Projeto
de resolução para debate e deliberação no Segundo Congresso da tendência
petista Articulação de Esquerda
O segundo congresso da tendência petista Articulação
de Esquerda vai ser realizado no Instituto Cajamar (SP), de 2 a 5 de abril de
2015. Simultaneamente, ocorrerá a Conferência sindical da tendência.
A pauta do segundo congresso da AE inclui os
seguintes pontos: 1) balanço das eleições 2014; 2) desafios e propostas para o
segundo mandato Dilma Rousseff, para a luta social, para a comunicação e
cultura, para os governos/parlamentos estaduais e municipais, para as eleições
2016 e 2018; 3) nossas propostas de reforma programática, estratégica e
organizativa do Partido dos Trabalhadores; 4) atuação e organização da
Articulação de Esquerda; 5) eleição da nova direção nacional da Articulação de
Esquerda e da Comissão de ética nacional.
A seguir apresentamos a primeira versão do projeto
de resolução sobre o ponto 2 da pauta: “Desafios e propostas para o segundo
mandato Dilma Rousseff, para a luta social, para a comunicação e cultura, para
os governos/parlamentos estaduais e municipais, para as eleições 2016 e 2018”.
Desafios e
propostas
1. A vitória de Dilma Rousseff nas eleições
presidenciais de 2014 foi a vitória daqueles que defendem combinar
desenvolvimento com democracia, bem estar social, soberania nacional e
integração regional.
2. Contudo, a vitória de Dilma Rousseff foi
acompanhada pela eleição de um Congresso nacional mais conservador do que o das
legislaturas anteriores, bem como da eleição de governadores vinculados à
oposição de direita em estados importantes. Derrotamos o retrocesso, mas nem em
2006, nem em 2010 o campo conservador esteve tão perto de recuperar a
Presidência.
3. Tomado de conjunto, considerando em particular o
quadro econômico nacional e internacional, o cenário pós-eleitoral é bastante
difícil. A este quadro soma-se a chamada Operação Lava Jato, não apenas por
seus efeitos políticos e midiáticos, mas também por seu impacto sobre a
Petrobrás, sobre outras empresas e sobre o conjunto da economia.
4. Em síntese: nas eleições presidenciais de 2014,
impedimos o retrocesso que seria causado por uma vitória da oposição de
direita, mas não criamos as condições institucionais necessárias para fazer um
segundo mandato superior.
5. Os derrotados na eleição presidencial perceberam
isto desde o primeiro momento. Questionaram formalmente o resultado, inclusive
promovendo uma “recontagem” de votos. Estimularam e participaram de
manifestações nas quais setores de ultradireita pediram por uma ditadura
militar. Não escondem sua disposição de sabotar e até mesmo interromper o
mandato presidencial que ora se inicia. Mantém intensa pressão política e
midiática em favor da aplicação do programa derrotado nas urnas.
6. Frente a tudo isto, o governo da presidenta Dilma
Rousseff teria três opções fundamentais.
7. A primeira opção seria
aplicar integral e imediatamente o programa vitorioso no segundo turno da campanha
presidencial.
8. Esta hipótese, para ser exequível e exitosa,
dependeria do governo, do PT e de seus aliados na esquerda partidária e social
superarem também integral e imediatamente seus atuais déficits de organização,
mobilização e consciência. O que teria como pressuposto a adoção de outra
estratégia, não apenas por parte do Partido e aliados de esquerda, mas também
por parte da própria presidenta.
9. A segunda opção seria fazer mediações entre o programa vitorioso nas
eleições presidenciais, as debilidades do campo popular, o poderio demonstrado
pela oposição de direita, os níveis de infidelidade na chamada base de governo
e as circunstâncias difíceis deste início de mandato.
10. Nesta hipótese, o governo iniciaria a aplicação do
programa vitorioso nas eleições, mas num ritmo que permitiria ao próprio
governo, ao PT e aos seus aliados na esquerda partidária e social superar seus
atuais déficits de organização, mobilização e consciência. Portanto, as mediações visariam ganhar tempo, tempo
necessário à criação das condições para transitar da atual estratégia (baseada
em melhorar a vida do povo
através de políticas públicas) para outra estratégia (baseada em transformar a vida do povo
através da combinação entre políticas públicas e reformas estruturais).
11. A terceira opção seria fazer concessões programáticas aos que perderam a eleição.
12. Quando falamos de concessões programáticas,
não nos referimos principalmente à composição do ministério. Afinal, dada a
política de alianças e o resultado eleitoral, era previsível que o ministério
do segundo mandato Dilma incluiria personagens incompatíveis com um programa
democrático-popular, com reformas estruturais, com transformações mais
profundas, como aliás tem sido até aqui.
13. Quando falamos de concessões programáticas,
tampouco nos referimos a aspectos do programa. Pelos mesmos motivos
citados no ponto acima, é óbvio que no conjunto das ações do segundo mandato
Dilma haveria iniciativas do interesse de aliados de direita e de setores do
grande capital.
14. Quando nos referimos a concessões programáticas,
nos referimos a adoção de uma política
econômica de ajuste fiscal através de medidas recessivas. Falamos,
portanto, de um tipo de concessão que contamina todo o governo, todas as
políticas públicas, o conjunto da economia, da sociedade e da política
brasileira.
