sexta-feira, 13 de setembro de 2024

PCO: Bibi ataca novamente

Um amigo me perguntou por qual motivo perco tempo respondendo aos textos do PCO. A resposta é: não acho perda de tempo. Entre outros motivos, porque o PCO expressa uma corrente de opinião presente no próprio PT e em outros partidos de esquerda, tanto no Brasil quanto no exterior.

Exemplo: o BSW alemão (Bündnis Sahra Wagenknecht Vernunft und Gerechtigkeit ou, em português, Aliança Sahra Wagenknecht Razão e Justiça).

Outro exemplo: certo deputado federal, que vem se notabilizando por “passar o pano” em bolsonaristas e quetais.

Esta corrente de opinião se caracteriza por fazer uma cruzada contra o que chamam de “identitarismo” e, também, por conciliar com o racismo, a misoginia e o nacionalismo de direita, tudo em nome de (supostamente) dialogar com setores da classe trabalhadora que estão sob a hegemonia da direita.

O objetivo pode ser nobre, mas o resultado é péssimo, pelo simples motivo de que não se combate a direita aliando-se a ela.

Claro que combater as posições desta corrente de opinião tem, como tudo na vida, certo custo.

O PCO, por exemplo, não tem limite: mente, agride, deturpa, faz tudo aquilo que uma seita de extrema-direita faz. 

O mais recente exemplo disto está aqui:  https://causaoperaria.org.br/2024/um-esquerdista-tao-progressista-quanto-um-rei-feudal/

A pessoa que escreveu o artigo acima não gostou muito do “método” que adotei no artigo citado abaixo: https://valterpomar.blogspot.com/2024/09/pco-mentiras-padrao-bibi.html

Bibi (apelido que dei para tal pessoa) diz que eu prefiro fazer de minha defesa “uma nova acusação”.

Elementar, meu caro Bibi. Artigos de boa fé merecem um tipo de resposta. Textos mentirosos merecem outro tipo de resposta.

Bibi sabe que está mentindo? Confesso que às vezes tenho dúvida disso. A tentativa de apresentar duas mentiras como se “analogia” fossem me leva a pensar que pode existir, também, um problema cognitivo.

Mas a dúvida passa rápido, quando leio frases do tipo: “Valter Pomar (...) comemorou a demissão de Silvio Almeida por ter sido acusado de assédio”.

Atenção Bibi: eu concordei com a decisão de Lula. Mas não comemorei. O ocorrido é trágico, o conjunto da situação é trágico, não há o que comemorar.

Outro exemplo de frase mentirosa: “O problema todo é se, de acordo com a Lei, alguém deve ser automaticamente condenado ou não quando sofre esse tipo de acusação. E Pomar já demonstrou que, em sua opinião, sim”.

Evidentemente, não se encontrará, em nenhum lugar, este que vos escreve afirmando que “alguém deve ser automaticamente condenado”.

Bibi acha que “o problema é penal, e não político”. 

A verdade é outra: existe um problema jurídico e existe um problema político. São esferas autônomas, ainda que não independentes.

Aceita a tese de que o problema é penal, então certas decisões políticas dependeriam de decisões penais. E como o direito realmente existente é o que é, chegaríamos a conclusões absurdas.

Mudando de assunto: Bibi acha que “o identitarismo é justamente a ideologia oficial do imperialismo. É a ideologia que serve de cobertura para os crimes cometidos pelo imperialismo contra os povos de todo o mundo. Não há como negar, por exemplo, que o identitarismo cumpre um papel importante na candidatura de Kamala Harris – mulher, negra, imigrante, etc. E Kamala Harris, por sua vez, é a candidata do imperialismo para suceder o genocida Joe Biden”.

Pergunto: Trump é identitário? Milei é identitário? O Vox espanhol é identitário? Bolsonaro é identitário?

Imagino que até Bibi vai reconhecer que não. 

