esquecer dos setores cavernícolas, que falam em golpismo militar,
entre as principais forças da direita as propostas em debate são basicamente as
seguintes:
a) deixar o governo aplicar o ajuste fiscal e desgastar-se, para
derrotá-lo em 2018
b) aproveitar a fragilidade do governo e do PT e defender impeachment
acompanhado de novas eleições já
c) considerando os riscos de novas eleições, tanto agora quanto em 2018,
mudar as “regras do jogo” e adotar o parlamentarismo
d) defender o afastamento da presidenta e a constituição de um governo
de unidade nacional encabeçado por Temer.
Estas divergências na tática, contudo, não impedem
a unidade em torno de seus objetivos estratégicos, nem de um um outro objetivo
imediato: atacar, neutralizar, desmoralizar e inviabilizar Lula, o que exige de
nossa parte a sua vigorosa defesa.
Além
disso, estas
divergências na tática não são um assunto tratado entre quatro paredes. E não
constituem uma discussão em tese: envolvem interesses econômicos imediatos e de
médio prazo (por exemplo, o que ajuda mais a quebrar a Lei da Partilha e mudar
a política externa?); envolvem interesses políticos de grupo e pessoais (Cunha,
Renam, Temer, Serra, Alckmin, Aécio); envolvem o maior ou menor apoio de massa
às diferentes propostas da direita; e envolvem a capacidade de lidar com maior
ou menor reação da esquerda política e social.
Deste ponto de vista, é gravíssimo que o governo tenha encaminhado
exatamente nesta conjuntura um projeto de lei que tipifica o crime de
terrorismo no Brasil (PL 2016/15), prevendo penas de até 30 anos para as
condutas enquadradas como terroristas.
No entanto, ao manter um tipo penal aberto, caracterizando como "organizações terroristas", cujos atos "ocorram por razões de ideologia, política", dentre outras e que possam vir a expor a perigo "a incolumidade pública ou a paz pública ou coagir autoridades a fazer ou deixar de fazer algo", o projeto abre brechas para que a interpretação do judiciário, do ministério público, dos agentes de segurança e da própria mídia ameacem a liberdade de manifestação e outros direitos civis, possibilitando a criminalização das manifestações populares e da ação dos movimentos sociais.
A aprovação de uma legislação com este caráter apenas reforça o avanço
do Estado Penal na sociedade brasileira, a exemplo da votação da redução da
maioridade penal e do aumento do tempo de internação de adolescentes para até
dez anos.
Lamentavelmente, a urgência que sobrou ao executivo no envio do projeto
tem faltado ao ministério da Justiça que o subscreveu na apuração de atos
terroristas concretos como o atentado ao Instituto Lula no começo do mês; ou no
combate às chacinas promovidas pelo Estado.
A direção nacional do Partido dos Trabalhadores deve se posicionar
contrária ao projeto junto ao governo e às bancadas do partido na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal.
Cabe à
direção do PT, também, articular – na sociedade e no Senado – o enfrentamento
da contrarreforma política, exigindo que a presidenta Dilma vete a
constitucionalização do financiamento empresarial de campanhas eleitorais.
Sem ilusões na direita
A manifestação realizada pela direita no dia 16 de agosto foi menor do
que a ocorrida em março deste ano. Atribuiu-se isto às manobras de setores do
governo, Globo, Fiesp/Firjan e Renan Calheiros em torno da “Agenda
Brasil”. Mesmo que seja assim, é um erro achar que este tipo de “acordo” pode
garantir estabilidade, governabilidade, sobrevida de médio prazo.
Quanto mais o governo adotar a agenda derrotada nas urnas, menos apoio
popular terá, maior o isolamento frente à nossa base social e mais a crise se
aprofundará.
O pragmatismo empresarial que orienta um setor do oligopólio da mídia, do Capital e da
direita a prezar determinado tipo de estabilidade econômica não se desdobra
obrigatoriamente em apoio político ao governo, mas tão somente à
institucionalidade necessária aos negócios.
Ou seja, eles calculam a relação custo/benefício de uma crise
institucional, uma crise do Estado.
De toda forma, na disputa “interna” da direita, o setor mais afoito do golpismo (Cunha/Aécio/Veja) perdeu força para o golpismo mais refinado (Renan/Temer/Globo). Contudo, nas últimas semanas ganharam novo fôlego, demonstrando que as diferentes táticas dos setores golpistas não apenas coexistem mas também podem se retroalimentar: a tática do desgaste permanente do governo, do PT e de Lula visando uma vitória eleitoral em 2018 alimenta a defesa do impeachment, ao passo que a permanente mobilização pelo impeachment fragiliza o governo, o PT e Lula, com consequências diretas nas disputas eleitorais.