15. Embora em nenhum momento isto tenha sido dito
desta forma, os fatos nos indicam que a presidenta Dilma Rousseff escolheu esta
terceira opção.
16. O ajuste fiscal implementado pelos ministros
Joaquim Levy e Nelson Barbosa vai provocar recessão. A lógica de cortar
“despesas” trabalhistas (MPs 664 e 665) e aumentar juros beneficia o setor
financeiro e seus sócios, em detrimento do restante da sociedade.
17. Um país que crescia pouco ou não crescia,
necessitava de outro tipo de “ajuste fiscal”. O Brasil necessitava e segue
necessitando de um “ajuste fiscal” que transfira recursos da especulação para a
produção, da minoria rica para a maioria trabalhadora. Só desta forma será
possível combinar a recomposição da indústria – sem a qual não há crescimento
nem desenvolvimento – com a ampliação do bem estar social.
18. A opção pelo ajuste fiscal através de medidas
recessivas não é novidade no Brasil. Agora, como nos 1980 e 1990, seus
defensores argumentam que reduzindo os ganhos dos trabalhadores, espera-se que
os capitalistas se vejam estimulados a investir, com isso a economia volta a
crescer e no final "todos ganham", ainda que alguns ganhem mais do
que os outros.
19. Todos sabemos quais foram os efeitos deste
"modelo" nos anos 1980 e 1990, no Brasil. E todos estamos vendo sua
aplicação produzir um desastre político e social em parte da Europa.
20. Evidente que Nelson Barbosa e Joaquim Levy são
obrigados, ao implementar este "modelo", a levar em considerações
certos limites impostos pela presidenta, que assumiu compromissos públicos no
processo eleitoral, não apenas com seus eleitores, mas com a tão citada nação
brasileira.
21. Entretanto, os
seguidos aumentos da taxa de juros; o veto ao reajuste da tabela do IR; as
alterações previstas nas MP 664 e 665; a decisão de não vetar o artigo 143 da
Medida Provisória 656/2014, que permite investimentos estrangeiros nos serviços
de saúde; e a proposta de abertura do capital da Caixa Econômica Federal
revelam que os limites impostos pela presidenta tendem a ser atropelados pela
lógica global das medidas.
22. A opção por uma política econômica de ajuste
fiscal através de medidas recessivas está tornando a situação mais perigosa do
que já era: a) uma conjuntura por si já extremamente complexa; b) os efeitos
das medidas recessivas citadas; c) uma oposição que continua belicosa,
estimulada por d) uma mídia que interpreta as medidas do governo como prova de
que tinham razão no debate eleitoral; e) demandas políticas e sociais
pendentes, especialmente de políticas urbanas e agrárias; f) importantes
movimentos sociais – com destaque para a CUT e outras centrais sindicais – convocando
mobilizações contra as medidas do governo; g) dúvidas, confusão e conflitos em
segmentos crescentes da base eleitoral, social e militante que elegeu a
presidenta Dilma.
23. Todos sabíamos que o segundo mandato Dilma
Rousseff seria um governo em disputa, como foram os dois mandatos de Lula e o
primeiro mandato de Dilma. Portanto, estava óbvio que seria necessária forte
mobilização, tanto para apoiar o governo contra a direita e o grande capital,
quanto para enfrentar determinadas políticas resultantes de um governo de
coalizão – o que nos obrigaria a reforçar o PT e a construir uma frente
orgânica com os aliados da esquerda partidária e social, em defesa das reformas
estruturais.
24. Mas a opção por uma política econômica de ajuste
fiscal através de medidas recessivas ameaça
mudar perigosamente os termos da equação. Pois uma coisa é mobilizar contra aspectos da política do governo, ao mesmo tempo
que se concorda com o fundamental; e outra coisa profundamente diferente é
mobilizar contra aspectos fundamentais da política do governo, contra
concessões programáticas centrais que o governo faz ao grande capital e à
direita.
25. Noutras palavras: a opção feita pela presidenta
Dilma Rousseff, a favor de uma política econômica de ajuste fiscal através de
medidas recessivas coloca o Partido dos Trabalhadores e o conjunto da esquerda
que nos ajudou a vencer as eleições de 2014 frente a uma encruzilhada extremamente perigosa
e totalmente desnecessária.
26. As pesquisas de opinião pública divulgadas após as
eleições de outubro de 2014 não refletiam nada do que dissemos até agora. Pelo
contrário, os números indicavam um crescimento no apoio à presidenta e ao
governo. Contudo, a experiência de 2013 e 2014 nos ensinou a não confundir a
foto com o filme. E isto foi confirmado nas pesquisas de opinião divulgadas em
fevereiro de 2014, mostrando uma queda acentuada no apoio à presidenta, ao
governo e ao PT.
27. Certamente, há petistas que acreditam sinceramente
que o “ajuste” perseguido por Levy e Barbosa é necessário, virtuoso e pode
contribuir para avanços posteriores rumo à “revolução democrática”. Assim como
sempre há quem aplauda qualquer aliança e qualquer ação do governo. Contudo, a
justa reação da Central Única dos Trabalhadores contra a abertura do capital da
Caixa Econômica Federal e contra as MP 664 e 665 demonstra que na militância é
crescente a inquietação com as opções feitas pelo governo.