Pergunto então: durante o mandato de Trump, que antecedeu o de Biden, o imperialismo tirou férias? Se Trump voltar à presidência, os EUA deixarão de ser imperialistas?

Bibi diz, ainda, que “o identitarismo também tem um papel de destaque no crescimento da extrema direita em todo o mundo. Na medida em que atua para confundir a esquerda e para promover a censura, essa política é como água no moinho da extrema direita, que utiliza o exemplo dos cavalos de Troia identitários infiltrados na esquerda para apresentar a esquerda como truculenta e impopular”.

A depender do que entendamos por “identitarismo”, Bibi estaria parcialmente correto. 

Mas raciocínio semelhante poderia ser adotado para criticar o papel do esquerdismo, do social-liberalismo, da socialdemocracia etc.

Acontece que, para Bibi, “identitarismo” é um conceito tão vasto, que até mesmo um branco, gordo, velho, cis e adepto da igreja dos marxistas leninistas dos últimos dias é acusado de ser “identitário”, alguém que teria “uma posição tão pró-imperialista que é incapaz de reconhecer que sua posição é a igual à do imperialismo”.

O delírio é tão grande que Bibi chega a afirmar que Arthur Lira estaria "utilizando o caminho trilhado pelos identitários para censurar as acusações contra ele”. Cá entre nós, muito antes que se ouvisse falar em identitários, os poderosos já encontravam proteção junto a juízes amigos.

No finalzinho de seu texto, Bibi assume as vestes de Tulius Detritus e faz afirmações mentirosas sobre minha posição acerca das denúncias de corrupção lançadas contra o PT. 

Quem quiser saber o que eu penso a respeito do tema, pode ler aqui: https://valterpomar.blogspot.com/2016/12/o-pt-e-luta-contra-corrupcao.html

Resumo: Bibi, seja lá quem for, não debate, mente. O que é mais uma das decorrências da escolha política de contemporizar com certas posições da extrema direita.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

PCO: mentiras padrão Bibi

Como disse uma vez o camarada Aparício Torelly, "de onde menos se espera, daí é que não sai nada".

Mas o PCO exagera, como se pode ler aqui: Valter Pomar: palavra da Febraban vale mais que provas - Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

Sobre o mérito, o texto do PCO não acrescenta nada de novo aos argumentos que já foram apresentados, com muito mais honestidade, por outras pessoas.

Assim sendo, me limito apenas a comentar algumas passagens onde o PCO adota o método nazi-sionista: mentir descaradamente.

Primeira passagem: o PCO escreve que "segundo Pomar, a verdade estaria com Israel”.

Como sabe qualquer um que tenha lido ou ouvido eu falar a respeito, isto é pura e simplesmente falso.

Segunda passagem: o PCO escreve que "o fato de que nenhum dos supostos estupros cometido (sic) pelo Hamas foi provado e de que, por outro, estupros contra palestinos tenham sido comprovados não tem a menor importância, segundo o dirigente da Articulação de Esquerda".

Como sabe qualquer um que tenha lido ou ouvido eu falar a respeito, isto é pura e simplesmente uma mentira. 

Terceira passagem: o PCO diz que eu estaria "admitindo" que "não é necessário provar absolutamente nada nos casos de crimes envolvendo mulheres. Com um típico identitário, para fazer demagogia com as mulheres, Pomar quer estabelecer que basta a palavra de uma mulher para condenar automaticamente um homem".

Como sabe qualquer um que tenha lido ou ouvido eu falar a respeito, isto também é uma mentira. 

Repito aqui o que já escrevi noutro lugar: o número de crimes contra a mulher é muito maior do que o número de denúncias, entre outros motivos porque é muito difícil condenar e provar, o que não quer dizer que o crime não tenha sido cometido.

Portanto, peço ao Tico do PCO que explique ao Teco do PCO que, na maioria dos crimes, não há condenação, muito menos automática.

Quarta passagem: o PCO diz que eu não vejo "estrago nenhum casado (sic) pelo identitarismo". 