Para derrotar os diversos setores da direita, mas também para derrotar o
esquerdismo (que visa derrubar o governo) e o governismo (que acha possível
defender a democracia em abstrato, sem criticar nem modificar a política
econômica e a linha geral do governo), defendemos o que está resumido no
seguinte trecho da Convocatória da Conferência Nacional Popular de 5 de
setembro:
“para derrotar as forças conservadoras, defender as liberdades
democráticas e os direitos, implementar outra política econômica e reformas
estruturais, é preciso mobilizar e organizar os setores populares em torno de
uma plataforma politica mínima, que em nossa opinião deve conter os seguintes
pontos:
1. Defender os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras: melhorias
das condições de vida, emprego, salário, aposentadoria, moradia, saúde,
educação, terra e transporte público!
Lutamos contra o atual ajuste fiscal e contra todas as medidas que retiram
direitos, eliminam empregos, reduzem salários, elevam tarifas de serviços
públicos, estimulam a terceirização, ao tempo em que protegem a minoria rica.
Defendemos uma política econômica voltada para o desenvolvimento com
distribuição de renda.
Lutamos contra a especulação financeira nacional e internacional, que
transfere para uma minoria, por vias legais ou ilegais, através da corrupção e
de contas bancárias secretas, parte importante da riqueza produzida pelo povo
brasileiro!
Lutamos por uma reforma tributária que – por meio de medidas como o
imposto sobre grandes fortunas e a auditoria da dívida – faça os ricos pagarem
a conta da crise.
2.Ampliar a democracia e a participação popular nas decisões sobre o
presente e o futuro de nosso país.
Lutamos contra o golpismo – parlamentar, judiciário ou midiático – que
ameaça a vontade expressa pelo povo nas urnas, as liberdades democráticas e o
caráter laico do Estado!
Lutamos por uma reforma política soberana e popular, que fortaleça a
participação direta do povo nas decisões políticas do País, garanta a devida
representação dos trabalhadores, negros e mulheres, impeça o sequestro da
democracia pelo dinheiro e proíba o financiamento empresarial das campanhas
eleitorais!
Lutamos contra a criminalização dos movimentos sociais e da política,
contra a corrupção e a partidarização da justiça, contra a redução da
maioridade penal e o extermínio da juventude pobre e negra das periferias,
contra o machismo e a homofobia, contra o racismo e a violência que mata
indígenas e quilombolas!
3. Promover reformas estruturais para construir um projeto nacional de
desenvolvimento democrático e popular: reforma do Estado, reforma política,
reforma do poder judiciário, reforma na segurança pública com desmilitarização
das Polícias Militares, democratização dos meios de comunicação e da cultura,
reforma urbana, reforma agrária, consolidação e universalização do Sistema
Único de Saúde, reforma educacional e reforma tributária!
Lutamos pela democratização dos meios de comunicação de massa e pelo
fortalecimento das mídias populares, para que o povo tenha acesso a uma
informação plural, tal como está exposto na Lei da Mídia Democrática.
4.Defender a soberania nacional: o povo é o dono das riquezas naturais,
que não podem ser entregues às transnacionais e seus sócios!
Lutamos em defesa da soberania energética, a começar pelo Pré-Sal, a Lei
da Partilha, a Petrobrás, o desenvolvimento de ciência e tecnologia, engenharia
e de uma política de industrialização nacional!
Lutamos em defesa da soberania alimentar e em defesa do meio ambiente,
sem o qual não haverá futuro.
Lutamos contra as forças do capital internacional, que tentam impedir e
reverter a integração latino-americana.”
A situação do Partido dos Trabalhadores
Em nossa opinião, são imensas as ameaças que pairam sobre o PT. Mesmo
quando a direita arrefece seu ataque contra o governo, ela mantém total pressão
contra o Partido.
Por outro lado, nunca foram tão grandes as concessões feitas pelo
Partido às posições de direita, nunca foi tão grande o descontentamento com o
PT na classe trabalhadora, nunca foi tão evidente o esgotamento da estratégia
adotada desde 1995, mas mesmo assim nunca pareceu tão pequena a possibilidade
de alterar as posições majoritárias no Partido (não porque amplos setores das
bases do Partido não desejem esta alteração, mas porque as “regras do jogo”
internas favorecem a predominância do grupo atualmente majoritário).
Para agravar a confusão, como a maior parte das críticas ao PT e aos
governos Lula-Dilma não são feitas pela esquerda mas sim pela direita, criou-se
um ambiente em que se torna cada vez mais comum que pessoas de esquerda
façam, com consciência ou não, críticas ao PT que parecem de esquerda, mas não
o são.
