Recomendamos ler a "ordem do dia" da General Laura Richardson.
Está disponível aqui: General americana mira China e diz que Brasil e EUA têm de se unir | Brasil | Valor Econômico (globo.com)
Primeiro, um comentário: americanos somos todos nós que vivemos no continente.
A general é estadounidense.
Chamar de "americana" é uma decorrência da Doutrina Monroe, que dizia "a América para os americanos", mas queria dizer "a América para os Estadounidenses".
A general está no Brasil, para "exercícios militares conjuntos", denominados Southern Seas 2024.
Quem introduziu o tema China foi o próprio Valor, que perguntou ""qual é a mensagem geopolítica que esse exercício envia, especialmente à China, cuja presença crescente na América Latina tem sido motivo de preocupação de integrantes do governo dos EUA, de parlamentares e também uma preocupação sua?"
A resposta de Laura Richardson é um primor: "Número um, são 200 anos [de relações entre EUA e Brasil]. E se você quiser comparar com a China, são 50 anos. O Brasil e os Estados Unidos compartilham 200 anos de relações bilaterais, isso é muito significativo".
Realmente, é muito significativo, especialmente se lembramos do papel que os Estados Unidos teve no golpe militar de 1964 e na sustentação da ditadura militar. Ou do apoio dado pelos EUA ao golpe de 2016, à Operação Lava Jato e à prisão de Lula.
Aliás, citar um porta-aviões neste contexto é um ato falho genial, que remete à Operação Brother Sam. Mais detalhes sobre isso, aqui: Teoria e Debate | 1964: os Estados Unidos e o golpismo - Teoria e Debate
O Valoer pergunta se "esses exercícios militares na região colocam os EUA em uma situação distinta da situação da China na região, ainda que a China seja o primeiro parceiro comercial de muitos dos países?"
A pergunta contém uma condenação explícita: enquanto a China faz negócios, vocês promovem guerras. Mas a general não veste a carapuça e responde o seguinte: "Como democracias de mentalidade semelhante, procuramos buscar uma situação em que todos saiam ganhando, em que ambos os países, ambas as nações, se beneficiem. E não uma relação de ganha-perde, não é assim que operamos. Como democracias, respeitamos uns aos outros. Respeitamos a soberania uns dos outros. Respeitamos o povo um do outro, as democracias, o que não acontece com um país comunista, porque eles não respeitam os direitos de seu próprio povo".
Sobre a parte do respeito a soberania, a general é negacionista. A história dos Estados Unidos é a história do desrespeito à soberania dos demais povos, a começar pelos povos da América Latina e Caribe.
Quanto ao respeito aos direitos de seu próprio povo, que tal começar por um direito fundamental: a vida? E tomar como parâmetro a pandemia de Covid 19. Pergunto: um trabalhador comum tinha mais chance de sobreviver onde? Nos EUA ou na China? Os números são acachapantes a este respeito.
Mas a principal mensagem política da general é o lugar do Brasil no mundo, que segundo ela é o de "alimentar e abastecer o mundo", com "soja, o milho, o açúcar, o petróleo bruto pesado, o petróleo bruto leve, as terras raras, o lítio, a Amazônia". Ou seja: nosso lugar no mundo é e deve continuar sendo primário-exportador.
Neste quesito, a Belt and Road Iniciative (Iniciativa Cinturão e Rota) é uma possibilidade alternativa. Os EUA não querem que o Brasil adira. Mas o argumento da general é outro ato falho: ela fala das "letras miúdas" e de ""como a soberania é retirada ao longo do tempo se os empréstimos não forem pagos", ou seja, ela fala exatamente do que ocorreu na relação entre EUA e Brasil na crise da dívida externa. Situação que, gostemos ou não da China, não tem nada que ver com a Iniciativa Cinturão e Rota. Como também é hilário a tentativa de vincular a ampliação da presença da China, com a ampliação da presença do crime organizado.
O mais divertido, entretanto, é ver como a general define soft power: "No meu cargo no Comando Sul dos EUA, procuro fazer parte do soft power que podemos exercer. Não se trata apenas de poder militar duro". Pois é: não se trata "apenas" de poder militar duro, mas de "unir os instrumentos de poder nacional: diplomático, de informação, militar e econômico".
Seja como for, é ótimo que a general tenha se transformado em propagandista da "Parceria Americana para a Prosperidade Econômica". Primeiro, porque nos ajuda a explicar qual é o lado B desta "parceria". Segundo, porque concorrência ajuda na negociação.
Uma última nota: a general foi absurdamente injusta com o Irã. Não é verdade que "o Irã é o maior patrocinador estatal do terrorismo". Os fatos demonstram que ninguém supera os Estados Unidos e Israel neste quesito.
E por falar em terrorismo, quando é que os EUA vão suspender o bloqueio e tirar Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo (pois, até agora, tiraram de outra lista, mas mantiveram Cuba na lista que maiores danos causa)?
Na Filosofia da História de um alemão chamado Frederico, está profetizado uma mensagem de guerra inevitável.
ResponderExcluirLeiam. Por favor.
A geografia é DESTINO.
Derivando Lógica dialética mais a História apontam a contradição da colonização anglosaxônica contra as colonizações ibérica, portuguesa e hispânica.
Pois mesmo, na selvagem ditadura Argentina ocorreu um conflito contra o imperialismo anglo.
E nesse episódio, a ditadura militar brasileira ficou neutra não?
Situação Sui generis.
O enigma militar, com seu odor característico, não pode ser resolvido sem enfreta-lo.
É preciso que os petistas se preparem.
Viva Tiradentes, Prestes, Rondon