Basta ler a frase de minha autoria, que o PCO reproduz logo em seguida, para constatar que não é essa a minha opinião. 

O que eu escrevi é que “na longa lista daquilo que causa ‘estrago’ em nosso país – incluindo aí a violência contra as mulheres em geral e contra as mulheres negras em particular – o ‘identitarismo’ seguramente não ocupa os primeiros lugares”.

Tico, por favor explique ao Teco: se eu disse "não ocupa os primeiros lugares", então reconheço que causa algum estrago, o que é totalmente diferente de "estrago nenhum". 

Quinta passagem: o PCO diz que eu sou um "identitário".

Como o PCO se acha marxista, é compreensível que achem qualquer coisa dos outros. 

Mas confesso que acho terrível ler a seguinte afirmação, feita pelo PCO: "o identitarismo está destruindo o País". 

Esta frase poderia ter saído da boca de alguém da extrema-direita. 

Seja lá o que entendamos por "identitário", não dá para falar que ele estaria destruindo o país.

A verdade é um pouquinho diferente: quem está "destruindo o país" é o imperialismo, o agronegócio, o capital financeiro, a classe dominante. 

Sexta passagem: "Graças aos identitários, hoje os sionistas podem acusar pessoas como o jornalista Breno Altman de ser racista!"

O sionismo é racista. E faz tempo que uma das táticas do sionismo é acusar seus inimigos de antisemitismo, portanto de racismo. Os sionistas fazem isso, não "graças aos identitários", mas graças ao imperialismo e graças à sua força própria.

Sétima passagem: o PCO diz que eu "admito" que "o mesmo tipo de campanha histérica que foi feita com Silvio Almeida já foi feita, com muito mais intensidade, em outro período, para preparar um golpe de Estado". 

Obviamente, eu não admito isso. 

O que eu disse é que julgamento penal é uma coisa, julgamento político é outra. 

E que “a condenação política – tão fácil neste ambiente de denuncismo e de redes antisociais – pode criar um ambiente que dificulte, objetivamente, o direito à defesa”; mas que “também pode ocorrer da não condenação política obstaculizar o devido processo, em prejuízo das vítimas, como ocorre no caso do presidente da Câmara dos Deputados, sem falar de outros cidadãos ilustres”.

Aliás, falemos de Artur Lira. O cidadão é acusado. E usa seu poder para pressionar Deus e todo mundo. Vide o que está ocorrendo, hoje, com o deputado Glauber Braga. Denunciar o uso da máquina e do poder bruto, por parte do Artur Lira, para se proteger das acusações de violência contra a mulher, seria "identitarismo"? 

Por fim: eu não sou a favor da “condenação política” antes da "condenação no devido processo". O que sou "a favor" é de compreender que são duas esferas autônomas, a do processo penal e a do "processo político". 

É exatamente por isto que Lula, corretamente, demitiu Silvio Almeida. Isto foi uma necessidade política, não uma condenação penal. Outra medida seria possível? Claro que sim. Seria a melhor? É preciso provar. Dado os acontecimentos, penso que Lula fez certo. 

Textos como o do PCO só reforçam esta minha opinião. Afinal, uma posição correta não precisa ser defendida com mentiras.


terça-feira, 10 de setembro de 2024

Novamente sobre a demissão de Silvio Almeida

A tendência petista de que faço parte não tomou posição coletiva sobre o conjunto de aspectos envolvidos na demissão do ministro Silvio Almeida. Obviamente, votamos a favor da nota aprovada pela comissão executiva nacional. Mas, a respeito dos inúmeros "detalhes", as posições que cada militante manifesta a respeito são individuais. 

Minha posição, ou parte dela, foi expressa no texto disponível no seguinte endereço: Valter Pomar: Sobre a demissão de Silvio Almeida

Ontem foi publicada no Viomundo e na Fórum a posição da companheira Tania Mandarino, que como eu integra a tendência petista Articulação de Esquerda.

