quinta-feira, 11 de abril de 2024

Aventuras do PT na China (parte 4)

É comum encontrarmos, em textos acadêmicos ou jornalísticos, a 

referência a um misterioso deep state ("Estado profundo") que suposta ou 
efetivamente determinaria os rumos da grande política dos Estados 
Unidos.

Mas não há dúvida alguma sobre quem é o núcleo do poder na China: o 
Partido Comunista, fundado em 1921 e no poder desde 1949.




Formalmente, a China é parlamentarista. O povo elege parlamentares, que 
reúnem-se numa Assembleia do Povo, que escolhe as principais autoridades 
do País: a cúpula do judiciário, do legislativo, do executivo e, também, 
quem dirige as forças armadas.

Acontece que os parlamentares são eleitos com base em listas propostas 
pelo Partido. E as autoridades eleitas são indicadas com base em 
nominatas aprovadas, previamente, pelo Partido. A quem cabe, também, 
debater previamente as grandes diretrizes políticas e supervisionar sua 
implementação.

Para os padrões vigentes nos Estados Unidos, trata-se de uma ditadura 
partidária.

Para os padrões adotados pelos comunistas chineses, trata-se de um tipo 
de democracia diferente e superior a vigente, por exemplo, nos Estados 
Unidos.

Segundo Xie Chuntao, pró-reitor da Escola Central do Partido, nos 
Estados Unidos prevalece quem tem dinheiro: "nosso sistema é mais 
democrático que Trump".

Na institucionalidade política chinesa, o centro do poder é o Partido, o 
centro do Partido é o comitê central, o centro do comitê central é o 
birô político, o centro do birô político é uma comissão permanente 
integrada, hoje, por 7 pessoas. E no centro desta comissão permanente, 
está o secretário-geral, função exercida desde 2012 por Xi Jinping.

Outro dos sete integrantes da comissão permanente é Li Xi. O senhor Li 
(na China, o primeiro nome é o da família, o segundo nome é o da pessoa) 
esteve no Brasil em 2023, tendo visitado a sede nacional do PT em 
Brasília. E foi o mesmo senhor Li que recebeu, numa reunião realizada no 
Grande Salão do Povo, a delegação do Partido dos Trabalhadores, 
encabeçada pela presidenta Gleisi Hoffmann.

Li Xi é "secretário da comissão de inspeção disciplinar do Comitê 
Central do PCCh". É ele quem encabeça, portanto, a luta contra a 
corrupção. Para os comunistas chineses, não se trata de um detalhe. Para 
um partido cujo lema é "servir ao povo", não basta parecer honesto, é 
preciso ser honesto.

Por este motivo, é comum que altos dirigentes do Partido sejam 
investigados, condenados e presos, por conta de diversos delitos, com 
destaque para a corrupção. Tarefa que cabe ao sistema legal do Estado 
chinês, mas que no caso dos integrantes do Partido é supervisionado e 
implementando pela "inspeção disciplinar".

Ou seja: mesmo num Estado dirigido pelo Partido, o Partido faz questão 
de exercer diretamente este trabalho. Um dos motivos disto é impedir que 
os "donos do poder" usem-no para burlar as leis e escapar das 
investigações. Outro motivo é dar o exemplo político de que são capazes 
de permanente autocrítica e capacidade de renovação, algo que o senhor 
Li Xi chegou a chamar de "auto-revolução".

Li enfatizou, ainda, que cabe ao povo fazer a "inspeção do governo".

Como sabemos, seja pela nossa própria experiência no Brasil, seja pelo 
estudo de outras experiências históricas, há sempre uma distância entre 
a teoria e a prática. Assim, como disse o próprio Mao Zedong, é preciso 
investigar criteriosamente a realidade, estudar, pesquisar.

Mas uma coisa pode ser dita: os comunistas chineses estão muito seguros 
de que, sem esta democracia-com-características-chinesas, a República 
Popular da China não teria derrotado o feudalismo, o colonialismo e o 
imperialismo, nem teria melhorado a vida do povo chinês, tampouco teria 
conseguido um desenvolvimento tão intenso e veloz.

E, no centro da democracia-com-características-chinesas, está o Partido 
Comunista, cuja história centenário é contada em detalhes em um Museu 
inaugurado em 2021. A visita a este Museu será contada na próxima parte 
deste relato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário