quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

As mais recentes opiniões de Tarso Genro


Poder 360 publicou, no dia 6 de dezembro de 2018, uma entrevista com Tarso Genro.

A íntegra está aqui: 

https://www.poder360.com.br/partidos-politicos/presidente-do-pt-precisa-ser-uma-pessoa-como-o-haddad-diz-tarso-genro/

Ex-prefeito, ex-governador, ex-ministro e ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Tarso Genro é assíduo frequentador dos debates travados pela esquerda brasileira.

Na entrevista, concedida a Lauriberto Brasil, Tarso deixa claro que não tem “contato permanente com a direção do partido”.  Esta falta de “contato permanente” acontece, até onde eu sei, por decisão do próprio Tarso.

Feita esta ressalva, Tarso considera uma ideia “correta e justa” a possibilidade de “Lula tentar progredir para a prisão domiciliar”, que seria “uma vitória no contexto que estamos vivendo”.

Lula quer isto? Tarso não sabe dizer, pois “não fiz nenhuma visita. Meu contato com ele é através do Haddad e dos filhos dele. Ele está com a agenda sobrecarregada. Aguardo o momento oportuno para visitá-lo. Não sou muito insistente, não tenho desejo político de interferir na agenda do presidente”.

Portanto, estamos informados de que Tarso não tem contato permanente nem com a direção do Partido, nem com o presidente Lula. Isto posto, PODER 360 pergunta sobre o que ele, Tarso, acho “da direção do PT mudar resolução pós-eleição da sigla que incluía críticas ao ajuste fiscal de Dilma Rousseff?”

Sobre isso Tarso prefere não opinar: “embora não concorde com uma parte razoável da linha de campanha e do governo da presidente Dilma, não é adequado me manifestar sobre isso. A atual direção tem legitimidade para tomar decisões”.

Não é dito por qual motivo não é “adequado” se manifestar especificamente “sobre isso” (o debate acerca do ajuste fiscal promovido em 2015, a linha de campanha, o governo da presidenta Dilma).

Registre-se que o fato de vivermos um “momento especial”, o fato de Lula estar preso e o fato da direção ter legitimidade para aprovar resoluções nunca impediu Tarso de opinar sobre temas tão e quão polêmicos.

Por exemplo, sobre a condução da presidenta Gleisi Hoffmann na presidência do partido, acerca da qual Tarso diz ter sido, “dentro do que é a maioria”, “a melhor possibilidade”.

Mas Tarso ressalva que é “a favor de mudanças no partido, com outros métodos de direção e aproximação com as direções intermediárias nos Estados. O próximo presidente do PT precisa ser uma pessoa como o Haddad, alguém ligado aos movimentos sociais e à intelectualidade”.

Talvez Tarso tenha dito outras coisas, além destas que foram publicadas. Afinal, embora os métodos de direção sejam um problema, acredito que ele concorde que o principal problema enfrentado pelo PT é de orientação política.

E neste quesito orientação política, cabe perguntar se o companheiro Fernando Haddad representaria uma mudança positiva em relação às posições defendidas por Gleisi Hoffmann?

Tarso dá a entender que sim, já que para ele Haddad seria “alguém ligado aos movimentos sociais e à intelectualidade”.

Confesso que não sabia deste nível de ligação de Haddad com os movimentos sociais. Mas, de toda forma, para responder a pergunta sobre a orientação política, caberia analisar certas opções feitas por Fernando Haddad, antes, durante e depois da campanha presidencial.

Refiro-me, entre outras questões, a decisão de retirar do programa do PT a defesa do duplo mandato para o Banco Central, o elogio feito à Operação Lava-Jato, a prioridade dada para o diálogo com os setores de “centro-direita”, o lugar conferido a Lula no segundo turno, a mensagem enviada a Bolsonaro etc.

Perguntado sobre Jaques Wagner, Tarso diz tratar-se de “um nome valioso, mas posicionado e articulado com a maioria partidária”. 

Acontece que Haddad também o é. Para quem não sabe, Haddad afastou-se da Mensagem ao Partido quando virou candidato à prefeitura de São Paulo, em 2012; e ingressou na tendência Construindo um novo Brasil, pouco antes de tornar-se candidato à presidência da República.

Portanto, se Wagner é articulado com a “maioria partidária”, Haddad também.

Na entrevista tal como foi editada e publicada, Tarso Genro responde três outras questões.

Seria “legítimo PDT, PC do B e PSB formarem um bloco de oposição no Congresso sem o PT?”

Tarso responde o óbvio: “totalmente legítimo”. Mas agrega algo que está longe de ser óbvio. Segundo Tarso, “o PT precisa construir uma frente política nova, ouvir, e se aproximar sem colocar hegemonismo, se aproximar com humildade”.

