quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Rascunho de texto para site

 Uma década de intensa luta política!

Em 2014, o segundo turno das eleições presidenciais foi decidido por poucos votos, em meio a uma batalha épica. Os derrotados não aceitaram o resultado, chegando a questionar inclusive a composição social da votação obtida pela presidenta Dilma Rousseff. Deixaram claro, de forma absolutamente compreensível, que estavam dispostos a apelar para o golpe e que não repetiriam o erro cometido por Geraldo Alckmin em 2005, quando achou que o PT e Lula “sangrariam” até serem derrotados em 2006. Após o segundo turno de 2014, o PSDB e as elites sabiam que, se Dilma havia conseguido vencer naquele ano, Lula teria imensas chances de vencer em 2018. E, portanto, a saída era o golpe.

E os vencedores de 2014? Estes não entenderam o que estava acontecendo e cometeram um dos maiores erros de sua história. Nomearam um ministro da Fazenda ligado à oposição, que executou um ajuste ortodoxo que prejudicou o Brasil, a economia e o governo. Fizeram isso achando que, adotando a solução proposta pelos derrotados de 2014, estes se dividiriam: o empresariado se acomodaria, isolando os setores golpistas. Mas não foi o que aconteceu: a opção pelo golpismo não era apenas de Aécio Neves e de uma quadrilha, a opção pelo golpismo era da maior parte da classe dominante brasileira. E isso se devia, entre outros motivos, à mudança no cenário internacional: depois da crise de 2008, depois da marolinha ter virado um tsunami, a única chance de recuperar as taxas de lucro era arrochar os direitos, empregos e salários da classe trabalhadora. E, para fazer isso, era preciso tirar o PT da Presidência da República.

O restante da história é conhecido: golpe de 2016 contra a presidenta Dilma, condenação e prisão do presidente Lula, interdição da candidatura de Lula e eleição do cavernícola à Presidência da República em 2018.

Vale registrar que, assim como o golpe de 2016 surpreendeu muitos petistas, a candidatura de Bolsonaro também surpreendeu muita gente na direita gourmet. Afinal, o PSDB e o PMDB, quando apostaram no golpe e no governo Temer, o fizeram na expectativa de vencer as eleições de 2018 com um candidato da direita normal, neoliberal, mas capaz de usar garfo e faca. Mas quem planta vento colhe tempestade: durante anos, o PSDB vinha girando à direita, vinha estimulando a extrema-direita a vir para as ruas combater a esquerda. E, muito antes disso, essa mesma direita não quisera condenar e punir os crimes da ditadura. E mantivera as forças armadas intocadas, ensinando aos seus que, em 1964, ocorrera um “movimento democrático”, não um golpe militar. Sendo assim, não surpreende que, em 2018, Bolsonaro tenha surgido – por articulação conduzida pelo alto comando das forças armadas, especialmente do exército de Vilas Boas – como grande favorito.

Na hora da verdade, no segundo turno, a maior parte da direita não titubeou: preferiu votar em Bolsonaro contra Haddad, apesar de este ser o mais tucano dos petistas. Como resultado, vieram quatro anos de governo da extrema-direita, durante os quais a direita gourmet também preferiu conciliar. Mas a recíproca não era verdadeira: assim como a ditadura proscreveu os direitos políticos de parte da direita que apoiou o golpe de 1964, Bolsonaro também pretendia limitar os direitos de parte da direita que apoiou sua vitória em 2018. O STF e a Globo estavam na lista. E foi destes locais que brotou nova reviravolta: a libertação e o direito de Lula concorrer às eleições de 2018.

Durante anos, Lula resistira graças ao apoio do PT e da militância de esquerda. Foi esse apoio que preservou o “capital eleitoral” de Lula, capital que o tornava o único capaz de derrotar Bolsonaro em 2022. Parte da direita gourmet, percebendo isso, capitulou a realidade: aceitou que Lula voltasse à cena, confiante que o parlamentarismo de fato, a judicialização da política e a autonomia do Banco Central manteriam Lula e o PT na linha.

Os planos foram relativamente bem-sucedidos, não fosse por três fatos. Primeiro, devido à intentona golpista da extrema-direita. Esta gerou repercussões que mantêm a política nacional polarizada até hoje, impedindo a “pacificação neoliberal” que a direita gourmet tentou e segue tentando. Segundo, devido à situação internacional, que o governo dos Estados Unidos vem estressando dia sim e dia também. Terceiro e principalmente, devido à postura do capital financeiro e do setor primário-exportador, incapazes de fazer mínimas concessões. Estes três fatos podem empurrar o governo Lula e o PT para uma postura mais radical do que a admitida no script desejado pela direita gourmet. O que acontecerá se isso acontecer, veremos.

O que importa destacar é que, nesses mais de dez anos, a sociedade brasileira se politizou imensamente. Embora muitos falem em antipolítica, o que na verdade ocorre é o confronto entre visões políticas antagônicas e excludentes. Há quem não goste disso. Compreensível. Mas a verdade é que, como noutros momentos da história do Brasil, estamos diante de alternativas opostas: soberania ou colônia? Democracia popular ou coronelismo? Bem-estar social ou trabalho análogo à escravidão? Industrialização ou primário-exportação? Sendo esta a situação, é natural que a política reflita estas contradições agudas. Assim, a alternativa não deve ser reclamar da guerra. A alternativa é se preparar para vencer a guerra.

 Valter Pomar é professor da Universidade Federal do ABC e diretor de cooperação internacional da Fundação Perseu Abramo

 

Rascunho do texto para Amauta

Entre 1989 e 2014, a política brasileira foi dominada pelo embate entre neoliberais e petistas. Nas eleições presidenciais de 1989, a bandeira do neoliberalismo foi defendida por Fernando Collor de Melo. Mas nas eleições de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014, a bandeira do neoliberalismo foi defendida pelo Partido da Social Democracia Brasileira (o PSDB). Do outro lado, de 1989 até 2014, sempre esteve o Partido dos Trabalhadores.

Em 2014, o segundo turno das eleições presidenciais foi decidido por poucos votos, em meio a uma batalha épica. Os derrotados não aceitaram o resultado, chegando a questionar inclusive a composição social da votação obtida pela presidenta Dilma Rousseff (ou seja, dizendo que como seus eleitores eram pobres e beneficiários das políticas sociais do governo, seu voto não valia tanto quanto o voto supostamente ilustrado dos setores que haviam votado no candidato do PSDB). 

