Roteiro de palestra sobre “o pensamento de Lênin”
A primeira parte (o resumo biográfico) foi escrita em 2001, como subsídio a uma homenagem que a tendência petista Articulação de Esquerda fez a Lênin e a Comuna de Paris.
Esse desenvolvimento desigual do capitalismo, evidente durante a nova expansão colonial do final do século 19 e início do século 20, provocou uma evolução histórica não prevista.
Elaborado para apresentação durante
a primeira turma do curso internacional de formação de formadores em inglês
Introdução
Este texto é composto de quatro
partes. A primeira faz um resumo da biografia de Lênin. A segunda apresenta as
obras completas de Lênin. A terceira faz um resumo da trajetória da revolução
russa. A quarta e última parte propõe uma análise da contribuição de Lênin ao
pensamento socialista.
A primeira parte (o resumo biográfico) foi escrita em 2001, como subsídio a uma homenagem que a tendência petista Articulação de Esquerda fez a Lênin e a Comuna de Paris.
Resumo biográfico
Vladimir Ilitch Uliánov nasceu em
Simbirsk (cujo nome foi alterado posteriormente para Ulianovsk), em abril de
1870.
Seu pai era inspetor de escolas
primárias; morreu quando Vladimir tinha 16 anos. Sua mãe e irmãs foram
companhias constantes, inclusive no exílio interno e externo.
Aos 17 anos, Vladimir perdeu seu
irmão mais velho: Alexandre Ulianov foi executado em maio de 1887 por ter participado
de uma conspiração contra a vida do czar Alexandre III.
Em julho do mesmo ano, Vladimir
concluiu seus estudos secundários. E, em agosto, ingressou na Faculdade de
Direito de Kazan, de onde foi expulso em dezembro, devido ao envolvimento no
movimento estudantil.
Passou então alguns anos sob
"liberdade vigiada", quando aproveitou para estudar sistematicamente
o marxismo. Nesse período, travou contato com representantes das diferentes
correntes revolucionárias existentes na Rússia de então, a principal das quais
era o "populismo".
A tradição principal do
"populismo" acreditava ser possível construir o socialismo na Rússia,
sem passar pelo capitalismo, tomando como ponto de partida a comunidade
camponesa russa.
O "populismo" assumiu
várias formas, como a "ida ao povo", quando milhares de estudantes,
intelectuais, jovens, dirigiram-se às aldeias camponesas; e o
"terrorismo", para quem matar o Czar desestruturaria o absolutismo
russo.
Parte da tradição populista
desembocou posteriormente no Partido Socialista-revolucionário (SR), de fortes
raízes no campesinato. A ala esquerda dos SR participará da revolução de
outubro de 1917, aliada aos bolcheviques.
Em 1892, Vladimir recebeu o diploma
de advogado, após ter prestado exames como "aluno avulso".
O “disfarce” de advogado foi útil
quando, na São Petersburgo de 1893 a 1895, Lenin passou a frequentar círculos
de debate, a tomar contato com o movimento operário e a escrever seus primeiros
textos, em que combatia as idéias do populismo e do chamado marxismo legal.
O "marxismo legal"
adotava os pontos de vista do marxismo, mas na prática servia-se destas idéias
para fazer a apologia do desenvolvimento capitalista.
Uma obra representativa deste
período é o livro Quem são os
"Amigos do povo" e como lutam contra os social-democratas.
Em 1895, Vladimir (que chamaremos a
partir de agora pelo “nome de guerra” com que se tornaria mundialmente
conhecido: Lenin) viajou ao exterior e contatou o grupo Emancipação do
Trabalho, dirigido por George Plekhanov, decano do marxismo russo.
Quando regressou do exterior, Lenin
ajuda na fundação da União de Luta pela Emancipação da Classe Operária.
Em 9 de dezembro de 1895, foi preso.
Será "libertado" em
fevereiro de 1897 e mandado para o exílio interno (Sibéria), onde permaneceu
durante três anos. Neste período, casou-se com Krupskaya, que será sua
companheira até a morte.
Desta época de prisão e exílio
interno datam algumas obras importantes, como As tarefas da social-democracia russa (1897) e O desenvolvimento do capitalismo na Rússia (1899).
É também durante o exílio interno
que Lenin tomará contato e criticará duramente as posições do chamado
economicismo.
O "economicismo" supervalorizava
a importância da luta econômica, subestimava a importância da luta política, da
teoria revolucionária e dos intelectuais.
Em 1900, Lenin regressou do exílio
interno e, em comum acordo com outros social-democratas, dedicou-se a organizar
um jornal, a quem atribuia o papel de "organizador coletivo" da
social-democracia russa.
Para concretizar tal projeto, Lenin
parte para o exterior, onde em acordo com o grupo de Plekhanov lança um jornal
chamado Iskra ("da fagulha brotará a chama") e uma revista
teórica chamada Zaria.
Os próximos anos da vida de Lenin
serão passados no exterior, em cidades como Londres, Munique, Genebra, Paris e
Varsóvia.
A primeira edição da Iskra, datada de dezembro de 1900, traz
o editorial de Lenin, intitulado: "Tarefas urgentes de nosso
movimento".
As idéias difundidas pela Iskra tornam-se majoritárias na
social-democracia russa, mas também geram duras críticas provenientes dos
economicistas e de outros grupos.
Lenin respondeu a estas críticas
num conhecido livro, intitulado Que
fazer?, que veio a público em 1902.
O II Congresso do Partido Operário
Social-democrata Russo (POSDR), realizado em 1903 no exterior, constitui uma
grande vitória do grupo que editava Iskra.
Mas no curso do congresso, o grupo
de Iskra sofre uma cisão. O motivo
foi uma polêmica de natureza aparentemente organizativa: o artigo primeiro do
estatuto partidário, que definia quem podia ser considerado membro do partido.
Lenin era favorável a uma posição
mais restrita: militante do partido era aquele que participava de um organismo
partidário. Não bastava "simpatizar".
Os delegados ligados a Lenin perdem
esta votação. Do outro lado estão Martov (amigo e da mesma geração de Lenin) e
grupos contrários a Iskra.
Mas alguns delegados que haviam apoiado
Martov na polêmica do estatuto acabam retirando-se do Congresso. Com isto, no
momento de compor a direção do POSDR, o grupo de Lenin encontrava-se em
maioria.
Deste episódio surgem os
"bolcheviques" (majoritários) e os "mencheviques"
(minoritários), que posteriormente se transformarão em "frações" do
POSDR e, depois, em partidos autônomos.
Lenin escreveu um balanço detalhado
do II Congresso do POSDR no livro Um
passo adiante, dois passos atrás, publicado em 1904.
Pouco depois do II Congresso, estoura
a revolução russa de 1904-1905.
O balanço que Lenin faz desta
revolução esclarece o fundo político das diferenças entre bolcheviques e
mencheviques. Tal balanço está no livro Duas
táticas da social-democracia na revolução democrática (1905).
Derrotada a revolução, inicia-se um
período de reação em todos os terrenos, inclusive teórico-ideológico.
Dentre os bolcheviques, a
influência de Lenin é contestada por vários outros, entre eles Bogdanov.
Contra as idéias que Bogdanov
ajudava a difundir, Lenin escreveu a obra Materialismo
e empirocriticismo, publicada em 1909.
Quanto estoura a guerra
(1914-1918), a maioria dos partidos socialistas é tomada pelo nacionalismo e
vota a favor dos "créditos de guerra".
Lenin faz parte da minoria
internacionalista. Em 1915, escreve A
bancarrota da II Internacional. Em 1916, conclui O imperialismo, etapa superior do capitalismo, onde desenvolve a
tese de que a Rússia seria o "elo mais fraco" da cadeia imperialista.
Em 1917, logo depois da revolução
de fevereiro, Lenin surpreende seus antigos camaradas com a defesa -- que
alguns consideram contraditória com o que havia exposto no livro Duas táticas -- da consigna "todo
poder aos sovietes", defesa feita, por exemplo, nas conhecidas Teses de Abril.