28. A preocupação é reforçada pela matemática da política.
Ocorre que não atuamos na correlação de forças de 2002, 2006 ou 2010. Estamos
nos marcos da correlação de forças de 2014, o que significa dizer que
relativamente pequenas defecções em nossa base podem nos levar a uma derrota
global.
29.Evidente que os atos iniciais de um governo não
obrigatoriamente determinam seu desfecho. Neste sentido, é bom lembrar que os
dois mandatos de Lula e o primeiro mandato de Dilma fizeram concessões ao
grande capital, à oposição de direita e ao oligopólio da comunicação. Isto foi
especialmente evidente nos períodos em que o ex-ministro Palocci ocupou
posições de destaque, tanto no primeiro mandato de Lula quanto no primeiro
mandato de Dilma.
30.As concessões feitas ao grande capital, à oposição
de direita e ao oligopólio da comunicação faziam parte de uma estratégia melhorista,
que visava melhorar a vida do povo através de políticas públicas, não de reformas estruturais. Esta estratégia melhorista é profundamente
diferente da estratégia que o PT construiu e aplicou nos anos 1980 e em parte
dos anos 1990. Naquele período, a estratégia do PT visava melhorar a vida do
povo combinando políticas públicas e transformações estruturais de natureza
democrático-popular, articuladas com a luta pelo socialismo.
31.Esta alternativa democrático-popular e socialista negava a conciliação de classes, considerava que a classe capitalista era nossa inimiga estratégica e afirmava a necessidade de grandes conflitos e rupturas, em que só teríamos êxito se soubéssemos combinar atuação partidária, grandes batalhas culturais, luta social e ação institucional.
31.Esta alternativa democrático-popular e socialista negava a conciliação de classes, considerava que a classe capitalista era nossa inimiga estratégica e afirmava a necessidade de grandes conflitos e rupturas, em que só teríamos êxito se soubéssemos combinar atuação partidária, grandes batalhas culturais, luta social e ação institucional.
32.Depois das
eleições de 1989, frente ao efeito combinado da ofensiva neoliberal e da “crise
do socialismo”, amplos setores do PT abandonaram a estratégia
democrático-popular e socialista, adotando em seu lugar a estratégia
melhorista, primeiro numa versão crítica ao neoliberalismo e defensora de uma
aliança com os setores produtivos do grande capital; e depois na versão
social-liberal da "Carta aos Brasileiros" (2002) , que fazia
concessões diretas ao capital financeiro e transnacional. O principal argumento
em favor desta estratégia melhorista sempre foi o da correlação de forças. Acreditava-se
que este caminho seria menos conflituoso e dispensaria rupturas, pois afinal de
contas não estaria em questão fazer transformações estruturais. Pelo mesmo
motivo, ampliou-se ao centro e à direita o nosso arco de alianças e a nossa
ação coletiva foi concentrando-se nas instituições, deixando de lado grande
parte da antiga ênfase acerca do papel estratégico da vida partidária, da luta
social e da batalha cultural.
33. A história dos últimos 12 anos, entretanto, revela
que enquanto a esquerda moderava sua estratégia, os setores hegemônicos da
direita e do grande capital radicalizaram sua oposição. Para tais setores,
trata-se de impedir que o
povo melhore de vida por ação do Estado. E, por isso, quando nosso
governo introduz políticas públicas vigentes em países da Europa, aqueles
setores da direita e do grande capital reagem como se estivéssemos promovendo
uma revolução socialista. Demonstrando algo que o PT dizia nos anos 1980: a
conciliação de classes servia ao pacto das elites, não aos interesses democráticos
e populares.
34. Para os setores hegemônicos da direita e do grande
capital, pouco importa o que façamos, importa
quem somos, o que expressamos como projeto de sociedade. Por isto,
trabalham para destruir o PT e o conjunto da esquerda. Neste contexto, insistir
numa estratégia que a realidade vem superando, não é apenas um erro: é
um suicídio.
35. Implementar, mesmo que parcialmente, o programa
dos derrotados na eleição contribui para confundir, desorganizar e dispersar as
forças que venceram as eleições presidenciais de 2014, facilita as operações de
sabotagem implementadas pela oposição de direita e também por setores da base
do governo, não ajuda a bloquear eventuais tentativas de interromper nosso
mandato, além de criar um ambiente favorável aos que desejam nos derrotar nas
eleições de 2016 e 2018.
36. Assim, a sobrevivência do PT como partido da
classe trabalhadora, a sobrevivência da esquerda brasileira como representante
do campo popular, exige fortalecer os setores petistas que defendem
a superação da atual estratégia e convencer a maioria do Partido
e o governo da necessidade de mudar de rumo.
Rumo a um segundo mandato superior
37. Não se trata de atribuir ao governo estrito senso
a solução dos problemas estratégicos, como se estes fossem resolvidos através
de atos administrativos como a substituição de ministros, embora isto também
deva ser feito, especialmente nas áreas econômica, de cidades e agricultura.
38. Entretanto, há problemas cuja solução depende no
fundamental de políticas de governo. Entre estas destacamos três: mudar a
política econômica, democratizar a comunicação e realizar a reforma política.
39. Uma das condições de êxito de nosso projeto é a
retomada do crescimento econômico, com ênfase no fortalecimento da capacidade
industrial do Brasil.
40. Trata-se de reverter
o quadro de desindustrialização e desnacionalização, construindo uma forte
cadeia de empresas estatais e públicas nos setores econômicos estratégicos,
para induzir o crescimento a partir de uma perspectiva de desenvolvimento
democrático e popular.