Logo após o segundo turno de 2014, os derrotados deixaram claro, de forma absolutamente compreensível e explícita, que estavam dispostos a apelar para o golpe de Estado e que não repetiriam o erro cometido por Geraldo Alckmin em 2005, quando em meio a chamada “crise do mensalão”, decidiu não pedir o impeachment de Lula, por acreditar que o PT e Lula “sangrariam” até serem derrotados em 2006. 

Pós segundo turno de 2014, diferente do que fizera Alckmin de 2006, o PSDB e a oligarquia sabiam que, se Dilma Rousseff havia conseguido vencer naquele ano, Lula teria imensas chances de vencer nas eleições presidenciais de 2018. Portanto, para impedir a continuidade do PT na presidência da República, a única saída era o golpe de Estado.

E os vencedores de 2014? O que fizeram os petistas? Estes, na maioria dos casos, não entenderam o que estava acontecendo e cometeram um dos maiores erros de nossa história. A presidenta Dilma Rousseff, numa decisão apoiada integralmente por Lula e por 55% do PT, decidiu trocar de ministro da Fazendo, substituído Guido Mantega por Joaquim Levy. Levy era alto executivo do Banco Bradesco, um dos gigantes do sistema financeiro brasileiro. Levy, um ministro da Fazenda alinhado com as teses do PSDB, executou um ajuste econômico ortodoxo que prejudicou o Brasil, a classe trabalhadora e o governo.

Porque Dilma, Lula e a maioria do PT escolheram este caminho? Porque acreditavam que, adotando a política econômica proposta pelos derrotados de 2014, estes se dividiriam. Ou seja, Dilma, Lula e a maioria do PT acreditavam que o grande empresariado se acomodaria, o que isolaria os setores golpistas da oposição. Mas não foi isso o que aconteceu. A verdade, como dizia 45% do Partido, era que a opção pelo golpismo não era apenas de Aécio Neves e de uma quadrilha, a opção pelo golpismo era da maior parte da classe dominante brasileira. 

Esta opção golpista se devia, entre outros motivos, à mudança no cenário internacional: depois da crise de 2008 e especialmente depois que os Estados Unidos iniciaram uma desvalorização competitiva do dólar, reduzindo a lucratividade das exportações brasileiras, a classe dominante passou a apostar todas as suas fichas numa operação que em síntese era a seguinte: recuperar as taxas de lucro destruindo os direitos, os empregos e os salários da classe trabalhadora. E para fazer isso, era preciso tirar o PT da Presidência da República.

O restante da história é conhecido: primeiro veio o golpe parlamentar-judicial de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff; depois veio a condenação e prisão do presidente Lula; em seguida veio a interdição da candidatura presidencial de Lula e eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018. E aqui reside a novidade, que faz com que a história político-eleitoral do Brasil entre 2018 e 2025 seja diferente da história do Brasil entre 1994 e 2014. Desde 2018, a disputa política passou a ter três polos: o PT, a direita tradicional e a extrema-direita. 

Acontece que o PSDB e seus aliados que compõem a direita tradicional, quando praticaram o golpe de 2016 contra Dilma e o golpe de 2018 contra Lula, o fizeram na expectativa de vencer as eleições presidenciais de 2018 com um candidato da direita tradicional, programaticamente neoliberal, mas supostamente “democrática”. 

Acontece que, como diz um ditado antigo, “quem planta vento colhe tempestade”. Durante anos o PSDB vinha guinando à direita, vinha estimulando a extrema-direita a vir para as ruas combater a esquerda. E, muito antes disso, essa mesma direita tradicional não quisera condenar e punir os crimes da ditadura militar brasileira (1964-1985). A direita tradicional optara por manter as forças armadas intocadas; e essas forças armadas seguiram ensinando aos novos oficiais e soldados que, em 1964, ocorrera um “movimento democrático”, não um golpe militar. Por outro lado, esta direita tradicional neoliberal era e continua sendo profundamente antipopular, o que ficou evidente durante o governo golpista de Michel Temer (2016-2018).

Tudo isso junto e misturado explique por que motivos, nas eleições presidenciais de 2018, Jair Bolsonaro apareceu como grande favorito, numa operação conduzida pelo alto comando das forças armadas, especialmente pelo general Vilas Boas, o mesmo que era tratado como aliado por setores do governo Dilma e por setores da esquerda brasileira, Aliás, é bom lembrar que setores insuspeitos da esquerda brasileira chegaram a fazer circular um abaixo-assinado em favor de Vilas Boas, demonstrando total incapacidade de perceber o que estava ocorrendo.

No segundo turno das eleições presidenciais de 2018, a maior parte da direita tradicional não titubeou: preferiu votar em Jair Bolsonaro para derrotar Fernando Haddad, apesar deste ser, nas palavras de Lula, o mais tucano dos petistas. Em seguida vieram quatro anos de governo da extrema-direita, durante os quais a direita tradicional buscou conciliar o quanto pode, tendo como motivo principal para fazer isso o fato de Bolsonaro aplicar um programa neoliberal e atacar duramente a esquerda.

Mas a recíproca não era verdadeira: assim como a ditadura proscreveu os direitos políticos não só da esquerda, mas também de parte da direita que apoiou o golpe de 1964, Bolsonaro também pretendia limitar os direitos de parte da direita que apoiou sua vitória em 2018. O Supremo Tribunal Federal (STF) e a Rede Globo de Televisão estavam na lista de alvos de Jair Bolsonaro. É por isso que o STF e a Globo foram protagonistas de uma reviravolta política: a libertação e o direito de Lula concorrer às eleições de 2018.

Durante décadas, desde 1980, a liderança de Lula fora projetada e apoiada pelo Partido dos Trabalhadores, Foi graças ao apoio do PT e da militância de esquerda que Lula preservou um “capital eleitoral” que o tornava o único capaz de derrotar Bolsonaro em 2022. Parte da direita tradicional, percebendo isso, capitulou à realidade e aceitou que Lula voltasse à cena, para impedir a reeleição de Bolsonaro.

Evidentemente, a direita tradicional tomou suas precauções e estava confiante de que um Congresso Nacional que adotara um parlamentarismo de fato, um Supremo Tribunal empoderado pela judicialização da política e um Banco Central com imensa autonomia manteriam Lula sob controle.

Os planos da direita tradicional foram relativamente bem-sucedidos. Lula foi eleito, ainda que por pequena diferença. E tão logo eleito, adotou uma política fiscal extremamente ortodoxa, que previa a obtenção de “déficit zero”, quimera cuja tradução em linguagem corrente é: mais dinheiro para os donos da dívida pública.