Também no ano da revolução Lenin escreveu,
entre agosto e setembro, o livro O Estado
e a revolução, onde desenvolve "a doutrina marxista do Estado e as
tarefas do proletariado na Revolução".
Lenin cumpriu um papel decisivo ao
longo de 1917 e até 1924, na tomada do poder, na guerra civil, na organização
da Internacional Comunista e na construção das bases do Estado soviético.
Uma das obras escritas neste
período é Esquerdismo, doença infantil do
comunismo (1920).
Lenin sofreu pelo menos dois
atentados a bala, o segundo dos quais (em 30 de agosto de 1918) teve êxito. A
bala foi disparada por uma socialista-revolucionária. A saúde de Lenin, que já era
relativamente precária, piora depois do atentado.
Em 21 de janeiro de 1924, Lenin
morreu. A autópsia revelou uma arteriosclerose generalizada.
Lenin deixou um
"testamento", em que fazia duras críticas aos principais dirigentes
do Partido. Entre as críticas, um pedido direto: que Stálin fosse substituído
na secretaria-geral do partido por alguém mais respeitoso com os camaradas.
O Comitê Central do PCR(b) decide,
por 30 votos a 10, que o testamento não seria lido no plenário do XII Congresso
do Partido. Mas o testamento é lido numa reunião de velhos bolcheviques. Stálin
oferece seu pedido de demissão. A maioria dos presentes à reunião pede que ele
continue no cargo.
Anos depois, Stálin proferirá
algumas palestras acerca do pensamento de Lenin na Universidade Sverdlov. Estas
palestras são reunidas num livro denominado Fundamentos
do leninismo. Também nos anos 1920, um comunista brasileiro chamada Otávio
Brandão utiliza – ao que parece pela primeira vez -- o termo
marxismo-leninismo.
As obras completas de Lenin
Esta segunda é parte de um roteiro
de estudo, elaborado a partir da leitura das Obras Completas feita durante o ano de 2013.
Lenin foi chefe de Estado e
dirigente partidário, mas sua principal atividade foi escrever.
Suas Obras Completas – que não incluem todos os seus textos – constituem
uma coleção de 50 volumes de (em média) 500 páginas cada, no formato 14x21.
As Obras Completas de Lenin estão disponíveis em várias línguas, entre
as quais o russo, o inglês e o espanhol. Desde os anos 1990, não conhecemos reedições.
Mas as obras mais conhecidas continuam sendo publicadas, em várias línguas.
Nas Obras Completas há:
a) rascunhos (as vezes em várias
versões) de outros textos;
b) cartas, não apenas para
militantes, mas também para familiares e pessoas com quem Lenin mantinha relacionamento
político ou profissional (por exemplo, editores);
c) material jornalístico, para as
muitas publicações com as quais Lênin contribuiu entre 1894 e 1924;
d) livros completos;
e) resenhas e notas taquigráficas
de palestras e discursos feitos por Lênin.
Os principais temas abordados por
Lênin foram:
a) a questão agrária e sua relação
com o desenvolvimento capitalista na Rússia;
b) o papel da classe operária russa,
seu papel de vanguarda na evolução da Rússia;
d) o papel do partido e da
intelectualidade revolucionária;
d) a estratégia e tática na luta
pela revolução burguesa e pela revolução socialista na Rússia;
e) a luta pelo poder e a transição
socialista;
f) as relações internacionais e o
desenvolvimento do capitalismo em escala mundial;
g) filosofia, economia política,
marxismo.
É importante dizer os textos de
Lênin são em sua imensa maioria polêmicos, ou seja, geralmente ele desenvolve
seus argumentos em polêmica com alguém (outro intelectual, outra corrente
teórica, outro partido, outra classe social).
Uma compreensão completa da obra de
Lenin supõe conhecer:
a) a história da Rússia e da revolução russa de 1917;
b) a biografia de Lenin;
c) a literatura russa;
d) a literatura marxista;
e) a língua russa.
É preciso considerar, ainda, a fortuna das obras.
Parte dos textos de Lênin só foi publicada após a sua morte e
parte do que foi publicado em vida, teve escassa circulação, devido à condições
de clandestinidade e miséria em que atuava o movimento operário socialdemocrata
russo.
A edição das Obras Completas foi realizada após a morte de
Lênin e, óbvio, a seleção dos textos, as notas editoriais, os materiais complementares
e as traduções foram contaminados pela disputa política.
A seguir resumimos o conteúdo das Obras Completas (tomando
como base 32 volumes publicados pela Editorial Cartago de Buenos Aires e 18 publicados
pela editora política La Habana).
Índice geral dos livros
Tomo I. 1893-1894. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1958. 554
páginas.
Tomo II. 1895-1897. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1958 554
páginas.
Tomo III. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia.
Editorial Cartago. Buenos Aires, 1957. 647 páginas.
Tomo IV. 1898-1901. Editorial Cartago. Buenos Aires, 1958 457
páginas.
Tomo V. Maio de 1901 a fevereiro de 1902. Editoral Cartago.
Buenos Aires. 1959, 567 páginas.
Tomo VI. Janeiro de 1902 a agosto de 1903. Editoral Cartago.
Buenos Aires. 1959, 555 páginas.
Tomo VII. Setembro de 1903 a dezembro de 1904. Editoral
Cartago. Buenos Aires. 1959, 576 páginas.
Tomo VIII. Janeiro a julho de 1905. Editoral Cartago. Buenos
Aires. 1959, 607 páginas.
Tomo IX. Junho a novembro de 1905. Editoral Cartago. Buenos
Aires. 1959, 480 páginas.
Tomo X. Novembro de 1905 a junho de 1906. Editoral Cartago.
Buenos Aires. 1960, 551 páginas.
Tomo XI.Junho de 1906 a janeiro de 1907. Editoral Cartago.
Buenos Aires. 1960, 516 páginas.
Tomo XII. Janeiro a junho de 1907. Editorial Cartago. Buenos
Aires, 1960. 516 páginas.
Tomo XIII. Junho de 1907 a abril de 1908. Editoral Política.
Havana, 1963, 538 páginas.
Tomo XIV. 1908-1909, Editoral Cartago. Buenos Aires. 1960,
377 páginas.
Tomo XV. Março de 1908 a agosto de 1909. Editoral Cartago.
Buenos Aires. 1960, 491 páginas.
Tomo XVI. Setembro de 1909 a dezembro de 1910. Editoral
Cartago. Buenos Aires. 1960, 474 páginas.
Tomo XVII. Dezembro de 1910 a abril de 1912. Editoral
Cartago. Buenos Aires. 1960, 599 páginas.
(Tomo XVII. Dezembro de 1910 a março de 1912 (edição
corregida e aumentada. Editoral Cartago, Buenos Aires, 1970, 559 páginas.)
Tomo XVIII. Abril de 1912 a março de 1913. Editoral Cartago,
Buenos Aires, 1960, 636 páginas.
Tomo XIX. Março a Dezembro de 1913. Editoral Cartago. Buenos
Aires, 1960, 604 páginas.
Tomo XX. Dezembro de 1913 a agosto de 1914. Editoral
Política. Havana, 1963, 597 páginas.
Tomo XXI. Agosto de 1914 a dezembro de 1915. Editoral
Política. Havana, 1963, 498 páginas.
Tomo XXII. Dezembro de 1915 a Julho de 1916. Editoral
Política. Havana, 1963, 401 páginas.
Tomo XXIII. Agosto de 1916 a março de 1917. Editoral
Política. Havana, 1963, 410 páginas.
Tomo XXIV. Abril a junho de 1917. Editoral Política. Havana,
1963, 605 páginas.
Tomo XXV. Junho a setembro de 1917. Editoral Política.
Havana, 1963, 522 páginas.