Tudo isto junto e misturado faz crescer, na militância de esquerda
petista ou simpatizante a dúvida sobre o papel estratégico do PT, seja na luta
pelo socialismo, seja na luta por mudanças democráticas e populares.
Ao mesmo tempo, grande parte desta militância de esquerda que participa
ou apoia o PT percebe que não existe “saída boa” no curto prazo. Percebem que
uma eventual derrota do PT não significaria – pelo menos no espaço dos próximos
meses ou anos, e provavelmente no espaço de toda uma geração-- a ascensão de
uma esquerda não-petista.
Até porque, a depender de como ocorra uma eventual derrota do PT, qual a
credibilidade que teria qualquer outro projeto de organização de uma esquerda
socialista de massas?
A esse respeito, reafirmamos as resoluções do segundo congresso da AE,
especialmente o documento sobre “o PT e o combate à corrupção”.
Lutamos para preservar o PT e garantir que ele cumpra seu papel
histórico. E deixamos claro que, em nossa opinião, a política seguida por
parcelas importantes da direção nacional do PT e do governo está ajudando a
direita a destruir e desmoralizar o PT.
A burguesia brasileira e a burguesia estrangeira aqui instalada não têm
qualquer confiança que o PT possa desempenhar um papel semelhante ao da
socialdemocracia europeia, que descambou parra um neoliberalismo descarado.
Sabem que o PT possui uma militância de raiz trabalhadora e popular que mais
cedo ou mais tarde se insurgirá, como aliás já vem se insurgindo, contra um projeto
desse tipo. Por isso, a estratégia dessas burguesias está voltada para
desmoralizar e aniquilar o PT. Este é o verdadeiro sentido da Operação Lava
Jato e da campanha que visa desmoralizar e inviabilizar a existência do PT e
uma candidatura Lula em 2018.
A situação ameaçadora comporta os seguintes componentes: a) o PT está
acuado pelo envolvimento de alguns dirigentes e militantes com a recepção de
contribuições financeiras de empresas privadas, com o agravante de alguns
desses recursos serem provenientes de recursos obtidos de forma fraudulenta
pelas empresas privadas; b) o PT também está acuado diante da ofensiva
conservadora e reacionária da maioria do Congresso Nacional, que visa reduzir
direitos democráticos e afastar a possibilidade de participação popular nos
órgãos do Estado; c) o PT se vê ainda acuado pela ofensiva desmoralizante da
política, levada a cabo não só por parte da grande mídia, mas também por parte
de setores do próprio Estado; d) e, na prática, o PT perdeu qualquer relevância
prática na condução do governo Dilma porque seus representantes no governo agem
como baratas tontas, e não se colocam firmemente contra o desastroso plano de
ajuste neoliberal em curso.
Em adição a essa situação de animal acuado, a militância combativa do PT
está paralisada pela inação da atual direção partidária, que abandonou qualquer
linha estratégica, não tem programa de luta, nem tem táticas. Num quadro como
esse não será surpresa se o movimento de impeachment contra a presidenta Dilma
se concretizar ainda em 2015, e se o processo de desmoralização e de ataques ao
partido alcançar um novo auge, incluindo novos atentados terroristas a sedes e
dirigentes petistas. No entanto, a atual direção está cega diante do que está
realmente ocorrendo.
Por isto, reafirmamos nossa defesa da realização imediata de um Encontro
extraordinário que reorganize a direção do Partido e trace uma estratégia de
defesa e reestruturação do partido.
O Partido precisa disputar os rumos e alterar a relação que mantém hoje
com o governo Dilma. Trata-se essencialmente de dizer, pública e claramente que
o Partido dos Trabalhadores defende outro rumo. Não aceitamos rasgar a
Constituição de 1988, atropelar as conquistas desde 2003 e promover auto-golpe,
em favor do programa derrotado nas eleições de 2014.
Este caminho levaria a uma ruptura entre a presidenta, seu Partido, sua
real base de apoio e seu eleitorado. E a transformaria numa marionete do
sistema financeiro, marionete que será descartada tão logo julguem necessário.
Cabe ao PT dizer à presidenta que conte conosco, para implementar o
programa e exercer o mandato que as urnas lhe concederam em outubro de 2014.
Para defender a democracia, o governo precisa mudar a política econômica.
17 de setembro de 2015
Direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda,
Golpe já tá tendo, com promessas de investimento em educação e cortes de direitos trablahistas. Intervenção militar tem na favela todo dia. No Haiti temos tropas, apoiamos um golpe de direita. O que irrita a direita é apenas a retórica do PT, mais nada.
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