41.Em termos práticos, isso demanda: 1) redução nas taxas de juros, para estimular investimentos produtivos; 2) taxas de câmbio administradas, que elevem a competividade dos manufaturados brasileiros no mercado internacional e não prejudiquem a importação de bens de capital para a indústria; 3) reforma tributária que taxe fortemente o capital entesourado e as heranças, estimule o capital produtivo e desonere os rendimentos do trabalho; 4) aplicação firme das leis contra a formação de cartéis, oligopólios e monopólios; 5) criação de empresas estatais que induzam os setores privados, principalmente médios e pequenos, a produzir ciência, tecnologia e inovação, adensar as cadeias produtivas nacionais e realizar um crescimento ampliado da produção industrial e agrícola; 6) ampliar a produção de alimentos, através de mudanças na política agrícola e na estrutura agrária; 7) melhorar as condições de vida da maior parte da sociedade, especialmente fortalecendo econômica, política e culturalmente a classe trabalhadora assalariada.
41.Em termos práticos, isso demanda: 1) redução nas taxas de juros, para estimular investimentos produtivos; 2) taxas de câmbio administradas, que elevem a competividade dos manufaturados brasileiros no mercado internacional e não prejudiquem a importação de bens de capital para a indústria; 3) reforma tributária que taxe fortemente o capital entesourado e as heranças, estimule o capital produtivo e desonere os rendimentos do trabalho; 4) aplicação firme das leis contra a formação de cartéis, oligopólios e monopólios; 5) criação de empresas estatais que induzam os setores privados, principalmente médios e pequenos, a produzir ciência, tecnologia e inovação, adensar as cadeias produtivas nacionais e realizar um crescimento ampliado da produção industrial e agrícola; 6) ampliar a produção de alimentos, através de mudanças na política agrícola e na estrutura agrária; 7) melhorar as condições de vida da maior parte da sociedade, especialmente fortalecendo econômica, política e culturalmente a classe trabalhadora assalariada.
42. A história demonstra que, nos momentos de crise
como os que vivemos, é o Estado que deve tomar a iniciativa de comandar o processo
de manutenção e ampliação dos investimentos necessários. Motivo pelo qual
reafirmamos nossa defesa do caráter público da Caixa Econômica Federal e nossa
exigência por uma redução expressiva e imediata da taxa de juros.
43. Nos últimos anos, o governo brasileiro esforçou-se para impedir que o impacto da crise internacional atingisse os setores populares. Isto teve um alto custo fiscal, criando dificuldades orçamentárias neste início do segundo mandato Dilma Rousseff. Estas dificuldades fiscais devem ser enfrentadas, principalmente, através da redução da taxa de juros, do imposto sobre as grandes fortunas, revisão de subsídios e isenções, progressividade no imposto de renda e demais medidas tributárias que façam os ricos deste país pagarem a conta necessária para superar a crise e retomar o crescimento.
44. Além disso, coerente com o compromisso firmado pela presidenta Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral, de manutenção dos direitos sociais e trabalhistas, o Governo deve retirar as MPs 664 e 665. A mudança na política econômica – entendendo por isto abandonar a lógica do ajuste fiscal recessivo e trilhar o caminho da industrialização com soberania nacional e sustentabilidade ambiental – exigirá uma imensa batalha política.
45.Este momento de crise exige e é propício para um salto qualitativo no modelo de desenvolvimento nacional, com ênfase na inovação e na sustentabilidade. Por exemplo: o planejamento de longo prazo, inclusive no que diz respeito aos serviços ambientais no meio urbano e rural, articulados num programa de desenvolvimento sustentável, é a saída para enfrentar o ciclo recessivo e a “crise hídrica” causada não pela natureza, mas pela ação e inação de governos como o de São Paulo.
46.Um programa socioambiental federal para preservação dos solos, das águas, do clima e da biodiversidade, construído no mesmo espírito de urgência e solidariedade que orientou o Mais Médicos, repercutirá na economia, geração de renda e qualidade de vida para toda população. Sanear, reciclar, implantar energias limpas e com menos dependência de combustíveis fósseis, reduzir desmatamentos e emissões de carbono mitigará os efeitos das crises relacionadas às mudanças climáticas e terá impacto sobre os custos financeiros de outros serviços públicos, como a saúde, por exemplo. Evidentemente isso implica em subverter a timidez das políticas do Ministério do Meio Ambiente, bem como o redirecionamento das políticas do conjunto nas diversas pastas do governo com o mesmo foco. Uma política global de Estado que supere a usual compartimentação, favoreça e estimule o cumprimento dos Acordos internacionais sobre este tema.
47.Aos céticos, quanto à uma guinada de tal envergadura, há que se responder que se o governo foi capaz de mover-se em direção ao programa adversário, poderá fazê-lo no sentido inverso, se estiver convencido de que disto dependerá não apenas sua capacidade de sobrevivência política, mas principalmente os destinos do Brasil.
48.Nossas chances maiores ou menores de êxito nesta
batalha dependem de alterações imediatas na política de comunicação. Quando fala de Pátria Educadora – sem entrar
no mérito do nome utilizado ou das concepções pedagógicas envolvidas – a presidenta
Dilma de fato enfatiza a formação da mão de obra. Sem em nenhum momento reduzir
a importância da elevação do nível educacional técnico e profissional do
conjunto da população brasileira, entendemos que é necessário abordar de outra
forma o problema.
