Treze observações sobre classes, sobre o governo e sobre o PT.
Classes
Acho que o principal nó do debate (deste, dos anteriores e dos próximos) está na análise que cada um de nós faz acerca da estrutura de classes no Brasil, em especial acerca do comportamento da burguesia no seu conjunto e de frações dela.
Minha opinião é a seguinte:
1) no âmbito da burguesia (proprietários de meios de produção que empregam predominantemente trabalho assalariado) existem distintas frações;
2) a fração hegemônica é um consórcio financeiro-transnacional. Esta fração tolerou a presença do PT na presidência enquanto isto não afetou sua rentabilidade, o que começou a ocorrer a partir da crise de 2007, especialmente depois que a marolinha virou tsunami e -- apesar disto e para enfrentar isto -- o governo petista não adotou política de ajuste recessivo;
3) as frações hegemonizadas da burguesia (especialmente aquelas voltadas ao mercado interno) toleraram e alguns setores até apoiaram a presença do PT na presidência, enquanto a fração hegemônica não puxou as rédeas. Se o governo tivesse enfrentado e imposto derrotas à fração hegemônica, esta digamos burguesia média poderia ser colocada sob hegemonia da classe trabalhadora. Mas como o governo em geral não enfrentou e, quando enfrentou, não derrotou a fração hegemônica, a burguesia média segue do lado de lá e militante contra o PT. Pois se não são os ricos que vão pagar a conta do ajuste, só há duas alternativas: os trabalhadores ou os setores médios;
4) portanto, é também em defesa de seus interesses imediatos que a média burguesia se soma às manifestações;
5) nunca chegou a existir uma frente desenvolvimentista ou neo-desenvolvimentista. Existiram pessoas ou grupos que falaram disto. Mas a existência de uma frente -- no sentido de bloco histórico -- dependeria do PT e do governo ter operado no sentido de enfrentar e derrotar a fração hegemônica. Como isto até agora não ocorreu, a tal frente nunca saiu dos sonhos;
6) como o ajuste fiscal poupa (e portanto beneficia) apenas o setor financeiro, alguns deduzem que este setor é "base de apoio" do governo. E desta "teoria" concluem que se o governo abrir mão do ajuste fiscal, ele perde sua única base de apoio e portanto cai. Este raciocínio confunde duas situações disitintas: a) se o governo abre mão do ajuste e não faz nada; b) se o governo abre mão do ajuste fiscal recessivo e adota outro ajuste fiscal, que faça os ricos pagarem a conta. Neste caso, o governo pode até cair, mas cairá tendo o apoio de amplos setores populares;
Governo
7) é totalmente possível ocorrer uma "ressureição" do PT em 2018. E fico sinceramente impressionante como uma geração que se habituou a estudar e a elogiar as reviravoltas aparentemente impossíveis do passado, entre em estado de desânimo por uma situação que, convenhamos, é grave mas (pelo menos ainda) não mais grave que, por exemplo, 1964;
8) agora, só haverá ressurreição se o governo Dilma e o PT mudarem sua rota. Seguramente vem daí o pessimismo que campeia em alguns setores.
9) nossa presidenta tem uma porção que é herdeira do trabalhismo: a mudança pelo alto (a partir do Estado). E quando o Estado não consegue/não pode mais capitanear a mudança, o trabalhismo oscilou entre os extremos do suicídio e da capitulação sem luta;
10) é possível, por algum tempo, derrotar a direita sem a ajuda do governo. Mas é impossível impor à direita uma derrota tática e/ou estratégica se o governo trabalha contra isto. E a verdade é que a linha adotada pelo governo, tanto na economia quanto na política, divide a esquerda e alimenta a direita. É preciso recuar das MPs, propor que os ricos paguem o ajuste, incluir no ministério gente disposta e que saiba enfrentar a direita e dar protagonismo à presidenta da República. Sem isto, a chance de Lula e o PT vencerem em 2018 é quase zero;
11) por isso, trata-se de aumentar a pressão sobre o governo, para tentar empurrá-lo a assumir outra posição. Mas continuará sendo "nosso governo", no sentido de que se ele for derrotado, seremos derrotados juntos. Mais ou menos como a URSS: boa parte da esquerda já não gostava/concordava com os soviéticos nos anos 1980. Mas o fim da URSS em 1991 nos golpeou a todos profundamente;
PT
12) como dirigente do PT desde 1997 até 2013, acho que eu poderia perpetrar uma lista imensa dos motivos pelos quais o PT não está neste momento à altura das suas tarefas e com isto reforçar os argumentos de quem acredita que dificilmente ele será capaz de virar o jogo. Mas o único efeito prático deste tipo de análise seria tornar ainda mais difícil, senão praticamente impossível, evitar uma derrota estratégica nos próximos meses e anos;
13) assim, acho que o ponto de partida não deve ser o que fazer uma vez que o PT não vai cumprir o seu papel. O ponto de partida deve ser o que se pode fazer que possa contribuir para que o PT cumpra um papel positivo nesta conjuntura. Lembro, para reforçar meu raciocínio, que o ato do dia 13 não ocorreria sem a CUT. E a CUT é dirigida pelo mesmo setor que dirige o PT. Logo, há condições de virar o jogo.