Tomo XXVI. Setembro de 1917 a fevereiro de 1918. Editoral
Política. Havana, 1963, 554 páginas.
Tomo XXVII. Fevereiro a julho de 1918. Editoral Política.
Havana, 1963, 602 páginas.
Tomo XXVIII. Julho de 1918 a março de 1919. Editoral
Política. Havana, 1964, 527 páginas.
Tomo XXIX. Março a agosto de 1919. Editoral Política. Havana,
1963, 602 páginas.
Tomo XXX. Setembro de 1919 a abril de 1920. Editoral
Política. Havana, 1963, 562 páginas.
Tomo XXXI. Abril a Dezembro de 1920. Editoral Política.
Havana, 1963, 555 páginas.
Tomo XXXII. 30 de dezembro de 1920 a 14 de agosto de 1921.
Editoral Política. Havana, 1964, 553 páginas.
Tomo XXXIII. Agosto de 1921 a março de 1923. Editoral
Política. Havana, 1964, 505 páginas.
Tomo XXXIV. CARTAS. Novembro de 1895 a novembro de 1911.
Editoral Política. Havana, 1964, 503 páginas.
Tomo XXXV. CARTAS. Fevereiro de 1912 a dezembro de 1922.
Editoral Política. Havana, 1964, 611 páginas.
Tomo XXXVI. CARTAS. 1900 A 1923. Editoral Política. Havana,
1964, 716 páginas.
Tomo XXXVII. CARTAS. Novembro de 1897 a julho de 1904.
Editoral Cartago. Buenos Aires. 1971, 413 páginas.
Tomo XXXVIII. ANOTAÇÕES FILOSÓFICAS. Editoral Política.
Havana, 1964, 604 páginas.
Tomo XXXIX. CARTAS. Novembro de 1912 a dezembro de 1916.
Editoral Cartago. Buenos Aires. 1971, 428 páginas.
Tomo XL. CARTAS. Janeiro de 1917 a novembro de 1922. Editoral
Cartago. Buenos Aires. 1972, 463 páginas.
Tomo XLI. CARTAS AOS FAMILIARES. 1893-1922. Editoral Cartago.
Buenos Aires. 1972, 596 páginas.
Tomo XLII. INDICE DE NOMES E BIBLIOGRAFIA. Editorial Política.
Havana. 1963. 334 páginas.
(ao que tudo indica, o volume seguinte na coleção de Havana é
o volume anterior da coleção de Buenos Aires)
TOMO XLIV. Cadernos sobre o imperialismo. Editorial Cartago,
Buenos Aires. 1972. 429 páginas.
TOMO XLV. Índice Temático volume 1. Editorial Cartago, Buenos
Aires. 1973. 386 páginas.
TOMO XLVI. Índice Temático volume 2. Editorial Cartago,
Buenos Aires. 1972. 363 páginas.
Tomo complementario 1. INDICE ONOMÁSTICO. Editorial Cartago.
Buenos Aires, 1969, 309 páginas.
Tomo complementario 2.INDICE ONOMÁSTICO. Editorial Cartago.
Buenos Aires, 1970. 340 páginas.
Tomo complementario 3. INDICE ONOMÁSTICO.Editorial Cartago.
Buenos Aires, 1971. 317 páginas.
Tomo complementario 4. INDICE ONOMÁSTICO.Editorial Cartago.
Buenos Aires, 1971. 269 páginas.
Lista de equivalencias para ubicar en la 1. edición de las
Obras Completas, los trabajos de V.I.Lenin publicados en la 2.edicion.
Editorial Cartago. Buenos Aires, 1973. 209 páginas.
Lista de equivalencias para ubicar en la 2. edición de las
Obras Completas, los trabajos de V.I.Lenin publicados en la 2.edicion.
Editorial Cartago. Buenos Aires, 1973. 206 páginas..
Para quem lê em português, é possível ler nos endereços
abaixo resumos de parte dos volumes que compõem as Obras Completas:
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-1.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-2.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-3.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-4-parte-a.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-4-parte-b.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-4-parte-c.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/02/fichamento-5.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/05/vil-fichamento-8.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/05/vil-fichamento-9.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/05/vil-fichamento-10.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-11.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-12.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-13.html
http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/vil-fichamento-14.html
A revolução
russa
Esta
terceira parte é uma adaptação livre e bastante resumida do artigo “Marx e a
crítica à revolução russa”, escrito em maio de 2011 por Wladimir Pomar e até
agora inédito.
Marx e
Engels acreditaram que, por volta de 1850, o capitalismo já havia alcançado seu
mais alto grau de desenvolvimento, em virtude de seus avanços técnicos, da
repetição das crises cíclicas e das sublevações que estas geravam.
Nessas
condições, Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos estavam fadados a ser
os cenários das primeiras revoluções socialistas.
Embora mais
tarde Engels tenha revisto essa suposição, muitos dos marxistas posteriores
cometeram o mesmo erro de avaliação sobre o ponto de mutação do capitalismo,
acreditando prematuramente, por exemplo, que entrara em sua fase terminal com o
ingresso no imperialismo.
Marx e
Engels supuseram que o mercado mundial capitalista seria capaz de nivelar o
desenvolvimento social em todos os países. Eles não levaram em conta que o
desenvolvimento histórico dos povos e países havia sido sempre muito desigual,
desde as eras mais antigas, e que o capitalismo também deveria seguir a mesma
lei evolutiva. O que poderia tê-los levado à previsão de que o socialismo
também deveria apresentar um processo desigual de desenvolvimento.
Marx também
não levou em conta, por exemplo, que uma nova globalização, de caráter
capitalista, poderia elevar consideravelmente o grau de exploração dos países
atrasados e, com isso, amainar a luta de classes nos países mais avançados, do
ponto de vista capitalista.
Assim, ao
invés de um aplainamento global do sistema, ocorreria não só um desenvolvimento
extremamente desigual, mas também uma situação em que o capital dos países mais
avançados poderia obter um super-lucro na exploração dos mais atrasados. Os
assalariados dos países capitalistas avançados poderiam ser corrompidos às
custas da super-exploração dos trabalhadores dos países atrasados.
Esse desenvolvimento desigual do capitalismo, evidente durante a nova expansão colonial do final do século 19 e início do século 20, provocou uma evolução histórica não prevista.
Por exemplo,
proporcionou um desenvolvimento muito mais rápido do modo de produção
capitalista nos países centrais da Europa e na América do Norte, e permitiu
maiores concessões econômicas e políticas aos operários desses países.
Nos países
capitalistas avançados foram criados não apenas uma burguesia forte, com um
Estado de forte aparência democrática, mas também um proletariado acomodado.
Em lugar da
pauperização prevista por Marx, parecia ocorrer um aumento das conquistas
econômicas e vantagens para os trabalhadores, e sua ascensão à classe média. O
socialismo parecia haver se tornado dispensável, dando surgimento a um forte
revisionismo das teses marxistas, especialmente na Europa.
Porém, nas
sociedades atrasadas do ponto de vista capitalista, as teses de Marx sobre o
aumento da miséria de massa, acompanhada do aumento da força social dos
assalariados, pareciam confirmar-se plenamente. A introdução de elementos do
modo de produção capitalista nessas sociedades aguçou todas as contradições
nelas presentes, colocando na ordem do dia a possibilidade de revoluções
socialistas.
É evidente
que isso entrava em contradição com as condições materiais exigidas por Marx
para o socialismo. Mas o crescimento das lutas dos operários, camponeses e
outras camadas populares desses países, assim como os conflitos de interesse
entre camadas burguesas locais e as burguesias imperialistas, obscurecia tal
contradição e abriu um novo horizonte, fazendo com que a possibilidade de
revoluções socialistas se transferisse dos países capitalistas avançados para
os atrasados.
