sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

A esquerda e um certo populismo

A primeira vez que isso aconteceu foi num evento convocado pela Fundação Rosa Luxemburgo, em Bruxelas, com a participação de integrantes do Foro de São Paulo e de partidos da esquerda europeia.

Destaco: não da socialdemocracia, mas da esquerda europeia.

No meio do evento, um camarada nicaraguense "explicou" aos europeus que eles nunca seriam consequentemente de esquerda, porque atuavam em países imperialistas e por isso eram estruturalmente limitados.

Este camarada, segundo me contaram, estaria hoje em prisão domiciliar. Não consigo imaginar o que ele teria feito para merecer este tratamento. Mas sua pena confirma que não é apenas a esquerda europeia que comete erros recorrentes.

A segunda vez que isso aconteceu foi recentemente, quando recomendei a leitura do seguinte texto: Como Die Linke cresceu e superou expectativas nas eleições alemãs - Fundação Rosa Luxemburgo

Um camarada me escreveu, lembrando que o Die Linke tem posições tíbias sobre a guerra da Ucrânia e sobre o genocídio cometido por Israel contra o povo palestino.

Conversa vai, conversa vem, disse ao camarada que concordo que "a posição deles não é a correta. Mas se for por esse critério, quem passa na prova?"

A resposta do camarada foi: "acho um erro idealizar as esquerdas imperialistas" ou "comparar com as nossas".

De fato, idealizar é sempre errado. E comparar é sempre complicado, até porque se fosse para fazer isto seria necessário exigir das nossas esquerdas uma coerência muito maior, que infelizmente falta.

Mas, ressalvas a parte, segue sendo necessário estudar a volta por cima dada pelo Linke. Volta percentualmente modesta, num contexto terrível, onde a extrema-direita dobrou de votação.

Para mim, brasileiro e petista, o mais importante é confirmar que a opção Sahra, além de errada, é desnecessária. 

Aqui no Brasil, inclusive no PT, há muita gente querendo adotar a variante Sahra, a saber, um certo tipo de populismo, que começa na esquerda e termina sabemos onde e como.



No passado, o MR8/Hora do Povo fez isso. Hoje, há vários repetindo a operação, do PCO ao Quaquá, sem esquecer do Aldo Rebelo, que já cruzou a linha vermelha faz tempo.

O Linke demonstrou, mesmo que em pequena medida, mesmo que no terreno eleitoral, mesmo que com várias contradições e erros, que há outras maneiras de enfrentar a extrema-direita.

A respeito do tema, recomendo a leitura do texto abaixo, escrito por Claudio Bazzochi e traduzido do italiano pelo professor Marco A. da Silva. O texto de Bazzochi será disponibilizado logo mais em algumas páginas.

Todos falam dela
Todos falam de Sahra Wagenknecht. Falavam dela antes das eleições, falam hoje depois que não conseguiu entrar no parlamento. Eu, antes de falar de Sahra, quis ler o seu livro “Contra a esquerda neoliberal” (quase quinhentas páginas). Sou assim, é o meu método de estudo e de vida: falo apenas daquilo que conheço e que li, sobretudo se se trata de obras do pensamento.
Bem, lendo o livro de Sahra, comecei a pensar que, no fundo, o fato de vir do SED (Sozialistische Einheitspartei Deutschlands), o partido comunista da Alemanha Oriental, tem um peso no pensamento e na política de Wagenknecht. Muito resumidamente, refleti sobre o fato de que o marxismo e a cultura da Alemanha Oriental (RDA), talvez alguma coisa tenha a ver seja com o reservatório de votos do BSW (o partido de Sahra), seja com aquele da AfD. No livro de Wagenknecht há a exaltação das comunidades operárias alemãs que compartilhavam com a própria burguesia os valores da operosidade, do mérito, da moderação dos costumes, do sacrifício para o desenvolvimento e o bem-estar da nação. A ideia de que o movimento operário deva ser herdeiro da filosofia clássica alemã e, portanto, colocar a si próprio o tema da libertação do trabalho, da alienação, do reconhecimento e da política como campo de autogoverno – e assim da reunificação da vida – está completamente expurgada da visão de Wagenknecht. Trabalhar significa ter o futuro garantido para si e para os próprios filhos: boa renda, aposentadoria e trabalho para as gerações futuras no interior de uma visão burguesa de mundo e da vida. Ecologia, feminismo, questão da técnica e das máquinas são coisas que não tocam nem mesmo de leve à referida Sahra.
Não por acaso, há também em todo o livro a clássica exaltação populista e de direita da simplicidade de quem não estudou. A vida é simples, imediata e transparente. Não há necessidade de estudo e de filosofia. E, certamente, disto não há necessidade o movimento operário. Há páginas e páginas de desprezo pelos “laureados”, elevados a uma verdadeira categoria indiferenciada e associados à classe dos ricos e exploradores. Os operários e os seus filhos não devem estudar para entender o mundo, para transformá-lo, para atenuar a distância entre Sujeito e Objeto. A eles basta um trabalho, uma aposentadoria segura e uma vida tranquila de bons burgueses satisfeitos e de modo algum inquietos.
Portanto, antes de escolher a explicação mais fácil, aquela que diz que as “regiões da ex-RDA são pobres e aderem ao nazismo por protesto”, devemos tentar ir mais fundo. Devemos também ver se há visões de mundo, da natureza, do homem e outras que conduzem à adesão aos partidos fascistas e nazistas.
E depois, mas isto falarei na resenha do livro, quem for ler o livro, que fique realmente surpreso de uma coisa enorme, tremendamente inacreditável e desconcertante: o racismo, o racismo de mãos cheias (a piene mani). Sahra Wagenknecht está fora do parlamento? Bem, é uma boa notícia.
*PS. Sabem o que significa a sigla do seu partido, BSW? Bündis Sahra Wagenknecht, Aliança Sahra Wagenknecht. E um partido pessoal seria um partido do movimento operário? Ah, vai...
(Texto de Claudio Bazzochi, publicado em sua página do facebook em 25/02/2025. Traduzido por Marcos A. da Silva, prof. da UFSC, filiado ao PT de Fpolis-SC)





quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

A formação e a linha política do PT

Em 1964, o meu pai foi preso pela ditadura militar. Minha mãe achou que faria bem ligar para o pai dela, que ligou para o irmão que era general* para que relaxasse as condições de prisão. Ele relaxou, meu pai foi solto e entrou na clandestinidade. 

Em 1976, o meu pai foi preso de novo e a minha mãe achou que era o caso de apelar de novo para o tio que era general. Depois, chegou a chefe do Estado Maior das Forças Armadas, não era qualquer general. Só que o pai dela já tinha morrido, então, o jeito foi ir até Brasília. 

Eu morava em Belém do Pará, tinha 10 anos de idade. Foi a primeira vez que eu fui a Brasília, primeira vez que eu entrei num apartamento funcional de elite, onde tinha, inclusive, um retrato pintado do meu tio-avô que eu não conhecia. Muito simpático, me ensinou a comer manga e pêssego com garfo e faca, mas eu não esqueço dele falando para minha mãe, depois que minha mãe fez o apelo a ele, ele respondendo para minha mãe, na minha presença, com 10 anos: “Desta vez não vou poder ajudar. Porque, se recebermos ordens de matar, mataremos”.

Essa turma tem lado, pessoal. Essa turma tem lado, não tem família. Tem compromisso de classe, compromisso político e ideológico. Eu aprendi isso deste jeito. A minha formação política a respeito do que é o comando das Forças Armadas no Brasil começou assim, desse jeito, ao vivo e em cores.

(*Pedro Pomar me alertou para o seguinte erro no que eu disse: “ Em 1964 José Ferraz da Rocha era tenente-coronel. Provavelmente: 66-69, coronel; 70-73, general de brigada; 74-77, general de divisão; 78-1981, general de exército”. A foto do cidadão segue abaixo.)

Bom, boa noite a todos, todas. Eu agradeço muito o convite para falar aqui com vocês sobre esse tema. 

Para quem não me conhece, eu me filiei ao PT em 1985, militava desde 1982, sou filiado ao PT em Campinas. Hoje, eu sou do Diretório Nacional do PT e diretor da Fundação Perseu Abramo. E sou professor de Relações Internacionais na UFABC, ali é o meu ganha-pão e a minha atividade profissional. 

Ontem, eu estava pensando no que eu ia falar aqui para atender à demanda que me fizeram e me dei conta que comecei a atuar na formação política do PT há quase 40 anos. Em 1986, o Pedro Pontual, o Aloizio Mercadante, e o Osvaldo Barros me convidaram para participar de um projeto chamado Instituto Cajamar, no qual eu trabalhei durante muitos anos. 

E, nesses 40 anos, eu fui do paraíso ao inferno. Paraíso era aquela época em que a gente tinha muita luta social, e é a luta social que forma as pessoas, não é a atividade formativa em si. Era uma época em que as instâncias partidárias funcionavam plenamente, era uma época em que a formação política era prioridade efetiva do ponto de vista financeiro e político; e era uma época que a atividade de formação era integral: havia formação política, histórica e ideológica para nossa militância. E, também, vivi momentos de inferno na vida partidária desse terreno, onde as lutas diminuíram muito, onde parte das instâncias se desmanchou, onde surgiram outras prioridades e onde a formação integral cedeu lugar a uma formação segmentada, onde o tema da formação ideológica, política, teórica perdeu muito espaço. 

Essas mudanças organizativas, na minha opinião, têm a ver com mudanças políticas. Como diz aquele ditado, a organização é política concentrada. E, portanto, mudanças na linha política do partido afetam a atividade de formação. Até porque a nossa ação política não se dá no vazio. É chover no molhado, mas é bom lembrar, a gente vive hoje uma brutal crise sistêmica do capitalismo que se reflete no terreno ambiental, no terreno econômico, no terreno social, no terreno cultural, no terreno político, no terreno militar. E essa crise brutal é que está na origem do ataque que a extrema-direita faz. 

Quando o capitalismo perde o seu charme e sua capacidade atrativa, é preciso continuar dominando a classe trabalhadora na porrada e na promessa de uma vida além da vida. Por isso, cresce o fundamentalismo e cresce a violência sob todas as formas. E o problema é que essa extrema-direita, a atual, similar ao que era o fascismo, o nazismo, é profundamente militante e profundamente ideológica. É uma extrema-direita que se organiza em defesa do capitalismo e de tudo aquilo que é contrário ao que nós representamos. 

E é por isso que não basta fatos para vencer essa extrema-direita, para ganhar o debate contra essa extrema-direita. Porque nós estamos falando com pessoas de um setor social que tem uma profunda coesão político-ideológica em torno de valores opostos aos nossos. E, por isso, para enfrentar essa direita, a gente precisa de uma esquerda também militante e, também, formada ideologicamente, capaz de lutar por uma sociedade sem explorados, sem exploradores, capaz de lutar por uma sociedade sem dominação e nem opressão, capaz de entender que a classe trabalhadora quer o poder para definir o que se produz, como se produz, como se distribui a riqueza. E, por isso, uma esquerda que seja socialista, que defenda o socialismo sem medo.

É claro que há maneiras e maneiras de defender o socialismo. Tem os que defendem o socialismo de uma forma doutrinária, achando que ser socialista é citar Marx e outros marxistas, o que é a forma mais antimarxista de defender o socialismo, porque o velho Marx e todos os comunistas e revolucionários que tiveram sucesso nesse mundo sempre disseram que o que vale é a análise concreta da situação concreta, não a repetição de dogmas e dogmas. 

Existe quem defende o socialismo em dias de festa, fala-se de socialismo nesses momentos como eu estou falando agora, mas, nos outros dias do ano, isso some da pauta. Existem aqueles que acham que socialismo é que nem o horizonte do Eduardo Galeano: quanto mais a gente anda, mais ele se afasta e a gente nunca chega nele. E, na minha opinião, a defesa que o PT fez no passado, e que deve continuar fazendo no presente e no futuro, é do socialismo como alternativa histórica, estratégica e concreta para os problemas concretos que as sociedades mundial e brasileira vivem atualmente.

