terça-feira, 3 de outubro de 2017

Moniz Bandeira esclarece

Publico abaixo mensagem e entrevista do professor Moniz Bandeira.

Querido Valter, muitos articulistas escreveram que defendi a intervenção militar em favor do pronunciamento do geral Antônio Hamilton Mourão. Não é certo. Já havia falado sobre isso havia muito tempo e agora o fiz outra vez antes do general Antônio Hamilton Mourão, que falou, coincidentemente, logo depois. Gostaria de que esclarecesses isto no seu blog que é muito lido. Referi intervenção militar com objetivos claros e definidos, o de impedir o desmonte da soberania nacional, que agora alcançou a energia nuclear com a assinatura do Protocolo Adicional ao TNP, violando o disposto na Estratégia Nacional de Defesa. Quousque tandem abutere, Michel Temer, patientia nostra?
Com um forte abraço, Moniz

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Prof. Dr. Dres. h.c. Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira


Moniz Bandeira vê Forças Armadas com a cabeça em 1964 e aponta a “revolução” como única saída

Por Wellington Calasans

O Cafezinho tem a honra de publicar mais uma entrevista exclusiva do cientista político e historiador, Luiz Alberto Moniz Bandeira. Nesta entrevista, o cientista reconhece que a “intervenção militar para transição democrática” jamais daria certo com a instituição ocupada por generais com a cabeça em 1964. Moniz Bandeira diz que a “revolução” é o único caminho que resta para evitar o desmonte do Estado.
Ouça atentamente o que diz o Professor Moniz ou, se preferir, leia a transcrição feita pela leitora e colaboradora voluntária do Cafezinho, Camila Govedice.

