sábado, 11 de abril de 2015

Entrevista concedida à jornalista da revista Isto É

Abaixo, a íntegra das perguntas e respostas dadas à jornalista Josie Jeronimo, da revista IstoÉ, no dia 8 de abril de 2015.


1- O “Lulismo” (entendido como um pacto centrado na figura carismática de Luiz Inácio Lula da Silva, com foco na inclusão social via consumo e programas de transferência de renda e política de “ganha-ganha” entre diferentes segmentos da sociedade) reduziu o papel partidário do PT nos últimos cinco anos?

Não concordo que o "lulismo" seja um pacto. 

Para que haja pacto, é preciso que as partes estejam de acordo. E é evidente que uma parte da sociedade brasileira não está de acordo com as políticas adotadas no segundo governo Lula. 

A rigor, os capitalistas brasileiros toleraram a melhoria de vida experimentada pelo povo, porque na mesma época as condições permitiram que sua lucratividade continuasse crescente.

Assim que as condições mudaram, a tolerância acabou. Ou seja: nunca houve pacto. 

Se o "lulismo" não é um pacto, o que ele é então?

Há quem ache que o "lulismo" é uma estratégia de melhorar a vida do povo através de politicas públicas, sem fazer reformas estruturais.

Mas esta definição de "lulismo" seria 100% igual a definição da estratégia adotada pela maioria do PT entre 1995 e 2015. Portanto, é uma definição que faria do "lulismo" algo quase igual ao "petismo".

Da minha parte, entendo o "lulismo" como um fenômeno social: trata-se de milhões de pessoas que tem Lula como primeira e principal referência. Ou seja, podem ser petistas ou sem partido, cutistas ou sem sindicato, mas acima de tudo tem Lula como referência.

Se "lulismo" for isto, então minha resposta a tua pergunta (se o "lulismo" reduziu o papel do PT) seria a seguinte: do ponto de vista tático, nos últimos 5 anos o "lulismo" ajudou o PT.

E nosso desafio é, era e continuará sendo transformar o "lulismo" em "petismo, ou seja, fazer com que estes milhões que tem uma pessoa como referência, passem a ter um partido como referência.

Completando: só há dois jeitos de superar o "lulismo". Ou pela direita, destruindo-o, como pretende o PSDB. Ou pela esquerda, superando-o, através de sua transformação em petismo.


2- Críticos do Lulismo afirmam que as políticas do ex-presidente garantiram inserção de grande parcela da população da esfera do consumo sem transformar essas conquistas em direitos. A movimentação do governo de revisar direitos trabalhistas e previdenciários dá razão a esses críticos?

Como expliquei na resposta anterior, esta definição que voce adota acerca do que seria o lulismo é diferente da minha.

O que voce chama de "lulismo" é uma estratégia de melhorar a vida do povo através de politicas públicas, sem fazer reformas estruturais, sem elevar de maneira correspondente os níveis de consciência, organização e mobilização da sociedade. 

Mas esta definição de "lulismo" seria 100% igual a definição da estratégia adotada pela maioria do PT entre 1995 e 2015. Portanto, seria uma definição que faria do "lulismo" algo quase igual ao "petismo".

Meu entendimento é que para continuar melhorando a vida do povo, será preciso fazer reformas estruturais (como a tributária, a política e a democratização da mídia). Ou seja, para continuar melhorando a vida do povo será necessário que o PT adote outra estratégia.

Como o PT não mudou de estratégia até agora, um dos resultados práticos é o que está ocorrendo hoje no governo Dilma: ganhamos pela quarta vez as eleições presidencial, mas a direita controla o Congresso Nacional e a maior parte dos meios de comunicação.


3- Os baixos índices de aprovação da presidente Dilma Rousseff e os movimentos das ruas que expressam um sentimento de “antipetismo” indicam um fim do Lulismo? Qual a saída para a crise, resgatar os pilares da administração de Lula ou formular novos caminhos?


Os ataques contra o governo decorrem de várias causas, entre as quais a política econômica de mister Levy.

Já os ataques contra o PT decorrem, simultaneamente, de nossas realizações e de nossas limitações.

Tivemos êxito em ampliar o bem-estar social, a democracia e a soberania nacional. E é este êxito que explica termos conseguido vencer quatro eleições presidenciais seguidas.

Mas não fomos capazes de realizar transformações estruturais, que retirassem do grande capital o controle sobre as alavancas fundamentais da economia e da politica brasileira.

Controlando estas alavancas, a oposição de direita, o oligopólio da mídia e o grande capital desencadearam uma ofensiva geral que inclui a desmoralização política e ideológica do petismo, o estímulo à sabotagem por parte de setores da base aliada, a pressão para que o governo aplique o programa dos que perderam a eleição, a mobilização de massas dos setores conservadores, a ameaça permanente de impeachment e a promessa de nos derrotar eleitoralmente em 2016 e 2018.

A saída para esta situação é o PT mudar de estratégia, construir uma frente democrático-popular, reocupar as ruas e convencer o governo a mudar de política, a começar pela política econômica.

Se isto for feito, poderemos mudar mais do que o Brasil mudou até agora.

Se isto não for feito, correremos o risco da volta da pior direita. E aí não será apenas o "lulismo" e o petismo que correrão riscos, mas sim a democracia brasileira, o bem-estar de nosso povo, a soberania de nosso país e a integração regional.



4- Há entre cidadãos da “nova classe média” a consciência de que as conquistas sociais da última década se relacionam a escolhas administrativas dos governos do PT?

Os setores sociais que melhoraram de vida, desde 2003, graças às políticas sociais dos governos Lula e Dilma, não são uma "nova classe média". São parte da classe trabalhadora. 

Considero que parte importante destas pessoas não vincula sua melhoria de vida com as políticas públicas de nossos governos.

Este é um dos motivos pelos quais defendemos que é preciso mudar a estratégia do PT, para que a melhoria das condições de vida do povo seja acompanhada por maior nível de consciência, organização e mobilização.  

Um comentário:

  1. Que tal o PT mobilizar sua militância para contribuir mensalmente na manutenção da política decomunicação do Partido?....Pra quem tem mais de 1 milhão de filiados, mobilizar 10% daria uma ótima arrecadação para bancar os órgão de comunicação do PT.

    Imagine 100 mil filiados com contribuição de R$ 3,00 ao mês = 300 mil!...

    Por que a direção nã toma essa iniciativa. É vital e extremamente necessária para enfrentar essa ofensiva da Oposição de Direita na guerra de aniquilamento do PT.

    Eles fizeram a proposta da guerra de aniquilamento. Pois bem, o PT aceita a proposta e dá a eles a guerra de aniquilamento.

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