O socialismo, para nós, deve continuar sendo uma resposta à dependência ao imperialismo que caracteriza a nossa história; o socialismo deve continuar sendo uma resposta à desigualdade brutal que existe no nosso país, que é um dos mais desiguais do mundo; o socialismo deve ser uma resposta concreta à democracia burguesa realmente existente nesse país. Porque, se é verdade, como a companheira Gleisi corretamente lembrou, que nós ganhamos cinco das últimas nove eleições presidenciais e ficamos em segundo lugar nas outras quatro, também é verdade que, na maioria dos governos estaduais, na maioria do governos municipais, na maioria dos parlamentos desse país, continua sendo a direita que continua comprando voto, continua usando os meios de comunicação de formas ilegais para manter o seu controle sobre o Estado, apesar de nós estarmos na Presidência da República. 

O socialismo, para nós, também é uma resposta a esse desenvolvimento incompleto que o nosso país tem, ao colapso ambiental, ao racismo, à homofobia, ao machismo, a todas as formas de opressão, dominação e exploração que existem na sociedade brasileira. 

Se depender da classe dominante brasileira, se depender dos capitalistas brasileiros e dos seus representantes políticos, isso não mudará nunca. Eles não têm o menor, o menor interesse num país que seja verdadeiramente soberano, que seja verdadeiramente igualitário, que seja verdadeiramente democrático, que seja verdadeiramente desenvolvido. Eles não têm nenhum interesse nisso! A única, a única força política e social capaz de construir um país diferente é a classe trabalhadora. E classe trabalhadora quando se dispõe a chegar ao poder e construir outra sociedade, o nome disso é socialismo. Por isso que, para nós, o socialismo é uma resposta concreta, é uma resposta estratégica, é uma resposta histórica a todos os problemas que nosso país enfrenta historicamente.

E, por isso, na minha opinião, o socialismo deve continuar a ser o fio condutor da nossa política, da nossa organização e da nossa formação política. Um dos desdobramentos práticos disso, pessoal, é que nós não podemos tratar a classe trabalhadora nem como público nem como eleitorado. A classe trabalhadora é a protagonista da transformação social do nosso país. E é nesse espírito que o partido deve atuar. Nós temos que atuar no espírito de educar, organizar e mobilizar a classe trabalhadora. Nós temos que estar a serviço disso. Por isso que nós não queremos o poder para o PT, nós queremos o poder para a classe trabalhadora. 

E, neste sentido também, eu queria dizer, para concluir e respeitar o tempo que me foi dado, que uma das batalhas ideológicas que, para mim, são essenciais nos dias que correm é a gente recuperar o direito à alegria, o direito a sonhar, o direito a uma vida melhor, o direito a uma vida diferente. O capitalismo, hoje, em particular, está privando as imensas massas do povo do nosso país e de outros países desse direito. O capitalismo nos submete ao trabalho brutal e excessivo, ocupa o nosso tempo livre com consumismo boçal, absolutamente boçal, nos submete a um estresse brutal, uma insegurança brutal, a um medo brutal. 

É por isso que hoje há uma epidemia de adoecimento mental e de uso descontrolado e absurdo de remédios legalizados que as farmácias vendem aí a qualquer preço. No fundo disso tudo, pessoal, é que as pessoas estão sendo privadas do direito de sonhar com um futuro realmente diferente. E, durante dois séculos, esse futuro realmente diferente tinha nome: era socialismo, e deve continuar sendo. Porque, sem uma sociedade baseada na propriedade social dos meios de produção, baseado numa democracia social efetiva, baseado na eliminação de qualquer forma de exploração e opressão, não vamos ter futuro. 

Como disse um companheiro no debate feito em Brasília, alguém aí acredita mesmo em sustentabilidade no capitalismo? Alguém acha que nós vamos eliminar essa catástrofe ambiental com a busca de lucro organizando a sociedade? Alguém acha que vai ter democracia efetiva se a gente não esmagar o fascismo? Alguém acha que tem futuro para o mundo se o mundo continuar capitalista como ele é hegemonicamente hoje?

Então, para mim, quando eu falo da defesa do socialismo, eu estou falando entre outras coisas da defesa do direito de a sociedade ter futuro. Nós somos a garantia do futuro da humanidade. Nós somos a garantia de um futuro diferente da sociedade brasileira. Nós somos a garantia de futuro! E isso é o tipo de sonho que o socialismo significa para mim, para nós, para a esquerda, para a classe trabalhadora, para quem lutou, entregou a vida por isso. As pessoas não entregaram a vida por conta de uma reivindicação parcial, as pessoas entregaram a sua vida porque sonhavam, e nós temos que recuperar isso com muita força no nosso discurso. 

Por isso, para não dizer que não falei de espinhos, vou aqui falar uma crítica ao nosso governo, que é o seguinte: nós fizemos campanha falando de reconstrução e transformação, e, quando assumimos, o nosso slogan virou união e reconstrução. Isso é um problema gravíssimo! Nós temos que recuperar a capacidade de transformar o país. E, para começar a recuperar essa capacidade, nós temos que recolocar o socialismo na primeira fileira dos nossos objetivos. Obrigado. 

O texto acima é uma transcrição revisada da palestra feita no dia 20 de fevereiro de 2024 e disponível no link Fala de Valter Pomar no Encontro Nacional de Formação Política do PT | Página 13

A entrevista do Edinho Silva ao BTG Pactual

Recomendo fortemente assistir esta "entrevista" de Edinho Silva,  na CEO Conference Brasil 2025, do BTG Pactual.

O próprio Edinho divulgou positivamente a entrevista, como se pode ver aqui:

https://www.instagram.com/p/DGirnCRsShg/?igsh=NDZ1MXk0YzBhOXM=

A íntegra da entrevista está aqui: 

https://m.youtube.com/watch?v=mJrsCDkk3v8

A "entrevista" aconteceu durante um painel intitulado "Lideranças Políticas", moderado por Murillo Aragão, CEO da Arko Advice e que contou com a participação de Ciro Nogueira, senador e presidente do Progressistas.

Edinho apresentou Ciro como sendo seu "amigo". E Ciro devolveu, noutro momento, dizendo que Edinho seria "uma das melhores cabeças do seu partido, se não for a melhor".

No início da entrevista, Murilo Aragão apresenta Edinho como futuro presidente do PT. Edinho não corrige imediatamente a informação, mas antes do final da entrevista ele lembrou de explicar não ser presidente, mas sim "uma liderança que disputa a presidência".

A primeira pergunta feita por Murillo Aragão foi uma crítica às resistências que existiriam, dentro do PT, em aceitar o pragmatismo na condução da política econômica.

Edinho respondeu com uma digressão sobre o "presidencialismo com características do parlamentarismo", que resultaria num governo de coalizão, no qual "muitas vezes o PT tem sim a posição de disputar o rumo do governo". Quanto ao mérito "econômico" da questão, nada.

A segunda pergunta feita por Murilo Aragão foi uma crítica sobre as pesquisas que indicariam desaprovação majoritária ao governo e também sobre o envelhecimento do PT. Murillo acompanhou esta última questão de uma ressalva positiva sobre o próprio Edinho, que seria uma "renovação de certa forma". 

Edinho escolheu abertamente tergiversar, escolhendo falar da necessidade de "recuperar o conceito de democracia, para que o Brasil não possa flertar com o fascismo".  

Desta vez, Murilo Aragão registrou que a pergunta não foi respondida. E insistiu, com direito a recuperar a lenda segundo a qual o general Golbery teria sido fundamental na criação do PT, uma vez que  a existência do Partido permitiria a "harmonização de posturas que poderiam ser revolucionárias".

Edinho não reagiu nem mesmo a esta provocação. Preferiu discutir "a crise partidária num contexto mais geral", deixando evidente que sua preocupação é reconstruir o "centro", pois sem centro "vai continuar a polarização, com a qual não há racionalidade". 

(O conceito de "racionalidade" de Edinho saiu de algum manual de boas-maneiras. Pois não há nada mais irreal, nos tempos atuais, que acreditar que existe uma saída pelo centro para os imensos problemas vividos pela humanidade e, também, pelo Brasil.)

A terceira pergunta de Murillo Aragão foi sobre como conciliar "governabilidade" e "recuperação da popularidade". 

Edinho respondeu que as medidas estão sendo tomadas e estão "surtindo efeito", mas que será preciso um "nível de entrega maior", "sempre norteado pela responsabilidade fiscal". E voltou a falar da necessidade de um "espaço de diálogo onde os partidos pensassem uma agenda de nação, de médio e longo prazo", uma "agenda que não deve estar contaminada pela polarização", uma "agenda de unidade para o país independente de divergências partidárias".

Em algum momento, Edinho chega a falar que precisamos "regulamentar o governo de coalizão".

No final do programa, Edinho dirigiu uma pergunta ao Ciro Nogueira, acerca da reforma política. Neste contexto, Edinho cometeu a barbaridade de dizer que o fascismo italiano nasceu como "organização sindical". 

Em seguida, Ciro Nogueira pergunta a Edinho sobre o tema da competitividade, que ele Ciro contrapõe ao gigantismo do Estado. 

Edinho respondeu falando da necessidade de uma "agenda" que una "os partidos políticos, as lideranças, os empresários", citando como temas a "democracia", "superar as desigualdades via educação", "transição energética" e "fomento tecnológico".

Tirante os rapapés, as platitudes, os equívocos e aquilo com o qual estamos todos de acordo, o que destaca nesta "entrevista" de Edinho é o apelo por uma impossível, utópica e quimérica agenda comum, suprapartidária, que reconstrua o centro e desfaça a polarização.

Gostaria que isso tudo fosse um discurso de ocasião, feito para agradar a plateia num espaço dominado por gente do lado de lá (que aplaudiu a menção feita ao governador do Piauí, citado junto com o deputado Zeca Dirceu). Mas, infelizmente, o ex-prefeito de Araraquara acredita mesmo no que diz sobre o centro e a polarização.

O que Edinho teima em não perceber é que, se por ventura viesse a dar certo sua tese, se o "centro" voltasse a ter força, quem perderia seria a esquerda, quem seria derrotado é o PT. 

Desenhando: a direita gourmet, o empresariado, quando fala contra a "polarização", não tem como objetivo derrotar a extrema-direita. Tem como objetivo destruir o PT.

Por quais motivos Edinho não percebe isso, embora seja em boa medida óbvio, tem várias explicações. Entre elas a mesma que "explica" a afirmação dele sobre o nascimento do fascismo na Itália.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

A pesquisa da CNT e a Velhinha de Taubaté

A 163ª Pesquisa CNT de Opinião confirmou o que já tinha sido apontado pelo DataFolha: uma queda expressiva na popularidade de Lula e do governo.

A pesquisa foi feita entre 19 e 23 de fevereiro de 2025.

O relatório da pesquisa tem 87 páginas.