Mas há três fatos que prejudicaram os planos da direita tradicional, que pretendia manter Lula sob controle. O primeiro fato foi a intentona golpista da extrema-direita, cujo ápice foi o quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023. A intentona gerou repercussões que mantêm a política nacional polarizada até hoje, impedindo a “pacificação neoliberal” que a direita tradicional tentou e segue tentando. O segundo fato é a situação internacional, marcada pela ofensiva do governo Trump, por guerras, massacres e crises, que empurram o governo Lula e tomar medidas que se chocam com o receituário da direita tradicional. O terceiro fato é a postura do capital financeiro e do empresariado primário-exportador do Brasil: eles são incapazes de fazer mínimas concessões. 

Estes três fatos estão empurrando o governo Lula e o PT para uma postura mais radical do que a admitida no script desejado pela direita tradicional. E, graças a esta postura um pouco mais radical, o governo Lula e o PT vem recuperando pontos nas pesquisas de opinião e se posicionando melhor para a disputa das eleições presidenciais de 2026.

O que vai acontecer nos próximos meses ainda é algo em aberto. A extrema-direita segue muito forte e dispõe de uma candidatura (a do atual governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freiras) que tem o potencial de atrair amplos setores da direita tradicional. Tudo aponta, portanto, para uma disputa política muito intensa, de resultado incerto, embora o mais provável seja a vitória de Lula.

Seja como for, é importante perceber que a sociedade brasileira se politizou imensamente, sendo evidente o conflito entre visões políticas antagônicas e excludentes. Como noutros momentos da história, a sociedade brasileira está diante de alternativas opostas. Soberania ou colônia? Democracia popular ou coronelismo? Bem-estar social ou trabalho análogo à escravidão? Industrialização ou primário-exportação? Sendo esta a situação, é natural que a política reflita estas contradições agudas. Sendo assim as coisas, a alternativa que resta para a esquerda brasileira é se preparar para vencer a guerra. E, mais do que isso, criar as condições para que o próximo mandato de Lula seja melhor do que o atual, marcado por muitas concessões à direita tradicional. Se teremos êxito ou não, só o futuro dirá.

Valter Pomar é professor da Universidade Federal do ABC e diretor de cooperação internacional da Fundação Perseu Abramo


Rascunho do editorial do P13 de dezembro

Editorial

Lutar muito e lutar certo

Esta edição de Página 13 é dedicada à juventude do PT. Nas próximas páginas, há entrevistas com Elisa Guaraná e Helena Abramo, petistas que são especialistas no tema, na dupla condição de estudiosos e militantes. Há, também, textos que contam a história passada e os desafios presentes da Juventude do PT. Assim como a tese que a tendência petista Articulação de Esquerda apresenta, para debate, no congresso da JPT. De conjunto, um material que esperamos seja útil para os petistas de todas as idades refletirem sobre os desafios da juventude, bem como sobre os desafios do governo e do Partido.

Mas para não dizer que não falamos de flores, aproveitamos para apoiar e comemorar a prisão preventiva de Jair Bolsonaro e demais condenados. Todos devem ser presos e cumprir integralmente sua pena. Sem anistia para os golpistas, que ademais são diretamente responsáveis pela morte de centenas de milhares de compatriotas durante a pandemia da COVID-19. 

O encarceramento dos golpistas não significará a “derrota final” da extrema-direita, uma corrente política que conseguiu penetrar profundamente na sociedade brasileira, expressando o ponto de vista de amplos setores do grande empresariado, com grande influência em setores médios e camadas populares. Muito ainda precisará ser feito para derrotar definitivamente a extrema-direita. A eleição de 2026 terá papel importantíssimo nisto.

Ainda não se sabe qual rumo tomará o clã de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2026. Se tentarem preservar seu “capital eleitoral” lançando uma candidatura presidencial própria, então, no primeiro turno, a direita e a extrema-direita estarão divididas em duas ou mais candidaturas presidenciais. Esta divisão, que à primeira vista as prejudicaria, ajudaria a levar a disputa presidencial para o segundo turno. Inclusive porque a existência de uma candidatura diretamente vinculada ao clã contribuiria para o esforço que as demais candidaturas da direita farão, de tentar se desvincular dos crimes cometidos pelo bolsonarismo. Confirmado este cenário, paradoxalmente, a prisão de Bolsonaro pode contribuir para o desempenho eleitoral das direitas.

Mesmo assim, a persistir o cenário atual, o mais provável segue sendo a reeleição de Lula no segundo turno das eleições de 2026. Entretanto, nada está definido e o cenário, como demonstram as pesquisas, segue muito difícil. De imediato, há quatro fatores que podem alterar negativamente a situação: a taxa de juros, a disputa em torno da segurança pública, o comportamento dos presidentes da Câmara e do Senado, bem como a ingerência do governo Trump. A esse respeito, recomendamos a leitura do documento sobre conjuntura aprovado pela direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, no dia 23 de novembro, disponível no www.pagina13.org.br

Além de reeleger Lula, aumentar o tamanho de nossas bancadas parlamentares, manter e ampliar o número de estados governados pela esquerda, nossa campanha eleitoral em 2026 deve ter como um de seus objetivos construir uma maioria popular em favor das reformas estruturais necessárias a que o Brasil tenha efetiva soberania alimentar, energética, produtiva, digital, comunicacional, ambiental e militar. O próximo mandato de Lula precisa ir além das políticas públicas e iniciar as reformas estruturais indispensáveis para que o Brasil deixe de ser primário-exportador, paraíso do capital financeiro e um dos campeões mundiais da desigualdade social. Precisamos acabar com a escala 6x1, reduzir a jornada de trabalho, fazer os ricos pagarem impostos, revogar as reformas golpistas de Temer, enterrar a contrarreforma administrativa que está tramitando no Congresso. Estes objetivos só serão alcançados se o Partido, os aliados de esquerda, o sindicalismo, os movimentos sociais e a cidadania democrática implementarem uma política consistente de conscientização, organização e mobilização popular. 

A situação em 2026, assim como em 2025, deve sofrer várias reviravoltas. Nada está decidido, nada está definido. Podemos vencer, vamos vencer, mas à condição de que lutemos muito e que lutemos certo!

