Acho que a frase é do Tolstói, no Anna Kariênina: “todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”.
Mas no debate sobre o plano Biden, passa um pouco diferente: cada um é “feliz” também à sua maneira.
Há os que acham que o plano estaria “revolucionando o capitalismo”, há os que acham que se trataria de um “reformismo radical”, há os que falam de um “reformismo” que estaria enterrando o neoliberalismo, há quem apresente Biden como o "Lula estadounidense" e há – of course my horse - quem diga que Lula deveria ser o "Biden brasileiro".
Talvez por perceber que que a babação está meio over, Artur Araújo resolveu aplicar a técnica super eficiente e sempre divertida do Homer Simpson, a saber: “se a culpa é minha, eu ponho em quem eu quiser”. Em decorrência, vira-lata no fundo seria quem não defende “aplicarmos no Brasil os novos protocolos terapêuticos adotados pela maioria das nações, em particular Itália, Austrália, França, Coréia do Sul, Alemanha, Japão, Reino Unido, EUA. É bom para eles, para seus trabalhadores, e será bom para nós brasileiros”.
Vamos ao grão, tal como está exposto no texto “Viralatismo reverso, um vírus tabajara” (in: COMCIENCIA de 10 de maio de 2021, ao final coloco o endereço de acesso).
Segundo Artur, “foi necessária uma pandemia altamente contaminante e letal para provocar alterações qualitativas de orientações macroeconômicas e políticas que nem a Grande Recessão de 2009 tivera poder de provocar. Refiro-me não apenas ao Plano Biden – ou Planos, porque são várias iniciativas em distintos estados de formulação e implantação – mas também a mudanças, de ideias e de práticas, como as em curso na Itália, no Reino Unido, na União Europeia e em organismos internacionais como FMI e Banco Mundial. Se o colapso mundial iniciado em 2008 gerou uma forte intervenção estatal para suprimento de liquidez, socorro a instituições financeiras e, até, de suporte direto a grandes conglomerados privados, seguidos por um rápido retorno ao cânone liberal, o coronavírus traz em sua esteira a revisão de grande parte do conjunto dos princípios e normas que são fundamentos do neoliberalismo e que, ao que tudo indica, são revisões a vigorar por longo tempo”.
Confesso que não esperava ler, depois de dois parágrafos tão seguros, um cuidadoso “ao que tudo indica”. Talvez no fundo d’alma Artur lembre que: 1/as medidas adotadas, mesmo tomadas por seu valor de face, visam ativar a economia tal-como-ela-é, ou seja, controlada pelo capital monopolista financeiro et caterva; 2/portanto, mesmo que fosse verdade que estaria em curso uma revisão de “grande parte do conjunto de princípios e normas”, isto não significaria que os “fundamentos do neoliberalismo” serão tocados, se entendermos por “fundamentos”, entre outros, o controle da economia pelos oligopólios financeiros; 3/e mesmo que tudo corresse conforme desejado, ainda assim restariam duas questões: como se resolverá o conflito com a China e como ficará a relação com a periferia capitalista.
Este último detalhe me remete a algo que me intriga: até agora não vi um defensor do plano Biden negar que a política externa dos EUA segue/seguirá tão imperialista quanto sempre. Acontece que o imperialismo não é somente um fato militar, nem um fato político apenas. É também uma relação de subordinação da periferia ao centro. Relação que teve uma importância essencial em toda a história do capitalismo, inclusive em sua fase atual, neoliberal. Pergunto: estaria ocorrendo alguma “revisão” dos “princípios e normas” que regem a relação entre o centro e a periferia?
Ou isto é um detalhe, que não interessa a nós?
Voltando ao grão.
