quarta-feira, 29 de maio de 2024

O aplicativo do PT contém uma notícia incorreta sobre a greve nas universidades

Ontem eu li no site do PT uma notícia incorreta.

Avisei imediatamente a presidenta do Partido e o secretário nacional de comunicação.

O secretário solicitou que a matéria fosse tirada do ar.

E assim foi: quem clicar (neste momento, 11h30 de 29 de maio) o link abaixo vai ver um espaço vazio.

https://pt.org.br/governo-lula-garante-reajuste-salarial-para-entidade-de-docentes-federais/

Page not found | Partido dos Trabalhadores (pt.org.br)

Ademais, enviei ao secretário um texto alternativo, informativo, objetivo, que ele poderia publicar no lugar da notícia incorreta.

Assunto resolvido?

Não.

As 11h da manhã de 29 de maio fui informado por  um colega que a matéria continuava no ar, mais exatamente no aplicativo do PT.

E de fato lá está, como se pode ver pelas fotos inseridas nesta postagem.

Isto posto, o que é incorreto na matéria citada?

Primeiro, em nenhum momento a matéria informa que havia e segue havendo uma greve.

A greve envolve técnicos administrativos, professores de institutos federais e professores de universidades federais.

E a greve continua, pois a maioria das assembleias realizadas até agora não aceitou a proposta do governo.

A negociação do governo foi feita com várias entidades, das quais apenas uma - a menos representativa - assinou o acordo.

É surreal, para não dizer outra palavra, que o site de um Partido que teve origem nas grandes lutas e greves dos anos 1970, não informe aos leitores que há uma greve em curso.

Segundo, em nenhum momento a matéria informa o nome das entidades com as quais o governo negocia. Aliás, aparece um funcionário do governo dando entrevista, aparece um deputado do partido dando entrevista, mas não aparece nenhum sindicalista dando entrevista. Nem um sindicalista em greve, nem um sindicalista da entidade que assinou o acordo.

Não é deveras estranho esta ausência, este silêncio?

Em terceiro lugar, a matéria difunde algumas informações falsas, disfarçadas - como manda a boa regra das fake news - por estatísticas.

Diz o texto: "do conjunto de reivindicações, cerca de 80% foram atendidas"; "a correção salarial chega a 43% para a base e 28% para o topo", "ganho real significativo nesses quatro anos".

Para começo de conversa, os dados do governo não concidem com os dados do movimento sindical. 

Aliás, não coincidem nem mesmo com os dados elaborados por nós, petistas que somos das entidades que dirigem a greve. Mas a matéria publicada no site do PT não dá voz para ninguém, a não ser para um funcionário do governo.

Em segundo lugar, reposição salarial (devido as perdas acumuladas desde 2016) é diferente de aumento salarial. A honestidade manda explicar isso.

Em terceiro lugar, quando chegarmos em 2026, se nada de extraordinário ocorrer, a maior parte dos servidores estará com salários próximos aos que tinha no início de 2023. Ou seja, não se trata de "ganho real", nem mesmo de reposição das perdas acumuladas. Aliás, ganho real seria aumento acima da inflação e não é disso que se trata, mas sim de reposição.

Em quarto lugar, mas muito importante: no ano de 2024 o índice proposto pelo governo é de ZERO por cento nos salários. Os aposentados, além de zero de recomposição nas aposentadorias, não tem os adicionais. Portanto, duplo zero para os aposentados.

Em quinto lugar, recomendo a quem fez a matéria que pergunte, ao Feijóo, quantas pessoas estão na base da carreira de docentes e que vão receber, segundo ele, 43%. Façam a pergunta e aguardem a resposta....

Em sexto lugar, a matéria não fala nada acerca dos outros pleitos das categorias em greve, entre as quais a recomposição do orçamento da educação e a revogação de uma série de medidas adotadas pelo governo do cavernícola, que seguem aí.

Em sétimo lugar, a matéria não informa que no dia 3 de junho haverá nova reunião, agendada a contragosto pelo Feijóo, a partir da pressão dos grevistas, que querem ter a chance de negociar a contraproposta que formularam.

Enfim, a matéria é cheia de falhas, erros, omissões, desinformações.

A mais grave de todas é a frase final, atribuída ao Zeca Dirceu: "o parlamentar destaca que o mais importante é o bom diálogo entre as partes".

Pessoal, não houve bom diálogo entre as partes. Uma das provas disto foi a decisão de encerrar a negociação no dia 27 e assinar o acordo com uma entidade que representa muito pouco, perto das demais, tentando forçar um desfecho.

Haveria outras coisas a dizer sobre a matéria publicada no app do PT, mas acho que o que foi dito basta. 

Espero que no dia 3 de junho a negociação seja reaberta. Espero que a CUT e o PT convençam o governo de que isto é necessário, reafirmando o que já foi dito várias vezes, por inúmeros dirigentes e parlamentares do Partido e por integrantes da Central. E espero, também, que o governo trate aliados como aliados; pois não faz sentido ver a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal receberem melhor tratamento do que técnicos e docentes.

Fica, também, a sugestão de que a executiva nacional do Partido convide os petistas das entidades que estão em greve. Assim poderão ouvir outro lado da história, muito diferente daquele que Feijóo contou para a executiva, no dia 27 de maio.

Antes que me esqueça: espero também que os textos publicados no nosso site e aplicativo sejam elaborados com mais cuidado jornalístico e político.