Alguns resultados:

-avaliação negativa do governo: 44% (contra 29% positiva e 26% regular);

-os picos de avaliação negativa estão entre quem ganha mais de 5 salários mínimos (56%), entre os evangélicos (54%), na região Sul (53%), entre quem tem ensino superior (51%) e entre pessoas de 25 a 34 anos (50%);

-os picos de avaliação positiva estão entre quem tem mais de 60 anos (42%), ensino fundamental (40%), nordeste (40%) e pessoas que ganham menos de 2 salários mínimos (36%);

-o resultado obtido por nosso governo é pior do que o resultado obtido pelos governos do Vampiro e do Cavernícola, em momento semelhante (final do segundo ano de governo);

-55% dos entrevistados desaprovam o desempenho pessoal do presidente;

-perguntados sobre suas expectativas em relação ao emprego, só 30% acha que vai melhorar. O restante se divide entre piorar (32%) ou ficar igual (36%);

-em relação a renda, só 29% acha que vai melhorar. O restante se divide entre piorar (13%) e ficar igual (56%);

-em relação a saúde e segurança (se vai piorar, melhorar ou ficar igual), a curva é parecida às anteriormente citadas. Só no caso da educação existe uma expectativa de melhora mais expressiva (35%), uma expectativa de piora menor (22%), com 41% achando que vai ficar igual;

-se a eleição presidencial fosse hoje, você votaria em quem? Espontaneamente, 23,5% responderam Lula e 19,6% responderam que votariam no Cavernícola. A mesma pergunta, mas estimulada, deu o seguinte resultado: 30,3% responderam Lula e 30,1% responderam Cavernícola;

-nos cenários de segundo turno, Lula perderia para o Cavernícola (43,4% x 41,6%) e ganharia de Tarcísio (41,2% x 40,7%). Mas como se vê pelos números, a diferença está perigosamente na margem de erro;

-detalhe: 35% dos entrevistados prefeririam votar em alguém que não fosse ligado nem a Lula, nem ao Cavernícola. Já 30,7% dos entrevistados prefeririam votar em alguém ligado ao Cavernícola (ou no próprio). E 29,4% em alguém ligado a Lula (ou no próprio);

-outro detalhe: 64,8% são contra nossa reeleição. Importante dizer que a idade não é citada como um fator decisivo. Aliás, 43,6% dizem que este não é um fator relevante e 17,3% acham que é um fator positivo, denotando experiência;

-a avaliação sobre nosso governo tampouco é positiva. A tal ponto que 44,5% acha que está pior do que o governo Cavernícola, enquanto 17,2% acha que nosso governo seria semelhante ao governo do Cavernícola;

-ademais, 38,5% diz que a maioria das decisões do nosso presidente seria "ruim", contra 21% que acham que a maioria das decisões seria "boa";

-a área com pior desempenho do governo seria, segundo os entrevistados, a economia, com 31,8% (o segundo lugar é da segurança, com 19,9%; em terceiro lugar vem a saúde, com 12,8%);

-além disso, 62% dizem que nosso governo não estaria no caminho certo;

A pesquisa tem outros pontos que merecem reflexão. Por exemplo:

-41% dos entrevistados dizem que o principal responsável pela inflação seria o nosso governo;

-perguntados sobre sua posição política, os entrevistados se dividem assim:
31,8% direita
18,8% esquerda
16,3% centro, centro-direita e centro-esquerda
33% não sabem ou não responderam

-acerca da denúncia contra Cavernícola, 32% nunca ouvir falar e 40% ouviu falar apenas superficialmente. Mesmo assim:
27,6% acha que o Cavernícola não é responsável pelos crimes;
27% acha que o Cavernícola é o principal responsável
29% acha que o Cavernícola é um dos responsáveis

-detalhe genial: apesar ou por conta das denúncias, 69,3% não mudou sua opinião acerca do Cavernicola. E sobre o desfecho:
45% acha que será absolvido
41% acha que será condenado

Outros dois pontos:
-49,7% dos entrevistados se declara contra a exploração do petróleo na Margem Equatorial, dos quais 81% por razões ambientais, 11% porque a exploração não vai baixar o preço do combustível e 2,3% porque os empregos que serão gerados são insuficientes para justificar os danos ambientais;

Não é apenas o governo que é mal avaliado. O Congresso também. 

Em resumo: a situação é muito difícil. Pode ser revertida e vamos reverter. Mas para isso é necessário - como ponto de partida - que adotemos a postura "tergiversação zero".

Dito de outra forma: a Velhinha do Taubaté morreu em 2005, decepcionada com o Palocci. Que descanse em paz. Até porque o que precisamos é fazer o governo mudar de atitude, de rumo e de linha política, especialmente na economia.





Edinho e Deus

O PT tem umas coisas engraçadas.

Uma delas é o esquecimento seletivo.

Por exemplo: quase todo mundo lembra quem nomeou Joaquim Levy. Mas muita gente esquece ter feito parte dos 55% que votou a favor da continuidade de Levy, no Congresso petista realizado em Salvador, no ano de 2015.

Um caso semelhante está ocorrendo agora, na discussão sobre quem seria "culpado" pela ilegal e ilegítima decisão que introduziu a possibilidade de dirigentes exercerem mandatos vitalícios na executiva nacional do Partido.

Quase todo mundo lembra que Gleide Andrade votou a favor. Mas muita gente esquece quem defendeu a proposta: a presidenta Gleisi Hoffmann, José Guimarães e Romênio Pereira, por exemplo. E muita gente também esquece quem votou a favor da proposta: quase toda a bancada da tendência Construindo um Novo Brasil presente na tal reunião do Diretório Nacional do PT; sem falar do voto favorável de vários de seus aliados, sem o quê a proposta não teria sido aprovada com 60 votos. 

(As exceções na bancada da CNB, segundo duas fontes, teriam sido pelo menos as seguintes: Paola Miguel, Zeca Dirceu, Patrícia Melo e Reginaldo Lopes.)

Aliás, uma imprensa séria pesquisaria algo óbvio: quem são os dirigentes que completaram três mandatos e que teriam que sair da executiva, se a regra não fosse aprovada? Cui bono?

Mas vamos dar um desconto. Afinal, a preocupação seletiva com Gleide Andrade é compreensível, quando se leva em conta que, desde 1995 até 2025, a tesouraria do Partido foi ocupada por integrantes de uma mesma corrente política. 

Com o perdão de algum esquecimento, os tesoureiros foram: Clara Ant, Delúbio Soares, José Pimentel, Paulo Ferreira, João Vaccari, Márcio Macedo, Emídio de Souza e, agora, Gleide Andrade. Não cito aqui a nominata de tesoureiros das campanhas presidenciais, mas recordo que um deles foi Edinho Silva, em 2014.

Entre 1995 e 2025, a referida corrente política aceitou até mesmo ficar sem a presidência do Partido. Mas ficar sem a tesouraria, nunca, jamais, em tempo algum.

É neste histórico que chafurdam matérias escrotas como a publicada na coluna do Lauro Jardim. A tal matéria está copiada ao final, mas também pode ser lida aqui: A única chance de Edinho não presidir o PT 

Evidentemente, as divergências no interior da CNB não se limitam a saber quem será tesoureiro. E as chances de Edinho dependem de outros fatores, entre os quais um bem simples: ele precisa ter maioria de votos entre os filiados que vão votar no dia 6 de julho de 2025. E o fato é que - apesar da notícia divulgada por Romênio Pereira (ver ao final), segundo quem haveria 250 mil novas filiações chegando aí - a situação na CNB está bem complicada.

Tanto é assim que um dos tesoureiros (artigo masculino) listados acima contou, obviamente em tom de brincadeira, que a sigla CNB quereria na verdade dizer "Construindo uma nova briga".

Talvez por isso Edinho esteja enfatizando tanto ser - por enquanto - o "preferido". 

E quem sabe para manter a tal preferência em alta, ele às vezes deixe a emoção dominar. Um exemplo disto pode ser visto aqui: Edinho Silva | O Brasil tem diante de si uma nova oportunidade histórica: a Costa Equatorial. Precisamos transformar essa riqueza em emprego para a... | Instagram

Para quem não tem Instragram, transcrevo: "Deus gosta muito do presidente Lula, ninguém tem dúvida disso. Ele jogou no colo dele o pré-sal. Veio o golpe só pra privatizar o pré-sal. Aí deus disse assim: “Calma, Lula! Vou te dar a costa equatorial. Se preocupa não.” Nós temos que traduzir a costa equatorial em emprego pra juventude, em ciência e tecnologia, na universalização da educação integral, na universalização do direito à creche. Nós temos que traduzir essa riqueza como um projeto de futuro para o Brasil, em transição energética. Nós somos o país que o mundo vai ter que discutir com a gente a transição energética. Então nós temos que abrir esse debate de futuro, principalmente a juventude do nosso país. Nós temos que simbolizar a esperança do nosso povo, nós temos que voltar a simbolizar a esperança".

Deixo para outra hora um comentário sobre as sutilezas teológicas, geológicas e psicológicas do raciocínio acima. Limito-me a manifestar minha esperança de que ninguém se apresente, no PED, como sendo mais um presente que Deus teria dado a Lula.

Afinal, como se sabe, o excesso de velas costuma por fogo na igreja.


SEGUE ABAIXO A MATÉRIA CITADA ACIMA

A única chance de Edinho não presidir o PT

A única chance de Edinho não presidir o PT 

Existe uma possibilidade de Edinho Silva não presidir o PT, mesmo sendo o candidato de Lula. E ela está atrelada a chance de Gleide Andrade continuar como tesoureira do PT. Isso porque causou incômodo a mudança no estatuto, batizada de "Emenda-Gleide", que permite a recondução dela ao posto após três mandatos consecutivos.  Gleide teria que ser eleita. Mas em um jantar na semana passada com aliados, Edinho disse não aceitar a manutenção dela sequer como candidata. Quer no posto-chave alguém de sua confiança. Só de fundo partidário entrarão no caixa do partido R$ 140 milhões em 2025. E é o tesoureiro quem cuida desse montante. No ano que vem, ainda terá o fundo eleitoral de estimados mais de meio bilhão de reais. Nenhum presidente, portanto, abre mão de indicar alguém mais afinado com ele para o posto. Mas Lula, que quer Edinho presidente do PT, vai botar o dedo nesta cumbuca. Nesta semana Gleide deve ser anunciada para algum cargo dentro do Palácio do Planalto

SEGUE TRECHO DA ENTREVISTA DE ROMÊNIO PEREIRA AO MANIFESTO PETISTA

Entrevista com Romênio Pereira - Candidato a Presidente Nacional do PT #pt #esquerda #socialismo

"Primeiro, eu acho que a... nós vamos estar terminando agora pelas informações que eu estou tendo, parece que é em torno de 200 a 250 mil novos filiados. É bom, é ótimo, mas eu espero que esses filiados venham para debater a política, para que venham para debater qual o caminho do PT, não qual o papel aí, Douglas. Você fez uma pergunta que é pertinente. Eu espero que muitos desses filiados que nós estamos filiando, não sejam filiados que venham fazer o debate do fundo eleitoral, porque em muitas situações nós estamos trocando o debate da política por como destinar o fundo eleitoral. Essa é uma preocupação que todos nós devemos ter. Então, eu espero que companheiros e companheiras pelo país não estejam filiando pessoas da direita".


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O sucesso do "post" de Fevereiro

Ele talvez não saiba, mas está fazendo sucesso.

Refiro-me a José Luís Fevereiro, dirigente do PSOL.

Mais exatamente a um post escrito por ele e que reproduzo ao final.

José Dirceu, Henrique Fontana, Jacy Afonso e muitos outros replicaram o post de Fevereiro em grupos de zap integrados por petistas.

É sintomático que tantos petistas apreciem e divulguem um texto que, já no título, trata o governo Lula e o PT como "mal menor".

O titulo do posto de Fevereiro, para quem ainda não leu, é escrito em maiúsculas e diz o seguinte: "NÃO ESTAMOS BEM COM LULA, MAS ESTAREMOS PIOR SEM ELE".

É sintomático, também, que Fevereiro tenha escrito um texto que, no fundo, reconhece o fracasso (ainda que temporário) da aposta do PSOL, a saber, o de se constituir como uma alternativa de massas ao PT.

Claro que Fevereiro não escreve isto desta forma. Acho que nem pensa isso. O que ele escreve é o seguinte: "O fato concreto é que o que resta de classe trabalhadora orientada politicamente pela esquerda ainda é a parcela que levou Lula ao poder em 2002 e o manteve competitivo eleitoralmente até hoje . Não há espaço social para uma alternativa com alguma expressão de massa a Lula . Estou no Psol desde a sua fundação e defendi corretamente a nossa localização na oposição aos governos petistas de 2003 a 2016. Era outro período político, havia espaço para disputar influência e , mesmo lentamente, construir uma alternativa a esquerda em contraposição ao Lulismo. A alternativa à direita era o projeto da direita liberal comandado pelo PSDB. No atual período político não existe esse espaço. O que resta de classe trabalhadora orientada pela esquerda pode ser insuficiente para derrotar a extrema direita e é esta que se coloca como alternativa".