Os socialistas
encontraram-se, nesses países, diante de uma conjuntura histórica em que a
burguesia fazia o capitalismo avançar, mas sem haver realizado uma revolução
política que destruísse as estruturas políticas anacrônicas e revogasse os
restos servis e feudais. Essa situação tornara-se particularmente aguda na
Rússia, onde a expansão do capital, impulsionada por empresas francesas e
inglesas, convivia com uma estrutura agrária ultrapassada e com uma
aristocracia impermeável a qualquer mudança.
Na Rússia
csarista amadurecia uma situação revolucionária complexa, que teve na
insurreição de 1905 sua primeira manifestação prática.
As
diferentes correntes políticas em oposição ao csarismo buscavam o caminho que
poderia superar a atraso russo.
Os
populistas pretendiam impedir o desenvolvimento do capitalismo através da
expansão da agricultura comunitária camponesa. Os liberais, ou cadetes,
buscavam um acordo com o czarismo para a introdução de pequenas reformas na
monarquia.
As diversas
correntes social-democratas russas variavam da revolução democrático-burguesa à
revolução comunista.
Dentre elas,
sobressaiu a solução teórica e prática de Lênin, segundo a qual o capitalismo
se desenvolvia de modo desigual e, portanto, também a revolução, permitindo que
o proletariado alcançasse a hegemonia mesmo no contexto da revolução
democrático burguesa.
Seria,
então, possível levar à prática uma luta combinada contra a autocracia russa e
pela democracia política, e contra o capitalismo e pelo atendimento de
reivindicações socialistas. Um programa desse tipo permitiria aos operários
conquistar a hegemonia nos soviets, ou conselhos, que na prática da revolução
russa, representavam a forma política específica de poder popular.
A
participação na guerra imperialista, desencadeada em 1914, aguçou de forma
extremada todas as contradições da sociedade russa, num quadro conjuntural de
grandes derrotas militares, grandes perdas de vidas humanas, grande escassez de
alimentos, e grandes massas camponesas armadas pelo serviço militar. Nessas
condições, as lutas dos operários, camponeses e soldados, crescentemente
organizados nos soviets, fizeram com que esses conselhos se transformassem em
órgãos reais representativos dessas camadas sociais, paralelamente e em
oposição às Dumas, ou parlamentos, do Estado czarista.
Tanto na
revolução de fevereiro de 1917, que derrubou a monarquia e estabeleceu o
governo cadete, quanto na revolução de outubro/novembro de 1917, que derrubou o
governo cadete e instaurou o governo socialista, a disputa principal no âmbito
político consistiu em reconhecer ou não o poder dos soviets, como elo de
ligação da revolução democrática com a revolução socialista.
Nas
condições políticas que levaram à crise revolucionária e à eclosão da revolução
seria impensável supor que, sem parlamentos dignos desse nome e sem a
existência de órgãos democráticos, com exceção dos soviets, seria possível
organizar qualquer outro organismo político representativo. A palavra de ordem
de todo poder ao soviets era a única que podia garantir o sucesso da revolução,
mesmo no contexto em que a maioria dos soviets se encontrava sob a influência
das correntes que ainda vacilavam diante das possibilidades da revolução.
Apesar de
haver sempre concordado com Marx de que a revolução socialista teria que ser
mundial, Lênin, ao contrário de Marx, supunha ser possível o desencadeamento e
sucesso de revoluções socialistas nos países atrasados, em especial se
contassem com o suporte da revolução em alguns países avançados.
O êxito da revolução soviética pareceu lhe dar razão e retirar o chão daqueles socialistas europeus que, durante o conflito mundial, haviam dado apoio a seus governos para a realização da guerra. Essa situação contribuiu, também, para a suposição de que o modelo da revolução soviética poderia se transformar em modelo universal.
O êxito da revolução soviética pareceu lhe dar razão e retirar o chão daqueles socialistas europeus que, durante o conflito mundial, haviam dado apoio a seus governos para a realização da guerra. Essa situação contribuiu, também, para a suposição de que o modelo da revolução soviética poderia se transformar em modelo universal.
Porém, com
exceção da revolução na Mongólia, a revolução soviética não contou com vitórias
em qualquer outro país, atrasado ou avançado. As tentativas de revoluções na
Hungria e na Alemanha fracassaram. E, embora em muitos países coloniais tenham
se intensificado as lutas revolucionárias, em nenhum deles se apresentou uma
perspectiva imediata de vitória. Lênin e os revolucionários russos tiveram que
se confrontar com a dura realidade de erigir, ou não, o socialismo num só país.
Discussões
sobre o caminho a seguir
Embora o
socialismo soviético tenha começado sua caminhada com grandes promessas e
esperanças, o que teve que enfrentar na prática de seus primeiros passos foram
as brutais dificuldades de um país arrasado pela guerra, sem contar com o apoio
do sucesso revolucionário em qualquer país avançado, confrontado com um forte
bloqueio econômico de todos os países capitalistas, com uma guerra civil
promovida pelas tropas fiéis ao czarismo e por forças militares de treze
potências estrangeiras, e com uma forte disputa interna, sobre os caminhos a
seguir após a tomada do poder político.
Na verdade,
nem bem o Partido Comunista havia assumido o poder soviético, ambos viram-se
logo envolvidos numa verdadeira guerra civil intra-muros para decidir os rumos
das políticas interna e externa. O
estabelecimento de uma paz em separado com a Alemanha e as concessões
territoriais que o novo poder fora obrigado a fazer, em 1918, foram alvo de uma
disputa dura, tanto política quanto militar, entre as diversas correntes do
partido, do governo e das forças revolucionárias da sociedade russa. O
pressuposto dessa disputa teve como ponto central a necessidade de continuar a
guerra como instrumento da revolução permanente contra o capitalismo
internacional ou de dar prioridade à consolidação do novo Estado soviético.
Posteriormente,
a implantação da NEP – Nova Política Econômica, deu ensejo a verdadeiras
cisões, nas quais Lênin e o PC foram simplesmente taxados de traidores da
revolução. Essa traição parecia evidente, na mente de muitos revolucionários
russos, com os apelos de Lênin para que os soviéticos adotassem e aprendessem
com o capitalismo estatal alemão. Mais graves ainda pareceram suas afirmações
de que não seria possível manter o poder proletário num país incrivelmente
arruinado e com um gigantesco predomínio do campesinato, igualmente arruinado,
sem contar com a ajuda do... capital.
A revolta
dos marinheiros do Kronstadt, o atentado praticado contra Lênin, por membros do
partido dos socialistas revolucionários, e o uso de ações terroristas contra
dirigentes do PC e do Estado pela ultra-esquerda russa, foram as manifestações
mais brutais de uma intensa guerra interna sobre os caminhos da União
Soviética.
Lênin estava
disposto a pagar ao capital os juros que fossem necessários para desenvolver as
forças produtivas e construir as premissas materiais sem as quais não seria
possível alcançar um nível de cultura indispensável para criar o socialismo. No
final dos anos 1920, porém, Stálin e os novos dirigentes soviéticos concluíram
que tais premissas materiais já haviam sido construídas e passaram a restringir
as concessões aos capitalistas, adotadas pela NEP.
É evidente
que isso ocorreu paralelamente à ascensão do fascismo, ao agravamento da
situação internacional, e às ameaças de uma nova guerra mundial imperialista.
Na verdade, Stálin e muitos outros achavam que o ritmo da NEP não permitiria à
União Soviética industrializar-se na rapidez necessária para enfrentar essa
ameaça externa. A decisão de realizar uma industrialização acelerada também foi
responsável pelo processo de coletivização agrícola, indispensável para o
fornecimento de força de trabalho para os planos de industrialização.
Ao mesmo
tempo, o governo de Stálin iniciou negociações com os diversos países
imperialistas no sentido de evitar que se unissem contra a União Soviética. O
PC soviético estimulou uma nova política de frente ampla contra a ascensão do
fascismo e procurou negociar com a Inglaterra e a França tratados de
não-agressão e de resistência aos planos públicos de expansão territorial dos
nazistas. Essa inflexão política em relação aos países imperialistas também
serviu de pretexto para o ressurgimento de ações terroristas contra dirigentes
soviéticos, do partido e do Estado, por forças políticas que se denominavam
correntes de esquerda.
