quarta-feira, 9 de outubro de 2024

GL3: quem nos defende de José Múcio?

José Múcio carrega o título de ministro da Defesa.

Mas a quem mesmo ele defende?

Há vários motivos para a dúvida.


Trata-se de uma fala de Múcio, feita em um evento da Confederação Nacional da Indústria.

Múcio quer que o governo brasileiro autorize a compra de equipamentos militares israelenses. 

Até aí, direito dele. 

Mas a maneira como ele apresenta a questão é totalmente absurda, especialmente num evento público.

Palavras de Múcio: "A questão diplomática interfere na Defesa.  Houve agora uma concorrência. Venceram os judeus. O povo de Israel. Mas por questão da guerra, do Hamas, os grupos políticos, estamos com esta licitação pronta, mas por questões ideológicas não podemos aprovar".

A confusão que Múcio faz entre o "Estado de Israel" e os "judeus" é reveladora. 

Quem faz esta confusão é a extrema direita, com o objetivo de tratar qualquer crítica a Israel como se fosse antisemitismo.

Também é reveladora a referência ao "Hamas" e aos "grupos políticos". 

Israel está praticando um genocídio contra o povo palestino, usando o Hamas como pretexto. Múcio repercute o pretexto e, ademais, trata o genocídio como "guerra".

Neste contexto, comprar armas de Israel é ser cúmplice, contrariando a política definida pelo presidente Lula. 

Mas Múcio desqualifica a justa posição adotada até agora e a reduz à interferência de "grupos políticos" e "questões ideológicas", termo que na boca dele tem sentido depreciativo. 

Na nossa, pelo contrário, tem valor positivo: trata-se de não contribuir com a extrema-direita, o sionismo, o nazismo, o genocídio.

Em seguida, Múcio trata do potássio, pretexto que ele usa para atacar o que a Constituição estabelece acerca dos povos indígenas.

Depois o ministro reclama da orfandade da Defesa, afirmando que "se muita gente debita às forças armadas o golpe de 64, precisava ter creditado às forças armadas não ter havido o golpe em 2023, foram as forças armadas que preservaram, que seguraram a nossa democracia".

"Muita gente" acha que Múcio não deveria ter sido nomeado ministro da Defesa.

"Pouca gente" acredita na capacidade do ministro cuidar dos temas da sua pasta.

Mas a responsabilidade das forças armadas no golpe de 64 não é assunto em debate; não se trata de saber se "pouca" ou se "muita" gente pensa isto.

Trata-se de um fato histórico.

Que um ministro da Defesa coloque este fato em dúvida, equivale a um ministro da Saúde colocar em dúvida o SUS.

Mas o mais grave não é a opinião de Múcio sobre o 1 de abril de 1964.

O mais grave é a opinião dele sobre o 8 de janeiro de 2023.

Primeiro, porque a crença de que as forças armadas seriam a mão forte e o braço amigo que defende a democracia, foi exatamente um dos argumentos utilizados para justificar o golpe de 64.

Ao contrário do que possa parecer, Múcio reverbera uma ameaça, uma chantagem, como se dissesse: agradeçam aos militares por terem agido assim, pois eles poderiam ter agido assado.

Segundo, porque Múcio disse uma mentira. 

Parte importante da cúpula do exército, mas também de outras forças, foi cúmplice passivo ou ativo da intentona de 8 de janeiro de 2023. 

Enquanto todos estes criminosos não estiveram presos, seguiremos correndo risco.

Na sua fala, Múcio também refere-se à frustrada venda, para a Alemanha, de munições que seriam transferidas para a Ucrânia usar contra a Rússia. 

Múcio considera que um "grande negócio" foi prejudicado por um "embaraço diplomático".

Embaraçoso é ter Múcio como ministro.

E tê-lo como ministro da Defesa é mais que embaraço: é um alto risco.

Mas tem gente que gosta de viver perigosamente.


 







9 comentários:

  1. Olá, eu sou daquelas que preferia nenhum ministro da Defesa a Múcio. É que penso que onde é tema delicado, alí mesmo temos que ter alguém de confiança, e que na vai atrapalhar. Bem, melhor sem. Até achar quem caiba no lugar.

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  2. Ele deve ser exonerado imediatamente, pois não há a menor condição de permanecer no cargo após ter desrespeitado o Presidente. Mais parece um representante do Sindicato dos Militares, suas declarações não só minam a estabilidade do governo, como também levantam preocupações sobre a possibilidade de novas tentativas de golpe. Com um ministro agindo dessa forma e a pressão das emendas parlamentares, Lula se encontra com as mãos atadas, o que compromete sua capacidade de governar de maneira eficaz.

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  3. A direção nacional do PT deve, no mínimo, fazer uma manifestação de desaprovação da fala e da conduta do ministro. O silêncio da direção nacional é mais escandaloso que a fala do ministro.

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  4. Na condição de cidadão pernambucano que conhece esse... "sujeito" (faz mais de 30 anos), usineiro de família latifundiária (assassina de trabalhadores rurais), por quem o fascista inelegível se declarou publicamente “apaixonado”, sendo Múcio da pior aristocracia (um pleonasmo) pernambucana, a pergunta mais correta a fazer-se nesse momento, seria outra: o que danado Este homem está fazendo dentro Deste Governo? Nao é Quando ele será demitido e sim Porque ele foi nomeado Ministro. Quem tiver a resposta a essa pergunta, por favor, nem a precisa responder em público. O pior, já sabemos…
    Só se surpreende com algo quem nao conhece a autoria do fato.

    Aquele abraço.

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  5. Ele é de uma ignorância sideral quando se refere a questão das armas aos judeus! O governo brasileiro tem toda razão de não vender armas para um governo de extrema direita! Nada a ver com os judeus e nem de antisemitisme. A comunidade judaica e descendentes de judeus no Brasil é enorme e o governo brasileiro sempre teve respeito. No PT somos muitos descendentes de judeus e combatemos a extrema direita de Netanyahou. Por que o Lula não chama essa cara para explicações? E o demite?

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  6. Perigoso é ter alguém do governo da União, somente nomeado e não eleito, questionar publicamente as políticas determinadas pelo único eleito para tal: Presidente da República!

    Se o Presidente Lula, de fato, defende a Democracia deve saber que o PODER EMANA DO POVO, e no caso da democracia representativa, como a nossa no Brasil, apenas aquele escolhido pelo povo deve orientar as políticas pro país.

    Ou seja, sua equipe nomeada de subordinados deve agir de modo a operacionalizar o definido politicamente por ele e não enfrentá-lo publicamente de maneira acintosa.

    Diferente disso é insubordinação e DESRESPEITO COM A DECISÃO majoritária DAS URNAS!

    Somente Lula representa a maioria dos eleitores. Logo, se Lula não tomar nenhuma atitude sobre essa pretensão de protagonismo político do Ministro de Defesa e Forças Armadas - que lhe devem obediência -, estará aceitando que ele não exerce a autoridade que lhe foi conferida pelo voto.

    Quem cala consente e seu silêncio revela FRAQUEZA, SUBSERVIÊNCIA e MEDO típico
    de quem renuncia à sua atribuição como único e legítimo comandante maior do País.

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