Que tempos vivemos!
Ontem, circulou nas redes do PT um post do companheiro Valter Pomar (pode ser lido aqui)
Tentando tirar uma casquinha da crise “presidencial” da CNB – Nordeste X São Paulo – Valter afirma, notadamente, que “São Paulo é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932”.
Não corresponde.
Meu hábito não é polemizar nas redes mas, nesse caso, calar seria assentir com uma versão da história.
Caracterizando “São Paulo, centro da reação, basta lembrar 1932”, ignoraríamos:
- a primeira Greve Geral no Brasil, em 1917, introduzindo a classe trabalhadora independente na cena nacional;
- a revolta paulista de 1924, tenentista, que originou em 1925/27 a coluna Miguel Costa-Prestes (nesta ordem);
- o comício gigante dos 100 mil do PCB no Pacaembu em 1945, onde, apesar do seu “queremismo” (“queremos Getúlio”), a massa proletária em peso sinalizou o fim da ditadura de varguista;
- a histórica Greve dos 100 mil em São Paulo, em 1953, várias categorias imposta pelos operários aos dirigentes sindicais pelegos e outros;
- a primeira grande manifestação pública contra a ditadura nos anos 70 (em 1975), o culto ecumênico por ocasião do assassinato no DOI-CODI de Vladimir Herzog, que ocupou a Praça da Sé;
- o ascenso de massas pelas Diretas-Já, deflagrado pelo PT em novembro de 1983 no Pacaembu, até o auge, mais amplo e unitário, no Anhangabaú e na Sé, em fevereiro /abril de 1984;
- as grandes greves metalúrgicas do ABC de 1978-1980 que derrotaram o regime militar e originaram o impulso que levou à fundação do PT e da CUT;
- a Greve Geral da CUT (“Paulínia, ABC, estamos com você”) de 1993, com grande impacto nacional, que firmou a central recém-criada.
Esse recordatório, certamente incompleto, não pretende apagar as lutas de séculos dos oprimidos e explorados, até mais importantes, que não é o caso de enumerar. Elas se entrelaçam na busca da emancipação da nação.
Talvez meu amigo Valter tenha sido influenciado por uma narrativa sociológica, evito aqui qualificar a matriz ideológica ou o seu extrato social, que acredito ser a expressão do medo da independência da classe trabalhadora que a burguesia, primeiro, e o imperialismo, depois, fizeram concentrar em SP. São Paulo, há mais de um século, concentra a luta de classes, é a cidade mais rica e mais desigual do país.
Lembremos no momento fundacional do PT, a recusa do “partido de macacão” por FHC, paulista, à época “príncipe dos sociólogos”.
Concluindo, a retificação é necessária, e não apenas para o bravo PT do Nordeste não cair nessa. Também não peço, necessariamente, o acordo do metalúrgico Edinho, com esta interpretação.
Mas reivindico, com os trotskistas da 4ª Internacional de Fúlvio Abramo – uma das componentes da fundação do PT, Fúlvio inclusive -, a autoridade da formação da Frente Única Antifascista composta de organizações sindicais, políticas e culturais que, em 1934, expulsou à bala os “galinhas verdes” (integralistas) da Praça da Sé, de novo na maldita São Paulo.
Há amor em SP.
Além da menção às reações trabalhistas não anularem, ao contrário, confirmarem a afirmação de Pomar "São Paulo é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932” há algo mais grave no rol histórico de Sokol: o último grande evento significativo de reação da classe trabalhadora que incluiu aconteceu em 1993!!!
ResponderExcluirIsso mesmo, há mais de 30 anos!😳
Ou seja, o histórico paulista citado (1917, 1924, 1925, 1927, 1945, 1953, 1975, 1983, 1984, entre 1978 e 1980, 1993) mantinha uma regularidade proveniente de uma efervescência organizativa de consciência na classe.
Por que Sokol não citou mais nenhuma depois?!?
O que ocorreu estruturalmente que dissipou a classe trabalhadora? Talvez a ilusão de que chegar ao governo burguês signifique sossego, gloriosa meta alcançada.
Mas os fatos materiais comprovam que o salário mínimo equivale 250 dólares, 80 % dos municípios seguem sem tratamento de água e esgoto, 80% da classe trabalhadora recebe até 2 salários mínimos, a burguesia continua sem pagar impostos, a falta de consciência de classe nunca esteve tão presente junto à classe trabalhadora que agora é chamada por Lula de "povo pobre que mais precisa" e não por trabalhadores com direitos desrespeitados.
https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/125952
ResponderExcluirAté 2014 houve um boom de greves segundo estudo de Paula Marcelino.
Uma boa conversa com prof. F. Sarti, de quem fui aluno, também pode esclarecer como foi a intensa mobilização da classe nos anos 1990 e 2000 mesmo no período de governo petista.
Pomar tem razão em ironicamente comparar o destino manifesto gringo com o nome ducor duco bandeirante, pois é puro misticismo.
Mas demonstra total frieza quando escreve em outros artigos que quer ver o circo pegar fogo, ou quer mais que outros briguem.
Os fins justificam os meios?
É provável que a CNB venha a rachar. Isso em si é positivo?
Acho que cada corrente de pensamento tem seus interesses e é natural que busquem seus objetivos, mas não pode faltar o verdadeiro amor.
Senão a mente e cada atitude vai espalhar arrogância.
Faço votos que o PT encontre seu melhor presidente e debata em alto nível.