Segue abaixo o texto que enviei ao secretário de comunicação do PT, como uma sugestão de nota jornalisticamente neutra. E seguem, também, os prints da matéria publicada no app do PT.

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[06:05, 29/05/2024] Valter Pomar: Jilmar, bom dia. Minha sugestão de texto NEUTRO, jornalisticamente objetivo e sem chapa branquice, é o que segue abaixo.

[06:05, 29/05/2024] Valter Pomar: Greve nas universidades: dia 3 de junho prosseguem as negociações

As universidades e os institutos federais estão em greve. A greve envolve três categorias diferentes: os professores das universidades, os professores dos institutos e os técnicos administrativos. Cada uma destas categorias é representada por diferentes entidades sindicais. No caso dos docentes, há duas entidades que disputam a representação: o Andes e o Proifes. O Andes representa cerca de 60 associações docentes, o Proifes representa cerca de 10 associações docentes.

No dia 27 de maio, o governo considerou encerradas as negociações e assinou um acordo em separado com o Proifes. O acordo assinado contém três dimensões principais: reajustes no salário, reajuste nos benefícios e mudanças na progressão das carreiras. O governo argumenta que, considerando o conjunto do que foi oferecido, estaria oferecendo um reajuste que cobriria não apenas as perdas estimadas para o período 2025-2026, mas também parte das perdas ocorridas durante o biênio 2023-2024 e, inclusive, parte das perdas ocorridas durante o período do golpe e do governo de extrema-direita.

Parte dos trabalhadores concorda com esta opinião e aprovou, em assembleias e consultas em urna, tanto a proposta do governo quanto o encerramento da greve (há, também, algumas poucas universidades que nunca chegaram a entrar em greve). Outra parte dos trabalhadores discorda da proposta do governo e decidiu manter a greve. Embora haja diferentes versões, os dados disponíveis indicam que até o momento da assinatura do acordo, a maioria das categorias, na maioria das universidades, se manifestou contra o acordo e a favor de continuar a greve.

As entidades que decidiram manter a greve apresentaram uma contraproposta e solicitar ao governo que mantivesse a negociação. O governo, mesmo reafirmando que não tem margem orçamentária para conceder mais nada, agendou uma nova reunião no dia 3 de junho. A contraproposta apresentada pelas entidades inclui medidas não orçamentárias (como revogação de decisões dos governos Temer e Bolsonaro), inclui medidas gerais (como recomposição do orçamento das universidades) e inclui medidas orçamentárias (como a concessão de um reajuste em 2024).

Um dos pontos mais polêmicos reside exatamente no tema do reajuste de 2024. O governo afirma que não tem margem para oferecer mais; que reajustou os benefícios; e que o conjunto dos reajustes oferecidos dará conta de eliminar as perdas inflacionárias de 2024. Já os grevistas afirmam que reajuste zero em 2024 equivale a confisco salarial, que afetará principalmente os aposentados, que não terão nem mesmo os reajustes em benefícios.

Outro ponto polêmico reside na decisão do governo, de assinar um acordo com o Proifes. O próprio Proifes é filiado a CUT e afirma que sua posição é respaldada em decisões de base. Já o Andes afirma que o Proifes é pouco representativo e que a maioria da base do Proifes recusou a proposta do governo e segue em greve.

A executiva nacional do PT debateu o tema na sua reunião de 27 de maio e solicitou ao governo que fizesse um esforço de prosseguir a negociação.









4 comentários:

  1. Com esse episódio, a coisa está se mostrando cada vez pior... Agora o site do PT é disseminador de fake news...

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  2. O partido precisa corrigir esse erro e tantos outros país a fora, como a falta de valorização de nossos quadros e o fortalecimento de tantos aliados, importantes sim, mas não fieis na hora H. Precisamos promover encontros regionais e conhecer os novos quadros que tem o PT raiz no sangue e podem levar o partido ao pódio e garantir um projeto de poder que beneficie a classe trabalhadora nos municípios.

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  3. Prezado Feijó. Não esqueça de inserir em suas análises e críticas internas o fato de que os TAEs - que iniciaram o movimento grevista - continuam sem resposta do governo. O governo nem ao menos enviou de maneira formal a última proposta e não marcou nova mesa. Completo desrespeito na categoria que, sem sombra de dúvidas, mas tem base de apoio a medidas e governos de corte popular (mais que os docentes, inclusive).

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  4. Olá, Pomar! Sobre o seu texto sugerido tem um ponto no início que é um pouco mais complexo do que vc colocou. A Proifes e a Andes representam, de fato, docentes das universidades e IFs, o Sinasefe, por sua vez, representa docentes dos IFs e TAE. Já a FASUBRA, apenas TAE.

    Seu texto sugerido é sobre docentes (já que a notícia do governo é sobre o acordo firmado com os docentes representados pelo Proifes), por isso deve ser acrescentado que a Andes representa docentes das UFs e IFs como o Proifes; além disso, introduzir o Sinasefe que tem como uma das suas categorias de representação a maioria das seções dos IFs.

    A Andes, por exemplo, representa docentes de CEFET (que são IFs, assim como o CPII no Rio é IF pela nova legislação aprovada ainda no Lula II - CPII é da base do Sinasefe). Enfim, esses sindicatos Sinasefe (docentes e TAE de IFs ), Andes e Proifes representam uma base docente que estão nos IFs e tb nas UFs.

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