28 de abril de 2021, 23h16: “Biden revolucionando a economia capitalista. Nunca pensei que depois de Franklin Delano Roosevelt, admiraria um presidente americano: crescimento de baixo para cima! É o q precisamos para a América Latina. É o que precisamos para o Brasil!”
As
palavras são da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Biden
é aquele cidadão que, na condição de vice-presidente de Obama, operou a favor
do golpe no Brasil.
Não
consigo ver como “admiraria” alguém assim.
Seja
como for, será mesmo verdade que Biden estaria “revolucionando a economia
capitalista”?
Biden
está chegando aos 100 dias de governo.
Tem
a seu favor o antecessor.
Tipo
Clinton e Bush pai.
Tipo
Obama e Bush filho.
Mas
o que foi mesmo que Biden teria feito nesses 100 dias que possa ser chamado de “revolucionário”?
Na
defesa e na política externa não fez nada de “revolucionário”, pelo contrário.
Aliás,
os que comparam Biden com FDR deveriam lembrar que a salvação da economia dos
EUA não veio do New Deal, mas sim dos gastos com a segunda guerra mundial.
E
Biden, coerentemente, está forçando a mão sobre chineses e russos, para não
falar de venezuelanos e cubanos.
Sigamos.
Pelo
menos por enquanto, Biden tampouco fez algo “revolucionário” no trato dos
migrantes, embora no seu discurso ao Congresso dos EUA ele tenha defendido “acabar
com nossa exaustiva guerra contra a imigração”.
Mas
vejamos o resto da obra.
O
Plano de Resgate Americano, o American Jobs Plan e o American Families Plan incluem
uma série de medidas que atendem setores populares, através de programas
sociais, de seguro-desemprego, de alimentação, moradia, educação, meio ambiente,
infraestrutura etc.
Não
importa o quanto isto é feito por convicção, o quanto é resultado da pressão da
esquerda, o quanto é feito para tentar ganhar as eleições intermediárias e a
reeleição que estão logo ali.
Mas
importa sim saber o quanto disto vai virar realidade e o quanto vai ficar só no
discurso.
Afinal,
não bastam ordens executivas do presidente, é preciso aprovação no Congresso.
Mas
suponhamos que tudo seja aprovado.
Pergunto:
este programa seria capaz de “revolucionar a economia capitalista”??
Confesso
que não sei exatamente o que a companheira Gleisi quis dizer com isso – além de
manifestar seu entusiasmo e sua admiração por Biden – mas o que Biden discursou
e colocou nos seus planos não é propriamente uma “revolução”.
Trata-se
de uma política de investimento público na ampliação dos gastos das famílias, dos
governos e das empresas.
Uma
versão moderada das políticas keynesianas adotadas em muitos lugares do mundo, especialmente
entre 1945 e 1970.
E,
neste contexto, uma tentativa de recompor o que foi decomposto. Não uma “revolução”,
seja lá o que entendamos por isso.
Como
me escreveu uma amiga, a “taxação das grandes
fortunas proposta por Biden não vai mudar substancialmente a desigualdade de
renda nos EUA”, servindo apenas para financiar os programas de curto/médio
prazo que ele está propondo”.
Tampouco Biden estaria propondo uma nova “regulação
para Wall Street”.
Além disso, “Biden quer manter o lucro do setor
farmacêutico e das seguradoras privadas”.
E passa longe de criar um “sistema público de
saúde de verdade tipo SUS ou NHS”, além de não querer “quebrar as patentes das
vacinas”.
Considerando o conjunto da obra, não sei como chamar
tudo isso de “revolucionário”.
Muito menos consigo entender como estas medidas
proporcionariam um “crescimento
de baixo para cima”.
Os
EUA são uma economia comandada pelo grande capital, oligopolista, financeiro,
imperialista.
E
estão numa baita crise.
Alguém
acredita mesmo que eles vão sair desta crise com “crescimento de baixo para
cima”, seja lá o que isto quer dizer?
Mas
claro: quem acredita que foi o New Deal de FDR que alavancou a economia dos EUA
– e não a guerra – pode acreditar em conto parecido.
No
final de seu tuite, a companheira Gleisi Hoffman afirma: “É o q precisamos para
a América Latina. É o que precisamos para o Brasil!”
Suponho que ela esteja se referindo ao “crescimento de baixo para cima” e não ao admirado Biden,
nem ao suposto “revolucionando a economia capitalista".
Afinal,
a América Latina e o Brasil precisam de menos capitalismo, não de mais capitalismo.
E
precisamos de menos influência gringa, não de mais influência gringa.
E
é triste ver tanta gente de esquerda cometendo, frente a Biden, erro parecido
ao que foi cometido, noutros tempos, frente a Clinton e frente a Obama.
As
políticas de empoderamento do imperialismo nunca provocam efeitos verdadeiramente
positivos nos países submetidos ao imperialismo.
Aliás,
basta ler o discurso de Biden feito ontem, 28 de abril.
Exemplo:
"Enquanto nosso estoque de vacina cresce para atender as nossas
necessidades, e está atendendo, vai se tornar um arsenal para vacinas para
outros países, assim como a América é um arsenal de democracia para o
mundo."
Destaque:
“A América é um arsenal de democracia para o mundo”.
Sabemos
o que isso significa.
Outro
exemplo: "Dinheiro de americanos vai ser usado para comprar produtos americanos
feitos nos EUA. É assim que deve ser e como vai ser neste governo".
Também
sabemos o que isso significa e seus efeitos no resto do mundo.
Terceiro
exemplo: "Estamos prontos para decolar de novo, para liderar o mundo de
novo”.
Obama,
Trump, disseram coisas parecidas.
É
o imperialismo lutando para continuar mantendo seu poder.
Frente
a isto, a classe dominante colonizada fará o que sempre fez: se submeter e se
adaptar.
Mas
a esquerda não pode raciocinar desta forma.
Nem
podemos achar que deveríamos fazer aqui no Brasil algo similar ao que Biden
estaria fazendo nos EUA.
Entre
outros motivos, porque há muitas diferenças fundamentais entre os EUA e o
Brasil.
Os
Estados Unidos são um país imperialista, o principal país capitalista do mundo,
que entre outras coisas possui uma moeda que tem o “exorbitante privilégio” de
ainda ser a principal moeda nas transações internacionais.
Isso
tudo dá ao governo dos EUA uma margem de manobra muito maior do que a nossa.
Aqui não tem como fazer omelete sem quebrar muitos ovos.
Mas,
claro, é sempre melhor viver no mundo do pensamento mágico, segundo o qual tudo
que conspirava contra nós antes, agora vai nos ajudar a “chegar lá”.
O
STF, a direita gourmet, as forças armadas, os meios de comunicação, os
capitalistas... e, claro, o “bom exemplo” dos Estados Unidos de Biden.
Talvez
alguém ache que prometendo ser como Biden a gente se torne mais palatável.
Do
meu lado, prefiro manter total distância de qualquer coisa que me recorde o Juraci
Magalhães, embaixador brasileiro nos Estados Unidos no governo do ditador
Castello Branco e autor da frase lapidar: "O que é bom para os Estados
Unidos é bom para o Brasil".
ps. em 18 de novembro de 2020, a opinião de Gleisi sobre Biden era bem mais realista, como se pode ler abaixo.
Alerta vermelho: muito grave admitir como benéficas para quem quer que seja no mundo, exceto os próprios,as ações norte americanas.
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