9 de abril: uma chance de mudar
A situação internacional não ajuda o governo golpista. Temer
defende um neoliberalismo radical e um alinhamento carnal com os EUA, num
momento em que isto produz muito ônus e não produz os bônus que beneficiaram o primeiro
mandato de FHC (1995-1998).
Os golpistas já perceberam isto. Mas sua reação vem sendo
radicalizar, buscando fazer maldades piores do que as feitas na primeira onda
neoliberal. Como isto fará crescer muito a insatisfação política e social, a
coalizão golpista terá que acentuar a luta ideológica, a luta política e a
repressão contra a esquerda. A tendência, portanto, é de aprofundamento da polarização
política e social.
Frente a esta situação, a esquerda precisa escolher entre
duas alternativas. A primeira consiste em apostar em alianças entre nós e dissidências
do lado de lá. Noutras palavras: buscar fazer alianças com o centro para tentar
derrotar a direita. Esta é a linha do PCdoB. Sua materialização prática é, por
exemplo, votar em golpistas na eleição das mesas da Câmara e do Senado. E
negociar o mal menor na votação da contrarreforma da previdência.
A segunda alternativa consiste em não acreditar em miragens:
em 2017 e 2018 não ocorrerá o mesmo que ocorreu em 2001-2002. Por um lado,
porque a classe dominante não quer conciliação conosco. Por outro lado, porque
a esquerda perdeu força em relação a 2001-2002. Assim, a alternativa realmente
existente para a esquerda consiste em recuperar o apoio majoritário da classe
trabalhadora, através da mobilização e da luta por um programa claramente de
esquerda.
Paradoxalmente, só radicalizando pela esquerda será possível
provocar e/ou aproveitar positivamente – sem ilusões, nem traições -- eventuais
cisões no bloco golpista. Esta alternativa radical não será fácil de executar,
entre outros motivos porque estamos numa situação de defensiva estratégia. Mas o
governo Temer possui fragilidades que possibilitam um contra-ataque exitoso.
Por outro lado, se o governo Temer sobreviver até 2018; se
Temer cair, mas for substituído por alguém eleito indiretamente; se os
golpistas conseguirem implementar o programa da “ponte para o futuro”; e,
principalmente, se tiverem êxito na operação de cerco e aniquilamento que movem
contra Lula e o PT... caso algo disto ocorra, neste caso estaremos diante de um
período mais longo de defensiva estratégica.
Por isto, 2017 e 2018 são fundamentais. Nesta janela de
tempo, podemos obter uma vitória tática (derrotar o golpismo e eleger Lula) que
pode criar as condições para sairmos da defensiva estratégia e retomarmos a
ofensiva. Daí a importância de combinar, num só movimento, a luta em defesa dos
direitos, o Fora Temer, as diretas já e a campanha Brasil Urgente, Lula
presidente.
Daí a importância ao mesmo tempo tática e estratégica das mobilizações
deste mês de março, a começar pelo Dia Internacional da Mulher, passando pela greve
da educação e incluindo a luta contra a reforma da previdência, como parte de
um movimento cujo objetivo é claro: derrubar Temer, derrotar os golpistas,
recuperar o governo federal.
Evidente que a campanha e a eleição de Lula não resolverão
-- por si só -- os problemas estratégicos que ficaram evidentes entre 2003 e
2016. Resolver estes problemas estratégicos supõe um longo processo, cujo ponto
de partida consiste em adotar uma nova orientação política, capaz de derrotar a
direita, capaz de recuperar o apoio da classe trabalhadora e capaz de enfrentar
a nova situação criada no país, na América Latina e no mundo.
Daí a importância do 6º Congresso do PT. Este congresso
deveria ter ocorrido há muito tempo. Mas o grupo atualmente majoritário no Diretório
Nacional do PT adiou tanto a convocação do Congresso, que ele vai ocorrer
praticamente no prazo previsto no regimento. Ou seja: apesar da maior crise da
história do PT e apesar do desempenho negativo da atual direção, prevaleceu a
postura burocrática e o medo da mudança.
Além de adiar a realização do Congresso, o grupo atualmente
majoritário não quis mudar as regras de eleição dos delegados e delegadas. O
resultado foi um Congresso convocado sob um regimento anfíbio: nem é um PED
normal, nem é um Congresso com delegados eleitos através do debate presencial.
Sob pelo menos dois aspectos, o sistema adotado no 6º Congresso é pior do que o
anterior: a) poderão votar filiados e filiadas que não contribuem
financeiramente com o Partido; b) aumentou a chance dos interesses e debates regionais
e locais prevalecerem, na hora de compor chapas, sobre os interesses e debates
nacionais.
Num resumo, o grupo atualmente majoritário no Diretório
Nacional escolheu atuar, no processo de congresso, como uma força conservadora.
Resistem a reconhecer os erros cometidos pelo Partido, dentro e fora de
governos e parlamentos. Resistem a extrair lições da derrota que sofremos.
Evitam fazer o debate estratégico e programático de fundo. Adotam um
comportamento -- não de quem pretende dirigir política e ideologicamente o
Partido -- mas sim de quem pretende manter o Partido “sob controle”.
Dois exemplos deixam isto claro. O primeiro é a forma como parcelas
deste grupo majoritário agiram durante o debate sobre a tática do PT na eleição
das Mesas diretoras da Câmara e do Senado. Outro é a pressão que fazem, sobre
Lula, para que ele assuma a presidência do Partido. Ou seja: quando o país pede
que Lula seja candidato a presidente da República, o grupo majoritário pede que
ele seja presidente do PT. E por qual motivo eles pedem isto? O motivo é
conhecido de todos: para impedir a derrota deste grupo na eleição do presidente
nacional do Partido.
Noutras palavras: parte da tendência “Construindo um Novo
Brasil” defende em primeiro lugar seus interesses (como grupo ou como
indivíduos) e só em segundo lugar defende os interesses do conjunto do Partido.
E quando um partido é dirigido por um grupo que coloca seus interesses acima do
Partido, o melhor que o Partido pode fazer é afastar este grupo do comando.
Parte da base e importantes lideranças da CNB perceberam
isto, no episódio das Mesas. Esperamos que percebam o mesmo no processo de
Congresso. Se isto não ocorrer, corremos o risco do grupo atualmente
majoritário vencer burocraticamente o 6º Congresso. Ou seja: conquistarem a
maioria numérica dos votos, elegerem a maioria numérica da direção, mas sem
produzir uma linha política que seja capaz de dirigir o Partido na luta contra
a direita, na reconquista do apoio da classe trabalhadora e no enfrentamento da
nova situação estratégica em que estamos metidos.
São tantas as variáveis (mundiais, regionais, nacionais,
internas) que é difícil prever o que vai ocorrer no Congresso partidário. Pode
ocorrer, inclusive, que a chamada esquerda petista reduza o espaço numérico que
hoje ocupa nas instâncias do PT. Não apenas devido às dificuldades que esta
esquerda possui, mas também devido ao processo de Congresso, que tem vários
defeitos do PED e não tem as qualidades de um congresso pleno. Defeitos que
incluem atitudes e práticas que marcaram o PED de 2013 e anteriores.
O que fazer? lutar para vencer, travando o debate político, ganhando
a base do Partido para nossas posições.
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