V.I.Lenin
Obras completas
Tomo IV (quatro)
Tomo IV (quatro)
1898-1901
Editorial Cartago
Buenos Aires, 1958
Editorial Cartago
Buenos Aires, 1958
Este tomo inclui os primeiros textos de polêmica com os
economicistas; Iskra aparece em cena. Mas também há textos sobre a polêmica com
os populistas e com os marxistas legais, que ocupa a parte principal dos três
primeiros tomos.
Neste sentido, vale a pena, antes de entrar no conteúdo do
tomo IV, tomar nota do conteúdo de dois textos:
-o prólogo e as notas de Fernando Claudin a Contenido econômico del populismo, publicado na coleção Escritos econômicos (1893-1899) de Siglo XII
-El populismo ruso, volumes I e II, de Franco Ventura, de Alianza Universidad
Segundo Claudin:
-Lenin não tinha mais que 24 anos quando escreve Quem são os amigos do povo e Conteúdo econômico do populismo. Trabalhos de um jovem “erudito”;
-são textos teóricos e políticos. Não há elaboração teórica de Lenin, desde então até sua morte, que “não esteja estreitamente articulada com as exigências da ação”
-polêmica populismo x marxismo: o desenvolvimento do capitalismo era um processo irreversível ou um produto artificial que desembocaria num beco sem saída?
-a reforma de 1861 emancipou 22,5 milhões de servos, mantendo a propriedade latifundiária
-ver texto de Nikolai Druzhinin, “Particularidades da gênesis...”, edição espanhola da revista da Acadêmia de Ciências espanholas em URSS
-ver Populismo e marxismo en rusia, Ed. Estela, Barcelona, 1969, de Andrzej Walicki
-Herzen (1812-1870), desde 1847 no exílio, editor de Kolokol
(Campana). Lenin o avaliava positivamente, ME não. Fundador do populismo, após
a decepção com 1848: p8: “Europa es demasiado vieja, ya no tiene fuerzas para
elevarse a la altura de sus proprias ideas. Su pasado es rico, há vivido mucho,
y en el porvenir sus herederos pueden ser América, de um lado, y el mundo
eslavo del outro”
-segundo Claudin, Herzen puntalizo a desconfiança de toda
democracia em geral (burguesa), crença na possibilidade de um desenvolvimento
autônomo do socialismo em Rússia, fé no papel futuro da obschina [tradicional
comuna camponesa] , necessidade de criar um tipo de revolucionário que,
rompendo individualmente suas vinculações com o mundo que o rodeia, se consagre
ao povo e penetre nele
-Chernichevski era populista?
-a finales de los anos sesenta y em el curso de los setenta las ideas populistas adquiren uma cierta fundamentacion sociológica com los trabajos de Lavrov y Mijailovski: a primazia do fator subjetivo (pensamento e vontade humanos) no desenvolvimento da sociedade
-Lavrov proclamava que que os indivíduos de pensamento crítico –a intelligentsia avançada- unidos em um partido podiam converter-se numa força social capaz de mudar o estado de coisas existentes na direção desejada
-1873-1874: ida ao povo
-1876: Terra e Liberdade (analisa o fracasso da ida ao povo, trabalho entre camponeses, preparar insurreição, destruir o Estado czarista e criar uma federação de comunas camponesas)
-final dos anos 1870, maioria vai ao terrorismo, com a oposição de Plekanov
-1879: divisão entre Vontade do Povo (maioria terrorista) e
Reparto Negro (minoria)
-durante anos 1870, penetração do marxismo no movimento populista. Carta do comitê executivo da Vontade do Povo, de 25/10/1880, diz que O Capital é “o livro de cabeceira de todas as pessoas instruídas”
-nos anos 1880, uma minoria vai ao marxismo (Emancipação do
Trabalho). Há uma ala reformista, populista liberal, que é com quem Lenin
polemiza (p.12: “la que, partiendo del supuesto carácter no clasista del
czarismo, y sobretodo de su caracter no burguês, consideraba posible inducirle
a realizar la modernizacion de Rusia por una via no capitalista”)
-La situación de la clase obrera em Rusia (1869), de
Flerovsky (1829-1918, sendo que de 1862ª 1895 esteve sempre desterrado o bajo vigilância
policial), primeira obra importante de economia política populista. Flerovsky
propõe “renunciar” a via capitalista e optar pela “introdução” de um sistema
social de solidariedade e cooperação em escala nacional, que exclua a luta de
classes na qual se debate o Ocidente: “socialismo agrário”.
-Los destinos del capitalismo em Rusia, de Vorontsov
(conhecido como V.V.), de 1882. VV viveu de 1847 a 1918. Uma industrialização
necessária, mas nos marcos populistas. Atenção: “industrialização promovida e
controlada pelo Estado, sobre a base da nacionalizçaão da grande indústria e o estimulo à pequena (via fomento do Artel); ajuda aos artesãos para organizarem-se
cooperativamente e promoção em todos os aspectos da comuna camponesa como forma
econômica básica de exploração da terra. Sua ideia não era perpetuar os
pequenos produtores, mas facilitar seu trânsito indolor a formas socializadas
de trabalho.
