domingo, 9 de fevereiro de 2025

Sokol, Edinho e o amor

Que tempos vivemos!

Escrevi um texto comentando a posição de um líder da CNB.

E quem saiu em sua defesa?

O companheiro Sokol, que fez questão de referir-se ao “metalúrgico Edinho”.

Reproduzo ao final a integra do texto de Sokol, que também pode ser lido aqui: 

O que provocou a reação de Sokol?

Segundo ele mesmo, a seguinte frase do meu texto: 

“São Paulo é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932”.

Para provar que estou errado sobre hoje (2025), Sokol cita eventos ocorridos entre 1917 e 1993.

O que estes eventos citados por Sokol demonstram? Que em SP sempre houve luta, resistência, combate. Mas isso não altera o fato: São Paulo é hoje o “centro da reação”.

Para dar um exemplo: os Estados Unidos são o “centro” do imperialismo. Mas isto não impediu e não impede que sempre tenha havido luta e resistência, por parte da classe trabalhadora e da esquerda dos EUA.

Repetindo o que escrevi no texto criticado por Sokol, “o grande problema do Brasil é a hegemonia desta classe dominante, cujo “centro”, cuja seção estadual principal, está em São Paulo (segundo alguns, na Faria Lima).  Neste sentido, São Paulo é o grande “problema regional” do Brasil. E (…) em São Paulo, onde a CNB (“unificada”) dispõe de ampla maioria na direção do Partido, não estamos conseguindo enfrentar adequadamente a classe dominante”.

Portanto, mesmo que minha apreciação histórica sobre São Paulo fosse 100% falsa, ainda assim continuaria sendo necessário debater a situação e as derrotas do PT em São Paulo.

Pois se a classe trabalhadora não conseguir derrotar a classe dominante aqui, será muito mais difícil impor-lhe uma derrota em todo o Brasil.

Sokol, infelizmente, não fala nada sobre isso; pelo visto, prefere polemizar comigo do que polemizar com o “metalúrgico Edinho”.

O que prova que, como escreveu Sokol, existe amor em SP. E também em O Trabalho…

Segue o texto de Sokol:


Ontem, circulou nas redes do PT um post do companheiro Valter Pomar (pode ser lido aqui)

Tentando tirar uma casquinha da crise “presidencial” da CNB – Nordeste X São Paulo – Valter afirma, notadamente, que “São Paulo é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932”.

Não corresponde.

Meu hábito não é polemizar nas redes mas, nesse caso, calar seria assentir com uma versão da história.

Caracterizando “São Paulo, centro da reação, basta lembrar 1932”, ignoraríamos:

  • a primeira Greve Geral no Brasil, em 1917, introduzindo a classe trabalhadora independente na cena nacional;
  • a revolta paulista de 1924, tenentista, que originou em 1925/27 a coluna Miguel Costa-Prestes (nesta ordem);
  • o comício gigante dos 100 mil do PCB no Pacaembu em 1945, onde, apesar do seu “queremismo” (“queremos Getúlio”), a massa proletária em peso sinalizou o fim da ditadura de varguista;
  • a histórica Greve dos 100 mil em São Paulo, em 1953, várias categorias imposta pelos operários aos dirigentes sindicais pelegos e outros;
  • a primeira grande manifestação pública contra a ditadura nos anos 70 (em 1975), o culto ecumênico por ocasião do assassinato no DOI-CODI de Vladimir Herzog, que ocupou a Praça da Sé;
  • o ascenso de massas pelas Diretas-Já, deflagrado pelo PT em novembro de 1983 no Pacaembu, até o auge, mais amplo e unitário, no Anhangabaú e na Sé, em fevereiro /abril de 1984;
  • as grandes greves metalúrgicas do ABC de 1978-1980 que derrotaram o regime militar e originaram o impulso que levou à fundação do PT e da CUT;
  • a Greve Geral da CUT (“Paulínia, ABC, estamos com você”) de 1993, com grande impacto nacional, que firmou a central recém-criada.

Esse recordatório, certamente incompleto, não pretende apagar as lutas de séculos dos oprimidos e explorados, até mais importantes, que não é o caso de enumerar. Elas se entrelaçam na busca da emancipação da nação.

Talvez meu amigo Valter tenha sido influenciado por uma narrativa sociológica, evito aqui qualificar a matriz ideológica ou o seu extrato social, que acredito ser a expressão do medo da independência da classe trabalhadora que a burguesia, primeiro, e o imperialismo, depois, fizeram concentrar em SP. São Paulo, há mais de um século, concentra a luta de classes, é a cidade mais rica e mais desigual do país.

Lembremos no momento fundacional do PT, a recusa do “partido de macacão” por FHC, paulista, à época “príncipe dos sociólogos”.

Concluindo, a retificação é necessária, e não apenas para o bravo PT do Nordeste não cair nessa. Também não peço, necessariamente, o acordo do metalúrgico Edinho, com esta interpretação.

Mas reivindico, com os trotskistas da 4ª Internacional de Fúlvio Abramo – uma das componentes da fundação do PT, Fúlvio inclusive -, a autoridade da formação da Frente Única Antifascista composta de organizações sindicais, políticas e culturais que, em 1934, expulsou à bala os “galinhas verdes” (integralistas) da Praça da Sé, de novo na maldita São Paulo.

Há amor em SP.


2 comentários:

  1. Além da menção às reações trabalhistas não anularem, ao contrário, confirmarem a afirmação de Pomar "São Paulo é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932” há algo mais grave no rol histórico de Sokol: o último grande evento significativo de reação da classe trabalhadora que incluiu aconteceu em 1993!!!

    Isso mesmo, há mais de 30 anos!😳

    Ou seja, o histórico paulista citado (1917, 1924, 1925, 1927, 1945, 1953, 1975, 1983, 1984, entre 1978 e 1980, 1993) mantinha uma regularidade proveniente de uma efervescência organizativa de consciência na classe.

    Por que Sokol não citou mais nenhuma depois?!?

    O que ocorreu estruturalmente que dissipou a classe trabalhadora? Talvez a ilusão de que chegar ao governo burguês signifique sossego, gloriosa meta alcançada.

    Mas os fatos materiais comprovam que o salário mínimo equivale 250 dólares, 80 % dos municípios seguem sem tratamento de água e esgoto, 80% da classe trabalhadora recebe até 2 salários mínimos, a burguesia continua sem pagar impostos, a falta de consciência de classe nunca esteve tão presente junto à classe trabalhadora que agora é chamada por Lula de "povo pobre que mais precisa" e não por trabalhadores com direitos desrespeitados.

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  2. https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/125952

    Até 2014 houve um boom de greves segundo estudo de Paula Marcelino.
    Uma boa conversa com prof. F. Sarti, de quem fui aluno, também pode esclarecer como foi a intensa mobilização da classe nos anos 1990 e 2000 mesmo no período de governo petista.
    Pomar tem razão em ironicamente comparar o destino manifesto gringo com o nome ducor duco bandeirante, pois é puro misticismo.
    Mas demonstra total frieza quando escreve em outros artigos que quer ver o circo pegar fogo, ou quer mais que outros briguem.
    Os fins justificam os meios?
    É provável que a CNB venha a rachar. Isso em si é positivo?
    Acho que cada corrente de pensamento tem seus interesses e é natural que busquem seus objetivos, mas não pode faltar o verdadeiro amor.
    Senão a mente e cada atitude vai espalhar arrogância.
    Faço votos que o PT encontre seu melhor presidente e debata em alto nível.

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