Artur afirma que “o primeiro elemento a ser destacado é a nítida percepção de que o Estado é elemento decisivo”; “em segundo lugar, cai por terra uma elaborada mitologia sobre finanças estatais”; em terceiro lugar, “paradas súbitas de demanda e produção, políticas estatais de socorro e suporte são a única possibilidade de evitar-se o caos e são os serviços públicos – quanto mais universais e gratuitos, melhor – a coluna vertebral de atendimento das populações de todas as faixas de renda e riqueza”; em quarto lugar, “afirma-se também a percepção de que tal alteração de normas e princípios é essencial para as tarefas do pós-pandemia”. E, finalmente - tremo de entusiasmo ao ler - “generaliza-se, adicionalmente, a convicção de que as mudanças são vitais para deter a tempo processos deletérios como os da hiperdualização disruptiva das sociedades; da acelerada crise ambiental e climática; e da hiperfinanceirização, que leva à redução acelerada do intervalo entre uma crise de reprodução ampliada e de realização dos capitais e a crise seguinte, que sempre está no horizonte imediato”.
Tenho a impressão de que a síntese de Artur está alguns graus de entusiasmo acima da vida real. Por sinal, ele mesmo tem suas dúvidas, como se pode ver no trecho que reproduzo a seguir: “abundam demonstrações de que vários pilares do liberalismo, da reaganomics, da TINA e do Consenso de Washington foram brutalmente abalados e tendem a ser substituídos por algo que se assemelha a um novo regime de acumulação no capitalismo global, ainda que preservadas a livre circulação de capitais, a dominância relativa e em queda do dólar dos EUA e o primado das finanças como fração hegemônica”.
Em resumo: acho que Artur exagera na
mão. Mas é compreensível, afinal seu objetivo ao exagerar na mão é polemizar com
as “elites”. Diz ele: “nossa convivência de décadas com o Complexo de Vira-Lata
que marca as 'elites' brasileiras diria que essa virada teórica e empírica nos
países centrais levaria a uma acelerada revisão do ultraliberalismo que domina
o país. Só que não. As fórmulas empregadas pelo liberalismo tabajara, para tentar impedir que
as novas ondas cheguem a nossas paradisíacas praias, vão do patético à mentira
aberta. Subitamente, o Postulado de Juracy – o que é bom para os EUA é bom para
o Brasil – é revogado e pululam “explicações” de por que, assim de repente, 'Brasil não é Estados Unidos.”
Talvez Artur fale em “travas” porque
ele parece inconformado com o fato das elites não perceberem que no fundo, no
fundo, poderiam sair ganhando mais ainda se mudassem um pouco de atitude. Vejam
o trecho: “Apesar da reiterada profissão de fé vira-lata, da admiração basbaque
pelo american way of life e pelas quinquilharias da
Flórida, nunca foram capazes de perceber uma das principais razões para os EUA
serem o que são: a mais aberta massificação do consumo interno e do acesso à
propriedade imobiliária, a potencialidade da acumulação de capital e de obtenção
de alta renda para os estratos superiores dos assalariados pela via dos gastos
da multidão.”
Artur, pelo visto, aderiu a mania de contar
a história de Chapeuzinho Vermelho, pulando a parte do lobo mau. Uma das “principais
razões” para os EUA serem o que são é o saque da riqueza alheia, seja sob a
forma colonialista do passado, seja sob a forma imperialista do presente. Disso
deriva a indústria da guerra, outra das “razões”. Uma terceira é a brutal
exploração, por séculos, da mão de obra escrava. E a não menos brutal
exploração da classe trabalhadora, que apesar de suavizada depois que os EUA
ascenderam à posição de hegemon, voltou a crescer muito no período neoliberal.
Pesando tudo isto, concluo que o "problema" das elites brasileiras vai muito além “da recusa reiterada e daninha a examinar o que se passa no mundo e a
propor uma versão brasileira da reorientação macroeconômica, política e social
em curso”.
Nem acho que o problema delas seja o “isolamento
paroquial, aldeão, causada pelo vírus do viralatismo reverso, que provoca
negação teimosa das mudanças corretas, necessárias e aceleradas por que passa o
mundo em pandemia e pós-pandêmico”.
O “problema” entre aspas das elites é que para sermos “um dos líderes do novo arranjo do capitalismo que se esboça”, seria necessário fazer pelo menos dois movimentos.
Um, de enfrentamento com os demais integrantes do “novo” arranjo, pois não há espaços vazios.
Outro, de coesão social interna, sem o que não será possível enfrentar os concorrentes/adversários/inimigos externos.