-em 1893, aparece Ensayos sobre nossa economia nacional
depois da reforma, de Danielson (1844-1918, conhecido como Nikolai-on), que foi
tradutor de O Capital ao russo. Correspondeu-se com Marx. Vide o trecho de sua
obra (e pensai nos anos 1930): “Todos los esfuerzos deben dirigirse a la
unificación de la agricultura y de la industria manufacturera em las manos de
los productores diretos, pero esta unificación no debe hacerse basándose em unidades
productivas pequenas y fragmentadas –lo que seria equivalente a decretar la
mediocridad universal--, sino sobre la base de crear uma producción masiva
socializada basada a su vez em el libre desarollo de las fuerzas sociales
productivas y la aplicacion de la ciência y la tecnologia, com objeto de
satisfacer las genuínas exigências de bienestar de la poblacion entera”
-ver crítica de Plekanov: “N-on plantea la cuestión del
capitalismo como si este um no existiera em Rusia”. E deposita suas esperanças
nas reformas vindas do alto, do czarismo!!!
-por outra parte, no final dos anos 1860 e início dos 1870, em Marx e Engels reaparece a esperança na proximidade da revolução russa, esperança que não os abandonará durante o resto de sua vida. É quando Marx, aos 50 e tantos anos de idade, se põe a estudar russo...
-O Capital é recebido pelos populistas (para evitar) e pelos
liberais (a justificativa). Já o censor czarista considera que é uma obra
contra o que existe no Ocidente...
-ver texto de Engels Acerca de las relaciones sociales em Rusia (1875), onde polemiza com o famoso Tkachev (1844-1885), defensor da tese segundo a qual o povo russo é “comunista
por instinto”; a revolução socialista é
mais fácil na Rússia porque, se é certo que não temos proletariado, “em compensación
tampoco tenemos burguesia”.
-Engels considera que se a revolução socialista no Ocidente
vier em ajuda da Rússia, neste caso a base comunal da propriedade da terra pode
ser aproveitada na transição socialista. Mas para Rússia mesmo, Engels pensa
numa revolução burguesa a la revolução francesa de 1789-1794
-já a carta de Marx a Mijailovski, de 1877, é mais proclive a ser utilizada pelos populistas. E ele volta ao ponto na carta a Zasulich (1881), onde fala que asseguradas as condições “normais de um desenvolvimento espontâneo”, a comuna pode ser o ponto de apoio da “regeneração social” de Rússia. As duas cartas não foram publicadas na época. A primeira foi achada por Engels nos papéis de Marx, ele a enviou ao grupo de Plekhanov que também não a publicou, mas acabou circulando de outras maneiras e foi publicada em 1888. A segunda foi publicada em 1924!!!!, por um menchevique que estava a cargo do espólio do Axelrod.
-a fórmula mais completa de ME está no prefácio a segunda
edição russa (1882) do Manifesto: “se a revolução russa dá o sinal para uma
revolução proletária no Ocidente, de modo que ambas se completem, a atual
propriedade comum da terra na Rússia poderá servir de ponto de partida a uma
evolução comunista”
-mas tomada isoladamente, Engels a tratará sempre como uma
possível reedição da grande revolução francesa de 1789-1794
-já em 1894, diz que a etapa capitalista é inevitável em Rússia e o máximo que pode passar é ser abreviada, caso o capitalismo seja derrubado no Ocidente
-enquanto Plekhanov se orienta para um “objetivismo”, negando exageradamente a “originalidade” russa e desprezando o papel revolucionário do campesinato, Lenin vai distanciar-se desta apologética (que ele criticará em Struve e, depois, no próprio Plekhanov)
-nos anos 1890, “o núcleo principal do populismo havia se convertido numa oposição reformista a política “capitalista” da autocracia czarista, mais que oposição a autocracia mesmo”
-o populismo era a ideologia da grande maioria da intelligentsia, da juventude estudantil e inclusive dos operários avançados
-diferente de Plekhanov, Lenin tinha sólida formação econômica e conhecia o suficiente das estatísticas
-ver Ziber (1844-1888), tese de doutorado, David Ricardo y Karl Marx em suas investigações sócio-econômicas, publicada em 1885, sobre a teoria do valor
-p. 35: diferença entre os marxistas legales e os revisionistas
alemães.
Detalhe curioso: Struve tinha a mesma idade que Lenin. Mas morre 20 anos depois, em 1944. Virou Kadete e depois de 17, fez parte dos governos brancos de Wrangel e de Denikin.
Detalhe curioso: Struve tinha a mesma idade que Lenin. Mas morre 20 anos depois, em 1944. Virou Kadete e depois de 17, fez parte dos governos brancos de Wrangel e de Denikin.
-o conceito de formação econômico social (ele não detalha a categoria, mas a utiliza)
-Segundo Claudin, a postura de Lenin, de criticar simultaneamente o subjetivismo populista e o objetivismo de Struve e outros marxistas legais mostra que “desde sua primeira intervenção teórica”, Lenin toma uma posição de certa originalidade
-Claudin aponta corretamente que Lenin, em Quem são os amigos do povo, já anuncia a ideia estratégia que vai sustentar até 1917: o papel dirigente da classe operária russa na revolução democrático-burguesa e, derivado disto, a possibilidade de passar o mais rápido possível para a revolução socialista. Lenin, nisso continuando a tradição populista, valorizava o papel do campesinato e desprezava os liberais.
55: “na busca de uma via não capitalista de
industrialização, os populistas russos foram precursores”
Ver: Populism, its meanings and national characteristics. Londres, 1969
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