A íntegra da posição de Tânia Mandarino está aqui: Tânia Mandarino: Para punir o homem não basta a palavra da mulher. Para protegê-la, sim! | Revista Fórum (revistaforum.com.br)

Tânia afirma que não está “defendendo nem Silvio Almeida nem Anielle Franco, porque as investigações dirão o que de fato aconteceu. Eu não boto minha mão no fogo por nenhum dos dois”.

Não estou de acordo em colocar as coisas nesses termos. Em primeiro lugar, não estamos diante de um conflito de versões entre duas pessoas. Estamos diante de uma situação em que uma pessoa foi alvo de várias acusações, feitas por muitas pessoas.

Ademais, adoraria ter a convicção de que as “investigações dirão o que de fato aconteceu”. Como é de conhecimento público, o número de crimes contra a mulher é muito maior do que o número de denúncias, entre outros motivos porque é muito difícil condenar e provar, o que não quer dizer que o crime não tenha sido cometido.

Tânia diz, também, que tem “ouvido tanta besteira nos grupos, tanta besteira, que quis vir aqui contribuir, mesmo sob o risco de ser cancelada pelo identitarismo vigente que está causando esse estrago no país”.

Esta maneira de colocar o problema não me parece a mais adequada. Não pela parte acerca das “besteiras”, embora talvez haja divergência acerca do que é e do que não é besteira. O que considero inadequado é a parte que se refere ao “identitarismo vigente que está causando esse estrago no país”. 

Não tenho certeza sobre qual seria “esse” estrago a que Tânia se refere. Seja lá qual for, neste caso acho equivocado apontar o dedo acusador para o “identitarismo”. Entre outros motivos porque, na longa lista daquilo que causa “estrago” em nosso país – incluindo aí a violência contra as mulheres em geral e contra as mulheres negras em particular – o “identitarismo” seguramente não ocupa os primeiros lugares.

Tânia defende que “a palavra da mulher tem prevalência absoluta, mas nunca, jamais, para o efeito de condenação do suposto assediador, ou importunador”. Eu acrescentaria uma palavra na frase: “penal”. Afinal, para condenar alguém nos termos da lei, é necessário o devido processo legal, garantida a presunção de inocência, o direito à defesa e ao contraditório. Mas condenação penal e condenação política são coisas muito diferentes.

Não se trata, como é óbvio, de um tema trivial, como vimos no caso da Ação Penal 470 e no caso da Lava Jato. A condenação política - tão fácil neste ambiente de denuncismo e de redes antisociais - pode criar um ambiente que dificulte, objetivamente, o direito à defesa. Mas também pode ocorrer da não condenação política obstaculizar o devido processo, em prejuízo das vítimas, como ocorre no caso do presidente da Câmara dos Deputados, sem falar de outros cidadãos ilustres.

Para enfrentar este dilema, não encontramos resposta em “nenhuma regra do ordenamento jurídico brasileiro”. A questão é política, admitindo muitas mediações e soluções. Entretanto, por onde quer que eu observe os acontecimentos, não acho certo falar em “questão abjeta pela forma como vazou”. A questão é abjeta sim, mas por outros motivos, não devido a “forma como vazou”. Aliás, devemos nos perguntar se a “forma como vazou” não estaria vinculada a dificuldade de processar os que cometem crimes contra as mulheres.

Na mesma linha, acho um erro falar que estaríamos “penando aqui, em ano eleitoral, sabe, sofrendo por causa de uma questão tão idiota, que foi colocada de uma forma ridícula para uma ONG”. De fato, nessa eleição muitos de nós estamos “penando” e “sofrendo”, mas por outros motivos. Ademais, a “questão” pode ser muitas coisas, mas “idiota” não é. Como a própria Tânia afirma, estamos diante de um crime, seja de violência, seja de falsa denúncia. Finalmente, longe de mim qualquer entusiasmo por ongues; mas não acho razoável tratar como “ridícula” a atitude de quem busca denunciar um crime.