Quando o
governo Stálin se viu diante das manobras franco-britânicas para empurrar o
gume da expansão nazista contra a União Soviética e decidiu estabelecer um
tratado de não-agressão com a Alemanha hitlerista, isso causou uma comoção na
maior parte daquelas correntes de esquerda, e também numa grande parte dos
militantes comunistas em todo o mundo. A explicação de que a União Soviética
precisava de mais tempo para preparar-se contra a invasão alemã não foi
suficiente para evitar que Stálin fosse denominado de capacho de Hitler e
traidor da causa da revolução.
Essa
situação só mudou, em parte, após a invasão da União Soviética pelas tropas
nazistas e após a virada da batalha de Stalingrado, quando os soviéticos
passaram da defensiva à ofensiva e os ventos da guerra mudaram definitivamente.
Apesar de exangue e com perdas terríveis, calculadas em mais de 30 milhões de
soviéticos mortos durante o conflito, a União Soviética emergiu da guerra como
grande potência socialista.
Em resumo,
ganhou foros de verdade não só a possibilidade de construção de sociedades
socialistas em países atrasados e isolados em meio a uma maioria de países
capitalistas, mas também a possibilidade de realizar a industrialização
acelerada através da ação exclusiva do Estado. Todos os países teriam condições
de evitar os males da participação do capital no desenvolvimento das forças
produtivas.
As antigas
dúvidas sobre a necessidade ou não de competir no mercado internacional
dominado pelo capital, abolir ou não a propriedade privada dos meios de
produção, e extinguir ou não a sociedade do trabalho e o mercado, pareciam
resolvidas pela curta história de sucesso da União Soviética. Não deveria haver
mais falta de clareza de como o poder político soviético poderia construir a
sociedade socialista fora do contexto universal, ao contrário do que advogaram
Marx, Engels e o próprio Lênin.
Os
argumentos de seria inconcebível que o poder soviético pudesse existir ao lado
de estados imperialistas por um longo tempo e que, no final, um ou outro teria
que triunfar, teriam sido superados pela experiência da União Soviética e pelas
tendências de conflitos entre os próprios países imperialistas.
O
desenvolvimento desigual do capitalismo e o abandono, pela burguesia da maioria
dos países capitalistas atrasados, da missão revolucionária democrática
burguesa, haviam criado uma situação historicamente nova, que não poderia ter
sido prevista por Marx e Engels. O exemplo da revolução russa teria demonstrado
que revoluções políticas, dirigidas por partidos socialistas e comunistas em
países atrasados, poderiam completar as tarefas burguesas e levar adiante a
construção socialista e, como advogava Lênin, efetuando um grau de
democratização que assegurasse o pleno domínio do poder pela maioria da
população.
Olhando
retrospectivamente, mesmo antes de consolidar-se como regime político, social e
econômico, o socialismo da revolução russa praticamente transformou-se em
modelo a ser copiado pelos socialistas do resto do mundo. A Internacional
Comunista foi fundada na perspectiva de disseminar o modelo soviético por toda
parte onde houvessem emergido movimentos revolucionários ou houvesse gente
disposta a trabalhar pela revolução socialista. Afinal, se dera certo na
atrasada Rússia czarista, por que não daria certo nos demais países atrasados?
Mais tarde,
à medida que o poder soviético se consolidou e superou a breve experiência da
NEP, ingressando num gigantesco processo de industrialização para fazer frente
à ameaça de uma nova guerra imperialista, o método de industrialização e
construção econômica também passou a ser disseminado como modelo que poderia
ser seguido por todos os países atrasados para construir o socialismo.
A vitória
soviética na guerra mundial contra o nazismo apenas consolidou essas
suposições. No entanto, mais uma vez a história de preparava para pregar peças
em algumas idéias consideradas inabaláveis, fazendo com que a lógica-dialética
do desenvolvimento das formações sócio-econômicas se impusesse ferreamente
sobre as decisões humanas. O calcanhar de Aquiles daquelas suposições
inabaláveis residiam justamente no processo de industrialização que desdenhou
administrativamente as leis da economia política.
O caminho
soviético de industrialização
O problema
da industrialização constituía, como continua constituindo, um instrumento
importante do processo de elevação da produtividade do trabalho e, portanto, da
possibilidade futura de produzir uma riqueza muito superior às necessidades de
consumo da sociedade. Em todos os países capitalistas que ingressaram na
industrialização, isso demandou uma combinação adequada dos recursos
existentes, o que incluiu terra, matérias primas, força de trabalho e capital
acumulado.
Neste caso
último caso, tanto em meios de produção quanto em reservas financeiras. Tal
combinação exigiu políticas que otimizassem as ofertas de cada um desses
recursos e concentrassem os esforços nos aspectos chaves do processo. Nesse
sentido, o Estado soviético seguiu, em termos gerais, os mesmos padrões do
desenvolvimento industrial europeu tardio.
Ou seja,
tomou a forma de intervenção ativa do Estado na economia, promovendo um grande
surto econômico, com ritmos elevados de crescimento, prioridade à construção de
grandes plantas industriais e à produção de bens de produção em relação aos
bens de consumo, forte pressão para elevar o nível dos investimentos, mesmo em
prejuízo dos níveis de consumo, e papel secundário à agricultura.
Porém, em
termos mais específicos, o Estado soviético foi muito mais longe. Após dar fim
à NEP, não somente interveio para direcionar os investimentos, mas também
monopolizou todos os investimentos e toda a propriedade dos meios de produção,
com exceção de algumas pequenas áreas. Desse modo, concentrou em suas mãos
todos os recursos disponíveis e os alocava de acordo com um planejamento também
centralizado.
Além disso,
ao invés de aprofundar a reforma agrária democrático-burguesa, o Estado
soviético realizou um processo de coletivização forçada como forma de
expropriação do campesinato e sua transformação em força de trabalho
industrial. Ao realizar a coletivização agrária, o Estado também garantiu uma
transferência mais controlada da renda da agricultura para a indústria.
Por outro
lado, embora a pressão para conter os níveis de consumo tenha sido, em muitos
aspectos, mais forte do que no capitalismo tardio, a centralização estatal
permitiu uma distribuição mais eqüitativa da renda e um contingenciamento mais
eficaz das desigualdades sociais, em especial através do pleno emprego. No
entanto, o Estado soviético, ao contrário daqueles, foi incapaz de substituir,
a partir de certo grau de desenvolvimento, a contenção do consumo por uma
ampliação mais ou menos rápida do consumo de massa.
A União
Soviética manteve indefinidamente sua política de compressão do consumo, não
tanto para manter as altas taxas de investimento e crescimento econômico, mas
fundamentalmente para suportar as despesas requeridas pela corrida
armamentista, primeiro contra a agressão nazista e, depois da segunda guerra
mundial, contra as ameaças de guerra nuclear e a guerra fria.
Se
associarmos tudo isso à baixa produtividade técnica do trabalho que
caracterizou a industrialização soviética, portanto de custos mais altos, e à
ausência de transferência das descobertas tecnológicas da indústria bélica para
a indústria civil, por questões de segredo militar, aquela compressão teria que
gerar uma crescente insatisfação popular.
Outro
aspecto determinante da experiência soviética foi sua tentativa de erigir como
política econômica internacional a exclusão do país do mercado capitalista
mundial. Os soviéticos acreditavam na possibilidade de manter somente um fluxo
de comércio com os países capitalistas, ao mesmo tempo em que fixavam os preços
internos conforme o arbítrio de planejamento centralizado e tomavam o rublo
como moeda não conversível. Eles acreditavam que os países socialistas
dispunham de todos os recursos que necessitavam para seu desenvolvimento
econômico, e não precisavam dos países capitalistas para nada.