Os edtores


Rascunho do texto para a agenda 2026

 Todo final de ano, a tendência petista Articulação de Esquerda lança uma Agenda dedicada a um tema. Já tivemos agendas dedicadas ao aniversário do PT, da revolução russa, da revolução chinesa, da unificação do Vietnã, dos 100 anos do comunismo no Brasil, assim como agendas dedicadas à Rosa Luxemburgo, ao Che e a outras lideranças da luta pelo socialismo.

As vezes a escolha do tema não é óbvia e dá certo trabalho. Mas para 2026, não havia dúvida: dedicamos esta Agenda ao centenário de Fidel Castro.

Falar de Fidel é falar de Cuba, ilha situada no mar do Caribe, com 110.922 km2 de extensão e uma população que gira ao redor de 11 milhões de habitantes, ¾ deles morando nas cidades.

O principal fato político da história cubana foi e segue sendo a luta pela independência. Nesta luta, há pelo menos três marcos: a guerra de 1868-1878 (derrotada); a guerra de 1895-1902 (parcialmente vitoriosa); e a revolução de 1953-1959 (vitoriosa).

Na guerra de 1895-1902, quando os revolucionários estavam para vencer a guerra de independência, os Estados Unidos invadiram Cuba a pretexto de “ajudar” os cubanos na luta contra a Espanha. Por isto, quando é proclamada, em 20 de maio de 1902, a República de Cuba nasce constitucionalmente atrelada aos Estados Unidos. A chamada Emenda Platt legalizava o direito dos EUA intervirem em Cuba.

A história de Cuba, de 1902 até 1959, girou ao redor da luta de independência contra os Estados Unidos. Esta luta passa por diversas etapas, a última das quais se combinavam com a a luta contra a ditadura surgida a partir de março de 1952, quando ocorre um golpe encabeçado pelo sargento Fulgencio Batista.

Uma das reações a este golpe é o ataque ao Quartel Moncada, ataque liderado por Fidel Castro, jovem advogado ligado ao Partido Ortodoxo, partido que provavelmente venceria as eleições canceladas devido ao golpe.

Fidel nasceu no Oriente cubano, região de forte tradição revolucionária. Seu pai era proprietário de uma finca de 10 mil hectares. Fidel fez parte de seus estudos numa escola jesuíta, depois formou-se advogado. Na universidade, participou ativamente do movimento estudantil e da política cubana, como militante da ala esquerda do Partido Ortodoxo, num período histórico rico em influências: Guerra Civil Espanhola, Segunda Guerra Mundial, a ascensão da URSS à condição de potência, o início da “Guerra Fria”, o Bogotazo na Colômbia, o golpe na Guatemala.

Mas o que parece ter empurrado Fidel para uma militância revolucionária foi o duplo impacto do suicídio (em 5 de agosto de 1951) de Eduardo Chibás, líder do Partido Ortodoxo; e também do golpe de Batista (10 de março de 1952). Os dois acontecimentos deixaram pouca margem para a oposição democrática cubana.

Na época, Fidel era então um nacionalista e um democrata radical. Sua referência principal era José Martí, que ele chamará de “autor intelectual” do assalto ao Quartel Moncada.

O ataque ao Moncada, realizado no dia 26 de julho de 1953, fracassa totalmente. Os poucos sobreviventes, entre eles Fidel, são condenados à prisão. No julgamento, Fidel faz sua própria defesa, que é posteriormente publicada num livro cujo título é profético: A história me absolverá!

Anistiados em 1955, os líderes do assalto ao Moncada fundam o Movimento 26 de julho (M26), vão para o exílio e desencadeiam um plano político-militar que os levaria ao poder, em 1 de janeiro de 1959.

O M26 era uma organização político-militar, com forte base urbana, especialmente entre os setores médios. Existiam outras forças com muita presença de massa, como o Diretório Revolucionário e o Partido Popular Socialista (nome assumido pelo partido comunista em Cuba), além de um forte movimento estudantil e sindical.

É o M26 de julho que organiza a expedição que chegará em Cuba, trazendo cerca de 80 revolucionários, a maioria dos quais morre em combate logo após o desembarque. Os sobreviventes, liderados por Fidel, organizam a guerrilha em Sierra Maestra e – com forte apoio político e material nas cidades – desencadeiam uma guerra de guerrilhas que os levará ao triunfo.

Quanto comandou o assalto ao Quartel Moncada, o programa de Fidel, delineado no discurso A história me absolverá, é o de uma revolução democrática e nacional. A derrota do assalto ao Quartel Moncada, a prisão, o julgamento, o exílio, o regresso e a guerrilha na Sierra Maestra provocam uma radicalização nesse programa, entre outros motivos porque a principal base social da guerra transita dos setores médios urbanos para os trabalhadores rurais.

Quando conquistam o poder, no dia 1 de janeiro de 1959, os revolucionários – especialmente aqueles vinculados ao Movimento 26 de julho – começam a implementar um programa não apenas nacional, mas nitidamente anti-imperalista; não apenas democrático, mas democrático-popular. O principal sinal disso é a reforma agrária.

A burguesia cubana, parte dos setores médios e o imperialismo estadounidense resistem e contra-atacam, seja indo para fora do país, seja com intensa pressão ideológica e política, estimulando dissidências no governo e nos grupos revolucionários, fazendo sabotagem econômica e atentados e estimulando a intervenção dos Estados Unidos. O ponto alto deste contra-ataque é o desembarque gusano-yankee em Praia Girón.

É esse momento que vai marcar a conversão de uma revolução democrático-popular em uma revolução socialista. O anúncio foi o discurso feito por Fidel Castro, dia 15 de abril de 1961, na véspera da invasão da Praia Girón, episódio também conhecido como Baia dos Porcos. Se tudo o que queremos fazer em Cuba é socialismo, então a revolução é socialista...

Mas que tipo de socialismo? E qual relação Cuba manteria com o “campo socialista” liderado então pela União Soviética?

Vale lembrar que a revolução cubana desmoralizou muitos dos dogmas do “marxismo-leninismo” hegemônico no movimento comunista da época. Segundo aquele doutrina, os Partidos Comunistas tinham por definição um papel de vanguarda nas revoluções socialistas. Acontece que em Cuba o Partido Socialista Popular cumpriu um papel secundário, e muitas vezes oposto às necessidades revolucionárias.

Segundo a doutrina já citada, a revolução em países atrasados como Cuba devia percorrer primeiro uma etapa democrática-nacional-capitalista, e só depois a socialista, sendo ambas separadas por um certo período histórico. Mas em Cuba as “etapas” se confundiram num fluxo contínuo.