Meu ponto, em resumo, é o seguinte: tudo deveria e poderia ter ocorrido de forma diferente. Mas não me espanta que tenha ocorrido assim. Tampouco acho que já tenhamos todos os elementos para formar um juízo relativamente completo. Até porque podemos estar diante daquilo que alguns chamam de crise sinalizadora. Feitas todas estas ressalvas, opino que a executiva nacional do PT fez certo em solidarizar-se com Anielle e com as mulheres vítimas de violência, assim como Lula fez certo em demitir Sílvio Almeida. E acertou de novo ao escolher a nova ministra de Direitos Humanos. 

 

 

 

 

sábado, 7 de setembro de 2024

Sobre a demissão de Silvio Almeida

A demissão do agora ex-ministro Silvio Almeida comprova que o concreto é mesmo síntese de múltiplas determinações. 

 No caso, entre outras tão ou mais importantes: 

-a generalizada agressão contra mulheres, não importa quem sejam nem que cargo ocupem;

 -o encaminhamento dado às denúncias, quando estas foram feitas reservadamente; 

-a forma como a denúncia veio a público, em particular a natureza da entidade que serviu de portadora;

-o tratamento dado por Silvio Almeida, quando ainda era ministro, a diversas situações e temas; 

-a diferente importância que se dá às denúncias envolvendo mulheres e homens, brancos e negros, pessoas de esquerda e de direita, ministérios “fortes” e “fracos” (a depender do rigor, ainda que por diferentes razões, uma única demissão não bastaria);

-a relação contraditória entre a presunção de inocência, o direito à privacidade e a condição essencialmente pública do cargo de ministro; 

 -a discussão sobre quem assumirá o ministério de direitos humanos (a depender da pessoa escolhida, certos problemas podem aumentar);

 -o uso que a extrema-direita já está fazendo dos acontecimentos; 

 -o imenso desgaste político para a luta antirracista, para a luta das mulheres, para o PT, a esquerda e o governo; 

 -a dimensão digamos “pessoal” disto tudo, em primeiro lugar o sofrimento das vítimas. Sofrimento que leva, em alguns casos, à demora em denunciar certos crimes. 

São tantas as dimensões envolvidas, que mais algum tempo será necessário para termos uma visão de conjunto; e mais tempo ainda será necessário antes que possamos divulgar uma versão supostamente completa e publicável. 

Versão que precisa levar em devida conta a opinião dos militantes e movimentos envolvidos na luta das mulheres, negros e negras.

Mas, desde já, é possivel dizer, com base no que sabemos, tanto através de fontes públicas quanto privadas, que Lula fez bem em demitir o ministro. 

Assim como fez bem a executiva nacional do Partido dos Trabalhadores em solidarizar-se com a ministra Anielle Franco e com todas as mulheres vítimas de violência.

O problema, contudo, não se encerra com a demissão e substituição do ministro; nem se encerrará com a conclusão das investigações oficiais. Entre outros motivos, devido ao que podemos chamar de “rachadura no cristal”. 

O que isto significa já vimos no passado, quando denúncias de corrupção contribuíram para uma imensa crise num partido e num governo que destacavam seu compromisso com a ética na política. 

No presente, fatos como os que levaram à demissão de Sílvio Almeida podem, de forma similar, contribuir para imensos problemas para uma esquerda que corretamente enfatiza a luta contra o racismo e contra o machismo. 

Neste sentido, devemos evitar vários dos erros cometidos em situações similares.
 
Um deles foi não perceber o imenso efeito corrosivo e multiplicador de acusações que colocam em questão a coerência entre o que dizemos e o que fazemos. 

No quesito “coerência”, da direita não se cobra quase nada.

Já da esquerda se cobra um alto nível de coerência.

E está certo que assim seja. Pois se levamos a sério o que defendemos, temos a obrigação de praticar o que predicamos.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Venezuela: a democracia madura de Macron

presidente antecipa as eleições parlamentares.

O povo vota.

