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A Editora Expressão Popular, a Fundação Perseu Abramo e a Fundação Rosa Luxemburgo acabam de traduzir e publicar, pela primeira vez em português, o livro A Revolução Alemã (1918-1919), de Sebastian Haffner, aliás Raimundo Pretzel (1907-1991).
Existem outras obras, traduções ou escritas originalmente em português abordando o mesmo tema, envolto em muitas polêmicas, algumas das quais abordadas nos textos escritos por Gerhard Dilger e Dainis Karepovs como introdução ao livro de Haffner-Pretzel.
A Revolução Alemã de 1918-1919 é muito pouco estudada pela esquerda brasileira, diferente da Revolução Russa de 1917, da Revolução Chinesa de 1949, da Revolução Cubana de 1959 e da Revolução Nicaraguense de 1979, que fazem parte do programa de formação política de oito em cada dez organizações de esquerda.
Quando comparece nos currículos de nossas escolas, a Revolução Alemã de 1918-1919 é geralmente citada brevemente como parte dos fatores que contribuíram para os caminhos e descaminhos do socialismo soviético, como prova cabal de que a social-democracia “traiu o socialismo”, como cenário do assassinato de Rosa Luxemburgo e ambiente no qual se gestaram alguns dos elementos que posteriormente cristalizariam no nazismo. E pouco mais se diz. É exatamente esse “pouco mais” que pode ser encontrado no livro de Haffner-Pretzel.
É importante lembrar: depois da derrota da Comuna de Paris (1871), as expectativas de um triunfo da classe trabalhadora se transferiram da França para a Alemanha. O Partido Social-Democrata alemão (SPD), fundado em 1875, se converteu na principal referência do movimento socialista internacional. Dentro desse partido conviviam posições de “direita”, “centro” e “esquerda”. Mesmo que a “direita” fosse cada vez mais predominante, esperava-se que a Social-Democracia alemã lutasse até o fim contra a guerra. A expectativa era tão grande que até mesmo Lenin, ao receber a notícia de que a bancada do SPD dera seu voto unânime, no dia 4 de agosto de 1914, a favor dos “créditos de guerra”, acreditou tratar-se de uma falsificação difundida pelo governo imperial alemão para confundir o movimento socialista. Mas, como sabemos, a notícia era verdadeira.
O apoio de fato à guerra aprofundou a cisão entre as diferentes tendências do SPD. Parte da esquerda do partido, liderada por Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Franz Mehring e Clara Zetckin, organizou em dezembro de 1914 uma tendência semiclandestina chamada Espartaquista. Em abril de 1917, o centro e a esquerda do partido formam o Partido Social-Democrata Independente (USPD). Os espartaquistas inicialmente participam do USPD, mas em janeiro de 1919 contribuem para a criação do Partido Comunista da Alemanha (KPD). Por fora do SPD, na base da classe trabalhadora e também nas Forças Armadas, desenvolve-se uma oposição popular de esquerda contra as posições majoritárias na social-democracia.
O livro de Haffner-Pretzel dá uma boa ideia acerca de como cada uma dessas organizações se movimentou, entre 9 de novembro de 1918 e 11 de agosto de 1919, ou seja, entre a dissolução do Império Alemão e a proclamação da República de Weimar.
O livro mostra, também, como os capitalistas alemães e a cúpula das Forças Armadas articularam com parte da social-democracia para impor limites e, no limite, derrotar política e militarmente os setores mais radicais da classe trabalhadora. Relata o envolvimento de líderes do SPD, a começar por Ebert, no assassinato de Rosa Luxemburgo. E demonstra como as tendências de esquerda (USPD, espartaquistas-comunistas e conselhistas) não conseguiram superar suas debilidades políticas e organizativas. O resultado disso foi uma república construída a partir da derrota da revolução, o que ajuda a entender o triunfo do nazismo quinze anos depois, bem como a profunda cisão entre social-democratas e comunistas.
Enfim, a história contada pelo livro de Haffner-Pretzel não tem final feliz, tampouco heróis triunfantes cujas teorias supostamente foram confirmadas pela prática. Mas, por isso mesmo, trata-se de uma história que deve ser estudada com extrema atenção, especialmente por nós da esquerda brasileira e latino-americana, nessa virada de ano de 2018 para 2019.
