Segundo Paulo Moreira Leite (ver artigo reproduzido ao final), a queda nos índices de popularidade da presidenta Dilma Rousseff não estaria relacionada a fatos objetivos (tais como a inflação e o desemprego), mas sim a fatos subjetivos: "Dilma emudeceu e debate político voltou ao controle da velha mídia".
Entretanto, como o próprio PML percebe, a queda de 19 pontos nas categorias bom e ótimo exige outra explicação, para além do silêncio presidencial e da ação do oligopólio.
PML aponta que "eleitores que garantiram a vitória de Dilma no segundo turno, num confronto polarizado de projetos políticos, ficaram decepcionados com aquilo que veio depois. Hoje, diz o DataFolha, um total espantoso de 54% dizem que Dilma é “falsa” — número que chegava a 13%, anteriormente".
Ou seja: não se trataria exatamente de silêncio presidencial, mas sim de barulhentas medidas, contraditórias com o que havia sido dito antes e "economicamente desvantajosas para os assalariados".
Tais medidas reduziram o apoio de quem votou em Dilma e reforçaram a oposição de quem votou contra.
Cabe perguntar: tais medidas eram inevitáveis? Ou haveria alternativa?
Se elas eram inevitáveis, uma eficiente política de comunicação serviria no máximo para reduzir os danos.
Mas se havia alternativa, estamos diante de uma situação que poderia ter sido evitada. E que pode ser mais facilmente revertida.
Sobre o tema, a maioria dos integrantes do diretório nacional do PT -- reunido no dia 6 de fevereiro de 2015-- limitou-se a "sugerir ao governo que dê continuidade ao debate com o movimento sindical e popular, no sentido de impedir que medidas necessárias de ajustes incidam sobre direitos conquistados".
Esta também foi a linha adotada pelo ex-presidente Lula e por Rui Falcão, presidente nacional do PT. Seus discursos no aniversário de 35 anos do Partido estão em:
http://www.institutolula.org/discurso-de-lula-na-comemoracao-dos-35-anos-do-pt
http://www.pt.org.br/em-discurso-falcao-conclama-pt-a-defender-governo-dilma/
Ou seja, os setores majoritários na direção nacional do PT não quiseram orientar a presidenta a retirar as Medidas Provisórias 664 e 665, não quiseram dizer à presidenta que existe alternativa a esta política de ajuste fiscal recessivo.
O próprio Paulo Moreira Leite afirma que as tais medidas "seriam justificáveis do ponto de vista técnico".
Ora, se é assim, então a presidenta Dilma estaria pagando o preço não apenas pelo "silêncio", mas principalmente por adotar medidas impopulares porém supostamente adequadas e inevitáveis.
Nesta caso, parte do "silêncio" presidencial talvez decorra da política adotada. Pois por melhor que seja a política de comunicação, é quase impossível dourar certas pílulas.
Assim, os que acreditam na inevitabilidade desta política (medidas inclusive) deveriam parar de cobrar da presidenta o impossível, a saber: fazer um ajuste recessivo, manter uma política de comunicação ativa e preservar a popularidade.
Acontece que, na verdade, a maioria dos integrantes do Diretório Nacional do PT não está de acordo com a política de ajuste adotada pela presidenta. Mas não falam isto publicamente, entre outros motivos porque são prisioneiros de suas próprias opções estratégicas. E como eles tem dificuldade de rever suas opções, acabam imputando à presidenta a Dilma muito mais do que é de Dilma.
É importante lembrar que o acordo estratégico com setores do grande capital, a politica de alianças com partidos de centro-direita e a relação subserviente frente ao oligopólio da mídia não começaram em 2011. Estas opções (e outras que não citamos por razões de espaço) vem de antes.
Uma consequências destas opções estratégicas foi, ao longo de 2003-2010, transferir o comando político de fato do Partido para o governo. Enquanto havia razoável coincidência de propósitos e métodos, isto parecia funcionar bem. Desde 2011 ficou claro não haver mais tanta coincidência. E agora, com a ofensiva da direita e as dificuldades econômicas, estamos vendo formar-se uma tempestade perfeita.
Escapar com poucos danos desta tempestade vai exigir muito esforço. Antes que nada supõe reconhecer que o Partido precisa mudar de estratégia. E que boa parte de nossos problemas não está nos discursos, mas na coerência entre certos discursos e a prática.
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http://paulomoreiraleite.com/2015/02/08/o-silencio-derrubou-dilma/
DILMA PAGA A CONTA PELO SILÊNCIO
8 de fevereiro de 2015 por Paulo Moreira Leite
A inflação não disparou, o desemprego não subiu. Aprovação caiu 19 pontos porque, encerrada a campanha eleitoral, Dilma emudeceu e debate político voltou ao controle da velha mídia
Um mês depois do início do segundo mandato, Dilma Rousseff atinge um nível deprimente de impopularidade. A queda nos índices de aprovação não é uma surpresa. Mas é importante discutir o que está por trás disso.