Aqui está uma das muitas diferenças entre a esquerda que ficou no PT e a esquerda que saiu do PT: esta última acreditava que havia espaço para construir uma alternativa de esquerda, com grande influência popular, fora e contra o Partido dos Trabalhadores.

Esta crença desembocou em "cisões" que "deram errado": PCO, PSTU, Consulta Popular e PSOL não conseguiram suplantar a influência do PT. 

Mais do que isso, alguns destes que saíram do PT pela esquerda, passaram a gravitar em torno do PT e, falemos as coisas como são, gravitam e não necessariamente defendendo posições de esquerda.

Claro que isto é duro de assumir. Talvez por este motivo, ao invés de reconhecer que não "não há espaço social para uma alternativa com alguma expressão de massa" ao PT, Fevereiro diga que "não há espaço social para uma alternativa com alguma expressão de massa a Lula". 

Algumas das consequências deste tipo de raciocínio chegam a ser teatrais: basta ver o esforço que um certo dirigente do PSOL faz para copiar até mesmo os trejeitos de Lula.

Isto posto, Fevereiro parte de uma afirmação com a qual não estou de acordo. Não concordo que a explicação para a crescente influência da extrema-direita em setores da classe trabalhadora esteja nas "mudanças estruturais profundas na classe trabalhadora e na sua forma de inserção no processo produtivo".

A explicação para a influência da extrema-direita é essencialmente política. 

Se a esquerda brasileira tivesse tido outra política, a história poderia ter sido completamente diferente, seja no plano objetivo (as tais mudanças estruturais teriam sido diferentes do que foram), seja no plano subjetivo (a cultura política da classe trabalhadora seria outra).

E, mesmo hoje, em que as tais mudanças estruturais já ocorreram, é possível abordar a situação com políticas diferentes. Aliás, vamos lembrar que o nazismo e o fascismo cresceram em tempos em que a classe trabalhadora emergente era mais Bertolucci/Noveciento do que hoje. Provando que entre o objetivo e o subjetivo "há mais coisas do que pode imaginar nossa vã filosofia".

Aliás, se não entendermos que a razão é essencialmente política e, portanto, a influência da extrema-direita precisa ser superada politicamente, entraremos num beco sem-saída. Afinal, como alterar as estruturas sem política? E como ter outra política, se as estruturas "conspiram" contra nós? 

Obvio que as condições objetivas pesam e muito. Mas elas não determinam diretamente a ação política. Vide o recente resultado da eleição alemã, mais precisamente o resultado do Linke e do partido da Sarah.

Dito de outro jeito, discordo da afirmação de Fevereiro segundo a qual a "mudança de perfil da classe trabalhadora deu chão para a derrubada de Dilma Rousseff, deu base social para a vitória de Bolsonaro em 2018, e mantém a extrema direita como principal alternativa de poder no Brasil". 

O que "deu chão" para a derrubada de Dilma foram decisões políticas (inclusive de política econômica) equivocadas, combinada com uma ofensiva geral da classe dominante, que uma parte da esquerda não quis ver. 

(Aliás, quem não quis ver o que estava acontecendo foram duas partes da esquerda: de um lado, as parcelas mais moderadas do PT, que achavam que como éramos moderados, a classe dominante seria moderada conosco; e parcelas radicais do PSOL e outros setores anti-petistas, que achavam que o governo do PT satisfazia a classe dominante e portanto a classe dominante não tinha motivo algum para derrubar o PT do governo.)

O que "deu chão" para a vitória de Bolsonaro em 2018 foi o STF e tudo o mais. E quem mantém a extrema-direita como "principal alternativa de poder" não é nenhum setor da classe trabalhadora, mas sim o capital financeiro e o agronegócio. 

Fevereiro baseia sua análise, entre outras fontes, em pesquisa feita pela Fundação do PSOL. Diz ele: "Para a maioria da classe trabalhadora na informalidade, no trabalho plataformizado ou por conta própria, o assalariamento não é mais um objetivo. Escutei isso em grupos focais de pesquisa conduzida em 2023 na Fundação Lauro Campos/ Marielle Franco". 

Curiosamente, pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, sugere conclusões diferentes acerca de qual seria a ambição da classe trabalhadora, jovens inclusive. Assim como sugere conclusões diferentes acerca de como a classe trabalhadora enxerga o papel do Estado. 

Ademais, vejam que curioso: o maior apoio eleitoral do PT ainda está entre os pior remunerados. Ou seja: o PT tem mais votos na parcela da classe que "não está inserida". Se o que Fevereiro fala fosse verdade, tal apoio não teria explicação.

De resto, estou totalmente de acordo com Fevereiro no seguinte: o governo Lula 3 está apostando "numa reedição dos governos Lula 1 e Lula 2 em condições muito mais adversas . Obviamente não está dando certo". E também estou de acordo noutra coisa: "quem se propõe a ser oposição de esquerda a Lula, na sua maioria nem o problema consegue localizar". 

Verdade. Mas não acho que o problema dessa parcela esquerdista esteja em sonhar com "a volta de uma classe trabalhadora assalariada/ celetista como motor da história". Entre outros motivos porque a classe trabalhadora que foi "motor da história", por exemplos em revoluções como a Russa, a Chinesa e a Cubana, nunca foi predominantemente "assalariada/celetista".

Também estou de acordo com Fevereiro que é "necessária uma mudança de rumos por parte do governo mas apontar essa necessidade não pode se confundir com a campanha de desconstrução que parte da esquerda vem realizando".

Entretanto, para fazer esta mudança de rumos é preciso convencer as pessoas de que outra política é possível. E para fazer este convencimento, é preciso localizar corretamente nosso problema. Nosso problema não é principalmente objetivo, não é principalmente estrutural. Nosso problema é principalmente subjetivo, é principalmente político.

Noutras palavras: esta classe trabalhadora que temos é perfeitamente capaz de apoiar a esquerda. Mas para isso é preciso que, pelo menos, a esquerda seja capaz de apoiar muito mais todos os setores da classe trabalhadora.

Quem acha que já está fazendo o máximo possível na atual correlação de forças tem, como é óbvio, todos os motivos para gostar do post de Fevereiro. A estes, aos que se satisfazem até mesmo com o fato de serem chamados de mal menor, cabe lembrar o seguinte: em alguns momentos da historia, como este em que vivemos, a maior prudência está em ser audacioso.


SEGUE O TEXTO COMENTADO

NÃO ESTAMOS BEM COM LULA, MAS ESTAREMOS PIOR SEM ELE

Não dá para analisar a atual conjuntura política sem entender as mudanças estruturais profundas na classe trabalhadora e na sua forma de inserção no processo produtivo que fizeram com que parte dela esteja sob hegemonia da extrema direita.

Lula e o PT são fruto do ascenso da luta de classes na década de 80 , impulsionada por uma classe trabalhadora assalariada urbana que, mesmo não sendo majoritária como fração dentro dos trabalhadores em geral, era hegemônica.

Na década de 80 qualquer jovem de 20 anos ambicionava chegar em casa com a sua 1a carteira de trabalho assinada. A indústria representava 29% do PIB e o trabalho industrial historicamente é melhor remunerado. Os milhões de trabalhadores informais ou por conta própria ambicionavam ser assalariados porque isso significava renda mais alta e o acesso aos direitos da CLT ( férias, 13 salário, previdência social plena) .

3 décadas de desindustrialização relativa( hoje o PIB industrial mal chega a 11%) e de acelerada robotizaçao e automação do trabalho industrial acabaram com as concentrações operárias e com as expectativas de trabalho assalariado de melhor qualidade. O que resta é contratação no setor de serviços, pior remunerado, muito menos organizado sindicalmente por ser mais disperso e por isso sujeito também a escalas de trabalho abusivas( 6 X 1), e a maior assedio moral .

Para a maioria da classe trabalhadora na informalidade, no trabalho plataformizado ou por conta própria, o assalariamento não é mais um objetivo. Escutei isso em grupos focais de pesquisa conduzida em 2023 na Fundação Lauro Campos/ Marielle Franco.

Para esse contingente enorme da classe trabalhadora o Estado é mais visto como um estorvo ( que fiscaliza, controla , pune e cobra impostos ) do que como garantidor de direitos. A ideologia liberal anti-estado é muito presente.

A insatisfação latente não é mais polarizada pela esquerda com uma agenda de mudanças mas por um discurso abstrato anti sistema vocalizado pela extrema direita ,onde o sistema são as conquistas da luta da classe trabalhadora nos últimos 150 anos , nas quais esta parcela da classe não está inserida .

Esta mudança de perfil da classe trabalhadora deu chão para a derrubada de Dilma Rousseff, deu base social para a vitória de Bolsonaro em 2018 , e mantém a extrema direita como principal alternativa de poder no Brasil .

O governo Lula ou não percebeu isto ou não sabe como agir face ao problema e apostou numa reedição dos governos Lula 1 e Lula 2 em condições muito mais adversas . Obviamente não está dando certo.

Quem se propõe a ser oposição de esquerda a Lula, na sua maioria nem o problema consegue localizar . Seguem sonhando com a volta de uma classe trabalhadora assalariada/ celetista como motor da história. Se inspiram nos filmes de Bertolucci ( Noveciento) e querem aquela classe trabalhadora para chamar de sua .

O fato concreto é que o que resta de classe trabalhadora orientada politicamente pela esquerda ainda é a parcela que levou Lula ao poder em 2002 e o manteve competitivo eleitoralmente até hoje . Não há espaço social para uma alternativa com alguma expressão de massa a Lula .

Estou no Psol desde a sua fundação e defendi corretamente a nossa localização na oposição aos governos petistas de 2003 a 2016. Era outro período político, havia espaço para disputar influência e , mesmo lentamente, construir uma alternativa a esquerda em contraposição ao Lulismo. A alternativa à direita era o projeto da direita liberal comandado pelo PSDB.

No atual período político não existe esse espaço. O que resta de classe trabalhadora orientada pela esquerda pode ser insuficiente para derrotar a extrema direita e é esta que se coloca como alternativa.

A vitória de Milei, a volta de Trump, ambos com um programa muito mais radicalizado, mostra o que poderá vir se Lula perder em 2026. É necessária uma mudança de rumos por parte do governo mas apontar essa necessidade não pode se confundir com a campanha de desconstrução que parte da esquerda vem realizando tanto em relação ao governo como em relação às principais figuras públicas do Psol que está na base do governo.

Não me preocupa eventual impacto dessa campanha na disputa de massas porque esse pessoal não tem alcance para isso. Mas têm capacidade para desmotivar e desmobilizar parte da militância, no momento em que se avizinha uma batalha de suma importância . Não vou , ao contrário do que eles em geral fazem, tratá-los com desqualificaçoes morais. A divergência é dramática, mas é política.

Estamos mal com Lula, estaremos muito pior sem ele


domingo, 23 de fevereiro de 2025

O discurso da presidenta Gleisi



O PT foi fundado no dia 10 de fevereiro.

Mas o aniversário de 2025 foi comemorado nos dias 21 e 22 de fevereiro.

Na manhã do 22, tivemos um ato político no qual falaram, entre outras pessoas, o presidente Lula e a presidenta Gleisi Hoffmann.

Copio e colo abaixo o discurso da presidenta Gleisi, tal e qual me foi passado por sua assessoria.

Deixo aos fanáticos comparar palavra-por-palavra o que está escrito, com o que foi efetivamente dito.

Depois de Gleisi, falou Lula.

Entre outras coisas, o presidente Lula disse que - quando Gleisi foi eleita pela primeira vez - teriam inventado contra ela a candidatura de Lindbergh Farias. 