Para o senso-comum de boa parte dos “marxistas-leninistas” da época, seria impossível fazer uma revolução contra o Exército e nas barbas dos Estados Unidos. Mas em Cuba ocorreram ambas as coisas.

Essas e outras questões empurraram os revolucionários cubanos, sob a liderança de Fidel, a buscar um caminho próprio. Nos dois casos, Che Guevara cumpriu um papel destacado, tanto na tentativa de construir uma dinâmica econômica diferente do modelo soviético, quanto na tentativa de estimular outros revoluções que contribuíssem para reduzir o cerco dos EUA contra a revolução cubana. O assassinato de Guevara, em outubro de 1967, simboliza a derrota destas tentativas.

Na prática, Cuba foi forçada a alinhar-se com a União Soviética, com seu modelo econômico, com sua política internacional e com a doutrina “marxista-leninista”. Mas as diferenças continuaram existindo, como demonstram o apoio cubano às guerrilhas latino-americanas, para o desespero da linha “pacífica” predominante nos partidos comunistas.

Fidel nunca foi o “marxista-leninista” que as academias soviéticas (e norte-americanas) desejariam. Vale lembrar, a esse respeito, o esforço feito para emprestar a José Martí a mesma estatura de Lenin. Segundo os cubanos, Martí teria se antecipado ao revolucionário russo, em duas questões fundamentais: na análise do imperialismo e na teoria do Partido.

Mas apesar das muitas e importantes diferenças, o fato principal é que o modelo econômico adotado por Cuba a tornou altamente dependente do bloco dirigido pela URSS.

Entre o Primeiro Congresso do PCC (1975) e a debacle do “campo socialista” (1991), passaram-se pouco mais de quinze anos.

O desmanche do bloco soviético impactou a economia cubana, atingindo fortemente um dos pilares da hegemonia comunista na ilha: a relativa igualdade social. Quando aquele bloco e a própria União Soviética deixaram de existir, Cuba perdeu, simultaneamente, o comprador de seus produtos de exportação e o fornecedor de suas importações. Entre 1989 e 1991, entre a dissolução dos regimes socialistas no Leste Europeu e o fim da URSS, as exportações cubanas se reduziram em 62% e as importações caíram pela metade.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos ampliaram o bloqueio e todo tipo de sabotagem contra a Ilha, na expectativa de que Cuba tivesse o mesmo destino dos regimes dirigidos pelos partidos comunistas do Leste Europeu.

Nessas circunstâncias, Cuba teve que gerar divisas (para importar) e substituir importações (para não precisar mais importar). Isso, vale lembrar, sob a pressão do bloqueio norte-americano. E também sob outra restrição fundamental: a carência de algumas riquezas materiais, o que torna Cuba necessariamente dependente do comércio internacional, salvo um cavalar avanço tecnológico, que possibilitasse uma enorme substituição de matérias-primas.

Cuba entrou então no “período especial”, marcado por imensas restrições materiais. Na época, um dos caminhos adotados para enfrentar a situação foi o de abrir o país ao turismo e às inversões estrangeiras. O resultado acabou sendo a criação de uma dupla economia: a economia do peso cubana e a economia do dólar estadounidense. Socialmente, isso significou cavar um fosso entre os que tinham e os que não tinham moeda estrangeira.

Algumas das decorrências disso, segundo palavras de Raúl Castro, irmão de Fidel e seu sucessor, foram a corrupção, a prostituição, a mão de obra especializada recebendo em pesos muito menos do que mão de obra não especializada que recebe em dólar etc.

Durante esta etapa, marcada pelo unilateralismo, neoliberalismo e colapso do socialismo soviético, há um forte debate sobre como sobreviver, como seguir independente e como prosseguir socialista.

Antes mesmo do fim da URSS, Fidel tomou distância dos soviéticos, demarcou suas diferenças com as reformas de Gorbachev e reforçou o componente nacional de sua ideologia. Num discurso proferido em 1986, ele dirá que o marxismo-leninismo é profundamente internacionalista e, por sua vez, profundamente patriótico.

Com todas as dificuldades possíveis e inimagináveis, Cuba resistiu até que a situação na América Latina e Caribe mudou, com a eleição de Chavez na Venezuela (1998), Lula no Brasil (2002), Kirchner na Argentina (2003) e Tabaré Vazques no Uruguai (2004).

Nesse período, muita gente imaginava que o governo cubano, sob liderança de Fidel, adotasse medidas denominadas de liberalizantes, ou seja, que estimulasse os investimentos estrangeiros, as empresas privadas cubanas e o trabalho por conta própria. Mas tais medidas só começaram a ser implementadas depois que, em 31 de julho de 2006, por razões de saúde, Fidel Castro teve que se afastar do comando do Estado e do Partido cubanos.

A linha geral dessas medidas está descrita num documento chamado "Lineamientos para la Política Económica y Social del Partido y la Revolución", um conjunto de orientações aprovadas pelo Sexto Congresso do Partido Comunista de Cuba, realizado em 2011.

Tendo como objetivo construir um “socialismo próspero y sostenible”, os “Lineamientos” reafirmam a propriedade social dos meios de produção fundamentais e falam em “atualização do modelo”. Mas as ações práticas decorrentes não constituem uma mera “atualização”, mas sim o abandono de um determinado “modelo” de construção do socialismo, baseado na quase exclusiva propriedade estatal dos meios de produção, em favor de outro caminho que, em nome de desenvolver as forças produtivas indispensáveis ao socialismo, apela para diferentes formas de propriedade privada e relações de mercado.

Este outro caminho, na medida em que busca dar uso produtivo para a capacidade de trabalho de amplos setores da população cubana, também implica em legalizar e em alguns casos ampliar a desigualdade social.

As reformas (termo mais adequado que “atualização do modelo”) geram polêmicas. A direita não gosta da reafirmação do socialismo, nem da manutenção do Partido Comunista no comando do Estado cubano: Raul Castro deixou claro que não foi eleito para fazer Cuba voltar a ser capitalista.

Por outro lado, setores de esquerda não apreciam as “concessões ao capitalismo”, além dos que defendem que as reformas sejam acompanhadas de mais debate e democracia popular, inclusive para tratar das citadas desigualdades.