49. Não haverá mudança social profunda no Brasil, se
isto não for acompanhado por uma mudança cultural na visão de mundo da maioria
da população brasileira. Necessitamos tornar hegemônicos os valores
democráticos, populares e socialistas. Mas o que temos assistido desde 2003 é
uma reação das ideias conservadoras em todos os terrenos. Isto se deve, em
parte, ao fato de que não houve nenhuma mudança estrutural no terreno da
cultura, da educação e da comunicação. Ao contrário: o grande capital e a
direita não apenas mantiveram como ampliaram sua ofensiva em cada um destes
terrenos.
50.Cabe, em parte, ao governo alterar esta situação.
No terreno da Cultura, trata-se em primeiro lugar de superar o modelo baseado
na Lei Rouanet. No terreno da Educação, de combinar a ampliação de vagas com o
fortalecimento do setor público, a valorização do profissional da educação e a
mudança no projeto pedagógico. No terreno da comunicação, trata de apoiar a
aprovação da Lei da Mídia Democrática e implementar as principais resoluções da
Conferência Nacional de Comunicação de 2009.
51.A democratização das comunicações favorece a produção
e veiculação livre de conteúdos independentes. A regulamentação e o controle
social da mídia reduzem a manipulação das notícias. Por isso as empresas de
comunicação que dominam o mercado têm reagido atacando o governo. Este, por sua
vez, evoluiu de uma posição liberal -- que confiava no "controle remoto"
-- para a defesa da regulação econômica, que pode levar à quebra do oligopólio.
52. Entretanto, é preciso ir além e rápido: mudar o
conjunto da política de publicidade; apoiar a mídia democrática; e adotar uma
postura ofensiva, da parte do governo, na comunicação com a sociedade.
53.O PIG tenta desqualificar as propostas de controle social da mídia como se fossem censura, parte de uma manobra para encobrir escândalos de corrupção. As empresas que atuam na área tentam aparecer como campeões da “liberdade de expressão”, não apenas para disfarçar suas manipulações, leviandades e calúnias, mas principalmente para ocultar o fato de que oligopólio é quem pratica a censura. Por tudo isto, a comunicação governamental não pode continuar sendo um assunto de agências publicitárias. Para defender com êxito o governo, é preciso que o próprio governo se defenda adequadamente.
53.O PIG tenta desqualificar as propostas de controle social da mídia como se fossem censura, parte de uma manobra para encobrir escândalos de corrupção. As empresas que atuam na área tentam aparecer como campeões da “liberdade de expressão”, não apenas para disfarçar suas manipulações, leviandades e calúnias, mas principalmente para ocultar o fato de que oligopólio é quem pratica a censura. Por tudo isto, a comunicação governamental não pode continuar sendo um assunto de agências publicitárias. Para defender com êxito o governo, é preciso que o próprio governo se defenda adequadamente.
54. O centro da questão está em entender que o governo
é uma instituição política, não apenas administrativa. Este é, aliás, o único
aspecto racional do ataque que a direita faz contra o chamado e mal denominado
bolivarianismo.
55.Em outros governos progressistas e de esquerda
latino-americanos, compreende-se claramente que o papel do governo é não apenas
administrar, é também liderar politicamente. Já em setores da esquerda
brasileira, prevalece uma visão administrativista e tecnocrática.
56. As manifestações massivas de 2013 levaram a presidenta Dilma a defender a necessidade de uma profunda reforma política. O tema voltou a ser defendido na campanha eleitoral e no discurso de posse da presidenta, apontando como pontos centrais as formas de financiamento das campanhas eleitorais, as regras eleitorais e os mecanismos de interlocução com a sociedade e os movimentos sociais. Mas há um visível recuo na defesa da Constituinte e do Plebiscito. Não há compromisso com a defesa explícita do fim do financiamento empresarial, do voto em lista, do fim das coligações proporcionais, da paridade de gênero etc.
57.Se o governo não impulsionar com firmeza a mobilização em favor destas mudanças concretas, restará apenas o protagonismo dos partidos e movimentos democrático-populares para se contrapor ao "protagonismo" do Congresso, com o risco de ser aprovada uma contrarreforma conservadora, a exemplo do “distritão” do PMDB e da proposta coordenada pelo trânsfuga Vaccarezza.
58. Atualmente, os principais projetos ou campanhas que tratam da reforma política são os seguintes:
a) PDL 1508/2013 - projeto de decreto legislativo apresentado pela campanha do Plebiscito da Constituinte e subscrito por mais de um terço dos deputados na Câmara. Também foi protocolado outro projeto com o mesmo teor no Senado Federal. Dispõe sobre a convocação de um plebiscito oficial com a mesma pergunta do plebiscito popular de setembro de 2014: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?”
b) PEC 352/13 - proposta de emenda
constitucional elaborada pelo GT da Câmara dos Deputados, cujo relator foi o
ex-deputado Cândido Vaccarezza. Foi retomada por Eduardo Cunha nas últimas
semanas e constitucionaliza o financiamento empresarial da política, uma
modalidade de voto distrital, o voto facultativo, o fim da reeleição para
cargos no Executivo, a coincidência das eleições em todos os níveis, a criação
de cláusula de barreira, a unificação do prazo mínimo de filiação para a
elegibilidade em seis meses, entre outros retrocessos.