Os fatos que conheço são outros: a candidatura de Lindbergh - apoiada pela esquerda do Partido - estava em ascensão, a CNB estava dividida entre Padilha e Márcio Macedo, quando Rui Falcão sugeriu a Lula o nome de Gleisi como uma alternativa.

Voltando ao discurso de Gleisi, me parece que as palavras-chave foram - depois do próprio PT, que é citado cerca de 26 vezes - duas: "Lula" e "democracia".

"Lula" aparece 13 vezes e "democracia" aparece 8 vezes. 

Para comparar: "socialismo" aparece zero vez; "soberania" aparece zero vez; "militares" ou "forças armadas", zero vez; "integração" regional aparece 1 vez; "desenvolvimento" aparece 2 vezes, indústria outras duas.

Vale dizer que também aparece no discurso "a maior reforma agrária de todos os tempos", o que realmente seria absolutamente fantástico, se verdade fosse. 

Também fantástica é a ausência de referência, no discurso escrito, ao Banco Central e sua política de juros!

Aliás, para os que estávamos na tribuna, um momento curioso do discurso de Gleisi foi quando ela fez referência ao ajuste fiscal.

No texto escrito ela diz o seguinte: "Agora é avançar com firmeza, determinação e urgência na reforma do imposto de renda e no fim das desonerações indecentes, para que os muitos ricos finalmente paguem o justo e devido sobre seus lucros e dividendos, sobre o muito que extraem do país. Este é o verdadeiro desequilíbrio fiscal que o Brasil precisa resolver. Porque o orçamentário já estamos resolvendo ministro Fernando Haddad, promovendo um dos maiores ajustes fiscais de nossa história, saindo de um déficit de 2,3% do PIB em 2023 para 0,09% em 2024".

Quando leu este trecho que se referia a Haddad, a presidenta Gleisi se virou e e olhou em direção ao ministro da Fazenda, que estava sentado na última fileira do podium. 

Deixo aos especialistas interpretar este momento, que para alguns pode parecer um "beijo na cruz" e, para outros, uma reedição da conhecida polêmica pública.

Gleisi concluiu seu discurso dizendo que "este momento de renovação de suas direções é a oportunidade que temos de consolidar nossa unidade interna baseada no debate e na modernização da nossa organização partidária. Não há divergência entre aliança ampla para as eleições e a defesa dos direitos do povo brasileiro".

Portanto, se entendi direito, Gleisi defende "renovar", "modernizar" e... manter a mesma linha política.

Esta postura faz algum sentido, do ponto de vista de alguém que logo logo talvez vire ministra (lembrando que este  é um assunto sobre o qual o mundo fala, mas até agora nada se comenta formalmente nas reuniões da direção partidária).

Parte do que significa "renovação" e "modernização", do ponto de vista de Gleisi, apareceu na proposta que ela mesma defendeu na reunião do Diretório Nacional do PT realizada no dia 17 de fevereiro. A saber: a possibilidade de dirigentes permaneceram nos cargos, sem limite de mandatos.

O discurso de Gleisi foi acompanhado com atenção por vários candidatos a sucedê-la na presidência do Partido, entre os quais um cidadão cuja presença no palco principal não atendia a nenhum dos critérios estabelecidos pelos organizadores (ex-presidentes, executiva nacional, diretoria da Fundação, ministros, representantes de bancadas e governos). 

A tentativa que alguns fazem, no sentido de "nomear" este companheiro é a maior prova de que certas alianças dificultam muito a defesa dos direitos do povo. Gerando, em consequência, a necessidade de maiores e piores recuos, concessões e alianças do tipo onde "é dando que não se recebe".

Certas alianças dificultam, inclusive, a defesa consequente da democracia. 

O que talvez explique que, em um discurso preparado com antecedência e portanto refletido, Gleisi tenha escolhido citar até mesmo o nome do cavernícola, mas nada tenha escrito acerca dos militares, tampouco acerca do parlamentarismo ilegal expresso, entre outras coisas, nas famosas emendas impositivas.

(Não sei explicar a escassez de referências à política internacional, não apenas sobre Palestina e Cuba, mas também sobre BRICS e COP 30.)

A rigor, o discurso de Gleisi já sinaliza uma inflexão política, uma moderação em relação ao que ela própria vinha defendendo.

Seja como for, tudo indica que a linha política do Partido e do governo vai mudar. Se para a "direita" ou para a "esquerda", será o PED quem dirá. O PED e, principalmente, a luta entre as classes e também entre os Estados em conflito no mundo. 

O fato é que a orientação política que prevaleceu até agora não está se demonstrando suficiente para derrotar nossos inimigos. Por isso, se queremos "construir o futuro", precisamos “transformar o presente”, começando pela transformação da estratégia adotada, até agora, pelo nosso governo e pelo nosso Partido.

Transformar, mas pela esquerda!


Segue o DISCURSO DA PRESIDENTA GLEISI HOFFMANN

ATO DOS 45 ANOS DO PT

RIO, 22 DE FEVEREIRO DE 2025

Quero começar dizendo do orgulho de presidir o PT. É uma das missões mais importantes que tive na vida!

E foi o sr presidente Lula que oportunizou e pavimentou esse caminho. Muitas vezes lhe cobram por colocar mais mulheres em cargos políticos, ministérios, judiciário e em outros cargos de poder. É importante! 

Mas não olham para o que de mais importante vc fez. Ninguém presidente abriu tanto caminho para as mulheres. Incentivou, oportunizou, construiu para que a primeira mulher, nossa companheira Dilma Roussef, se tornasse presidenta da república e para a que primeira mulher fosse presidenta de um dos maiores partidos desse país, o partido que o Sr fundou.

O valor histórico dessa sua postura foi, é e será fundamental para colocar de vez as mulheres como protagonistas na cena da política brasileira. Nenhum outro líder político ou governante proporcionou as condições importantes e simbólicas que o senhor  proporcionou para empoderar mulheres. A história está registrada.

Minha homenagem aqui a todas as mulheres desse partido que fizeram a luta e conquistaram esse resultado! As mulheres brasileiras Janja, que lutam arduamente pelo espaço e dão duro por condições dignas de vida no nosso cotidiano, nossa gratidão!

Companheiras e companheiros,

Chegar aos 45 anos de luta, resistência e conquistas, com a vitalidade e a trajetória do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, é um feito que deve ser celebrado por sua importância para a história, o presente e o futuro do Brasil.

Não estaríamos aqui se não tivéssemos mantido nosso compromisso de origem com a trabalhadores e com o povo brasileiro: mudar a política, o país e a vida das pessoas. 

Começamos inovando na organização política: um partido organizado de baixo para cima, nas fábricas, nos campos, escolas e comunidades de base, para dar voz e vez aos que sempre foram excluídos das grandes decisões.

Aos que sempre foram excluídos da riqueza construída pelas mãos do povo trabalhador, num país marcado a ferro e fogo por desigualdade, exploração e injustiça.

Quero homenagear os fundadores e fundadoras do PT por meio de duas pessoas aqui presentes:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E a companheira Benedita da Silva.

Ao lado de tantos companheiros e companheiras, Lula e Bené ousaram sonhar num tempo em que a ditadura oprimia, prendia e matava. 

Também homenagear os ex-presidentes do PT, em nome de dois companheiros aqui presentes: José Dirceu e Rui Falcão.

Todos nessa representatividade ousaram lutar para que nunca mais a força bruta venha a se impor à democracia e à vontade soberana do povo.

 Compas,

Com a mesma coragem que demonstrou nas greves e manifestações, o PT levou a pauta da classe trabalhadora e da imensa maioria para a campanha das diretas e para a Assembleia Constituinte. E foi assim que o Brasil começou a mudar.

Combinando a luta nas ruas e nas instituições, o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras mostrou que era a alternativa real para concretizar as aspirações e esperanças de nossa gente. 

E foi por este caminho, sempre coerente, que elegemos o primeiro presidente da República nascido no seio do povo e forjado nas lutas da classe trabalhadora.

Foi este presidente que colocou o país na rota do crescimento com distribuição da renda, como nunca antes na história do Brasil. E que começou a mudar a vida de milhões de pessoas.

Nada nem ninguém vai apagar que criamos 20 milhões de empregos e que o salário-mínimo teve aumento real de 74%, com inflação sob controle e o PIB crescendo em média 4% ao ano.

Ninguém vai apagar a maior reforma agrária de todos os tempos. O Bolsa Família, o Prouni, a Lei de Cotas. A Farmácia Popular, o Samu e as UPAS. O Minha Casa Minha Vida, as grandes obras do PAC e o Pré-Sal.

A criação dos ministérios das Mulheres, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos, agora somados ao Ministério dos Povos Indígenas. A lei Maria da Penha e as políticas contra a homofobia e todas as faces da discriminação e do preconceito.

Ninguém vai apagar que tiramos o Brasil do Mapa da Fome.

Que com o PT o país assumiu um novo lugar no mundo; protagonista da integração regional, da questão climática e ambiental, da promoção da paz e do combate à pobreza e à desigualdade em escala global.

Foi o legado dos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma que nos conferiu autoridade política para enfrentar a maior campanha de destruição contra um partido político e sua liderança em nosso país.

Uma campanha de cerco e aniquilamento, movida por interesses econômicos, políticos e sociais, dentro e fora do Brasil, fortemente contrariados pelo novo projeto de país, soberano, inclusivo e democrático.

Impuseram um golpe travestido de impeachment sem crime de responsabilidade, contra uma presidenta honesta, que não cometeu crime nenhum.

Acusaram falsamente, condenaram sem provas, prenderam e cassaram Lula ilegalmente, cassando também o direito do povo de elegê-lo presidente em 2018.

Mataram e sepultaram o PT muitas vezes nas manchetes e nos editoriais.

Mas não conseguiram tirar Lula e o PT da memória e do coração do povo brasileiro. Não foi por outra razão que ganhamos cinco eleições das nove que disputamos no regime democrático.

E aqui faço uma homenagem à mais aguerrida militância de todos os tempos: a militância do PT.

Vocês são o corpo sempre combativo e a eterna alma corajosa do nosso partido.

Na Vigília Lula Livre, por 580 dias e noites, nas manifestações e festivais, na defesa da inocência de Lula, enfrentando ofensas e violência, junto com os movimentos sociais, a militância impulsionou a solidariedade nacional e internacional para a  batalha judicial e política daqueles tempos difíceis.

Este é o momento de agradecer também aos advogados, religiosos, líderes políticos, artistas, intelectuais, jornalistas independentes, a todos e todas que levantaram a bandeira Lula Livre!

Seus nomes estão inscritos na história da democracia e da Justiça no Brasil.

Compas,

As alternativas ao PT que os poderosos promoveram, desde o golpe de 2016, resultaram em governos desastrosos para o país e em terríveis ameaças à democracia. 

A economia regrediu, trazendo desemprego e pobreza; a fome voltou e o povo foi parar na fila do osso. As instituições foram atacadas, direitos foram suprimidos, a liberdade foi cerceada com ódio e violência.

E jamais esqueceremos a dor de centenas de milhares de famílias que sofreram o luto na pandemia, pela mão criminosa daquele que sonegou a vacina, zombou da ciência, dos mortos e da solidariedade humana.

Esse ser agora está denunciado. Nos 45 anos do PT é um presente para a democracia. Com provas e um farto material produzido por seus colaboradores, Bolsonaro se sentará no banco dos réus. Será julgado pelo devido processo legal, coisa que se tivesse vencido as eleições não teria para ninguém. Nem por perto isso se compara com o que o sr sofreu, com o que nos sofremos na operação conduzida por Sérgio Moro, prisões ilegais, injustas, ilações, delações forjadas. Por isso dizemos bem forte é não a anistia!

Foi para para salvar a democracia à frente de uma aliança que reuniu o campo popular e de esquerda aos movimentos, partidos e setores democráticos de todo o país que o senhor se elegeu presidente pela terceira vez!