O primeiro movimento é de alto risco e os levaria a perder as posições atualmente ocupadas (primário-exportadoras), que como Artur mesmo reconhece, lhes garantem lucros maravilhosos.
O segundo movimento é ir contra a natureza mesma das elites. E como
eles suspeitam que não há lugar para dois Estados Unidos no mundo, e como não
têm vocação para sermos uma China, as elites preferem ficar onde estão.
Devemos odiar as elites brasileiras. Mas
não devemos subestimá-las. Elas são o que são, não principalmente por ignorância, mas
principalmente por interesse. E simplesmente não é de interesse delas mudar o
lugar do Brasil no mundo, pois os riscos são infinitamente maiores do que os possíveis ganhos.
Só para quem "não tem nada a perder" vale a pena correr estes riscos.
Aí vem a pergunta: será hora de “aplicarmos
no Brasil os novos protocolos terapêuticos adotados pela maioria das nações, em
particular Itália, Austrália, França, Coréia do Sul, Alemanha, Japão, Reino
Unido, EUA”? Será mesmo “bom para eles, para seus trabalhadores, e será bom para
nós brasileiros”?
Minha resposta é: o Brasil precisa de
protocolos terapêuticos diferentes. Pois nosso problema não é o de “liderar de
novo” o mundo. Nem é o de salvar o capitalismo de suas doenças crônicas.
E não vamos nos iludir: se a terapia salvar o monstro, o monstro vai continuar monstro. Estados Unidos mais forte não é “bom para nós brasileiros”. Afinal, nem o vira-lata de Adam Smith acreditava que a busca da felicidade individual das nações imperialistas seria capaz de produzir a felicidade geral de todas as nações e povos do mundo.
SEGUE O TEXTO CRITICADO.
https://www.comciencia.br/viralatismo-reverso-um-virus-tabajara/
Artur Araújo é especialista em gestão
pública e privada e consultor da Fundação Perseu Abramo e da Federação Nacional
dos Engenheiros.
VIRALATISMO
REVERSO, UM VÍRUS TABAJARA
Por Artur Araújo
Um país como o Brasil, com moeda
soberana bastante estável há décadas, com mercado interno de grandes
proporções, com razoável diversificação de parque produtivo, com abundância de
insumos básicos, com fortes vantagens demográficas, territoriais e climáticas –
e que só não transforma esses vetores em desenvolvimento com acelerada redução
de desigualdades e clara orientação de sustentabilidade por força de travas
ideológicas austericidas autoimpostas – é um país que tem que ser um dos
líderes do novo arranjo do capitalismo que se esboça. Porque pode ser e porque
precisa ser.
Foi
necessária uma pandemia altamente contaminante e letal para provocar alterações
qualitativas de orientações macroeconômicas e políticas que nem a Grande
Recessão de 2009 tivera poder de provocar. Refiro-me não apenas ao Plano Biden
– ou Planos, porque são várias iniciativas em distintos estados de formulação e
implantação – mas também a mudanças, de ideias e de práticas, como as em curso
na Itália, no Reino Unido, na União Europeia e em organismos internacionais
como FMI e Banco Mundial.
Se o colapso mundial iniciado em 2008
gerou uma forte intervenção estatal para suprimento de liquidez, socorro a
instituições financeiras e, até, de suporte direto a grandes conglomerados
privados, seguidos por um rápido retorno ao cânone liberal, o coronavírus traz
em sua esteira a revisão de grande parte do conjunto dos princípios e normas
que são fundamentos do neoliberalismo e que, ao que tudo indica, são revisões a
vigorar por longo tempo.
O primeiro elemento a ser destacado é
a nítida percepção de que o Estado é elemento decisivo, para intervenção direta
em todas as esferas da vida social e para coordenação de ações em quadros
complexos como o de uma pandemia. Não há mercado que dê conta dos desafios
colocados por fenômenos de forte alcance coletivo, porque a anarquia
característica da competição entre infinitos pequenos interesses privados
impede qualquer resultante convergente e acelerada, que enfrente eficazmente os
múltiplos problemas que afloram simultaneamente.