c) Formulário do abaixo-assinado do
projeto de iniciativa popular de reforma política do PT. Consta os quatro
principais pontos defendidos pelo partido: 1) financiamento público
exclusivo de campanhas políticas; 2) Voto em lista preordenada para
os parlamentos; 3) Aumento compulsório da participação feminina nas
candidaturas; 4) Convocação de Assembleia Constituinte exclusiva sobre Reforma
Política.
d) Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 4650), de iniciativa da OAB, questiona o
financiamento de empresas aos partidos políticos e nas campanhas eleitorais. Já
reúne maioria de 6 votos a 1 a favor da proibição do financiamento empresarial,
mas desde abril de 2014 o ministro Gilmar Mendes pediu vistas da ação e não
devolve para terminar o julgamento.
e) Projeto de Lei da Coalização pela
reforma política democrática e eleições limpas (PL 6316/13). Impulsionada pela
OAB, CNBB e outros movimentos, tem como principais eixos: 1)
"financiamento democrático" de campanha (proibição da doação
empresarial e doação de pessoa física em até R$ 700); 2) Eleição proporcional
em dois turnos (1º no partido, depois no candidato); 3) Paridade de gênero na
lista pré-ordenada e 4) ampliação dos instrumentos de democracia direta.
59.
Desde a
eleição do Eduardo Cunha, estamos sofrendo uma ofensiva da direita no debate da
reforma política. Na verdade, a direita mudou de tática sobre o tema. Se
antes atuava para impedir a aprovação dos projetos da esquerda no Congresso
Nacional, agora quer aprovar sua própria proposta de reforma política.
60. Como
um de seus primeiros atos, o novo presidente da Câmara submeteu e o
plenário da Câmara aprovou a admissibilidade da Proposta de Emenda
Constitucional 352/13, a PEC Vaccarezza/Henrique Alves, que estava até então na
Comissão da Constituição e Justiça.
51.Desde
2013, o PT e a sua bancada têm posição contrária à PEC por considerá-la uma
contrarreforma política.
62. Para
incidir nas próximas eleições, a direita trabalha com a meta de aprovar a
contrarreforma no Congresso até o final de setembro e atua em jogo combinado
com o ministro do STF Gilmar Mendes, que segura há 11 meses uma Ação de
Inconstitucionalidade (ADI 4650) de iniciativa da OAB que propõe o fim do
financiamento empresarial.
63. No
STF, a ação já alcançou a maioria de 6 a 1 favorável à proibição. No entanto,
se a PEC da contrarreforma for aprovada neste meio tempo, constitucionalizando
o financiamento empresarial, corremos o risco da ação ser prejudicada.
Daí a importância do movimento “Devolve, Gilmar”.
Governos e
parlamentos: preparar as eleições 2016 e 2018
64. Como já dissemos, a vitória de Dilma Rousseff foi
acompanhada pela eleição de um Congresso nacional mais conservador do que o das
legislaturas anteriores, bem como da eleição de governadores vinculados à
oposição de direita em estados importantes.
65. A oposição de direita pretende aprofundar sua hegemonia
institucional, nas eleições municipais de 2016 e nas eleições gerais de 2018.
66. Frente a isto, o Partido deve abandonar o discurso de que “a
oposição não aceita que a eleição acabou” e adotar um discurso que explique ao
povo brasileiro o que está em jogo, a importância de se organizar nos
movimentos populares e instrumentos de luta dos trabalhadores e das
trabalhadoras e de apoiar os governos e parlamentares vinculados à esquerda, a
necessidade de pressionar os parlamentos e governos de direita e a
inevitabilidade de novos confrontos eleitorais em 2016 e 2018.
67. A atenção dedicada pelo PT aos rumos do governo Dilma
Rousseff não pode nos levar a deixar de lado o acompanhamento dos governos
estaduais e municipais, com destaque para aqueles encabeçados pela esquerda,
especialmente pelo PT.
68. Neste contexto, ressaltamos a importância do governo de
Minas Gerais no desmascaramento do modo tucano de governar.
69. Também neste contexto, manifestamos nosso repúdio à chacina
ocorrida recentemente em Salvador, Bahia, praticada por policiais militares,
frente a qual nosso governador adotou uma postura absolutamente tradicional,
que banaliza a guerra que está sendo praticada contra a juventude negra e
pobre. Para além do conteúdo, certas declarações
feitas pelo governador – comparando os PMs a jogadores de futebol – foram de
uma infelicidade atroz. Ao mesmo tempo que nos somamos aos que protestaram,
exigindo investigação e punição, reafirmamos nossa defesa da desmilitarização
das Polícias Militares. E cobramos um posicionamento do conjunto do PT e da
área de direitos humanos do governo federal.
70. Manifestamos, ainda, a necessidade de apoiar o governo
estadual do Maranhão, no desmonte da oligarquia Sarney.
71. Finalmente, ressaltamos a importância do êxito da gestão encabeçada por Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo. Neste sentido, é preciso
impedir que se repita – agora e em 2016 – os erros táticos que nos levaram a
uma derrota nas eleições 2014 em SP.