O PT chega aos 45 anos com responsabilidade dobrada: reconstruir um país devastado e fazer avançar um projeto de desenvolvimento cada vez mais inclusivo e vigoroso, sem permitir retrocessos.

Mesmo numa conjuntura nacional e internacional adversa, em que a extrema-direita e o neoliberalismo se aliam com voracidade e violência, é inegável que o terceiro governo do presidente Lula já firmou sim sua marca: mais empregos e mais salários, num país que voltou a crescer gerando renda e oportunidades. 

Um país que está vencendo outra vez a fome e a pobreza, tendo restabelecido o primado da democracia.

É dessa marca que não podemos esquecer quando somos atacados por uma oposição fascista, pelos arautos de um neoliberalismo que espoliou o patrimônio nacional e manteve os muito ricos encastelados em privilégios fiscais injustos e indecentes.

Este é o governo que restabeleceu o aumento real do salário-mínimo, fortaleceu o Bolsa Família e já criou 3 milhões e 200 mil empregos, mais que nos 4 anos do anterior. Que fez o PIB crescer acima de 6% em dois anos, mais que os 4 anos do anterior.

Este é o governo que fez a indústria crescer 3,1% no último ano, porque está investindo na inovação produtiva com apoio do BNDES, que voltou a financiar o desenvolvimento.

É o governo que isentou do imposto de renda quem ganha até dois salários-mínimos e vai isentar quem recebe até R$ 5 mil por mês. E pela primeira vez está cobrando dos ricos que mandam fortunas para fora.

Não podem proibir o Brasil de crescer!

O PT tem a responsabilidade de elaborar, propor e apoiar as políticas do governo neste rumo, algumas delas já anunciadas pelo presidente Lula.

A comida está cara, resultado da especulação com o dólar, do aumento das exportações e da crise do clima. Mas vamos vencer essa etapa. Sabemos que hoje é sua maior preocupação presidente!

Assim como conter abusos nos preços de combustíveis, especialmente do gás de cozinha, e da energia elétrica, dois setores em que o poder público foi mutilado por privatizações e constrangimentos nos anos recentes. A retomada dos investimentos da Petrobras e a desdolarização de sua política de preços mostram que é possível e necessário avançar, em benefício do país e do povo.

Conferir prioridade total, no Orçamento da União e na gestão de governo, aos programas sociais, de saúde e educação que alcançam a imensa maioria da população, sempre olhando para o povo em primeiro lugar.

Ampliar o acesso ao crédito para os trabalhadores, as famílias, a indústria e os serviços, os empreendedores, por meio dos bancos públicos e de novas linhas negociadas com o setor financeiro privado. 

Agora é avançar com firmeza, determinação e urgência na reforma do imposto de renda e no fim das desonerações indecentes, para que os muitos ricos finalmente paguem o justo e devido sobre seus lucros e dividendos, sobre o muito que extraem do país. 

Este é o verdadeiro desequilíbrio fiscal que o Brasil precisa resolver. Porque o orçamentário já estamos resolvendo ministro Fernando Haddad, promovendo um dos maiores ajustes fiscais de nossa história, saindo de um déficit de 2,3% do PIB em 2023 para 0,09% em 2024.

Companheiras e companheiros,

É para o futuro que estamos olhando ao defender este governo e fazer avançar as mudanças que realmente interessam à maioria da população, como as que acabamos de destacar.

É fato que o Brasil e o mundo mudaram muito nesses 45 anos: o mundo do trabalho, os recursos tecnológicos, a agenda ambiental e climática, os meios de informação e até da disputa política, que hoje se faz também em redes sociais controladas pela extrema-direita, suas mentiras e seu discurso de ódio.

O que não mudou foi o compromisso de origem do PT com a transformação do país, a nossa aliança permanente com o povo brasileiro. Não é uma pesquisa de antevéspera que vai nos abalar. Já passamos por coisas muito piores, e estamos aqui! Temos muito o que falar para o povo brasileiro. Vou repetir, ganhamos cinco das nove eleições presidenciais e sabemos lutar pelo que é justo, bom e certo, com a verdade do nosso lado.

A recente denúncia do procurador-geral da República confirma que foi contra Lula e o PT a trama golpista, autoritária e assassina, urdida a partir do momento em que o presidente recuperou seus direitos políticos e executada até 8 de janeiro de 2023, uma semana depois de sua posse.

Não enfrentamos apenas adversários políticos nas eleições, mas um projeto ditatorial que se apresenta com outras faces e disfarces, além daquelas do chefe da milícia golpista.

Por isso não temos o direito de errar, de falhar em nossos compromissos com o povo, o país e a democracia.

O PT precisa se preparar. Este momento de renovação de suas direções é a oportunidade que temos de consolidar nossa unidade interna baseada no debate e na modernização da nossa organização partidária. 

Não há divergência entre aliança ampla para as eleições e a defesa dos direitos do povo brasileiro. Essa é uma falsa polêmica. Foi essa conjunção de aliança que fizemos em 2022. Essa é sua marca presidente Lula, alicerce no povo. É dela que surgem as condições para fazer uma ampla aliança para consolidar a democracia e reconstruir nosso país.

Por tudo que fizemos e pelo muito que temos obrigação de fazer, pela confiança que foi depositada em nós, o PT precisa seguir avançando, ouvindo cada vez mais o povo, dando voz e concretizando, nas ações de governo, os anseios da imensa maioria da população.

É para construir o futuro que precisamos transformar o presente.

Viva o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras!

  


sábado, 22 de fevereiro de 2025

Edinho & Palocci


Para quem não é assinante, copiei e colei ao final a referida matéria.

Será que é tudo mentira da Folha?

Ou será que Edinho pensa que foi nomeado?

Será que ele comparece a uma reunião privada sem saber quem vai estar presente?

Ou será que não o avisaram da presença de Palocci?

Será que Edinho acha que não tem problema algum?

Ou n.d.a.?

Seja qual for a resposta, deixo aqui uma opinião: Palocci, além do estrago que causou quando foi ministro, é alguém que se comportou de maneira absolutamente inaceitável.

Quem duvida, não lembra ou não sabe, por favor leia o depoimento de Antonio Palocci no dia 6 de setembro de 2017. A respeito, reproduzo trechos de um texto publicado no dia 16 de setembro de 2017.

"Do começo ao fim, o depoimento foi feito com o propósito de contribuir para a condenação de Lula e para a criminalização do PT. Como em outros casos, para isso se recorreu a mentiras, meias-verdades, ilações, suposições, mas nunca provas. Abundam os ataques ao Pré-Sal e à Petrobrás, assim como o silêncio sobre o sistema financeiro e os meios de comunicação. O depoimento de Antonio Palocci (...) visa obter redução de pena e liberação dos recursos financeiros que ele acumulou ao longo dos últimos anos. Para atingir estes objetivos, ele está disposto a mentir, sabendo que estas mentiras servirão de armas para os que tentam destruir o PT e Lula. Sendo assim, Palocci na prática tornou-se aliado dos que querem destruir o PT, tornou-se um inimigo do PT".

Ou, se quiserem, leiam o que Lula disse: "Palocci tem o direito de querer ser livre, tem o direito de querer ficar com um pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra, ele tem família, tudo isso eu acho. O que não pode é, se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros".

Espero que Edinho responda às perguntas feitas no início deste texto.

Sob pena das pessoas chegarem à pior conclusão possível. Não sobre Palocci, que já está precificado, mas sobre o próprio Edinho.


SEGUE O TEXTO CITADO

Candidato a presidente do PT defende frente ampla em almoço oferecido por Marta e marido
21 de fevereiro de 2025
Candidato a presidente do PT, o ex-ministro Edinho Silva foi protagonista de um almoço nesta quinta-feira (20) oferecido pelo empresário Márcio Toledo e sua mulher, a ex-prefeita Marta Suplicy, em São Paulo.
O ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, candidato a presidir o PT - Cesar Ogata/Divulgação
A uma plateia eclética, que incluía nomes como o ex-senador tucano José Aníbal e o ex-ministro emedebista Nelson Jobim, Edinho defendeu a união de forças de esquerda e centro contra a direita bolsonarista em 2026.
Outro a comparecer foi o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, recentemente beneficiado por uma decisão do ministro Dias Toffoli (STF) que anulou as provas da Lava Jato contra ele.
Em sua fala, Edinho disse que é preciso reeditar algo parecido à frente ampla construída por Lula em 2022 contra Jair Bolsonaro.
Para ele, favorito para assumir o comando do partido no meio deste ano, não é porque o ex-presidente está inelegível que as forças do fascismo já estão derrotadas. Pelo contrário, o conservadorismo tem força na sociedade, afirmou.
O ex-prefeito de Araraquara sugeriu que as pessoas ficassem atentas à possibilidade de candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele também pediu coesão das forças democráticas para enfrentar uma conjuntura difícil nos próximos dois anos.





terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

De que serviria entrar na justiça?

A reunião do Diretório Nacional do PT ainda estava acontecendo, quando a Folha publicou uma matéria sobre as polêmicas em curso.

A referida matéria pode ser lida ao final.

Imediatamente, vários membros do Diretório reclamaram do conteúdo da matéria, sendo que alguns insinuaram que a fonte teria sido alguém da parte que foi derrotada na reunião.

Quem foi a fonte desta matéria? Não sei, mas suspeito que tenha sido a mesma que passou, para a mesma imprensa, prints da troca de mensagens num grupo de zap de parlamentares vinculados à tendência Construindo um Novo Brasil.

Esta suspeita foi reforçada pela troca de mensagens que mantive com um jornalista, logo depois da referida matéria ter sido publicada. Segue abaixo, para conhecimento.

[17:36, 17/02/2025] oi, Pomar. Tudo bem? Me disseram que algumas correntes estão pensando em judicializar a votação do diretório nacional hoje que aprovou o "jabuti" dos mandatos para dirigentes partidários. Vcs estão pensando nessa possibilidade?

[17:37, 17/02/2025] Valter Pomar: Nós? Nunca.

[17:37, 17/02/2025] Sabe de alguém que esteja avaliando isso?

[17:38, 17/02/2025] Valter Pomar: Não. Na reunião, ninguém falou disto.

[17:38, 17/02/2025] Ok. Por que tem uma discussão sobre o quorum, né? Faltaram dois votos

[17:39, 17/02/2025] Valter Pomar: Sim, faltaram.

[17:40, 17/02/2025] E há algo a ser feito? Apresentar algum recurso, por exemplo?

[17:40, 17/02/2025] Valter Pomar: O que será feito é ganhar o PED. É isso que faremos.

[17:42, 17/02/2025] Já tem a definição do candidato de vcs, aliás?

[17:43, 17/02/2025] Vamos aprovar no congresso da AE, que será nos dias 14, 15 e 16 de março.

[17:44, 17/02/2025] Legal, valeu! abraço

Em resumo: o que foi feito na reunião do DN foi mais um atropelo. Mas se não formos capazes de ganhar a disputa dentro do PT, não serviria de absolutamente nada - muito antes pelo contrário - tentar ou mesmo ganhar através do judiciário.

Mas é muito sintomático que exista, dentro da CNB, quem ache positivo estimular a imprensa a publicar algo nesta linha. 


Segue abaixo a matéria citada acima.

PT muda estatuto em reunião tensa, libera reeleição sem limites e dificulta renovação

Decisão beneficia parlamentares e dirigentes que já tenham 3 mandatos consecutivos, e opositores ameaçam judicializar

Catia Seabra

Brasília

Sob a condução da presidente do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), o PT aprovou, durante reunião tensa, nesta segunda-feira (17), uma mudança no estatuto para permitir a reeleição de parlamentares e dirigentes partidários que já tenham exercido três mandatos consecutivos na mesma Casa Legislativa ou instância do PT.

Apesar da pregação do presidente Lula por renovação de seu partido, a alteração possibilitará que deputados concorram à reeleição ainda que já tenham ocupado a mesma função por três mandatos consecutivos. Como o mandato de senador é maior, a candidatura ficaria proibida para aqueles que já estivessem no segundo consecutivo.