Nada contra a orientação pró-humildade de Tarso, mas o que está em jogo é outra coisa: há da extrema-direita uma operação para destruir o PT e há, por parte de setores da centro-esquerda, uma operação para isolar o PT. Isto foi tentado antes das eleições e continua depois. Não se enfrentará isto com promessas de “humildade”, nem muito menos vestindo a carapuça do “hegemonismo”.

Como o PT deve, “na prática”, “se reconectar com as ruas”?

Tarso responde, salvo engano, com reflexões que ele já fez algumas vezes, em outras circunstâncias. 

Diz que as “relações hoje são horizontais, em rede, não há mais relações hierárquicas. A conexão em rede supre as hierarquias dos partidos sobre os movimentos sociais. Precisa haver um diálogo de baixo para cima. Há também formas novas de empreendedorismo, junto ao grande e médio capital. Surge um pensamento empresarial diferente daquele da Avenida Paulista, com trabalhadores e setores ligados a ele. Não só o PT, mas toda a classe política precisa ter essa compreensão do novo fenômeno da economia mundial no trabalho”.

Lendo tudo isto, caberia perguntar: do que é mesmo estamos falando? O que, dos nosso problemas, se resolve com um raciocínio que mistura redes, hierarquias, diálogo, empreendedorismo e uma tal de “classe política”??

Dito de outra forma: o PT recebeu 31 milhões de votos no primeiro turno e seu candidato recebeu 47 milhões de votos no segundo turno. Se considerarmos estes números, mas também outros indicadores (número de militantes, presença em organizações representativas de diferentes setores da sociedade etc.), a conclusão é: dos partidos brasileiros, o PT é o que exibe maior conexão com “as ruas”.

Portanto, nosso problema não é exatamente “reconectar” com as “ruas”. Nosso problema é reorganizar a conexão com aqueles que nos consideram uma referência positiva e reconquistar aqueles que perdemos no curso dos últimos anos. E nosso “foco” não são as “ruas”, mas a classe trabalhadora, especialmente a juventude trabalhadora, as mulheres trabalhadoras, os negros e as negras que constituem a maior parte da classe trabalhadora.

E é a partir desta ângulo que precisamos discutir como tratar os problemas “organizativos”. E, sobre isto, pode soar muito bonito dizer que “não há mais relações hierárquicas”, mas na vida real a extrema-direita se apoia em estruturas fortemente hierarquizadas (como as Forças Armadas, certas empresas disfarçadas de igrejas, a mídia oligopolista, o aparato judiciário e de segurança pública) e, além disso, a extrema-direita está operando para destruir as nossas organizações: o Partido, os sindicatos, as direções dos movimentos etc.

Se começarmos a acreditar que isto não importa mais, que não há mais “relações hierárquicas”, apenas nos converteremos em alvo ainda mais fácil.

A última pergunta publicada é sobre se Bolsonaro “ soube se comunicar com a população durante a campanha?”

A pergunta é meio acaciana, pois afinal de contas o cidadão ganhou o segundo turno. 

Segundo a versão publicada da entrevista, Tarso respondeu que “a reforma trabalhista está consolidada em muitos pontos, resistir a ela como o PT e a esquerda têm feito é importante, mas insuficiente. Precisamos nos adaptar a esse novo mundo de trabalho desqualificado, com trabalhadores intermitentes. A esquerda tem que desenvolver um manto protetor para o trabalhador semi-integrado de baixa renda que vai trabalhar 12 horas para ganhar um salário mínimo. Se não olharmos para essas pessoas, elas serão cooptadas pelo racismo, pelo autoritarismo e pela violência”.

Certamente Tarso deve ter dito outras coisas, que não estão na versão editada e publicada pelo Poder 360. Pena, pois esta é sem dúvida uma questão chave, para um partido de trabalhadores e trabalhadoras. A saber: como dialogar, como organizar, como colocar em movimento e luta cada um dos setores que integram a classe trabalhadora.  

Cá entre nós, uma questão que deve ser levada em conta ao responder quem tem o perfil individual mais ou menos adequado para a tarefa de dirigir o Partido, ao responder quem poderá ser nossa candidatura nas supostamente próximas eleições e, principalmente, ao responder que tipo de PT precisaremos ter nos próximos anos: um partido eleitoral ou um partido de combate? 

2 comentários:

  1. Falando em Jaques Wagner, ele não perde uma mesmo: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/12/nao-e-a-melhor-hora-de-reconhecer-erros-mas-gente-nossa-fez-bobagem-diz-jaques-wagner.shtml

    "A cadeira vai ajeitando a pessoa". Que diabo é isso? Sorte ao Bolsonaro?

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  2. Falando a respeito de cadeira, Dirceu tem uma avaliação melhor: a cadeira queima; queima aquela cadeira de presidente.

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