Para além destas polêmicas, há que se levar em conta a conjuntura internacional e latinoamericana. A aprovação dos Lineamentos coincide com um período de contraofensiva dos EUA e da oligarquia regional, contra os setores progressistas e de esquerda. Em muitos países, a esquerda perdeu os governos. E onde conseguiu manter as dificuldades aumentaram muito. De conjunto, o apoio a Cuba ficou menor.

Um dos marcos dessa contraofensiva foi o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, consumado no final de agosto de 2016. Poucos meses depois, em 25 de novembro de 2016, Fidel morreu aos 90 anos de idade.

Ao longo de muitas décadas, Fidel combinou as características de chefe de partido, chefe de Estado e líder de massas. Ele não foi um teórico ao estilo de Lênin e de Mao. Apesar disso, é muito provável que seus textos, entrevistas e discursos continuem a ser estudados por muito tempo. Isto porque a trajetória de Fidel é a expressão individual e concentrada da história recente cubana. E Cuba foi o mais longe que uma nação atrasada pode ir: transformou suas aspirações nacionais, sociais e democráticas em força motriz de uma revolução anti-imperialista e anti-capitalista. Da mesma forma, Fidel foi o mais longe que um democrata e nacionalista radical poderia ir, nas condições do seu tempo –tornou-se um comunista.

Um bom exemplo destas múltiplas facetas de Fidel são suas declarações no dia 21 de janeiro de 1988, por ocasião da visita à Cuba do Papa João Paulo II. Terminemos pois este texto dando a palavra ao Comandante Fidel Castro.

[Vossa Santidade] não encontrará aqui aqueles pacíficos e bondosos habitantes que a povoavam quando os primeiros europeus chegaram a esta ilha. Os homens foram exterminados quase todos pela exploração e pelo trabalho escravo...; as mulheres, convertidas em objeto do prazer ou escravas domésticas. Houve também os que morreram sob o fio de espadas homicidas, ou vítimas de enfermidades desconhecidas importadas pelos conquistadores... No correr de séculos, mais de um milhão de africanos cruelmente arrancados de suas distantes terras ocuparam o lugar dos escravos índios já extintos... A conquista e colonização de todo o hemisfério se estima que custou a vida de 70 milhões de índios e a escravização de 12 milhões de africanos...

Cuba, em condições extremadamente difíceis, chegou a construir uma nação. Lutou só com insuperável heroísmo por sua independência. Sofreu por isso, faz exatamente 100 anos, um verdadeiro holocausto nos campos de concentração, onde morreu parte considerável de sua população, fundamentalmente anciões e crianças...

Hoje de novo se tenta o genocídio, pretendendo render através da fome, enfermidade e asfixia econômica total a um povo que se nega a submeter-se aos ditames e ao império da mais poderosa potência econômica, política e militar da história, muito mais poderosa que a antiga Roma... Como aqueles cristãos atrozmente caluniados, nós, tão caluniados como eles, preferimos mil vezes a morte que renunciar a nossas convicções.

 

Contribuição para congresso dos urbanitários do Maranhão

 Segue proposta de texto de conjuntura internacional e nacional para o congresso sindical do Maranhão

 1.O Brasil é um dos maiores países do mundo, em termos de território, de riquezas naturais, de capacidade produtiva e de população. Por conta disso, as grandes potências do mundo acompanham com muito interesse o que ocorre aqui, disputando mercados e fontes de matéria-prima. Uma destas potências é nossa vizinha de continente: os Estados Unidos. A postura dos Estados Unidos, desde os anos 1930, combina interferência econômica com interferência política. Por duas vezes contribuíram para derrubar Vargas, contribuíram no golpe militar contra João Goulart e também nos golpes parlamentares e judiciais contra Dilma e Lula. O atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não é um ponto fora da curva. Além de prejudicar Cuba e ameaçar militarmente a Venezuela e a Colômbia, Trump deu início a uma guerra tarifária contra o Brasil, combinada com uma defesa de total autonomia para as chamadas Big Techs. Depois de alguns contatos com o presidente Lula, Trump deu sinais de que pode recuar em alguns pontos. Mas seu verdadeiro objetivo segue de pé: interferir nas eleições presidenciais de 2026.

2.Inicialmente, Trump pressionou para que o ex-presidente Jair Bolsonaro fosse anistiado e pudesse disputar as eleições 2026. Mas depois da condenação de Bolsonaro pelo STF, Trump dá sinais de que pode buscar outra candidatura para apoiar. No momento, a candidatura mais cotada é a do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

3.Tarcísio de Freitas, a depender do interlocutor, fala coisas diferentes. Para uns ele diz que em 2026 será candidato a reeleição para governador. Para outros, diz que pode ser candidato a presidente da República, desde que Bolsonaro o apoie. Muito provavelmente a verdade é que ainda não está decidido quais candidaturas vão disputar a eleição presidencial em nome da direita. Mas já está definido qual será o programa da direita nas eleições presidenciais: manter a economia brasileira sob domínio do agronegócio e do capital financeiro, reduzir as políticas sociais e os direitos das classes trabalhadoras.

4.Este programa vem sendo executado desde o golpe contra a presidenta Dilma. Este foi o programa do governo Temer e também o programa do governo Bolsonaro. Este é, hoje, o programa dos governos estaduais e municipais encabeçados por políticos da direita neoliberal tradicional e por políticos da extrema-direita neoliberal. Este programa pode ser resumido assim: reduzir direitos e liberdades da classe trabalhadora, aumentar a riqueza dos grandes capitalistas e de seus sócios estrangeiros.

5.Neste contexto, as classes trabalhadoras, os movimentos sociais e populares, os sindicatos e centrais, assim como os partidos realmente comprometidos em defender os interesses das classes trabalhadoras, têm diante de si imensos desafios:

-contribuir na defesa da soberania nacional e trabalhar para um mundo sem guerras, com paz, desenvolvimento, direitos econômicos, sociais, civis e ambientais;

-contribuir para proteger e ampliar as liberdades democráticas, enfrentando a extrema-direita e a direita que querem que a política seja privilégio dos ricos e poderosos;

-contribuir para proteger e ampliar os direitos sociais do conjunto da população, especialmente as políticas de saúde e educação, os salários e aposentadorias, os empregos e as condições dignas de trabalho.

6.Hoje, mais do que nunca, os desafios das classes trabalhadoras incluem a defesa do meio-ambiente. Está em curso uma catástrofe climática, produto da exploração capitalista devastadora dos recursos naturais. Se esta devastação não for detida, se esta catástrofe não for barrada, as condições de vida na Terra, especialmente dos mais pobres, se tornarão cada vez mais insuportáveis.