A própria Gleisi encaminhou a votação, chegando a afirmar, quando contestada, que ela sabia como dirigir o PT. Além dela, a secretária nacional de juventude, Nadia Garcia, defendeu a proposta.

As discussões ficaram acaloradas antes mesmo da votação do mérito, quando petistas discutiram qual seria o quórum para a decisão. Durante o debate híbrido, presencial e virtual, o secretário de Comunicação, deputado federal Jilmar Tatto (SP), bateu boca com Valter Pomar, dirigente da Articulação de Esquerda.

Os opositores da decisão ameaçam judicializar sob o argumento de que mudança no estatuto exige quórum qualificado.

"Não poderá se apresentar como pré-candidato ou pré-candidata para postular o mesmo cargo, o parlamentar que já tiver sido eleito para três mandatos consecutivos na mesma Casa Legislativa, e no caso do cargo de senador ou senadora, o parlamentar que já tiver sido eleito para dois mandatos consecutivos no Senado Federal", dizia o estatuto.

A vedação dessas candidaturas passaria a vigorar nas eleições de 2026. Mas, por 60 votos favor, 27 contra e cinco abstenções, o Diretório Nacional do PT permitiu a candidatura desses parlamentares à reeleição.

Apelidado por integrantes do PT de emenda Gleide Andrade — por possibilitar a reeleição da tesoureira do partido — a proposta apresentada ao diretório também permitia a permanência dos ocupantes de cargos na cúpula partidária.

Dizia o texto: "O disposto nos artigos 32 e 141 do Estatuto do Partido não se aplicarão (sic) ao PED realizado em 6 de julho de 2025 e às eleições parlamentares de 2026, permitindo que dirigentes e parlamentares possam renovar seus mandatos eletivos".

O artigo que foi alterado dizia: "Serão inelegíveis para cargos em Comissões Executivas, em qualquer nível, filiados e filiadas que tenham sido membros de uma mesma Comissão Executiva por mais de 3 (três) mandatos consecutivos ou dois mandatos consecutivos no mesmo cargo".

Por 61 votos a favor e 24 contra, o comando do PT também aprovou a manutenção de eleições diretas para a direção do partido, incluindo o presidente do partido, como já estava previsto no estatuto. Uma ala da sigla apresentou proposta para que fosse realizado em congresso.

A esquerda do PT rachou nesse quesito, já que uma corrente defendia um modelo híbrido com debates de teses partidárias. Candidato de Lula, o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva e a corrente liderada pelo presidente, a CNB (Construindo um Novo Brasil), defenderam a eleição direta.

A eleição do presidente está programada para o dia 6 de julho. Edinho enfrenta resistência dentro da CNB. Novo Brasil). A perspectiva de mudança na cúpula partidária tem fomentado a oposição dos ocupantes da atual direção ao nome de Edinho. A tendência de Lula ameaça se rebelar contra seu maior líder, procurando opções ao seu indicado.

Entre aliados de Lula, a aposta era que essa resistência viesse a arrefecer depois que o presidente informou a petistas a intenção de nomear Gleisi para o comando da Secretaria-Geral da Presidência.

Gleisi vinha defendendo um nome do Nordeste para sua sucessão no PT. Com ela fora do cargo, a articulação de alternativas a Edinho poderia ser reduzida, nos cálculos do governo.

Mas apoiadores do ex-prefeito de Araraquara tiveram uma amostra das dificuldades quando um convite para um jantar com Edinho recebeu críticas no grupo de WhatsApp dos deputados que integram a corrente majoritária do PT. O encontro acabou adiado.

Kakay: mágoa e política



A quantidade de pessoas que são apresentadas como amigos de Lula é imensa. O que faz com que deste mato saia todo tipo de coelho.

Diz a imprensa que um dos amigos de Lula seria o famoso advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido pelo apelido de Kakay.

Se a amizade era real, não sei. 

Caso tenha sido real, não faço ideia se continua existindo, depois que começou a circular, nas redes e na grande mídia, uma mensagem escrita por Kakay acerca de Lula. 

Várias pessoas analisaram a mensagem de Kakay como uma "cagada", fruto de mágoa ou coisa parecida.

Prefiro analisar a coisa toda do ponto de vista político. O fato é: Kakay se engajou na campanha que a mídia & a direita vem fazendo, para tentar desconstruir Lula e inviabilizar sua candidatura à presidência da República em 2026. 

Ambas coisas visam ampliar as chances da direita voltar à presidência. E visam ampliar, também, as chances da direita conseguir seu grande objetivo desde 1989, que vem a ser destruir o PT como polo da política brasileira.

Reproduzo algumas das frases de Kakay, na ordem em que foram escritas por ele: "Lula (...) era imbatível. (...) Mas o Lula do 3º mandato , por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política. (...) É outro Lula que está governando. (...) Sem termos o Lula que conhecíamos como Presidente (...) corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026. Bolsonaro só perdeu porque era um inepto. (...) Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder. E não duvidem dele, ele vai conseguir. (...) o “ grupo” do Lula a gente sabe quem é. E certamente não vai tirá-lo do isolamento. Ele hoje é um político preso à memória do seu passado. E isolado. Quero acreditar na capacidade de se reencontrar. Quem se refez depois de 580 dias preso injustamente, pode quase tudo. (...) Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo. Que Deus se apiede de nós!"

Politicamente falando, qual é o resumo do recado de Kakay? O de que Lula estaria condenado a perder as eleições de 2026 e, portanto, precisa ceder lugar para Haddad e/ou para a direita centrista.

Em si, trata-se de um recado reiterado inúmeras vezes. Em 2005, por exemplo, propuseram que Lula se desfiliasse do PT e desistisse de disputar a reeleição. Em 2006, como sabemos, ganhamos com folga o segundo turno.

Também não é propriamente novidade a crença na existência de uma "direita civilizada", "centrista", que supostamente seria capaz de "afastar" o fascismo. O que temos visto, no Brasil e mundo afora, é outra coisa: a direita se tornando cada vez menos "civilizada", assumindo as pautas do fascismo e aplainando o caminho para a vitória da extrema-direita.

A novidade na mensagem de Kakay é a tática Biden, a saber: imputar os problemas do nosso governo principalmente a circunstâncias pessoais.

Acredito no papel da personalidade na história. Assim como acredito na falta de personalidade. Mas os principais problemas do nosso governo, assim como os secundários, não derivam de "circunstâncias pessoais".

Os principais problemas do nosso governo tiveram e seguem tendo origem na "aliança ampla demais" que Kakay elogia enfaticamente. O "amplo arco" ficou tão amplo, que está difícil disparar flechas certeiras.

Alguns setores da esquerda acreditavam que a tal "aliança ampla demais" seria apenas para ganhar a eleição e que não interferiria na implementação do nosso programa.

O que a vida demonstrou?

Que a "aliança ampla demais" do primeiro turno se tornou ainda mais ampla no segundo; ainda mais na hora de montar o governo; e muitíssimo mais ampla na política monetária e fiscal implementada pelo ministro da Fazenda e pelo presidente do Banco Central, ambos indicados por Lula.

E o efeito disso, como não podia deixar de ser, é funcionar como um freio de mão puxado, que impede nosso governo de falar e de fazer muitas coisas que seriam indispensáveis para manter e ampliar nossa base social.

Base indispensável para vencermos, em 2025, 2026 e além.

Quem acredita que a tal "aliança ampla demais" seria mesmo inevitável e indispensável, não tem outra alternativa a não ser colocar a culpa nas "circunstâncias pessoais". E aí fica girando em círculo, correndo atrás do próprio rabo (alerta para figura de linguagem), tentando explicar porque o "gênio" de ontem teria, supostamente, virado o perdedor de hoje e amanhã.  

Aliás, Kakay apresenta Haddad como alternativa a Lula.

Para Kakay, Haddad seria "o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel."

Haddad que se cuide. Afinal, elogios vindos de um "amigo" assim não são bom presságio.

 

Segue o texto comentado

Lula, a esperança da democracia.

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro", Clarice Lispector.

Lula ganhou 3 vezes e elegeu Dilma como sua sucessora. À época elegeria o qualquer de seus Ministros pois era imbatível.

Certa vez conversando com um Senador-do PT- ele me disse que tinha um ano tentava uma audiência com a Presidenta Dilma. Ela não fazia política. Sofreu impeachment.

Um dia no Governo Lula um Senador da oposição me liga as 11 hs da manhã e reclama que tinha assumido há 15 dias- era suplente- e que não havia sido recebido pelo Zé Dirceu, chefe da Casa Civil. Liguei para o Zé . As 12.30 a gente estava almoçando no Palácio do Planalto. O Zé - de longe o mais preparado dos Ministros- deu um show discorrendo sobre o Estado de origem do Senador, que saiu de lá com o número do celular do Zé e completamente encantado.

Neste atual governo Lula fez o que de melhor podia ao enfrentar Bolsonaro e ganhar do fascismo impedindo que tivéssemos mais 4 anos de Bolsonaro. Seria o fim da democracia. Seriam destruídas de maneira irrecuperável tudo que foi construído nos governos democráticos, não só do PT. O fascismo acaba com tudo. Este o maior legado do Lula. Para tanto foi necessário, senão não teríamos ganhado, fazer uma aliança ampla demais. Só o Lula conseguiria unir e fazer este amplo arco para derrotar Bolsonaro. Aqui em casa , no dia da diplomação , 12 de dezembro,determinado político se aproximou em um momento em que Lula e eu conversávamos, colocou amistosamente a mão no meu ombro e fez uma brincadeira. Ao sair da roda o Lula me falou baixinho, rindo :” este jamais será meu Ministro, e acha que vai ser.” Dia 1º de janeiro ele assumiu como Ministro. Este o brilhantismo do Lula neste momento difícil. Não fosse sua maturidade não teríamos tido chance de vencer o fascismo. Por isto cometo aqui certa indelicadeza de comentar este fato: para ressaltar a maturidade do Presidente Lula.

Mas o Lula do 3º mandato , por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política.

Outro dia alguns políticos me confidenciaram que não conseguem falar com o Presidente. É outro Lula que está governando.

Com a extrema direita crescendo no mundo e , evidentemente aqui no Brasil, o quadro é muito preocupante. Sem termos o Lula que conhecíamos como Presidente e sem ele ter um grupo que ele tinha ao seu redor, corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026. Bolsonaro só perdeu porque era um inepto. Tivesse ouvido o Ciro Nogueira e vacinado, ou ficado calado sem ofender as pessoas, teria ganho com a quantidade de dinheiro que gastou. Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder. E não duvidem dele, ele vai conseguir.

Claro que as circunstâncias estão favoráveis ao projeto de perder as eleições. Não dou tanto importância para estas pesquisas feitas o tempo todo. Mas prestei atenção nesta que indica que 62% não querem que Lula seja candidato a reeleição. A pergunta é : quem é seu sucessor natural? Não foi feito um grupo ao redor do Presidente, que se identifique com ele e de onde sairia o sucessor político natural, o “ grupo” do Lula a gente sabe quem é. E certamente não vai tirá-lo do isolamento. Ele hoje é um político preso à memória do seu passado. E isolado. Quero acreditar na capacidade de se reencontrar. Quem se refez depois de 580 dias preso injustamente, pode quase tudo . E nós temos o Haddad, o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel.

Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada. Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo.

Que Deus se apiede de nós!

É necessário lembrar o mestre Torquato Neto no Poema do Aviso Final:

“É preciso que haja algum respeito , ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadada.”

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Declaração de voto

O Diretório Nacional do PT acabou de aprovar o seguinte: 

Art. 11º: O disposto nos artigos 32 e 141 do Estatuto do Partido não se aplicarão (sic) ao PED realizado em 6 de julho de 2025 e às eleições parlamentares de 2026, permitindo que dirigentes e parlamentares possam renovar seus mandatos eletivos. a) O disposto nos artigos 32 e 141 do Estatuto será debatido e atualizado considerando-se a realidade e condições políticas atuais no Congresso Nacional que debaterá a reforma estatutária.

