Texto divulgado em 26 de julho de 2005.
Alguns dirigentes de um Partido que conseguiu eleger o presidente da República preferiram trocar seu bilhete premiado por um punhado de dinheiro. Ou por uma Land Rover.
Alguns dirigentes de um Partido que conseguiu eleger o presidente da República preferiram trocar seu bilhete premiado por um punhado de dinheiro. Ou por uma Land Rover.
Os mais velhos ouviram falar. Os mais novos estão tendo a chance de ver de novo. Pequeno resumo do roteiro: Willy Wonka informa que cinco crianças poderão visitar sua incrível fábrica de chocolate. Para isso, precisam achar o “bilhete premiado” - um ingresso dourado, que foi embalado em apenas cinco barras de seu chocolate, comercializado em todo o mundo.
Das cinco crianças que encontram o ingresso, uma é proleta. Um de seus avôs, antigo operário da fábrica, dança de alegria ao descobrir que poderá acompanhar o neto na visita. Mas a criança, ciente das dificuldades por que passa a família, resolve vender o bilhete premiado por quinhentos dólares.
Nesse ponto, seu outro avô, tão cético quanto o outro é sonhador, chama o neto de lado e lhe diz algo mais ou menos assim: dinheiro, existe muito no mundo. A cada dia, imprimem mais. Mas este bilhete premiado, só há cinco deles. Não troque o seu por dinheiro, você sairá perdendo.
A criança decide ficar com o bilhete. Visita a fábrica junto com o avô. E acaba virando proprietária da fábrica.
Esta história do menino proletário e seu bilhete premiado, lembra a de alguns dirigentes de um Partido que conseguiu eleger o presidente da República. Chegaram onde a esquerda brasileira nunca havia conseguido chegar. Mas preferiram trocar seu bilhete premiado por um punhado de dinheiro. Ou por uma Land Rover.
Jogaram fora o sonho de uma vida, seu passado e seu futuro. Será que esse pessoal não ouviu falar de Willy Wonka? Ou faltou, na hora certa, o conselho de um avô?
Alguns dirigentes jogaram fora o bilhete premiado. O conjunto dos filiados ao PT não pretende fazer isto. Não podemos e não vamos jogar fora o acúmulo que construímos, ao longo dos últimos 25 anos.
Pelo contrário: vamos utilizar o processo de eleição das direções partidárias (PED) para defender o PT, tanto dos ataques da direita, quanto dos erros políticos cometidos pelo grupo que dirige o Partido desde 1995.
Para nós, defender o Partido significa:
a) politizar o processo: a direita e os grandes meios de comunicação não nos atacam por causa de nossos erros; eles se aproveitam de nossos erros, para se livrar de nossas virtudes. O que a direita quer é destruir o PT e reconquistar a presidência da República;
b) reconhecer os erros cometidos: uma política de alianças que gerou Roberto Jefferson, uma política econômica que gerou Henrique Meirelles, uma política de financiamento de campanha que gerou Marcos Valério, um modus operandi na direção partidária que gerou atitudes condenáveis;
c) mudar os rumos do Partido: a crise atual é um desdobramento da estratégia adotada, desde 1995, pelo chamado “campo majoritário”, uma estratégia que parece ter sido capaz de nos conduzir ao governo, mas que não está se demonstrando capaz de nos manter nele, muito menos capaz de disputar o poder.
A cúpula do campo majoritário sabe que grande parte dos seus integrantes discorda dos rumos seguidos pelo PT e pelo governo. Por isso mesmo, esta cúpula está tentando realizar uma renovação conservadora: trocar as pessoas, mantendo a estratégia e o poder do grupo atualmente hegemônico.
Uma renovação conservadora (mesmo que se apresente com o nome simpático de “refundação”) empurrará o Partido para um processo de declínio semelhante ao experimentado pelo Partido Comunista, após o golpe de 1964: derrotas, crises e cisões.
É importante lembrar que nenhuma das organizações surgidas da crise do PC conseguiu substituí-lo enquanto principal partido da esquerda brasileira. Quem fez isso foi o PT, praticamente vinte anos depois do início do declínio do Partido Comunista.
Por isto, é profundamente equivocada a atitude daqueles que pretendem sair do PT, a tempo de filiar-se noutro partido, para concorrer às eleições de 2006.
De nada adiantará trocar nosso Partido por uma legenda: se o PT não sobreviver a esta crise, toda a esquerda brasileira será atingida. Assim, a hora é de defender o PT e tudo o que ele significa para a classe trabalhadora brasileira.
Nenhuma tendência ou indivíduo dará conta, sozinho, de defender o PT. Por isso, consideramos fundamental que o PED seja marcado por um intenso debate de idéias. E que ele resulte num Diretório sem maiorias absolutas, fixas e presumidas. Que nenhuma tendência partidária, sozinha, tenha maioria garantida, para que as maiorias se formem por meio do convencimento político.
De nossa parte, queremos convencer o Partido de que existe uma estratégia alternativa, que expomos na tese A esperança é vermelha e que sintetizamos em alguns compromissos e idéias: o socialismo, o programa democrático e popular, um partido militante e com autonomia frente ao governo federal, a recomposição de nossos laços com os movimentos sociais, mudanças na política de aliança e na política econômica.
Achamos que é possível constituir uma “nova maioria” em torno dessas idéias e compromissos, reunindo a “esquerda petista”, setores de “centro” e parcelas do atual “campo majoritário”. Uma maioria em torno de idéias e não em torno do objetivo de ser maioria, custe o que custar.
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