O “Estado mínimo”, se tivesse
continuado a operar, teria levado a mortandade em escala muito superior à dos
já horrendos mais de 3 milhões de humanos. O Estado revelou-se imprescindível
e, ainda mais importante, revelou-se que tem que ter porte e instrumental que
lhe permitam agir decisivamente.
Em segundo
lugar, cai por terra uma elaborada mitologia sobre finanças estatais.
Subitamente, bobagens interesseiras como a da equiparação de governos emissores
de moeda soberana a famílias e empresas usuárias dessa moeda revelam-se a
falácia que sempre foram e os trilhões de dólares corretamente emitidos, mundo
afora, para deter um colapso generalizado não provocam nenhum dos efeitos
apocalípticos com que a ortodoxia liberal nos ameaçava.
Uma terceira revelação é também
impactante: em paradas súbitas de demanda e produção, políticas estatais de
socorro e suporte são a única possibilidade de evitar-se o caos e são os
serviços públicos – quanto mais universais e gratuitos, melhor – a coluna
vertebral de atendimento das populações de todas as faixas de renda e riqueza.
A partir dessas constatações, que se
generalizam e ganham status de “nova verdade revelada” (ainda que fossem
conhecidas e propagadas há décadas por todos os críticos do liberalismo), afirma-se
também a percepção de que tal alteração de normas e princípios é essencial para
as tarefas do pós-pandemia.
Generaliza-se, adicionalmente, a
convicção de que as mudanças são vitais para deter a tempo processos deletérios
como os da hiperdualização disruptiva das sociedades; da acelerada crise
ambiental e climática; e da hiperfinanceirização, que leva à redução acelerada
do intervalo entre uma crise de reprodução ampliada e de realização dos
capitais e a crise seguinte, que sempre está no horizonte imediato.
A política econômica de endividamento
em “moeda estrangeira” (euros que a Itália não emite) do ex-falcão austericida
Mario Draghi para recolocar o país nos trilhos; os planos de reindustrialização
franco-alemã; as loas ao NHS e a criação de instrumentos de intervenção
econômica estatal em P&D e de planejamento da produção no Reino Unido; o
Plano Biden e sua versão Bruxelas: abundam demonstrações de que vários pilares
do liberalismo, da reaganomics, da TINA
e do Consenso de Washington foram brutalmente abalados e tendem a ser
substituídos por algo que se assemelha a um novo regime de acumulação no
capitalismo global, ainda que preservadas a livre circulação de capitais, a
dominância relativa e em queda do dólar dos EUA e o primado das finanças como fração
hegemônica.
Emissão
monetária; endividamento em moeda própria, tributação progressiva; forte
taxação de grandes rendas, patrimônios e heranças; investimentos estatais;
recuperação dos serviços públicos universais; programas de renda; políticas
industriais; Estado planejador e interventor. É longa e positiva a lista dos
assuntos que foram retirados do index prohibitorum vigente
desde a década de 1980. Valores de gastos estatais expressos em bilhões de
dólares passam a ser normalidades no noticiário.
Nossa convivência de décadas com o
Complexo de Vira-Lata que marca as “elites” brasileiras diria que essa virada
teórica e empírica nos países centrais levaria a uma acelerada revisão do
ultraliberalismo que domina o país.
Só que não.
As fórmulas
empregadas pelo liberalismo tabajara, para tentar impedir que as novas ondas
cheguem a nossas paradisíacas praias, vão do patético à mentira aberta.
Subitamente, o Postulado de Juracy – o que é bom para os EUA é bom para o
Brasil – é revogado e pululam “explicações” de por que, assim de repente,
“Brasil não é Estados Unidos”.
É evidente que a dimensão da economia
estadunidense, seu poderio militar e geopolítico, seu grau de interação nas
cadeias produtivas e nos circuitos financeiros globais são muito distintos
daqueles que nos caracterizam. Mas, no que importa para o aqui e agora e mesmo
a médio prazo, são muito mais distinções de escala do que de conteúdo.