O artigo 32 diz o seguinte: "Art. 32. Serão inelegíveis para cargos em Comissões Executivas, em qualquer nível, filiados e filiadas que tenham sido membros de uma mesma Comissão Executiva por mais de 3 (três) mandatos consecutivos ou dois mandatos consecutivos no mesmo cargo". 

O artigo 141 diz o seguinte: "Art. 141. Não poderá se apresentar como pré-candidato ou pré-candidata para postular o mesmo cargo, o parlamentar que já tiver sido eleito para três mandatos consecutivos na mesma Casa Legislativa, e no caso do cargo de Senador ou Senadora, o parlamentar que já tiver sido eleito para dois mandatos consecutivos no Senado Federal".

A proposta acima foi aprovada com 60 votos. Houve 27 votos contra. E quatro abstenções.

Me abstive e pedi para fazer a declaração de voto que segue abaixo.

Me abstive porque não reconheço a legitimidade e a legalidade desta votação e desta decisão.

O DN foi convocado para debater o regulamento do PED. Não foi convocado para debater o mandato dos parlamentares que serão eleitos em 2026.

Solicitei que as duas questões - mandatos de parlamentares e mandatos de dirigentes partidários - fossem separadas e que o tema dos parlamentares fosse debatido numa reunião convocada especificamente para este fim.

O DN decidiu, por 46 votos a favor, que os temas deveriam ser debatidos ao mesmo tempo. Votaram contra a mistura 31 integrantes do DN.

Solicitei então que a proposta de alteração só fosse válida se tivesse pelo menos 2/3 de apoio dentre os integrantes do Diretório Nacional. 

A presidenta do Partido, que estava dirigindo a reunião, não aceitou minha questão de ordem. E o argumento para recusar foi apresentado pelo Jilmar Tatto. Segundo ele, o estatuto não prevê a exigência de maioria qualificada para aprovar mudanças estatutárias. 

De fato, o estatuto do Partido prevê que alterações só podem ser feitas por um encontro ou congresso convocado com esta finalidade. 

Diz o estatuto: Art. 264. O presente Estatuto poderá ser alterado em Encontro Nacional, pelo voto da maioria de seus delegados e delegadas. §1º: Para efeito do disposto neste artigo, a Comissão Executiva Nacional designará uma Comissão que elaborará o projeto de reforma e promoverá sua publicação e sua distribuição aos Diretórios em todos os níveis para apresentação de emendas, dentro dos prazos que fixar. §2º: Toda alteração estatutária deverá ser registrada no Ofício Civil competente e encaminhada para o mesmo fim ao Tribunal Superior Eleitoral, nos termos da lei.

Portanto, adotar a necessidade de 2/3 para aprovar uma alteração estatutária já é uma enorme liberalidade. Mas pelo menos garante que alguma alteração estatutária só possa ser feita com maioria qualificada. O que Jilmar Tatto defendeu e Gleisi Hoffmann encaminharam é baseado na lei da selva: qualquer maioria pode alterar qualquer item do estatuto que uma maioria eventual considere passível de alterar.

No caso específico, a alteração proposta não atingiu os 2/3.

Por tudo isso, não reconheço a legitimidade e a legalidade desta decisão. E por isso escolhi me abster, pois entendo que votar contra seria no limite considerar aceitável que esta votação ilegal e ilegítima poderia ocorrer.

Por fim: entendo as razões de quem defende retirar quaisquer limites para a reeleição de parlamentares. Não concordo com a solução proposta, mas reconheço que o problema existe, causado por regras que são definidas em grande medida por nossos inimigos.

Mas não concordo nem com o diagnóstico, nem com a solução proposta para os mandatos de dirigentes partidários. O Partido tem dificuldades em renovar suas direções? Claro. Mas a solução proposta só vai dificultar a renovação, facilitando a burocratização, a perpetuação, a oligarquização.

Há quem avalie que um dos motivos para aprovar esta alteração estatutária, neste momento, com tanto atropelo, está diretamente relacionado com as divergências existentes na cúpula do grupo atualmente majoritário no DN, a saber, a chamada CNB. 

Divergências que retardaram a aprovação do regulamento do PED. E que nos levam, neste dia 17 de fevereiro, a gastar horas e horas debatendo regimento, sem dedicar o tempo necessário para o debate sobre a grave situação política que estamos vivendo.

Quaisquer que sejam as razões da CNB e de quem a apoiou (principalmente Avante e Movimento PT), o fato é que a democracia partidária foi atropelada. E isso a gente sabe como começa e sabe como termina. E não termina bem.

ps.um companheiro me alertou que estariam dizendo que teriam sido 62 votos a favor. Não foi isso que a mesa anunciou, não é isso que está no áudio da reunião nem no registro fotográfico. Mas a alegação -e a tentativa de contabilizar votos a posteriori - só confirma que a hipocrisia é a homenagem que o vício rende à virtude. 

domingo, 16 de fevereiro de 2025

O jabuti da CNB

A companheira Sônia Braga, secretaria nacional de organização do Partido dos Trabalhadores, publicou no grupo de zap do Diretório Nacional um arquivo contendo a proposta de regulamento que será votada, assim esperamos, nesta segunda-feira dia 17 de fevereiro.

Nesta proposta de regulamento, marcadas em cores azul e vermelha, aparecem propostas de emendas feitas pelas diferentes tendências do Partido.

Uma dessas proposta é um imenso jabuti.

Refiro-me ao seguinte: "Art. 11º: O disposto nos artigos 32 e 141 do Estatuto do Partido não se aplicarão ao PED realizado em 6 de julho de 2025 e às eleições parlamentares de 2026, permitindo que dirigentes e parlamentares possam renovar seus mandatos eletivos". 

E o que dizem os referidos artigos do estatuto?

O artigo 32 diz o seguinte: "Art. 32. Serão inelegíveis para cargos em Comissões Executivas, em qualquer nível, filiados e filiadas que tenham sido membros de uma mesma Comissão Executiva por mais de 3 (três) mandatos consecutivos ou dois mandatos consecutivos no mesmo cargo". 

O artigo 141 diz o seguinte: "Art. 141. Não poderá se apresentar como pré-candidato ou pré-candidata para postular o mesmo cargo, o parlamentar que já tiver sido eleito para três mandatos consecutivos na mesma Casa Legislativa, e no caso do cargo de Senador ou Senadora, o parlamentar que já tiver sido eleito para dois mandatos consecutivos no Senado Federal".

Para começo de conversa, o que pode ser votado nesta reunião do DN dia 17/2 é o regulamento do PED. A reunião do DN não foi convocada para debater reforma do estatuto. Portanto, o artigo 141 simplesmente não pode ser discutido nesta reunião. 

Quanto ao artigo 32, trata-se de uma norma estatutária. E o estatuto, gostemos ou desgostemos, não prevê mecanismos para alterar o próprio estatuto, salvo um encontro ou congresso partidário convocado com esta finalidade.

Mas digamos que o DN resolva liberalizar e aceitar a tese segundo a qual seria possível fazer alterações, desde que cada alteração receba apoio de no mínimo 2/3 dos integrantes da direção.

Mesmo assim, gostaria de saber - especialmente das pessoas que enchem a boca para falar da necessidade de renovação partidária - qual é o motivo pelo qual deveríamos autorizar dirigentes a terem mais que três mandatos consecutivos na mesma instância ou mais de dois mandatos consecutivos no mesmo cargo. 

Não concordo, mas entendo a lógica por trás proposta de deixar os parlamentares se reelegerem indefinidamente. 

Mas qual seria a lógica por trás da proposta de adotar a vitaliciedade para dirigentes? Teremos eternos presidentes, eternos secretários-gerais, eternos tesoureiros? 

Para não dizer que não falei de flores, o arquivo postado pela companheira Sonia Braga traz também uma proposta da CNB que altera o calendário de inscrição das chapas e candidaturas.

Foi proposto pela CNB, como calendário para inscrição de chapas e candidaturas, o seguinte:

* Até 14 de abril de 2025 em nível municipal e zonal

* Até 28 de abril de 2025 em nível estadual

* Até 19 de maio de 2025 em nível nacional.

Esta proposta também contradiz o que o estatuto prevê.

O estatuto do Partido diz o seguinte:

"Art. 23. §2º: A inscrição das chapas e dos nomes para o cargo de presidente deverá ser feita perante a Comissão Executiva do órgão de direção correspondente, observando-se os seguintes prazos:

a) até 120 (cento e vinte) dias antes do pleito em nível nacional;

b) até 90 (noventa) dias antes do pleito em nível estadual;

c) até 60 (sessenta) dias antes do pleito em nível municipal". 

Como a votação está marcada para o dia 6 de julho, é preciso que a inscrição de chapas e presidentes nacionais seja feita no dia 6 de março; a inscrição de chapas e presidentes estaduais no dia 6 de abril; e a inscrição das chapas e presidentes municipais no dia 6 de maio. Assim, se o DN quiser aprovar a proposta da CNB e ao mesmo tempo quiser respeitar o estatuto, então seria melhor algo mais ou menos assim:

"O calendário para inscrição de chapas e candidaturas, será o seguinte

* Até 14 de abril de 2025 em nível municipal e zonal

* de 6 até 28 de abril de 2025 em nível estadual

* de 6 de março até 19 de maio de 2025 em nível nacional".

Desenhando o caso nacional: a eleição será dia 6 de julho. O estatuto prevê que a inscrição da chapa e candidatura nacional deveria ocorrer 120 dias antes. Portanto, a inscrição deveria ocorrer no dia 6 de março. A CNB quer adiar este prazo. A alternativa "salomônica" é aceitar que a inscrição possa ocorrer já no dia 6 de março, ou seja, quem quiser se inscrever e começar a fazer campanha, poderá fazer isto. E quem quiser deixar para se inscrever no prazo limite, poderá fazê-lo também.

No caso dos critérios para inscrição de chapas e candidaturas, a proposta da CNB é a seguinte:  "l) A inscrição de candidato (a) a presidente (a), para os diretórios estaduais e para a direção nacional, deverá ser acompanhada por uma lista de apoio, assinada por pelo menos 5% do diretório do respectivo nível e, no caso das instâncias estaduais e nacional, uma lista de apoio de, pelo menos, 1000 filiados(as) para a presidência nacional e 500 filiados(as) para as presidências estaduais".

Acontece que precisamos de uma única redação que aborde os três níveis (municipal, estadual e nacional). Salvo engano, a proposta da CNB só aborda dois níveis (estadual e nacional).

O risco desse tipo de critério é dificultar a inscrição de chapas e candidaturas. Assim, mais razoável seria algo do tipo: no caso de municípios, quem conseguir montar uma chapa com os critérios estabelecidos ganha o direito automático de concorrer. E no caso de presidentes municipais, o mesmo critério: quem tiver o apoio de uma chapa que esteja se inscrevendo e atenda os critérios OU for membro do Diretório municipal eleito em 2019 ganha automaticamente o direito de se inscrever.

No caso dos estados, idem: quem conseguir montar uma chapa que atenda os critérios, ganha automaticamente o direito de concorrer. E no caso de presidente estaduais, quem tiver o apoio de uma chapa que esteja se inscrevendo OU for membro do diretório estadual eleito em 2019 ganha automaticamente o direito de se candidatar.

No caso da nacional: a chapa que se inscrever atendendo aos critérios, ganha o direito de concorrer. E para presidente, quem tiver o apoio de uma chapa OU for membro do Diretório Nacional eleito em 2019. 

De resto, há muitos outros aspectos que merecem debate. E que se esteja debatendo as regras, no mesmo ano do PED, menos de cinco meses antes da votação, é em si mesmo muito revelador. E que apareçam regras restritivas e/ou oligarquizantes, mais revelador ainda. Mas um jabuti, cara, isto não tem preço!!!