7.Também cabe destacar, entre os desafios das classes trabalhadoras, a defesa dos direitos das mulheres, dos negros e negras, dos LGBT, da juventude periférica e de todos os setores que os neoliberais de extrema-direita e de direita atacam, maltratam e exterminam. Vivemos tempos em que o racismo, a misoginia, a lgbtfobia e o fundamentalismo estão à solta. Cabe a nós combater e derrotar estas políticas.

8.As manifestações realizadas no dia 21 de setembro, contra a “PEC da Blindagem” e contra a “anistia para golpistas” foram um momento importante deste combate. Tanto nas ruas quanto nas redes sociais, uma parte importante do povo brasileiro manifestou-se a favor das liberdades democráticas, contra os bandidos que querem usar seus mandatos para cometer crimes sem punição nem processo; e também contra os que desejam anistiar golpistas.

9.Ocupar as ruas é importante para pressionar o Congresso e para defender a pauta do povo, mas acima de tudo porque as esquerdas precisam recuperar o controle das ruas e a confiança em si mesma.

10.O resultado da votação no Senado, enterrando a tramitação da “PEC da Blindagem”, mostrou que é possível alterar, a partir da pressão das ruas, a correlação de forças existente no Congresso Nacional. Mas o maior desafio ainda está por vir: trata-se de mudar a composição do Congresso, tanto Câmara quanto Senado.

11.A mudança completa na composição do Congresso depende de fazermos uma reforma política e eleitoral, que provavelmente exigirá a realização de uma Assembleia Constituinte. Mas é possível começar a mudança, elegendo parlamentares comprometidos com o povo nas eleições de 2026. Mas para isto é importante explicar à população os motivos pelos quais a atual maioria do Congresso nacional é antipopular, antinacional e antidemocrática.

12.Também por este motivo é importante que os movimentos sociais e o movimento sindical continuem investindo na mobilização social. Nem sempre esta tática tem êxito imediato. Mas ela será fundamental para derrotar as propostas que vêm sendo defendidas e aprovadas pelos parlamentares das duas direitas.

13.A luta pelas liberdades democráticas — que inclui punição para os golpistas, inclui impedir que o parlamento se transforme em refúgio de criminosos, mas também inclui a revogação da contrarreforma sindical, pois não há democracia popular sem sindicalismo forte — não esgota a pauta do povo.

14.Para a imensa maioria da população, a democracia só ganha sentido se for um instrumento para conquistar o fim da escala 6x1, a redução da jornada de trabalho, a redução do Imposto de Renda, a taxação dos ricos, a redução dos juros, a ampliação dos recursos para as políticas públicas, a revogação das contrarreformas da previdência e trabalhista.

15.Existe vida além do trabalho. Mas para que isso seja verdade, é preciso mudar muita coisa. Todo mundo deve ter emprego, os salários têm que ser maiores, a aposentadoria deve ser mais cedo e maior, a jornada de trabalho tem que ser menor, o transporte tem que ser público, gratuito e de qualidade. Precisamos reduzir a jornada de trabalho, sem redução de salários. E a escala 6x1 precisa acabar.

16.A vida da maioria do povo pode ser muito melhor. Mas para isso é preciso ampliar os investimentos públicos em saneamento, moradia, transporte, educação, saúde, cultura e lazer. E só haverá mais investimentos públicos, se tirarmos os ricos da zona do conforto. Quem paga menos impostos no Brasil? Os ricos. Quem fica com a maior parte dos recursos do orçamento público? Os ricos. Isso precisa acabar. Rico tem que pagar muito mais imposto e os trabalhadores têm que pagar muito menos imposto. Por isso apoiamos a redução do Imposto de Renda, proposta pelo governo federal e em discussão no Congresso nacional. É um pequeno, mas importante passo em direção aos nossos objetivos. Por isso, também, apoiamos a redução da taxa de juros: quanto mais alta a taxa de juros, maior a dívida pública, que beneficia os credores, que são exatamente os ricos que controlam o sistema financeiro.

17.Por todos esses motivos, mas também porque queremos que o Brasil seja um país desenvolvimento, industrializado, tecnologicamente moderno, sem depender da primário-exportação, livre da ditadura do capital financeiro, devemos pressionar o governo para que mude o rumo da política econômica, especialmente a taxa de juros e a política de déficit zero. A Polícia Federal demonstrou os vínculos entre o PCC e a Faria Lima (nome que se dá ao sistema financeiro nacional). Mas a verdade é bem pior: o conjunto do capital financeiro assalta cotidianamente o povo brasileiro.

18.O Banco Central, ao manter uma taxa de juros de 15%, está a serviço de quem pretende estrangular a economia e prejudicar o povo. A taxa de juros deve cair imediatamente e para isso o governo deve contribuir pressionando o BC e alterando as chamadas metas de inflação.

19.Ao mesmo tempo, o governo tem que abandonar a chamada política de déficit zero. Esta política visa guardar dinheiro para transferir ao setor financeiro. E como a taxa de juros é muito alta, o governo tem que transferir cada vez mais dinheiro. Para aumentar os investimentos produtivos e as políticas sociais, é preciso que o governo federal abandone a meta do déficit zero.

20.Se o Banco Central seguir mantendo a taxa de juros nas alturas, se o Congresso não aprovar aumento dos impostos sobre os ricos, a alternativa será cortar investimentos e políticas sociais ou deixar de lado os parâmetros determinados pelo Novo Marco Fiscal. Num ano eleitoral, a primeira atitude, além de socialmente errada, seria politicamente suicida.

21.A batalha em torno do Marco Fiscal e da política de juros é decisiva para aqueles, como nós, que não apenas queremos que o povo vença as próximas eleições, mas também queremos defender os recursos constitucionais da saúde e da educação, assim como queremos impedir a contrarreforma administrativa que a direita está tentando aprovar no Congresso Nacional.

22.Os movimentos sociais e sindicais devem pressionar neste sentido, não apenas o governo federal, mas também os governos estaduais e municipais: cabe aos governos, em todos os níveis, aumentar a quantidade e a qualidade dos serviços públicos, contratar mais e pagar melhor os servidores.

23.Neste espírito, é preciso derrotar a proposta de reforma administrativa que está em curso no Congresso nacional. E é preciso também impedir que o Supremo Tribunal Federal aprove, no julgamento do chamado Tema 1.389, uma destruição em larga escala dos direitos trabalhistas e sociais.

