segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Eleições 2024: Cunha quer Lira

A imprensa tem especial predileção por uma categoria de petistas: aqueles que ela chama de "conselheiros do presidente Lula".

Não faço ideia se estas pessoas transitam no Planalto com a desenvoltura que lhes é atribuída pela mídia.

Mas, por via das dúvidas, leio com atenção o que dizem.

É o caso de João Paulo Cunha, que em entrevista concedida recentemente ao Estadão defendeu entregar um ministério para Arthur Lira.

Segundo Cunha, "deixamos muito a desejar nesse processo eleitoral." O PT precisaria "atualizar a leitura do capitalismo no Brasil (...) ter a compreensão de como os trabalhadores hoje estão se organizando (...) A direita conseguiu captar com mais facilidade uma nova forma de se comunicar com a população, juntando três aspectos: concepção liberal da economia, visão conservadora dos costumes e religiosidade. O PT e o governo ainda não conseguiram enfrentar isso."

Até aí, no que diz respeito a problemática, temos algum acordo.

Os problemas mesmo começam quando Cunha se dirige para a "solucionática".

Segundo Cunha, "a direita está hoje com mais problemas do que a esquerda, está dividida, tem brigas em público. E entrou um fenômeno na pauta sobre o qual o governo precisa se atentar, que é o Centrão. (...) Uma parte grande do Centrão está no governo. O PP, o União Brasil, o Republicanos, o PSD têm ministérios, mas não têm um compromisso para 2026 mais sólido. Precisamos consolidar essa banda do Centrão que dialoga com a gente para 2026. (...) ideal é Lira assumir um ministério em 2025 porque temos de trazer o para mais perto". 

A direita está dividida, tem brigas? Sim. Mas, se a questão for 2026, as direitas têm mais margem de manobra do que nós. Por exemplo: se tirarmos Lula da equação, o PT e a esquerda terão grandes problemas. Já se tirarmos o cavernícola da equação, a direita seguirá tendo alternativas, algumas inclusive mais "palatáveis".

O Centrão é um fenômeno "na pauta"? Sim. Mas o Centrão, com este ou com outros nomes, está na pauta faz muito tempo. O impeachment de 2016, é bom lembrar, foi aprovado com o apoio de parte importante da base do governo (do governo Dilma 2 e, também, do governo Lula 3). A experiência já nos ensinou alguma coisa sobre quão "sólido" é o compromisso com esta gente. 

Trazer Lira para o governo, entregar um ministério para Lira, vai mesmo "consolidar essa banda do Centrão que dialoga com a gente para 2026"? Deixemos de lado, por enquanto, os aspectos morais desta proposta e nos concentremos na dimensão pragmática. 

Primeiro, uma pergunta: que ministério seria do tamanho adequado aos apetites de Lira, que hoje se comporta as vezes como se primeiro-ministro fosse? Aliás, como fica a norma de não se nomear alguém que não possa ser demitido?

Outra pergunta: na vida real, que tipo de efeito Lira ministro teria sobre a ação prática do governo? O que mudaria, para melhor, no atendimento de nossa base social? Que efeito isto teria sobre as políticas públicas de interesse da esquerda em geral e do PT em particular?

Mais uma pergunta: alguém acha mesmo que esta turma marchará conosco, em 2026, aconteça o que acontecer daqui até lá? 

Lendo e relendo a proposta de Cunha, a única certeza a que chego é a seguinte: diante dos efeitos negativos da política adotada até agora, tem gente que está propondo como única alternativa dobrar a aposta.

Ou seja: o pior dos pragmatismos, aquele que não oferece resultados à altura das promessas e expectativas. 

O que me recorda uma frase dita por alguém famoso: entre a desonra e a guerra, escolhestes a desonra. Mas o que tereis ao final será a desonra e a guerra.

Acho bem mais pragmático se preparar para a "guerra".







Segue texto analisado

"O ideal é Arthur Lira assumir um ministério porque temos de trazer o Centrão para mais perto", diz João Paulo Cunha – Estadão

Integrante da “velha guarda” do PT, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha atua cada vez mais nos bastidores da política. Um dos conselheiros do presidente Lula, João Paulo tem bom trânsito tanto no Palácio do Planalto quanto no Congresso e acha que o governo precisa se preparar para enfrentar o avanço da centro-direita. O caminho apontado por ele é bem pragmático: na sua avaliação, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deve ser alçado à equipe de Lula. Principais trechos da entrevista:

"Em número de municípios o PT sempre ficou muito aquém dos partidos de centro. A diferença é que, em alguns períodos, o PT governou muitos eleitores. Governou São Paulo, BH, Porto Alegre, grandes cidades do interior paulista e do ABC. O que me espanta agora é que a crise do PT seja mais de representação. O partido carece, nesse momento, de capilaridade, de representação social. Efetivamente, deixamos muito a desejar nesse processo eleitoral."

"Na minha visão, o PT precisa atualizar a leitura do capitalismo no Brasil, que mudou muito, e também suas bandeiras e propostas. É necessário ter a compreensão de como os trabalhadores hoje estão se organizando [...] A direita conseguiu captar com mais facilidade uma nova forma de se comunicar com a população, juntando três aspectos: concepção liberal da economia, visão conservadora dos costumes e religiosidade. O PT e o governo ainda não conseguiram enfrentar isso."

"A comunicação do governo é um problema. Eu não sei hoje, mas um tempo atrás eu vi que o presidente Lula tinha 13 milhões de seguidores, com um ano e seis meses de governo, e o Bolsonaro, com o mesmo tempo fora do governo, tinha o dobro. Como é que Bolsonaro sai, fica inelegível e tem o dobro de seguidores do Lula? A direita está hoje com mais problemas do que a esquerda, está dividida, tem brigas em público. E entrou um fenômeno na pauta sobre o qual o governo precisa se atentar, que é o Centrão."

"Uma parte grande do Centrão está no governo. O PP, o União Brasil, o Republicanos, o PSD têm ministérios, mas não têm um compromisso para 2026 mais sólido. Precisamos consolidar essa banda do Centrão que dialoga com a gente para 2026."

"O ideal é Lira assumir um ministério em 2025 porque temos de trazer o para mais perto. E, nesse pacto, em particular na Câmara, os deputados Elmar Nascimento (União Brasil), Antônio Brito (PSD), Hugo Motta (Republicanos) e Marcos Pereira (Republicanos) precisam ter uma saída honrosa. Um deles (fora Pereira, que desistiu) vai ser presidente da Câmara a partir de fevereiro. E o que se faz com os outros? É quase um combo ali."


2 comentários:

  1. Será que não tem mais gente na patota de mais chegados de Lula querendo Lira? Balãozinho de ensaio?
    Saberás.
    Depois de Geraldo “Picolé de Chuchu” Alckmin na vice, não sei não...
    Pomar, e se Luiz Inácio seguir o conselho do João Paulo? Seria essa a linha vermelha para os comunistas acomodados no PT?
    (Jucemir Rodrigues da Silva)

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  2. Gente! Vamos combinar que Cunha deve ter um baita estoque de óleo de peroba para sugerir que Lira - maior chantagista do Congresso - tenha um ministério.

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