Essa crença
isolou a União Soviética, não apenas do fluxo internacional de capitais e de
comércio, mas também do fluxo de tecnologias de produtos e de processos, e da
elevação dos padrões de produtividade e competitividade que, num mercado
mundial, são determinantes no estabelecimento dos valores das mercadorias e, portanto,
dos preços e salários.
Na pratica,
os soviéticos trabalhavam a hipótese de que seu socialismo chegara a um nível
em que poderia dispensar as categorias fundamentais do capitalismo, como
salário, preço e lucro. Supunham poder
ver-se livres do trabalho assalariado, da produção de mais-valia e da produção
de mercadorias e de valor. Não se perguntavam por que, apesar disso, mantinham
salários e preços como relações de troca em sua sociedade. Nem se questionavam
por que não conseguiam alcançar um patamar de desenvolvimento que
possibilitasse o atendimento das necessidades materiais e culturais dos membros
de sua sociedade.
Nessas
condições, o isolamento da competição capitalista mundial, ao invés de proteger
a União Soviética dos efeitos maléficos da ação do capital, representou uma
trava poderosa no desenvolvimento de suas forças produtivas. A partir anos
1960, a fez ingressar num processo crescente de estagnação, impossibilitando-a
de consolidar as condições para a efetiva construção socialista.
Diante
disso, o governo soviético de então acabou tentando ingressar no mercado
internacional. Mas, o fez de forma enviesada, procurando exportar seus produtos
para países capitalistas, através de créditos facilitados e outras vantagens,
ao mesmo tempo em que mantinha os dispositivos que impediam uma participação
plena no mercado mundial. Desse modo, essas tentativas em geral falharam ou não
tiveram continuidade.
Em termos
gerais, ao contrário do Marx propunha, os soviéticos avançaram muito
rapidamente no processo de estatização da economia. E o fizeram bem antes de
que houvessem amadurecido as condições para a abolição da propriedade privada e
do mercado. Ao regular as relações de produção de forma estritamente
administrativa, embora mantendo algumas categorias típicas do modo de produção
capitalista, o socialismo soviético eliminou um dos principais instrumentos de
que o capitalismo sempre se valeu para revolucionar constantemente as forças
produtivas: a concorrência.
Sem que suas
forças produtivas houvessem alcançado um alto estágio de desenvolvimento,
estágio que somente a atual revolução científica e tecnológica está deixando entrever,
os soviéticos acreditaram ver-se livres da concorrência e do caos do mercado,
substituindo-os por uma emulação consciente entre trabalhadores e empresas para
obter a elevação da produtividade. Pretenderam que o homem soviético agisse
como um homem emancipado e livre, embora ele continuasse amarrado aos ditames
da uma sociedade que ainda precisava basear-se sobretudo no trabalho humano.
Embora a
questão chave da produtividade consista em melhorar o desempenho das máquinas
para substituir o trabalho humano, todo o esforço soviético foi dedicado ao
desempenho humano na utilização das máquinas. Nesse sentido, o pleno emprego e
o sistema de metas quantitativas de produção, desvinculadas da comercialização,
foram na contramão de qualquer esforço para revolucionar equipamentos e
processos produtivos. Na prática, funcionaram como ingredientes que
desestimularam a substituição dos homens por máquinas e, portanto, o
desenvolvimento científico e tecnológico na indústria civil.
O socialismo
soviético elevou o estatismo a uma pretensa negação do capitalismo, e não
somente a seu aspecto monetarista. Pretendeu abolir a propriedade privada e o
mercado administrativamente. Achou possível abolir o dinheiro e o salário.
Na prática, não foi capaz de liquidar os mecanismos econômicos que expressavam a necessidade de existência da propriedade privada e do mercado.
Na prática, não foi capaz de liquidar os mecanismos econômicos que expressavam a necessidade de existência da propriedade privada e do mercado.
A força de
trabalho para movimentar os meios de produção, o salário para remunerar o
trabalho executado, o dinheiro como meio de troca, o preço como medida de valor,
a compra e a venda de mercadorias, ou seja, todos esses elementos que foram
historicamente desenvolvidos em maior escala pelo capitalismo, continuaram
povoando o sistema socialista soviético, sem que ele conseguisse se livrar
deles.
Como quase
sempre acontece, a sociedade acabou se mostrando mais forte do que o Estado
criado para ordená-la. Quando essa ordenação se contrapôs às tendências
materiais de seu desenvolvimento, a sociedade acabou criando mecanismos
próprios, que romperam a ordem do Estado e recolocaram em pauta as necessidades
sociais concretas, monetaristas e privatistas, artificialmente extintas. O
engessamento estatista soviético, sufocando o monetarismo, desenvolveu um
prolongado processo de supurações anárquicas na economia, como os negócios
subterrâneos e o privatismo exagerado na política e nas relações pessoais.
A formação
social de tipo soviético deu muito pouco lugar à iniciativa popular e ao
pluralismo, tanto na vida econômica como na vida política e na cultura.
Paradoxalmente, quanto mais as manifestações dessa iniciativa e pluralismo eram
tomadas ou confundidas com o individualismo, o liberalismo e o capitalismo,
mais estatização as autoridades soviéticas aplicavam, num esforço desesperado
para livrar-se dos chamados resquícios burgueses e, supostamente, avançar na
construção socialista.
Nesse
caminho, a economia soviética marchou inexoravelmente para a estagnação e para
o colapso. Sem saber retornar a Marx, tomar o socialismo como a transição do
capitalismo para o socialismo, nas condições complexas de uma sociedade que nem
sequer havia completado a primeira modernização capitalista, e realizar uma
retirada estratégica em ordem, o estatismo soviético naufragou na voracidade da
privatização mafiosa e do monetarismo neoliberal.
A fase final
O socialismo
de tipo soviético ingressou em crise já na segunda metade dos anos 1950. Na
economia, essa crise mostrou seus sinais mais evidentes, em 1954, com a adoção
do plano de exploração das terras virgens da Sibéria Ocidental e do Casaquistão
e, em 1955, com a demissão do primeiro-ministro Malenkov, explicitamente por
sua incapacidade de resolver os problemas econômicos, em especial a escassez de
alimentos e de bens de consumo corrente.
Em 1956, o
relatório Krushiov jogou sobre Stálin toda a responsabilidade dos problemas
existentes na União Soviética e anunciou um vasto programa de reformas
administrativas, econômicas e educacionais. Realizou um aparente processo de
descentralização econômica, na qual a execução dos planos passava para as
repúblicas. Ao mesmo tempo, suprimiu as estações de máquinas e tratores,
responsáveis pela roturação, tratos culturais e colheitas das fazendas
coletivas e estatais, ou colcoses e sovcoses, e reorganizou a agricultura no
sentido de intensificar a produção de milho e a criação de gado. E anunciou a
criação de novas escolas técnicas e profissionais.
Paralelamente,
apesar de formalmente considerar criminosa a política de Stálin em relação às
diversas nacionalidades e aos demais países do chamado campo socialista, o novo
governo central soviético decidiu não só sufocar, com a intervenção de tropas
militares, os conflitos populares surgidos em várias das suas repúblicas, assim
como os levantes armados na Polônia e na Hungria, praticando uma política de
interferência direta em todos os países sobre os quais exercia influência.
Em
1959-1960, o governo soviético decidiu anunciar um plano para superar a
produção industrial e a renda per capita dos Estados Unidos em sete anos, assim
como um novo programa de edificação do comunismo. Plano e programa que sofreram
um duro golpe com a crise agrícola de 1962 e 1963, que obrigou a União
Soviética a se transformar de exportadora de trigo, em importadora,
especialmente do Canadá e da Austrália.