24.A polarização contra a direita e contra a extrema-direita se dá, também, no plano da política externa. Defendemos a solidariedade com a Venezuela, com a Colômbia, com Cuba e com o povo palestino. E defendemos que o Brasil mantenha sua integração aos BRICS. Afastar o Brasil dos BRICS, mais precisamente da China, é um dos principais objetivos do governo Trump.

25.A eleição presidencial de 2026 deve ser um momento para apresentar ao povo um programa de reformas democráticas e populares em defesa da soberania produtiva (industrialização & alta tecnologia), da soberania energética (inclusive retomando o pleno controle estatal da Petrobrás e da Eletrobrás), da soberania alimentar (com destaque para a reforma agrária), da soberania digital (regulando, mas principalmente construindo big techs brasileiras e nacionalizando o controle sobre as terras raras), da soberania comunicacional (cumprir a Constituição e acabar com o oligopólio da mídia empresarial), da soberania ambiental (com foco na Amazônia e no Cerrado), da soberania militar (que inclui uma reforma integral das Forças Armadas e das Polícias Militares).

26.Nosso programa inclui, ainda, o fim da escala 6x1, a redução da jornada de trabalho, a defesa do SUS e da educação pública, a revogação das contrarreformas previdenciária-sindical-trabalhista, a reforma política e a cobrança de impostos sobre os ricos.

27.Defendemos ainda uma verdadeira política de segurança pública, que inclui o combate às organizações criminosas, localizando e prendendo os verdadeiros chefes do crime, desmontando seus esquemas financeiros, bloqueando seu acesso à armamento pesado e privativo das forças armadas. A chacina ocorrida no Rio de Janeiro não foi nada disso. O que ocorreu lá foi, em parte, desdobramento de uma incorreta política de insegurança pública, baseada em tiro, porrada e bomba. O que ocorreu no Rio de Janeiro é, também, uma verdadeira guerra de facções, na qual setores do governo do Rio apoiam uma facção contra outra. Mas a chacina também foi uma ação político eleitoral, uma tentativa da extrema-direita de recuperar a iniciativa política através da "guerra ao tráfico".

28.Devemos explicar para a população o que está acontecendo, demonstrar que violência não gera segurança, mostrar que o governo do Rio está penetrado pelo crime, lembrar que a extrema-direita manipula a violência para tentar recuperar espaço.

29.Os defensores da chacina dizem que as pesquisas demonstram o apoio popular. Mas as pesquisas indicam que 52% da população acha que depois da "operação policial", o Rio de Janeiro está "menos seguro". E quando a pergunta é "qual deveria ser a primeira reação de um policial que está trabalhando e se depara com uma pessoa com um fuzil na mão?", 50% responde que a reação deve ser "buscar prender sem atirar".

30.Os desafios da classe trabalhadora no próximo período são imensos. Para que a vida do povo possa continuar melhorando, é preciso elevar o nível de consciência, organização e mobilização da classe trabalhadora. Façamos a nossa parte!

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Motta & Galípolo

Nos últimos dias, a grande imprensa vem afirmando que os companheiros Haddad e Lula estariam insatisfeitos com Galípolo.

A mesma imprensa noticia que, por outros motivos, Lula e vários integrantes do governo também estariam insatisfeitos com Hugo Motta.

Deve ser verdade: juros altos, IOF e Derrite são motivos mais que suficientes.

A insatisfação certamente tem um motivo extra: a decepção de quem esperava outra atitude.

Pois como é público, havia no governo quem confiasse em Galípolo e Motta, o “menino de ouro” e o “jovem promissor”, respectivamente.

Errar é humano. E não foram as primeiras apostas erradas, feitas nos últimos tempos por quem tem o poder de decidir. 

Ajudaria, para evitar erros tão graves no futuro, que o Partido e sua direção agissem com autonomia e não tivessem medo de pensar e dizer publicamente certas verdades.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Detalhes históricos

A política externa do atual governo Lula apresenta diferenças importantes em relação à política externa dos governos Lula 1 e Lula 2.

Algumas destas diferenças têm relação com mudanças ocorridas mundo afora, outras diferenças têm relação com mudanças ocorridas no Brasil.

Mas algumas mudanças estão relacionadas com alterações em certos parâmetros estratégicos adotados por quem decide e implementa nossa política externa. 

Só isso explica a reavaliação do Tratado União Europeia-Mercosul ('Não queremos relação neocolonial com os europeus', diz Celso Amorim sobre acordo UE-Mercosul | Brasil 247) ou a postura frente a participação da Venezuela nos BRICS, para ficar só nesses dois exemplos.

Algumas destas "alterações nos parâmetros" são planejadas, outras são são fruto das circunstâncias, mas há também as que derivam do balanço de influências entre o presidente, sua assessoria internacional e o Itamaraty.

No passado, a assessoria internacional foi ocupada por Marco Aurélio Garcia, hoje é ocupada por Celso Amorim.

A assessoria internacional foi e segue sendo um dos canais através dos quais o Partido dos Trabalhadores faz chegar sua opinião acerca da política externa.

Por isso, mas também por razões profissionais (sou professor do bacharelado de relações internacionais da Universidade Federal do ABC), acompanho com atenção a atuação e as declarações dadas por Celso Amorim.

Geralmente concordo, muitas vezes discordo, mas as vezes simplesmente me surpreendo.

Por exemplo, quando Celso disse ("Um dia dramático", diz Celso Amorim à TV 247: "a primeira ação militar em solo europeu após a Segunda Guerra Mundial" | Brasil 247) que o ataque da Rússia contra a Ucrânia havia sido a "primeira ação militar em solo europeu após a Segunda Guerra".

Lembrei imediatamente do ataque da Otan contra Ioguslávia, em 1999: As bombas da Otan que deram início a uma nova era de guerras - BBC News Brasil

Mais recentemente, no início de novembro de 2025, em entrevista ao Globo (Celso Amorim alerta que discurso antiterrorismo pode abrir caminho a ataques na região), Celso disse que “desde 1902, não houve nenhuma ameaça de uso direto da força contra a América do Sul. Isso seria gravíssimo”.

1902?!

Para citar um único caso: e a Guerra das Malvinas?

Comentei sobre isto com um colega de trabalho, que me lembrou da seguinte declaração: Nem União Soviética faria o que Trump tem feito com Brasil, diz assessor especial de Lula a jornal | Exame

Alguém pode dizer: são "detalhes". Concordo. Mas por isso mesmo precisam ser destacados.