A Editora Expressão Popular, a Fundação Perseu Abramo e a Fundação Rosa Luxemburgo acabam de traduzir e publicar, pela primeira vez em português, o livro A Revolução Alemã (1918-1919), de Sebastian Haffner, aliás Raimundo Pretzel (1907-1991).
Existem outras obras, traduções ou escritas originalmente em português abordando o mesmo tema, envolto em muitas polêmicas, algumas das quais abordadas nos textos escritos por Gerhard Dilger e Dainis Karepovs como introdução ao livro de Haffner-Pretzel.
A Revolução Alemã de 1918-1919 é muito pouco estudada pela esquerda brasileira, diferente da Revolução Russa de 1917, da Revolução Chinesa de 1949, da Revolução Cubana de 1959 e da Revolução Nicaraguense de 1979, que fazem parte do programa de formação política de oito em cada dez organizações de esquerda.
Quando comparece nos currículos de nossas escolas, a Revolução Alemã de 1918-1919 é geralmente citada brevemente como parte dos fatores que contribuíram para os caminhos e descaminhos do socialismo soviético, como prova cabal de que a social-democracia “traiu o socialismo”, como cenário do assassinato de Rosa Luxemburgo e ambiente no qual se gestaram alguns dos elementos que posteriormente cristalizariam no nazismo. E pouco mais se diz. É exatamente esse “pouco mais” que pode ser encontrado no livro de Haffner-Pretzel.
É importante lembrar: depois da derrota da Comuna de Paris (1871), as expectativas de um triunfo da classe trabalhadora se transferiram da França para a Alemanha. O Partido Social-Democrata alemão (SPD), fundado em 1875, se converteu na principal referência do movimento socialista internacional. Dentro desse partido conviviam posições de “direita”, “centro” e “esquerda”. Mesmo que a “direita” fosse cada vez mais predominante, esperava-se que a Social-Democracia alemã lutasse até o fim contra a guerra. A expectativa era tão grande que até mesmo Lenin, ao receber a notícia de que a bancada do SPD dera seu voto unânime, no dia 4 de agosto de 1914, a favor dos “créditos de guerra”, acreditou tratar-se de uma falsificação difundida pelo governo imperial alemão para confundir o movimento socialista. Mas, como sabemos, a notícia era verdadeira.
O apoio de fato à guerra aprofundou a cisão entre as diferentes tendências do SPD. Parte da esquerda do partido, liderada por Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Franz Mehring e Clara Zetckin, organizou em dezembro de 1914 uma tendência semiclandestina chamada Espartaquista. Em abril de 1917, o centro e a esquerda do partido formam o Partido Social-Democrata Independente (USPD). Os espartaquistas inicialmente participam do USPD, mas em janeiro de 1919 contribuem para a criação do Partido Comunista da Alemanha (KPD). Por fora do SPD, na base da classe trabalhadora e também nas Forças Armadas, desenvolve-se uma oposição popular de esquerda contra as posições majoritárias na social-democracia.
O livro de Haffner-Pretzel dá uma boa ideia acerca de como cada uma dessas organizações se movimentou, entre 9 de novembro de 1918 e 11 de agosto de 1919, ou seja, entre a dissolução do Império Alemão e a proclamação da República de Weimar.
O livro mostra, também, como os capitalistas alemães e a cúpula das Forças Armadas articularam com parte da social-democracia para impor limites e, no limite, derrotar política e militarmente os setores mais radicais da classe trabalhadora. Relata o envolvimento de líderes do SPD, a começar por Ebert, no assassinato de Rosa Luxemburgo. E demonstra como as tendências de esquerda (USPD, espartaquistas-comunistas e conselhistas) não conseguiram superar suas debilidades políticas e organizativas. O resultado disso foi uma república construída a partir da derrota da revolução, o que ajuda a entender o triunfo do nazismo quinze anos depois, bem como a profunda cisão entre social-democratas e comunistas.
Enfim, a história contada pelo livro de Haffner-Pretzel não tem final feliz, tampouco heróis triunfantes cujas teorias supostamente foram confirmadas pela prática. Mas, por isso mesmo, trata-se de uma história que deve ser estudada com extrema atenção, especialmente por nós da esquerda brasileira e latino-americana, nessa virada de ano de 2018 para 2019.
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