72. Embora a tática eleitoral em 2016 tenha aspectos locais,
cabe ao Partido definir os parâmetros nacionais do processo, em torno das
seguintes diretrizes: apoio ao governo Dilma, defesa de uma plataforma de
aprofundamento das mudanças e prioridade para os partidos de esquerda nas
alianças.
73. É necessário, também, o
acompanhamento dos governos municipais e estaduais vinculados à oposição.
74. Um exemplo da tática frente aos governos de direita é a
mobilização ocorrida no Paraná, contra as
políticas neoliberais de desmonte do Estado, de precarização dos serviços
públicos e de cortes nos direitos de servidores, promovidas pelo governador
tucano Beto Richa.
75. Um contraexemplo é a ausência do PT (até o momento em que
escrevemos este texto) em mobilizações frente ao descalabro hídrico causado
pelo governo tucano de Alckmin.
76. Para além dos governos, é preciso atenção para os
parlamentos, com destaque para o Congresso Nacional.
77. O resultado da eleição da presidência da Câmara dos
Deputados confirma a predominância do conservadorismo e do fisiologismo entre
os parlamentares eleitos em 2014.
78. A vantagem obtida por Eduardo Cunha, vitorioso no primeiro
turno com 267 dos 513 deputados, demonstra a necessidade de outro tipo de
governabilidade, que não se iluda com a chamada "base do governo".
79. Neste congresso conservador e sob a presidência de Eduardo
Cunha, temas como a reforma política, a lei da mídia democrática, a punição dos
crimes da ditadura militar, o combate à corrupção e mesmo a cassação do
deputado Jair Bolsonaro só terão chance de êxito se houver intensa pressão
social.
80. Neste contexto, setores do Partido defendiam uma composição
com a candidatura de Eduardo Cunha. E criticam a opção feita pela bancada, de
lançar a candidatura de Arlindo Chinaglia. Os defensores desta proposta seguem
não entendendo o quadro político brasileiro e a necessidade de mudar de tática
e de estratégia. Continuam acreditando que mais vale um péssimo acordo do que
uma boa briga.
81. A bancada do PT na Câmara dos Deputados agiu corretamente.
Poderíamos ter vencido, se a composição do ministério e a atitude do conjunto
do governo tivesse sido outra. Mas sabíamos, desde o princípio, que era grande
a chance de derrota. E ainda assim era fundamental ter candidatura. Em primeiro
lugar porque são nulas as chances de composição com o que Eduardo Cunha
representa, salvo ao preço da descaracterização mais abjeta do PT. Em segundo
lugar, por demonstrar quem efetivamente combate as práticas fisiológicas, corruptas e antipopulares. Em terceiro lugar, para
sinalizar aos setores democráticos da sociedade e do próprio Congresso Nacional
a necessidade de uma nova tática, seja para combater as tentativas de
retrocesso – com destaque para a contrarreforma política – que o novo presidente
da Câmara dos Deputados busca implementar, seja para lutar por nossa plataforma
democrática e popular.
82. Embora menos dramático, o quadro no Senado tampouco é
tranquilo. Sem mobilização social, a força da direita na institucionalidade não
apenas sufocará qualquer chance de aprofundar as mudanças no país, como
provocará retrocessos.
Luta social
83. O espaço de atuação do governo depende em grande medida da
mobilização política e social. Portanto, uma de nossas tarefas principais, em
2015 e adiante, será construir as condições políticas e sociais para um segundo
mandato superior. Tarefa na qual o PT, partidos, sindicatos e movimentos
sociais aliados, bem como a intelectualidade democrática, têm muito a dizer e
fazer.
84. É necessário criar uma articulação
permanente do conjunto das forças políticas, sociais e culturais que
construíram a nossa vitória no segundo turno das eleições de 2014. Partidos
e setores de partidos, movimentos sociais, trabalhadores da cultura e
intelectualidade democrática devem ser convidados a compor uma grande frente
onde possam debater e articular ações comuns, seja em defesa da democracia,
seja em defesa das reformas democrático-populares.
85. Nos marcos desta articulação, é necessário relançar a campanha pela reforma política e
pela mídia democrática, contribuindo para que o governo possa tomar medidas
avançadas nestas áreas e para sustentar a batalha que travaremos a respeito no
Congresso Nacional.
86. A eleição de Cunha para dirigir a Câmara dos Deputados mais conservadora desde a redemocratização reforça a centralidade da mobilização do campo democrático-popular por um plebiscito oficial que convoque uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político, sem prejuízo de avançarmos em medidas imediatas de uma reforma política popular, como a proibição do financiamento empresarial e o financiamento público, o fim das coligações nas eleições proporcionais, o voto em listas partidárias, a paridade de gênero, a ampliação dos canais de participação popular, entre outros.
87. A militância do PT deve ser convocada a participar ativamente da luta pela reforma política, apoiando as iniciativas do movimento social e do partido, particularmente a mobilização da campanha do Plebiscito da Constituinte e a coleta de assinaturas da campanha do PT.
88. Entretanto, neste momento é
fundamental criarmos um centro de unidade em que as três principais
campanhas pela reforma política que têm presença do campo democrático-popular –
o Plebiscito Constituinte, a Coalizão e o projeto de iniciativa popular do PT –
marchem unificadas, preservando suas bandeiras próprias, mas contra o
retrocesso da PEC da contrarreforma e pelo "Devolve, Gilmar!".
