Dizem que há quatro forças fundamentais no Universo: gravidade, eletromagnetismo, força nuclear forte e força nuclear fraca.
Mas há uma
quinta força, sobre a qual ainda há controvérsias.
O Plano
Biden talvez tenha resolvido a questão.
Vejamos: é compreensível que os neoliberais tenham dificuldade de explicar o approach keynesiano das propostas de Biden.
Afinal, é
comum que os súditos colonizados sejam duplamente mais realistas do que o rei e, por isso, acreditem que a receita do consenso de Washington seja capaz de fazer os
Estados Unidos superarem sua crise interna e enfrentarem o desafio posto pela
China.
Também é compreensível
que a esquerda aproveite o plano Biden para reafirmar a inconsistência do neoliberalismo
e para enfatizar a necessidade (aqui no Brasil) de programas maciços de investimento
público.
Mas a esquerda não pode se limitar a isso, não podemos virar torcida de presidente gringo (que ontem era chamado de golpista e corrupto, e agora há quem chame de revolucionário e motivo de admiração). Afinal, há outros aspectos da questão que precisam ser observados. Por exemplo.
1/o objetivo
de Biden com este programa é – palavras dele – “liderar o mundo de novo”. Ou
seja: se “der certo”, teremos mais imperialismo, não menos imperialismo. E para que "dê certo", teremos imensos conflitos com China (e com Rússia e com todo o “eixo do mal”); e não menos conflitos. Portanto, existe um vínculo intenso entre a política interna e a
política externa de Biden. Separar as duas, dizer que uma seria ruim e a outra seria boa, é não perceber este vínculo;
2/o objetivo
de Biden não é reestruturar o capitalismo dos Estados Unidos (muito menos “revolucionar”,
como disse recentemente, num arroubo de entusiasmo, a companheira Gleisi Hoffmann). Não está em curso uma
redução do peso do capital financeiro, nem dos oligopólios, nem do complexo militar-industrial.
Portanto, mesmo que tudo "dê certo", serão necessariamente muito limitados os efeitos do “momento Biden” sobre a
desigualdade interna aos EUA e, principalmente, sobre a desigualdade entre as
nações;
3/Por fim, vamos
aguardar o que acontece na realidade, pois discurso por discurso, plano por
plano, Obama fez muitos. Aliás, Trump também, pois cá entre nós, Biden está buscando
um objetivo que também era de Trump: "Dinheiro de americanos vai ser usado
para comprar produtos americanos feitos nos EUA. É assim que deve ser e como
vai ser neste governo".
E esse
último ponto nos remete ao seguinte: quais os efeitos que este “momento Biden” podem causar no
Brasil, agora e no caso do PT voltar ao governo.
Sobre isso,
está em curso um debate no interior do Partido dos Trabalhadores, onde alguns confundem 1/o que está
ocorrendo nos Estados Unidos, 2/os desdobramentos externos da política interna
dos EUA, 3/os impactos potenciais disso tudo na política brasileira e 4/os impactos potenciais na
economia brasileira.
Acerca dos
últimos dois pontos, destaco o seguinte:
1/Biden foi uma
espécie de “terceira via” nos EUA, entre Trump e Bernie Sanders. E no Brasil, o
mais provável é que os EUA tentem contribuir para que surja uma “terceira via”
entre Bolsonaro e Lula. Claro, sempre pode acontecer deles ficarem sem alternativa.
Pensando nisso, já há na esquerda quem esteja querendo disputar as atenções do império. Mas
quem está pensando em fazer isso, esquece de um detalhe muito importante: o que é bom
para os EUA, não é bom para o Brasil...
2/... no caso concreto, não será bom porque as medidas adotadas por Biden, se tiverem sucesso lá, não terão desdobramentos
positivos aqui. Aqueles que sonham com CSN, com montadoras, com o que houve na China depois de 1978, não entenderam que o mundo mudou, que o capitalismo mudou, que os Estados Unidos mudaram e que o Brasil também mudou.
É compreensível que se queira acreditar noutra coisa. Pois, é claro, tudo seria mais fácil se pudéssemos contar com a mão amiga do império (e, quem sabe, com a mão forte dos nacionalistas das forças armadas).
Mas, infelizmente, isso é apenas efeito da quinta força do Universo: a ilusão.
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