Por outro
lado, embora formalmente defendendo uma política de coexistência pacífica com
os países imperialistas, o governo soviético passou a considerar a União
Soviética em igualdade atômica, e superior em mísseis, em relação aos Estados
Unidos. Sua avaliação era a de que as potências capitalistas ocidentais haviam
ingressado numa crise terminal em virtude do processo de descolonização. Isso
levou o governo soviético a praticar uma política que chamou de iniciativas
dinâmicas, incluindo a intervenção no Oriente Médio, a revogação do estatuto
das quatro potências sobre Berlim, a realização de novas experiências nucleares
e a construção de bases de mísseis em Cuba.
Na prática,
o governo soviético conduziu a União Soviética a ingressar, com todas as suas
forças, na corrida espacial e armamentista com os Estados Unidos. Ao mesmo
tempo em que assinou o tratado de não-proliferação de armas nucleares com esse
país, voltou parte de seu arsenal de guerra contra a China e interveio
militarmente na Checoeslovaquia, em ambos os casos para impedir a adoção de
vias nacionais de desenvolvimento. Todas essas ações externas, em particular os
sucessos dos vôos espaciais, serviram para mascarar o aprofundamento da crise
econômica e social interna.
Mesmo
porque, apesar de todas as reformas anunciadas e, supostamente, voltadas para
superar os problemas da época de Stálin, o sistema de planejamento centralizado
continuava o mesmo, assim como permanecia inalterada a total prioridade à
indústria pesada, como suporte da indústria bélica. Com isso, aumentaram os
desequilíbrios entre os diversos departamentos econômicos e, em especial, entre
a indústria pesada, a indústria de bens de consumo e a agricultura.
A escassez
de bens se tornou o principal foco do crescente descontentamento social, ao
mesmo tempo em que o sistema soviético apresentava crescentes sinais de fadiga
e fraturas, com o surgimento de máfias que traficavam os bens escassos e às
quais estavam ligados dirigentes de empresas estatais, do Estado e do partido
comunista. Nessas condições, a apresentação e execução dos planos de abertura
política (glasnost) e reforma econômica (perestroika), nos anos 1980, apenas
apressou a implosão da União Soviética, no início dos anos 1990.
É evidente
que um acontecimento dessa ordem teria que ser aproveitado, como foi, por todos
os inimigos do comunismo, do socialismo e do marxismo, para demonstrar que
todos esses ismos haviam sido, finalmente, enterrados para nunca mais voltar.
Com tal derrota esmagadora, as teorias de Marx sobre o capitalismo e sua
superação por um novo tipo de sociedade teriam soçobrado definitivamente. Os
sonhos comunistas e socialistas de igualdade, liberdade e justiça, além de
haverem descambado em crimes indefensáveis,
teriam resvalado nas mesmas ilusões utópicas que Marx criticara em seus
predecessores socialistas e não teriam passado de uma profecia irrealizada.
Apesar
disso, o próprio capital, em especial através de seu desenvolvimento científico
e tecnológico e de suas crises globais, tem se esmerado em demonstrar, a cada
dia, a correção geral da análise marxista sobre a formação econômico-social
capitalista. Portanto, nada mais lógico do que tentar uma avaliação da
revolução russa e da construção soviética através da utilização do método do
materialismo histórico. Isto é, da ferramenta que Marx propôs para a análise do
processo de evolução, não só da sociedade capitalista, mas também de todas as
demais formações sociais da história humana.
O tema do
Estado
Pouco antes
da revolução russa de 1917, Lênin procurou desenvolver a tese de Marx, segundo
a qual o socialismo deveria superar a separação entre Estado e sociedade. Na
ocasião, ele enfrentava o problema de um Estado que continuava apresentando-se
como uma velha máquina repressora, em que não existia parlamento no estilo
ocidental e onde nem mesmo as liberdades políticas burguesas mínimas
funcionavam.
A hegemonia
operária na revolução democrática, através dos soviets, foi a solução
encontrada por Lênin para seu problema político prático, adequada às condições da
revolução russa naquele momento. Porém, ao desenvolver a teoria do Estado
socialista, Lênin acabou se desvinculando dos problemas concretos da revolução
russa.
Ele formulou
propostas que poderiam atender aos gargalos do desenvolvimento e da socialização
política dos países capitalistas avançados, mas que talvez tivessem pouco a ver
com a situação concreta pós-revolucionária da Rússia de então. Não seria
possível destruir a separação entre Estado e sociedade num país onde tal
separação sequer ocorrera. Não seria possível promover a auto-direção geral dos
trabalhadores num país que registrava um dos mais baixos índices de organização
civil, técnica, científica e cultural. Nem reconstruir a comunidade a partir de
um dos mais baixos níveis da história universal.
Os ditames
da centralização econômica, exigidos pela industrialização acelerada, pelo
bloqueio externo e pelos preparativos de guerra, se não impediram uma razoável
elevação dos níveis técnicos, científicos e culturais, erigiram-se como
impeditivos da elevação da organização civil. Ao invés de favorecer a
participação popular nos negócios do Estado, tanto através do pluralismo,
quando de mecanismos representativos, o Estado soviético fundiu-se com o
partido dirigente, que se tornou partido único, arrogando-se intérprete da
vontade geral da população.
A violência
das ameaças externas e da guerra civil interna sobre os caminhos da construção
socialista empurraram ainda mais o partido comunista e o Estado a exigirem uma
unidade monolítica e a abolirem todos os mecanismos formais de liberdade e
igualdade política. A igualdade socialista foi reduzida a uma pretensa
igualdade econômica.
Na ausência
da propriedade privada dos meios de produção, ganhou foros de verdade a idéia
de que todos os soviéticos seriam iguais, tornando desnecessários os mecanismos
formais de liberdade política. Essa aberração se tornou fortemente evidente à
medida que a igualdade econômica também se deteriorou, com os privilégios da
nomenclatura se desvinculando da vida dos cidadãos comuns. Criou-se uma
situação em que a ausência de democracia e de participação civil nos negócios
do Estado soviético, associada à estagnação econômica e a uma crescente
escassez dos bens de consumo, conduziram a uma aversão social ao socialismo.
Quando a glasnost
foi implementada, nos anos 1980, a democratização não encontrou uma sociedade
satisfeita com conquistas econômicas e sociais, capaz de absorver e
apropriar-se de muitas das funções políticas monopolizadas pelo Estado
despótico e dar um novo rumo à construção socialista. Ao contrário, encontrou
uma sociedade cansada das promessas socialistas não realizadas. O pluralismo
político funcionou então como um explosivo, sobrepondo-se à vontade geral e
resultando num processo destrutivo que tornou inviável até mesmo a esperança de
que pudesse instalar-se uma democracia liberal relativamente avançada.
Os
acontecimentos da União Soviética, durante os anos 1980 e início dos anos 1990,
mostraram o quanto a ausência de uma economia capaz de atender com eficiência
às necessidades sociais, assim como de uma sociedade civil forte, e de um
Estado comprometido com o povo e suas aspirações democráticas nos campos
econômico, social, cultural e político, podem abrir campo tanto para o
capitalismo selvagem, no estilo dos barões ladrões, quanto para a anarquia
política e social, e para novas aventuras autoritárias e despóticas. A
fragmentação da União Soviética apresentou todas essas características.
Por todas
essas razões, abominar a experiência soviética sem extrair dela todas as lições
possíveis pode ser, para os socialistas, um erro tão crasso quanto aquele que
levou ao fracasso as tentativas de consolidação a primeira revolução operária
vitoriosa da história humana, a revolução russa de 1917.
A contribuição de Lênin ao pensamento socialista
Há uma imensa bibliografia acerca do "leninismo". Parte dela apresenta Lenin como um profeta. Outra parte o apresenta como um demônio. São dois pontos de vista aparentemente antagônicos, mas metodologicamente semelhantes.
Evidentemente adotamos outro ponto de vista, que enxerga de maneira positiva: 1) a contribuição de Lênin à luta pelo socialismo em sua época; 2) o método de análise adotado por Lênin para enfrentar os problemas de sua época.