89. A mobilização da sociedade será fundamental para impedir
mais um retrocesso no nosso sistema político. Ao mesmo tempo, é o momento
oportuno para a presidenta Dilma, os movimentos sociais e partidos de esquerda
resgatarem o programa vitorioso das urnas de uma reforma política democrática e
a convocação de um plebiscito oficial que dê voz ao povo nas mudanças do
sistema político.
90. No âmbito desta articulação permanente do conjunto das forças que apoiaram no segundo turno a reeleição de Dilma, devemos aprovar o engajamento coletivo nas mobilizações sociais, a exemplo da jornada convocada pela CUT e centrais sindicais para fevereiro de 2015, a construção do 8 de março e do Primeiro de Maio.
91. Faz-se necessário, também, implementar uma política de comunicação do campo democrático e popular, iniciando pela construção de um jornal diário de massas e de uma agência de notícias, articulados a mídias digitais (inclusive rádio e TV web), com ação permanente nas redes sociais, que sirvam de retaguarda e de instrumento do campo democrático-popular na batalha de ideias. Integrar esta ação de comunicação política com o amplo movimento cultural que está em curso neste país e que foi tão importante no segundo turno. A política de comunicação que necessitamos se integra à política de cultura e de educação, com o objetivo de criar uma cultura de massas orientada por valores democrático-populares e socialistas, combatendo a crescente ofensiva conservadora no terreno das ideias.
92. Finalmente, é preciso compreender que a defesa do governo também exige mobilização social. Um exemplo disto são as mobilizações em defesa da Petrobrás, do Pré-Sal, do modelo de partilha e da política de conteúdo nacional, contra os ataques da oposição de direita.
93. Na articulação permanente do conjunto das forças políticas,
sociais e culturais que construíram a nossa vitória
no segundo turno das eleições de 2014, o PT defenderá a seguinte plataforma
democrática e popular:
a)
Reforma política, através de
uma Constituinte exclusiva seguida de uma consulta oficial à população, para
que esta referende ou não as decisões da Constituinte. Destacamos a luta pelo
fim do financiamento empresarial, essencial para combater a corrupção na
sociedade, no Estado e nos partidos políticos;
b)
Democracia na comunicação, com
a Lei da Mídia Democrática e a implantação das principais resoluções da
Conferência Nacional de Comunicação de 2009;
c)
Democracia representativa,
democracia direta e democracia participativa, para que a mobilização e luta
social influencie a ação dos governos, das bancadas e dos partidos políticos. O
governo precisa dar continuidade à participação social na definição e
acompanhamento das políticas públicas e tomar as medidas para reverter a
derrubada da Política Nacional de Participação Social, objeto de decreto
presidencial cancelado pela maioria conservadora da Câmara dos Deputados no dia
28/10/ 2014;
d)
Pauta da classe trabalhadora, onde
se destacam o fim do fator previdenciário e a implantação da jornada de 40
horas sem redução de salários, assim como as medidas indicadas por seis
centrais sindicais em nota divulgada dia 13/1/2015;
e)
As reformas estruturais, com
destaque para a Lei da Mídia Democrática, a reforma política, as reformas
agrária e urbana, a universalização das políticas de saúde e educação, a defesa
dos direitos humanos e a desmilitarização das Polícias Militares;
f)
Salto na oferta e na qualidade
dos serviços públicos oferecidos ao povo brasileiro, em especial na educação
pública, com reformas pedagógicas e curriculares no ensino básico, médio e
universitário; no transporte público; na segurança pública e no SUS, sobre o
qual reafirmamos nosso compromisso com a universalização do atendimento e o
repasse efetivo e integral de 10% das receitas correntes brutas da União para a
saúde pública;
g)
Ampliação da importância e dos
recursos destinados às áreas da comunicação, da educação, da cultura e do
esporte, pois as grandes mudanças políticas, econômicas e sociais precisam
criar raízes no tecido mais profundo da sociedade brasileira;
h)
Proteção dos direitos humanos,
defender os direitos e a vida das mulheres, criminalizar a homofobia, enfrentar
o racismo e os que buscam criminalizar os movimentos sociais. Afirmamos o
compromisso com a revisão da Lei da Anistia de 1979 e com a punição dos
torturadores. Assim como com a reforma das polícias e a urgente
desmilitarização das PMs, cuja ineficiência no combate ao crime só é superada
pela violência genocida contra a juventude negra e pobre das periferias e
favelas;
i)
Total soberania sobre as
riquezas nacionais, entre as quais o Pré-Sal, e controle democrático sobre as
instituições que administram a economia brasileira, entre as quais o Banco
Central, a quem compete entre outras missões combater a especulação financeira
que está por detrás das candidaturas da oposição de direita.
j)
Política de desenvolvimento de
novo tipo, ambientalmente orientada, articulada com as reformas estruturais
(com destaque para as reformas urbana, agrária e
tributária) democráticas e populares e com nossa luta
pelo socialismo.
94. É a luta por medidas políticas e
diretrizes programáticas desta natureza, amplas, envolventes, de natureza mais
social que institucional, que farão a diferença nos próximos quatro anos. E que
ajudará a construir as condições para nossa vitória em 2016 e 2018.
Texto em debate. Sujeito a alterações.
Parabéns! Esforço valoroso! É bom saber que há dentro do PT aqueles que continuam articulando programas e ideias.
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