Ninguém consegue maioria absoluta.

Mas há uma maioria relativa.

Acontece que o presidente tem opiniões muito criticas acerca desta maioria.

E decide indicar como primeiro ministro alguém de uma minoria bem minoritária.

Se fosse no “backyard”, alguém já estaria pedindo as atas.

Mas como é na França, o que predomina em certos meios é uma discussão interessantíssima sobre o “presidencialismo bonapartista”.

Seja como for, os acontecimentos citados dizem muito sobre como funciona a “democracia” no Circuito Elizabeth Arden.

O que me faz lembrar o alerta de Marco Aurélio Garcia contra os que achavam que hipocrisia é nome de uma ilha grega.

Eleger Boulos é fundamental

Não há dúvida: eleger Boulos é fundamental.

E para isso o engajamento do PT deve seguir total.

Inclusive com recursos do Fundo Eleitoral.

Como, quando e quanto? Sobre isso, é normal existirem divergências.

E, havendo divergências, cabe às instâncias partidárias decidir.

No caso, cabe à direção partidária.

Hoje em dia, é muito fácil reunir a direção. 

Votações importantes já foram feitas em grupo de zap.

Assim, não consigo entender por qual motivo ocorreu a situação relatada por Romenio Pereira, em carta por ele dirigida à executiva nacional do Partido.

Mas registro minha imensa preocupação com o motivo alegado, segundo a imprensa, por uma dirigente nacional: "Talvez tenha sido um erro esse atropelo, mas nós temos uma maioria consolidada no partido para aprovar esse repasse. Não ia mudar nada na essência".

O método da maioria presumida já foi adotado no passado.

O resultado foi que decisões começaram a ser adotadas, sem que nem mesmo todos os integrantes da chamada maioria soubessem.

E isso contribuiu negativamente para crises que o Partido viveu no passado.

Portanto, o fato de que existe uma "maioria consolidada" não justifica o "atropelo" e pode provocar danos "na essência" da vida partidária.

Como diz o ditado, o combinado não sai caro.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Venezuela: o bumerangue de Celso Amorim

Brasil e Colômbia divulgaram nova nota sobre a situação na Venezuela. A nota diz, entre outras coisas, o seguinte: 


“Os governos de Brasil e Colômbia manifestam profunda preocupação com a ordem de apreensão emitida pela Justiça venezuelana contra o candidato presidencial Edmundo González Urrutia, no dia de ontem, 2 de setembro.”

A íntegra da nota pode ser lida aqui:


O companheiro Celso Amorim foi além e disse que uma eventual detenção de González "seria uma prisão política, e nós [Brasil] não aceitamos prisões políticas".

As declarações de Celso estão aqui:

Além da discussão sobre a situação da Venezuela e, também, sobre a conveniência de um alto funcionário público brasileiro opinar desta forma sobre legítimas decisões judiciais adotadas em outro país, a declaração do companheiro Amorim merece ser analisada a partir de outro ângulo. A saber: se um desrespeito a lei não pode ser punido, sob pena de caracterizar uma supostamente inaceitável “prisão política”, como ficam os culpados pela intentona de 8 de janeiro?

A depender da resposta, certas críticas contra a justiça venezuelana podem percorrer trajetória parecida com a de um bumerangue.



segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Venezuela: a batalha segue

Os Estados Unidos não conseguiram derrubar Maduro, mas seguem pressionando.

Um pequeno e recente exemplo desta pressão é a apreensão, no dia 2 de setembro, de um avião venezuelano que estava na República Dominicana.

Mais detalhes estão aqui: https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/aviao-presidencial-da-venezuela-e-apreendido-pelos-eua/

Ao mesmo tempo, segue a pressão pelas atas, inclusive aproveitando o fato de que até o momento não foi publicada a Gaceta Electoral com os resultados detalhados da eleição presidencial.

Não tenhamos dúvida: entre piratas e próatas, a batalha pela soberania da Venezuela ainda não terminou.