terça-feira, 7 de março de 2017

Editorial Página 13 março de 2017

9 de abril: uma chance de mudar

A situação internacional não ajuda o governo golpista. Temer defende um neoliberalismo radical e um alinhamento carnal com os EUA, num momento em que isto produz muito ônus e não produz os bônus que beneficiaram o primeiro mandato de FHC (1995-1998).

Os golpistas já perceberam isto. Mas sua reação vem sendo radicalizar, buscando fazer maldades piores do que as feitas na primeira onda neoliberal. Como isto fará crescer muito a insatisfação política e social, a coalizão golpista terá que acentuar a luta ideológica, a luta política e a repressão contra a esquerda. A tendência, portanto, é de aprofundamento da polarização política e social.

Frente a esta situação, a esquerda precisa escolher entre duas alternativas. A primeira consiste em apostar em alianças entre nós e dissidências do lado de lá. Noutras palavras: buscar fazer alianças com o centro para tentar derrotar a direita. Esta é a linha do PCdoB. Sua materialização prática é, por exemplo, votar em golpistas na eleição das mesas da Câmara e do Senado. E negociar o mal menor na votação da contrarreforma da previdência.

A segunda alternativa consiste em não acreditar em miragens: em 2017 e 2018 não ocorrerá o mesmo que ocorreu em 2001-2002. Por um lado, porque a classe dominante não quer conciliação conosco. Por outro lado, porque a esquerda perdeu força em relação a 2001-2002. Assim, a alternativa realmente existente para a esquerda consiste em recuperar o apoio majoritário da classe trabalhadora, através da mobilização e da luta por um programa claramente de esquerda.

Paradoxalmente, só radicalizando pela esquerda será possível provocar e/ou aproveitar positivamente – sem ilusões, nem traições -- eventuais cisões no bloco golpista. Esta alternativa radical não será fácil de executar, entre outros motivos porque estamos numa situação de defensiva estratégia. Mas o governo Temer possui fragilidades que possibilitam um contra-ataque exitoso.

Por outro lado, se o governo Temer sobreviver até 2018; se Temer cair, mas for substituído por alguém eleito indiretamente; se os golpistas conseguirem implementar o programa da “ponte para o futuro”; e, principalmente, se tiverem êxito na operação de cerco e aniquilamento que movem contra Lula e o PT... caso algo disto ocorra, neste caso estaremos diante de um período mais longo de defensiva estratégica.

Por isto, 2017 e 2018 são fundamentais. Nesta janela de tempo, podemos obter uma vitória tática (derrotar o golpismo e eleger Lula) que pode criar as condições para sairmos da defensiva estratégia e retomarmos a ofensiva. Daí a importância de combinar, num só movimento, a luta em defesa dos direitos, o Fora Temer, as diretas já e a campanha Brasil Urgente, Lula presidente.

Daí a importância ao mesmo tempo tática e estratégica das mobilizações deste mês de março, a começar pelo Dia Internacional da Mulher, passando pela greve da educação e incluindo a luta contra a reforma da previdência, como parte de um movimento cujo objetivo é claro: derrubar Temer, derrotar os golpistas, recuperar o governo federal.

Evidente que a campanha e a eleição de Lula não resolverão -- por si só -- os problemas estratégicos que ficaram evidentes entre 2003 e 2016. Resolver estes problemas estratégicos supõe um longo processo, cujo ponto de partida consiste em adotar uma nova orientação política, capaz de derrotar a direita, capaz de recuperar o apoio da classe trabalhadora e capaz de enfrentar a nova situação criada no país, na América Latina e no mundo.

Daí a importância do 6º Congresso do PT. Este congresso deveria ter ocorrido há muito tempo. Mas o grupo atualmente majoritário no Diretório Nacional do PT adiou tanto a convocação do Congresso, que ele vai ocorrer praticamente no prazo previsto no regimento. Ou seja: apesar da maior crise da história do PT e apesar do desempenho negativo da atual direção, prevaleceu a postura burocrática e o medo da mudança.

Além de adiar a realização do Congresso, o grupo atualmente majoritário não quis mudar as regras de eleição dos delegados e delegadas. O resultado foi um Congresso convocado sob um regimento anfíbio: nem é um PED normal, nem é um Congresso com delegados eleitos através do debate presencial. Sob pelo menos dois aspectos, o sistema adotado no 6º Congresso é pior do que o anterior: a) poderão votar filiados e filiadas que não contribuem financeiramente com o Partido; b) aumentou a chance dos interesses e debates regionais e locais prevalecerem, na hora de compor chapas, sobre os interesses e debates nacionais.

Num resumo, o grupo atualmente majoritário no Diretório Nacional escolheu atuar, no processo de congresso, como uma força conservadora. Resistem a reconhecer os erros cometidos pelo Partido, dentro e fora de governos e parlamentos. Resistem a extrair lições da derrota que sofremos. Evitam fazer o debate estratégico e programático de fundo. Adotam um comportamento -- não de quem pretende dirigir política e ideologicamente o Partido -- mas sim de quem pretende manter o Partido “sob controle”.

Dois exemplos deixam isto claro. O primeiro é a forma como parcelas deste grupo majoritário agiram durante o debate sobre a tática do PT na eleição das Mesas diretoras da Câmara e do Senado. Outro é a pressão que fazem, sobre Lula, para que ele assuma a presidência do Partido. Ou seja: quando o país pede que Lula seja candidato a presidente da República, o grupo majoritário pede que ele seja presidente do PT. E por qual motivo eles pedem isto? O motivo é conhecido de todos: para impedir a derrota deste grupo na eleição do presidente nacional do Partido.

Noutras palavras: parte da tendência “Construindo um Novo Brasil” defende em primeiro lugar seus interesses (como grupo ou como indivíduos) e só em segundo lugar defende os interesses do conjunto do Partido. E quando um partido é dirigido por um grupo que coloca seus interesses acima do Partido, o melhor que o Partido pode fazer é afastar este grupo do comando.

Parte da base e importantes lideranças da CNB perceberam isto, no episódio das Mesas. Esperamos que percebam o mesmo no processo de Congresso. Se isto não ocorrer, corremos o risco do grupo atualmente majoritário vencer burocraticamente o 6º Congresso. Ou seja: conquistarem a maioria numérica dos votos, elegerem a maioria numérica da direção, mas sem produzir uma linha política que seja capaz de dirigir o Partido na luta contra a direita, na reconquista do apoio da classe trabalhadora e no enfrentamento da nova situação estratégica em que estamos metidos.

São tantas as variáveis (mundiais, regionais, nacionais, internas) que é difícil prever o que vai ocorrer no Congresso partidário. Pode ocorrer, inclusive, que a chamada esquerda petista reduza o espaço numérico que hoje ocupa nas instâncias do PT. Não apenas devido às dificuldades que esta esquerda possui, mas também devido ao processo de Congresso, que tem vários defeitos do PED e não tem as qualidades de um congresso pleno. Defeitos que incluem atitudes e práticas que marcaram o PED de 2013 e anteriores.


O que fazer? lutar para vencer, travando o debate político, ganhando a base do Partido para nossas posições. 

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