Classes
Acho que o principal nó do debate (deste, dos anteriores e dos próximos) está na análise que cada um de nós faz acerca da estrutura de classes no Brasil, em especial acerca do comportamento da burguesia no seu conjunto e de frações dela.
Minha opinião é a seguinte:
1) no âmbito da burguesia (proprietários de meios de produção que empregam predominantemente trabalho assalariado) existem distintas frações;
2) a fração hegemônica é um consórcio financeiro-transnacional. Esta fração tolerou a presença do PT na presidência enquanto isto não afetou sua rentabilidade, o que começou a ocorrer a partir da crise de 2007, especialmente depois que a marolinha virou tsunami e -- apesar disto e para enfrentar isto -- o governo petista não adotou política de ajuste recessivo;
3) as frações hegemonizadas da burguesia (especialmente aquelas voltadas ao mercado interno) toleraram e alguns setores até apoiaram a presença do PT na presidência, enquanto a fração hegemônica não puxou as rédeas. Se o governo tivesse enfrentado e imposto derrotas à fração hegemônica, esta digamos burguesia média poderia ser colocada sob hegemonia da classe trabalhadora. Mas como o governo em geral não enfrentou e, quando enfrentou, não derrotou a fração hegemônica, a burguesia média segue do lado de lá e militante contra o PT. Pois se não são os ricos que vão pagar a conta do ajuste, só há duas alternativas: os trabalhadores ou os setores médios;
4) portanto, é também em defesa de seus interesses imediatos que a média burguesia se soma às manifestações;
5) nunca chegou a existir uma frente desenvolvimentista ou neo-desenvolvimentista. Existiram pessoas ou grupos que falaram disto. Mas a existência de uma frente -- no sentido de bloco histórico -- dependeria do PT e do governo ter operado no sentido de enfrentar e derrotar a fração hegemônica. Como isto até agora não ocorreu, a tal frente nunca saiu dos sonhos;
6) como o ajuste fiscal poupa (e portanto beneficia) apenas o setor financeiro, alguns deduzem que este setor é "base de apoio" do governo. E desta "teoria" concluem que se o governo abrir mão do ajuste fiscal, ele perde sua única base de apoio e portanto cai. Este raciocínio confunde duas situações disitintas: a) se o governo abre mão do ajuste e não faz nada; b) se o governo abre mão do ajuste fiscal recessivo e adota outro ajuste fiscal, que faça os ricos pagarem a conta. Neste caso, o governo pode até cair, mas cairá tendo o apoio de amplos setores populares;
Governo
7) é totalmente possível ocorrer uma "ressureição" do PT em 2018. E fico sinceramente impressionante como uma geração que se habituou a estudar e a elogiar as reviravoltas aparentemente impossíveis do passado, entre em estado de desânimo por uma situação que, convenhamos, é grave mas (pelo menos ainda) não mais grave que, por exemplo, 1964;
8) agora, só haverá ressurreição se o governo Dilma e o PT mudarem sua rota. Seguramente vem daí o pessimismo que campeia em alguns setores.
