Comecemos com Mourão.
No dia 7 de
janeiro de 2024, por volta das 22h, a Rádio Jovem Pan levou ao ar uma
entrevista com o general Hamilton Mourão.
A entrevista
não era nova, foi feita em 16 de outubro do ano passado. Mas o conteúdo segue atualíssimo,
pois na entrevista o general-senador apresentava seu ponto de vista sobre o que
ocorrera no dia 8 de janeiro de 2023.
A entrevista
completa está aqui: https://www.bing.com/videos/riverview/relatedvideo?q=mour%c3%a3o+youtube+jovem+pan+outubro+2023&mid=0436ECEBCEAE56603D940436ECEBCEAE56603D94&FORM=VIRE
Vale a pena ver,
especificamente, o trecho que começa aos 28 minutos e 40 segundos.
Lá Mourão diz
frases mais ou menos assim: referindo-se ao caminhão que iria explodir o
aeroporto de Brasília, afirma que “nossos terroristas são tabajaras, deviam
pedir instrução para a turma do Hamas, seria mais eficiente”.
Sobre as manifestações,
diz que ocorreram “na hora e local errado”; o certo teria sido fazer “quando o
STF pegou e lavou” Lula, seria “aquela a hora de fazer”. Para ele, o 8 de
janeiro “foi uma manifestação que começa pacífica e termina numa baderna”.
O corolário
é quando Mourão pergunta, retoricamente, que tentativa de golpe de Estado seria
essa, “sem bala e sem defunto, sem força armada? Isso não existe, não morreu
ninguém”.
Abre colchetes:
não morreu ninguém, porque deu errado. E deu errado, entre outros motivos porque o presidente não
caiu na armadilha de convocar uma GLO. Nesse caso teria “força armada”, “bala”
e “defunto”. Fecha colchetes.
A linha de
Mourão, em toda a entrevista, mais especificamente neste trecho, é desvalorizar
o ocorrido no dia 8 de janeiro. Não teria sido uma intentona que pretendia desdobrar
em golpe, mas apenas uma manifestação que desdobrou em baderna.
Noutro
momento da entrevista, Mourão desanca o STF. Sobre isso voltaremos a falar logo
mais.
Passemos ao
Aldo Rebelo.
No dia 8 de
janeiro, Aldo Rebelo deu uma entrevista ao Poder 360.
Aldo Rebelo foi
candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Ciro Gomes, faz parte da
rede instituída em torno do General Villas Boas e foi durante muito tempo – não
sei se continua – alguém muito estimado pelo Ricardo Cappelli, que no momento
está respondendo pelo Ministério da Justiça.
A íntegra da
entrevista está aqui: Golpe
é “fantasia” para legitimar polarização, diz Aldo Rebelo (poder360.com.br)
Nessa
entrevista, Aldo diz o seguinte: “É óbvio que aquela baderna foi um ato
irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir
uma tentativa de golpe a aquele bando de baderneiros é uma desmoralização da
instituição do golpe de Estado”.
Não sei se foi
uma falha de edição ou um ato falho do entrevistado, mas é impagável ler esta preocupação em não desmoralizar a instituição do golpe de Estado. Ou seja: golpe de Estado seria
algo mais nobre do que a “baderna” de 8 de janeiro.
Nessa mesma
entrevista, Aldo também critica o STF, lembrando o papel do Supremo na
destituição de Dilma, ato que ele denomina de “erro histórico”. Segundo Aldo, “atribuir
ao STF a responsabilidade de protetor da democracia é dar à Corte uma função
que ela não tem nem de forma institucional, nem política”.
Abre
colchetes: Mourão, na entrevista já citada, reclama que o estado de Direito foi
rasgado no país, entre outros motivos porque – sempre segundo Mourão – no julgamento
dos envolvidos no dia 8 de janeiro se teria eliminado o devido processo legal,
inclusive as três instâncias e o princípio do juiz natural. Fecha colchetes.
Vejamos
agora o PCO
Segundo o
Brasil 247, em notícia publicada dia 5 de janeiro de 2024, o presidente do PCO,
Rui Costa Pimenta, teria dito o seguinte: "A meu ver, não houve tentativa
de golpe de estado".
E num artigo
de 6 de janeiro, o Diário da Causa Operária afirma que o ato “contra o golpe de
Estado” - organizado em Brasília por iniciativa do Presidente Lula - “se parece
muito como um preparo de golpe de Estado”.
Segundo o
mesmo artigo, “a falsa campanha contra o bolsonarismo, dirigida pelo STF, e
levada a cabo por todo esse bloco da direita tradicional, tem como um de seus
principais objetivos o aumento da repressão, principalmente da censura”.
E um dos
pretextos desta campanha seriam os “manifestantes que protestaram na Praça dos
Três Poderes em 8 de janeiro de 2022”.
Quem quiser
conferir, pode ler neste texto de 6 de janeiro: https://causaoperaria.org.br/2024/8-de-janeiro-de-2024-vem-ai-um-golpe-de-estado-de-verdade/
Muita coisa
poderia e deveria ser dita sobre as opiniões dos três personagens citados acima
– Rui, Aldo e Mourão – mas vou me focar numa só: os três minimizam o que ocorreu
no dia 8 de janeiro.
Na opinião
deles, teria sido apenas manifestação, protesto, baderna.
Dizer o
contrário, afirmar que teria ocorrido uma tentativa de golpe, seria manter o “olho
no retrovisor”, uma fantasia para “legitimar a polarização” ou para “aumentar a
repressão”.
Tentativas
fracassadas são mesmo difíceis de classificar. Se tivesse dado certo, ninguém
teria dúvida.
Tentativas
interrompidas também são difíceis de classificar. Se tivesse durado mais tempo,
não haveria motivo para dúvida.
Mas como foi
interrompido no início, sempre há espaço para uma discussão séria sobre como
classificar o ocorrido. Exemplo de discussão séria pode ser lida aqui: Militares
atuaram e se omitiram em 8 janeiro, diz historiador (apublica.org)
Entretanto, não
é por nenhum motivo aceitável que os cavernícolas negam que a intentona de 8 de janeiro de 2023 fazia
parte de uma operação golpista. Vale dizer que os motivos cavernícolas são da mesma natureza que
os motivos dos tucanos, quando negam que o impeachment contra Dilma foi um
golpe.
A questão é,
no fundo, bem simples: assumir que foi golpe é reconhecer que praticou
um crime. E, por tabela, criminosos são os que não fizeram nada, os que foram
cúmplices, os que estimularam.
Que Mourão
faça isso, óbvio.
Que Aldo
faça isso, também óbvio, tendo em vista o giro ideológico que ele vem fazendo
desde que encontrou José Bonifácio no alto da goiabeira.
Mas que o
PCO faça isto, não é tão óbvio, ao menos para quem ainda se ilude com as credenciais
da referida organização.
Sobre isso, falaremos noutro texto, onde comentaremos o artigo abaixo: Tome veneno, você não morrerá! • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)
Aldo Rebelo não foi candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes. O candidato a vice de Ciro em 2018 foi a Kátia Abreu e em 2022 Ana Paula Mattos. Aldo Rebelo foi candidato a senador pelo PDT em Sp no último pleito
ResponderExcluir