Professor Moniz Bandeira – Ao Wellington Calasans do blog O Cafezinho que eu acompanho, eu queria dizer que com essa proposta do Ministério da Defesa para a entrega de Alcântara aos norte-americanos dos EUA, já não se pode confiar no nacionalismo das Forças Armadas. Estive a pensar hoje, realmente percebo que uma intervenção militar desse jeito não poderia resolver o problema do Brasil. As Forças Armadas estão divididas. Há militares muito esclarecidos, mas outros, como o General Mourão, ainda pensam em termos de Guerra Fria e dos tempos de 1964 e a situação do mundo é outra, então eu acho difícil que as Forças Armadas possam realmente dar jeito no país. O Comandante do Exército, o General Villas Bôas, que é um homem muito lúcido, mas está doente e as Forças Armadas estão divididas em opiniões, divididas inclusive nisso. Teriam que agir como instituição, sem quebra da disciplina e da hierarquia, mas aí isso é difícil por esta razão, porque muitos estão pensando de forma diferente.
Wellington Calasans – Professor Moniz, o senhor falou que o Comandante Villas Bôas está doente, o senhor tem alguma informação mais precisa sobre isso?
Professor Moniz Bandeira – Não, só sei disso, que ele está doente, andando com bengala, que há realmente uma degenerescência muscular, só sei isso. Ele é um homem muito lúcido, e há outros também que são muito lúcidos, mas por isso que é difícil que elas possam agir como tem que agir, claro, como instituição, sem quebra da disciplina, da hierarquia que são fundamentais. Não, isso não pode haver, quebra da disciplina e da hierarquia.
Wellington Calasans – Professor Moniz, o senhor falou aí sobre o lançamento de satélites norte-americanos, foguetes norte-americanos a partir da base brasileira de Alcântara. O senhor considera isso um crime lesa-pátria praticado pelas Forças Armadas, pela própria Defesa Nacional?
Professor Moniz Bandeira – Não falo em lesa-pátria, isso não faço, mas é uma violação da estratégia nacional de defesa, da soberania do país, porque os norte-americanos não transferem tecnologia e vedavam até o acesso de brasileiros às bases. Isso não interessa ao país. Os acordos com a Ucrânia fracassaram por causa do golpe que houve lá que os EUA fomentaram contra Viktor Yanukovych. O acordo com a Ucrânia só não deu certo por causa disso, mas os russos estão dispostos a fazer uma cooperação com o Brasil transferindo tecnologia. E outros países podem fazer também, tem a França.
Wellington Calasans – Professor, então, diante aí desse comentário do senhor, não é exagero afirmar que o Brasil hoje é um país rendido, é isso aí, que está sob uma invasão e está rendido? Ao invés de decretar resistência ao desmonte e à invasão, o Brasil está institucionalizando todo o processo de invasão do qual está sendo vítima.
Professor Moniz Bandeira – Está, isso não tenha dúvida. O Brasil está sendo ocupado em todos os sentidos, entregando todas as bases do poder nacional ao estrangeiro como agora a venda das hidrelétricas. A energia pode condicionar o desenvolvimento do Brasil, eles querem ou não, os estrangeiros. E o governo está vendendo tudo, não vai restar nada no final.
Wellington Calasans – O Brasil então está condenado a ser um grande terreno com a bandeira do entreguismo no meio, é isso?
Professor Moniz Bandeira – Já é. Já está, desde o golpe contra a Presidenta Dilma que o Brasil está cada vez mais sob o domínio do estrangeiro representado, sobretudo pelo Ministro Henrique Meirelles, que é um homem dos bancos. O que temos no Brasil é uma ditadura de empresários e banqueiros. Um governo que só tem 3% de apoio popular, 3% é uma ditadura. E aplica reformas, essas reformas não tem legitimidade, nenhuma. E precisaria de um governo que desfizesse tudo, mas eu tenho minhas dúvidas de que isso possa ocorrer porque estão manipulando tudo, até as eleições.
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Wellington Calasans – O senhor acredita que as eleições de 2018 estejam ameaçadas também?
Professor Moniz Bandeira – Eu acho. Essa gente não vai entregar o governo porque sabe que vai ser presa e também essa Lava Jato é uma encenação, é uma farsa que não vai acabar com a corrupção. A corrupção é inerente ao sistema republicano presidencialista e ao capitalismo. Os empresários não estão se incomodando com isso porque eles sabem que a corrupção é inerente à economia privada, à livre-iniciativa. Para vencer eles usam de todos os meios, até da corrupção. Agora, países mais, países menos. Nos EUA, o lobby é institucionalizado, os presidentes dão conferências, viajam pago, ganham fortunas, as eleições lá são financiadas pelos bancos, quem ganha mais dinheiro para as eleições é o vencedor. No Brasil tem esse escândalo todo aí para quê?
Wellington Calasans – Então o senhor acha que, a pretexto do combate à corrupção, o Brasil mergulhou num retrocesso que não tem mais volta, é isso?
Professor Moniz Bandeira – Não sei se não tem mais volta, precisaria de uma revolução para que houvesse uma volta, agora, não estou vendo mais possibilidade de que as Forças Armadas pudessem dar um jeito, não vejo.
Wellington Calasans – O senhor considera a gota d’água, então, a entrega que foi feita de know-how militar, assim de forma totalmente…
Professor Moniz Bandeira – Ainda não foi entrega, ainda não foi Alcântara entregue. Há uma proposta brasileira que os americanos estão estudando se aceitam ou não, mas eu sei que os americanos, os norte-americanos não querem, não vão fazer, não vão transferir tecnologia. Isso é proibido, lá. E não vão deixar entrar. Ademais, os EUA não cumprem acordo, isso é tradicional, é histórico. Eles não cumprem nenhum tratado. Só cumprem enquanto interessa, quando não mais interessa, eles rompem. Isso é tradicional. O egoísmo nacional nos EUA é fantástico.
Wellington Calasans – Professor, para concluirmos a nossa conversa, o senhor falou na palavra “revolução”, que os setores progressistas brasileiros tremem de medo quando ouvem, a sociedade brasileira, o senhor em uma recente entrevista aqui mesmo para O Cafezinho falou que a sociedade brasileira não tem educação suficiente para entender os problemas nos quais está mergulhada, então, qual seria a solução, professor? Não temos solução?
Professor Moniz Bandeira – É difícil. É um dos mais baixos níveis de leitura do mundo e um dos mais baixos níveis de compreensão de leitura. É uma coisa horrorosa. Nesse aspecto, é muito inferior à Argentina, o Brasil. À Argentina e ao Uruguai.
Wellington Calasans – Isso quer dizer, então, professor que não temos saída fácil, não aí, não é?
Professor Moniz Bandeira – Não, a educação é fundamental para o desenvolvimento e o Brasil não tem.
Wellington Calasans – Então eu volto a perguntar ao senhor: então não tem jeito?
Professor Moniz Bandeira – Não sei se tem jeito ou não tem. Não estou vendo perspectiva nenhuma e cada vez está pior. Está cada vez pior. Eu não vejo, entende? Houve um momento em que se vislumbrou alguma coisa. Nós temos grandes homens. O chanceler Celso Amorim, que era o melhor do mundo na sua época, do presidente Lula, o que ele alcançou. Temos grandes figuras, mas o Brasil não dá valor. Não sei se vocês vão permitir que o ex-presidente Lula volte a se candidatar, com tantos processos que eles estão armando, um atrás do outro. Agora, só com ele que atingem, enquanto que a corrupção não começou com ele. A privatização que houve durante o governo de Fernando Henrique foi terrível o enriquecimento ilícito. Toda privatização tem dinheiro por trás que vai lá para as Bahamas e outros paraísos fiscais. Eu não acredito, eu acho que tudo isso é uma farsa. A corrupção é usada para sensibilizar a classe média, o operário não está ligando para isso, não está vendo esse assunto. E o empresário, a classe alta sabe porque eles vivem da corrupção.
Wellington Calasans – Professor Moniz Bandeira, muito obrigado por esta entrevista aqui para O Cafezinho.
Professor Moniz Bandeira – Eu que agradeço, mais uma vez, a oportunidade de falar para O Cafezinho. Lamento muito, eu achava, achei há pouco tempo que a solução seria uma intervenção militar, mas hoje vejo que é difícil porque não há um consenso dentro do pensamento das Forças Armadas e elas teriam agir como instituição, sem quebra da hierarquia e a disciplina, e eu não estou vendo isso possível. Ainda agora com essa entrega de Alcântara eu já estou duvidando do nacionalismo.
Wellington Calasans – Pois é. Professor, muito obrigado, então. Um grande abraço e conte sempre aqui com a gente.
Professor Moniz Bandeira – Muito obrigado.

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