Nossos analistas econômicos continuam anunciando um apocalipse que insiste em não mostrar sua cara — ao menos até agora. O desemprego não aumentou. A inflação também não disparou. Não há novidade na Operação Lava Jato, que segue seu curso de espetáculo midiático.
Vários fatores explicam a queda de Dilma e pode-se mesmo dizer que o governo federal vive uma situação semelhante à do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e à do prefeito da capital, Fernando Haddad. Estes também caíram na aprovação do eleitor.
Para entender o que aconteceu com Dilma, porém, o ponto principal, na minha opinião, é a mudança no lugar do governo.
O último levantamento disponível, onde números de bom, ótimo, ruim e péssimos estavam praticamente invertidos, refletia a realidade política da campanha presidencial. Os ataques eram violentos e diários — mas Dilma tinha o horário político para defender-se, para argumentar e fazer o contraponto. Apesar da parcialidade dos meios de comunicação, o governo tinha como responder aos ataques, com bom espaço, no horário nobre. Também participava de debates, onde era possível denunciar a falsidade de boa parte das críticas.
Encerrada a campanha, voltamos ao monopólio dos adversários, ao Manchetômetro nosso de cada dia. Para ficar no Jornal Nacional, os números da última semana indicam 24 notícias contrárias para 9 neutras.
Outros fatores também pesaram, porém. O governo não apenas não tinha o horário político para defender-se — mas em nenhum momento empregou o espaço convencional que a presidência oferece a quem está em palácio para dar explicações, argumentar ou responder. Não confrontou versões nem fez a disputa política — condição para impedir que um mentira repetida 1000 vezes se transforme em verdade.
A queda de 19 pontos na categoria bom e ótimo é um movimento tão grande que expressa outro sinal. Difícil negar que eleitores que garantiram a vitória de Dilma no segundo turno, num confronto polarizado de projetos políticos, ficaram decepcionados com aquilo que veio depois. Hoje, diz o DataFolha, um total espantoso de 54% dizem que Dilma é “falsa” — número que chegava a 13%, anteriormente.
A nomeação de um ministro da Fazenda inteiramente identificado com as ideias adversárias já seria complicada em qualquer situação, em particular num país onde a credibilidade não é a virtude mais reconhecida entre os políticos e candidatos. A novidade agravou-se porque a nova direção econômica veio acompanhada de medidas que, mesmo sendo justificáveis do ponto de vista técnico, são economicamente desvantajosas para os assalariados, que mais uma vez sentiram-se chamados, compulsoriamente, a pagar uma conta de ajuste que caiu no seu orçamento, poupando os ricos e endinheirados de qualquer sacrifício.
Como disse na época o professor Wanderley Guilherme dos Santos em entrevista ao 247: o governo precisava ter explicado o que estava fazendo, por que, para chegar aonde. Disse Wanderley, em 16 de dezembro de 2014:
“Quem foi eleita prometendo idéias (e gente) novas para um governo novo, e suplicou o apoio ativo da esquerda na última semana da campanha – arrancada sem a qual teria perdido a eleição – não tem o direito de pedir silêncio quando surpreende a praticamente todos os setores da esquerda com suas indicações. Não se trata de oposição radical aos nomes indicados, mas de expectativa de que sejam informados de qual trajetória a ser cumprida. A indiferença do governo em relação ao espanto e reclamações de seus eleitores, ao lado de afagos a adversários de ontem, pode ser entendida como abuso de confiança. O governo deve satisfações a quem o elegeu.”
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ResponderExcluirInteressante pautar o debate estratégico. Gosto disso, embora não tenha expectativas em mudanças de rumo. Apenas busco compreender os erros de cometidos pelo PT na condução do Brasil. O perfil das alianças que conformaram a direção política do país tem causado problemas reais desde o início. A escolha foi por um caminho cheio de pedras. Basta lembrar os grandes escândalos: Banestado, em 2003; Vampiros da Saúde, em 2004; Mensalão em 2005; Operação Sanguessuga em 2006; Operação Navalha em 2007... De fato, está na hora de fazer um balanço dos resultados alcançados por essas operações da Polícia Federal. Dizem que a Dilma vai falar depois do carnaval. Seria interessante que ela abordasse com detalhes esse assunto. Outro aspecto da estratégia são os objetivos. Neste tópico, vale lembrar da Carta ao Povo Brasileiro, pois ela faz parte dos compromissos assumidos pelo PT para chegar ao Governo Central. Apesar da estratégia adotada, até 2014 tivemos mais motivo para aplaudir do que apedrejar. Depois da eleições, tem uma saraivada de medidas que estão assustando o povo. Ainda não sei o que dizer com tantas contradições entre discurso e a prática em relação à proteção dos direitos trabalhista, a educação e os demais direitos sociais. Como se diz no interior, "tá pra vaca não conhecer bezerro".
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