A contribuição de Lênin à luta pelo socialismo em sua época foi imensa: ele foi entre 1917 e 1924 o principal dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa da história da humanidade.
Em decorrência, todas as questões enfrentadas pelo movimento socialista entre 1917 e 1991 dialogam com aquilo que Lênin pensou e fez.
E na medida em que há similitudes entre estas questões e a luta pelo socialismo no século XXI, novamente o pensamento e a obra de Lênin tem lugar garantido.
Lenin foi entre 1917 e 1924 o principal dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa da história da humanidade, por ter sido entre 1902 e 1924 o principal dirigente do partido que hegemonizou a revolução russa de 1917: o Partido Operário Social-Democrata Russo (Bolchevique).
Lenin foi o principal dirigente do POSDR(b) porque desde 1893 ele construiu, tanto prática quanto teoricamente, uma interpretação do processo de desenvolvimento do capitalismo na Rússia, interpretação que está na base do programa, da estratégia, das táticas e da concepção de partido defendidas por Lenin e adotadas, com maiores ou menores resistências, pelo conjunto do Partido Bolchevique.
A interpretação de Lênin acerca do desenvolvimento do capitalismo na Rússia foi construída inicialmente no combate contra o populismo e contra o marxismo legal.
O “populismo” era uma corrente teórica que defendia um caminho para o socialismo que não passaria pelo capitalismo.
O “marxismo legal” era uma corrente teórica que defendia que o papel dos socialistas seria ajudar a desenvolver o capitalismo.
Lenin identificava o populismo com os interesses de parcelas do campesinato russo e identificava o marxismo legal com os interesses de parcelas da burguesia russa.
Lenin identificava sua própria posição com a do proletariado, ou seja, com a classe dos trabalhadores assalariados, mais especificamente com o operariado.
A interpretação construída por Lênin foi produto de um trabalho intenso: muita leitura, muito estudo, muita análise de dados estatísticos brutos.
Nas palavras de Lenin, análise concreta da situação concreta.
Análise que era acompanhada da decisão de produzir uma teoria que servisse de guia para a ação.
Ler o conjunto dos textos reunidos nas Obras Completas, especialmente as cartas pessoais, permite vislumbrar esta faceta de Lenin: uma imensa capacidade de trabalho, uma dedicação integral à causa e uma capacidade (similar a de Engels) de descrever de forma acessível os temas mais complexos.
A partir da interpretação que fazia acerca do desenvolvimento do capitalismo na Rússia, Lênin desenvolveu seus pontos de vista acerca de cada um dos aspectos do programa, da estratégia, das táticas e da concepção de partido.
Destacamos sua contribuição acerca:
a) da questão agrária e sua relação com o desenvolvimento capitalista na Rússia;
b) do papel da classe operária russa, seu papel de vanguarda na evolução da Rússia;
d) do papel do partido e da intelectualidade revolucionária;
d) da estratégia e tática na luta pela revolução burguesa e pela revolução socialista na Rússia.
Quais são as fontes do ponto de vista adotado por Lênin?
Para além de suas experiências pessoais, há a influência da cultura russa e europeia de sua época, com destaque para as tradições revolucionárias, especialmente Chernichevsky, Marx, Engels, Kautstky e Plekhanov.
Lenin conhecia profundamente a obra de Marx e Engels. É dela que ele extrai seu ponto de vista sobre a luta pelo poder, sobre a transição socialista, sobre as relações internacionais e sobre o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial.
Qual é a essência do método de análise adotado por Lênin para enfrentar os problemas de sua época?
A resposta é: a análise da luta de classes. Portanto, os que desejam fazer como Lênin deveriam começar por isto: tomar as classes e a luta entre as classes como ponto de partida.
A contribuição de Lênin ao pensamento socialista
Há uma imensa bibliografia acerca do "leninismo". Parte dela apresenta Lenin como um profeta. Outra parte o apresenta como um demônio. São dois pontos de vista aparentemente antagônicos, mas metodologicamente semelhantes.
Evidentemente adotamos outro ponto de vista, que enxerga de maneira positiva: 1) a contribuição de Lênin à luta pelo socialismo em sua época; 2) o método de análise adotado por Lênin para enfrentar os problemas de sua época.
A contribuição de Lênin à luta pelo socialismo em sua época foi imensa: ele foi entre 1917 e 1924 o principal dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa da história da humanidade.
Em decorrência, todas as questões enfrentadas pelo movimento socialista entre 1917 e 1991 dialogam com aquilo que Lênin pensou e fez.
E na medida em que há similitudes entre estas questões e a luta pelo socialismo no século XXI, novamente o pensamento e a obra de Lênin tem lugar garantido.
Lenin foi entre 1917 e 1924 o principal dirigente da primeira revolução socialista vitoriosa da história da humanidade, por ter sido entre 1902 e 1924 o principal dirigente do partido que hegemonizou a revolução russa de 1917: o Partido Operário Social-Democrata Russo (Bolchevique).
Lenin foi o principal dirigente do POSDR(b) porque desde 1893 ele construiu, tanto prática quanto teoricamente, uma interpretação do processo de desenvolvimento do capitalismo na Rússia, interpretação que está na base do programa, da estratégia, das táticas e da concepção de partido defendidas por Lenin e adotadas, com maiores ou menores resistências, pelo conjunto do Partido Bolchevique.
A interpretação de Lênin acerca do desenvolvimento do capitalismo na Rússia foi construída inicialmente no combate contra o populismo e contra o marxismo legal.
O “populismo” era uma corrente teórica que defendia um caminho para o socialismo que não passaria pelo capitalismo.
O “marxismo legal” era uma corrente teórica que defendia que o papel dos socialistas seria ajudar a desenvolver o capitalismo.
Lenin identificava o populismo com os interesses de parcelas do campesinato russo e identificava o marxismo legal com os interesses de parcelas da burguesia russa.
Lenin identificava sua própria posição com a do proletariado, ou seja, com a classe dos trabalhadores assalariados, mais especificamente com o operariado.
A interpretação construída por Lênin foi produto de um trabalho intenso: muita leitura, muito estudo, muita análise de dados estatísticos brutos.
Nas palavras de Lenin, análise concreta da situação concreta.
Análise que era acompanhada da decisão de produzir uma teoria que servisse de guia para a ação.
Ler o conjunto dos textos reunidos nas Obras Completas, especialmente as cartas pessoais, permite vislumbrar esta faceta de Lenin: uma imensa capacidade de trabalho, uma dedicação integral à causa e uma capacidade (similar a de Engels) de descrever de forma acessível os temas mais complexos.
A partir da interpretação que fazia acerca do desenvolvimento do capitalismo na Rússia, Lênin desenvolveu seus pontos de vista acerca de cada um dos aspectos do programa, da estratégia, das táticas e da concepção de partido.
Destacamos sua contribuição acerca:
a) da questão agrária e sua relação com o desenvolvimento capitalista na Rússia;
b) do papel da classe operária russa, seu papel de vanguarda na evolução da Rússia;
d) do papel do partido e da intelectualidade revolucionária;
d) da estratégia e tática na luta pela revolução burguesa e pela revolução socialista na Rússia.
Quais são as fontes do ponto de vista adotado por Lênin?
Para além de suas experiências pessoais, há a influência da cultura russa e europeia de sua época, com destaque para as tradições revolucionárias, especialmente Chernichevsky, Marx, Engels, Kautstky e Plekhanov.
Lenin conhecia profundamente a obra de Marx e Engels. É dela que ele extrai seu ponto de vista sobre a luta pelo poder, sobre a transição socialista, sobre as relações internacionais e sobre o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial.
Qual é a essência do método de análise adotado por Lênin para enfrentar os problemas de sua época?
A resposta é: a análise da luta de classes. Portanto, os que desejam fazer como Lênin deveriam começar por isto: tomar as classes e a luta entre as classes como ponto de partida.
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