Um país com moeda soberana bastante
estável há décadas, com mercado interno de grandes proporções, com razoável diversificação
de parque produtivo, com abundância de insumos básicos, com fortes vantagens
demográficas, territoriais e climáticas – e que só não transforma esses vetores
em desenvolvimento com acelerada redução de desigualdades e clara orientação de
sustentabilidade por força de travas ideológicas austericidas autoimpostas – é
um país que tem que ser um dos líderes do novo arranjo do capitalismo que se
esboça. Porque pode ser e porque precisa ser.
Há uma
dupla carapaça que envolve os farialimers em
suas diversas versões – a da rapaziada dos bancos, fintechs e corretoras; a do “jornalismo” econômico
dos veículos de comunicação grandes; a dos industriais embaladores; a dos
varejistas do contrabando e da sonegação; a dos burocratas de porta-giratória;
a dos acadêmicos a soldo – bloqueando até mesmo o debate inteligente sobre
alternativas ao que eles têm imposto ao país, com resultados de pífios a
desastrosos.
A primeira casca, evidentemente, é a
da obscena taxa de retorno que vêm obtendo desde o golpe parlamentar de 2016,
principalmente graças à celerada e acelerada desregulamentação, desproteção,
perda de direitos, perda de poder reivindicatório e queda estrutural do preço
da força de trabalho que atingem os trabalhadores. Lucram com a miséria de
multidões e preferem acumular capital via exacerbação de sua fatia na
repartição do excedente a buscar ganhos de escala em um mercado de massas que
viesse a ter forte demanda efetiva. O curtoprazismo e uma postura predatória
são marcantes. Se tudo capotar, se o país for se tornando uma entidade
incoerente, disfuncional e sujeita a coerção crescente, Miami aí vamos nós.
Há, no entanto, uma casca subjacente
que beira a patologia social. É a notória demofobia, que marca desde os
representantes diretos do grande capital até parcelas significativas das
camadas médias tradicionais (e mesmo boa parte da pretensa “nova classe média”
cantada em prosa e verso até 2015), passando pelos aparatos de Estado via as
“elites do funcionalismo”, com ênfase no Judiciário, no Ministério Público e em
determinadas carreiras do executivo, no topo da escala de remuneração e poder
fático.
Esse combo de frações de classes e
corporações tem um horror atávico à presença do povo em “seus” espaços, das
boas escolas aos bons hotéis e aos bons empregos. Para eles , a “distinção” tem
valor de uso, a posição relativa importa tanto quanto – por vezes, mais do que
– o ganho material absoluto que auferem. Apesar da reiterada profissão de fé
vira-lata, da admiração basbaque pelo american way of life e
pelas quinquilharias da Flórida, nunca foram capazes de perceber uma das
principais razões para os EUA serem o que são: a mais aberta massificação do
consumo interno e do acesso à propriedade imobiliária, a potencialidade da
acumulação de capital e de obtenção de alta renda para os estratos superiores
dos assalariados pela via dos gastos da multidão.
São essas
duas carapaças que abrigam e propagam a segunda epidemia que assola o Brasil, a
da recusa reiterada e daninha a examinar o que se passa no mundo e a propor uma
versão brasileira da reorientação macroeconômica, política e social em curso.
É a epidemia do isolamento paroquial,
aldeão, causada pelo vírus do viralatismo reverso, que provoca negação teimosa
das mudanças corretas, necessárias e aceleradas por que passa o mundo em
pandemia e pós-pandêmico.
O Brasil, como muito já se disse, não
é um país para principiantes ou amadores: temos muita capacidade de criar
inusitados, até um certo orgulho de nossas jabuticabas. No entanto, a súbita
reversão do viralatismo, o rompimento do alinhamento automático à matriz – que
eram demandas vitais e progressistas no passado até recentíssimo – agora é má
novidade.
Ironia das ironias: fecho o texto
afirmando que é hora de combatermos sem tréguas o vírus tabajara do viralatismo
reverso e de aplicarmos no Brasil os novos protocolos terapêuticos adotados
pela maioria das nações, em particular Itália, Austrália, França, Coréia do
Sul, Alemanha, Japão, Reino Unido, EUA.
É bom para eles, para seus
trabalhadores, e será bom para nós brasileiros.
Artur Araújo é especialista em gestão
pública e privada e consultor da Fundação Perseu Abramo e da Federação Nacional
dos Engenheiros.
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