9) nossa presidenta tem uma porção que é herdeira do trabalhismo: a mudança pelo alto (a partir do Estado). E quando o Estado não consegue/não pode mais capitanear a mudança, o trabalhismo oscilou entre os extremos do suicídio e da capitulação sem luta;
10) é possível, por algum tempo, derrotar a direita sem a ajuda do governo. Mas é impossível impor à direita uma derrota tática e/ou estratégica se o governo trabalha contra isto. E a verdade é que a linha adotada pelo governo, tanto na economia quanto na política, divide a esquerda e alimenta a direita. É preciso recuar das MPs, propor que os ricos paguem o ajuste, incluir no ministério gente disposta e que saiba enfrentar a direita e dar protagonismo à presidenta da República. Sem isto, a chance de Lula e o PT vencerem em 2018 é quase zero;
11) por isso, trata-se de aumentar a pressão sobre o governo, para tentar empurrá-lo a assumir outra posição. Mas continuará sendo "nosso governo", no sentido de que se ele for derrotado, seremos derrotados juntos. Mais ou menos como a URSS: boa parte da esquerda já não gostava/concordava com os soviéticos nos anos 1980. Mas o fim da URSS em 1991 nos golpeou a todos profundamente;
PT
12) como dirigente do PT desde 1997 até 2013, acho que eu poderia perpetrar uma lista imensa dos motivos pelos quais o PT não está neste momento à altura das suas tarefas e com isto reforçar os argumentos de quem acredita que dificilmente ele será capaz de virar o jogo. Mas o único efeito prático deste tipo de análise seria tornar ainda mais difícil, senão praticamente impossível, evitar uma derrota estratégica nos próximos meses e anos;
13) assim, acho que o ponto de partida não deve ser o que fazer uma vez que o PT não vai cumprir o seu papel. O ponto de partida deve ser o que se pode fazer que possa contribuir para que o PT cumpra um papel positivo nesta conjuntura. Lembro, para reforçar meu raciocínio, que o ato do dia 13 não ocorreria sem a CUT. E a CUT é dirigida pelo mesmo setor que dirige o PT. Logo, há condições de virar o jogo.
A ofensiva da oposição de direita não começou em 15 de março. Eles vinham aglutinando forças desde o início do primeiro mandato de Dilma e começaram a brotar nas manifestações de 2013 e de lá pra cá só intensificaram essa ofensiva.
ResponderExcluirO erro do PT na política foi duplo. Enquanto governo não politizou suas ações em favor dos milhões de favorecidos, aguardando apenas reconhecimento. Enquanto partido não preenche, esse vazio deixado por seu governo. Perdeu o protagonismo e o papel dirigente, isto é, instalado no leme, olhou para nada ver e foi surpreendido pela circunstâncias.
O clico de 12 anos do governo do PT f oi muito virtuoso. Não dá pra dizer agora, nesse novo ciclo, se não será. Analisar a economia de um País de forma imediatista falseia as conclusões.
Não dá pra falar em descontrole inflacionário, uma vez que os dados indicam que o governo Dilma teve menor taxa média de inflação nos últimos 16 anos (8 de FHC e 8 de Lula)
Não dá pra falar em perdas do poder aquisitivo, uma vez que os dados indicam que houve aumento e valorização dos salários públicos e privados, com as respectivas reposições , no mínimo.
Não da pra falar em caos no serviço público transformando a exceção em regra. Quem usa, por exemplo o SUS, conforme pesquisa, a maioria, o avalia muito bem.
O aumento do desemprego deve-se mais a ação política dos agentes públicos da oposição de direita em torno da Petrobras, na chamada Operação Lava-Jato.
Por mais justa que seja a linha e a ação política, deve-se, antes de tudo, sob pena de derrota, observar a correlação de forças. Nesse momento a mesma é favorável a oposição de direita.
O momento é de aglutinação da forças progressistas, democráticas e de esquerda em torno do PT e seu governo, a fim de barrar a sanha golpista e anti-democrática da oposição de direita.
Em suma, o PT tem que voltar a dirigir e voltar a ser protagonista. Ir a reboque não combina com Partido que se preze! É chocante ler na página do PT (por sinal, água com açucar ) que ele aderiu (sic!) a proposta da CNBB pra Refroma Política!...
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