segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Todo mundo tem seu momento quaker

Como eleitor e militante de sua campanha a governador de São Paulo, li com interesse a entrevista dada por Padilha ao jornal Folha de S. Paulo.

A primeira parte da entrevista é "politicamente correta", no bom sentido da palavra. Padilha prefere o centro da cidade, porque "é o espaço mais democrático". O que mais o agrada no estado é "o estilo do povo". O que mais o irrita é a "exclusão, a desigualdade". Mesmo quando responder porque quer ser governador, Padilha combina o lugar comum ("para transformar São Paulo numa locomotiva") com um acento social ("da inclusão social e da solidariedade").

Padilha diz que os protestos de junho de 2013 mudaram sua forma de ver a política. Critica os black blocs e a violência policial. Vincula tanto o PCC, a falta d'água, as deficiências do transporte coletivo e da rede pública de saúde às atitudes (ou falta de) do governo estadual tucano. 

No final da entrevista, Padilha prevê que será o melhor governador de São Paulo, critica Alckmin, aponta Lula como sua inspiração e apresenta sua marca: São Paulo, uma locomotiva do século 21...

... e nesse ponto, surge a única resposta realmente inusitada de toda a entrevista.

A Folha pergunta: "O que não faltará no seu gabinete?"

Padilha responde: "A Bíblia e o meu iPad".

Não pretendo opinar sobre a decoração do escritório do futuro (e melhor) governador de São Paulo.

E realmente acho muito legal que meu candidato a governador considere indispensável ter um livro no seu gabinete. Claro que havia alternativas melhores, desde a laica Constituição brasileira, até a subversiva (para um "paulista de 32") biografia que Lira Neto fez de Getúlio Vargas.

Mas confesso que tremi ao pensar no que viria, se a entrevista tivesse continuado assim:

Folha: "Só pode citar um item. Escolha: a Bíblia ou seu iPad?"

Ou assim:

Folha: "Qual teu versículo preferido?"


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Com qual bairro da capital ou cidade paulista o sr. se identifica?
Alexandre Padilha - Com o centro, onde moro desde 2011. É o espaço mais democrático, onde se cruzam moradores da periferia, executivos, estrangeiros, pessoas do interior.

O que mais o agrada no Estado?
O estilo do povo. Essa coisa de o paulista querer sempre mais, um povo muito criativo, competitivo, batalhador.

E o que mais o irrita?
A exclusão, a desigualdade. Nosso Estado tem de compreender que a oportunidade para ser uma locomotiva do século 21 é dar oportunidade para todo paulista construir mais riqueza e usufruir das oportunidades que o Estado pode dar.

Por que quer ser governador?
Para transformar São Paulo numa locomotiva da inovação tecnológica, do conhecimento, da inclusão social e da solidariedade. E para dar para todo jovem a chance de se qualificar, de participar da pesquisa, de ter os melhores empregos.

Os protestos de junho de 2013 mudaram a sua forma de ver a política?
Sim. Quem foi surdo, não buscou enxergar, ouvir ou dialogar com os protestos será ultrapassado na política. Toda vez que os jovens vão às ruas avança a democracia. Eles trouxeram uma agenda política nova: a da qualidade dos serviços públicos. Era uma demanda latente, mas conseguiram trazê-la para o centro.

É a favor do uso de bala de borracha contra manifestante?
Sou contra qualquer tipo de violência e de abuso por parte de quem sai às ruas mascarado para depredar o patrimônio, como sou absolutamente contrário a qualquer tipo de abuso e de violência do poder do Estado contra cinegrafista, contra advogado, contra manifestante.

A polícia deve reprimir os "black blocs" ou deixá-los protestar do jeito deles?
Ninguém pode permitir pessoas à solta quebrando patrimônio público e privado. Isso é um crime. O mais impressionante é que há um ano grupos fazem isso e ninguém é preso.

Como pretende combater o PCC?
Em primeiro lugar, tem de sufocar o fluxo financeiro e só se faz isso com parceria com o governo federal. Infelizmente em São Paulo, por conta de picuinha política, o governo se negou a fazer essa parceria. Vamos fazê-la. E não pode permitir que facções tomem conta das penitenciárias e as transformem em escritório, com celulares à solta.

Como se prepara para enfrentar uma eventual escassez de água?
Em 2004, quando teve a renovação da outorga da Cantareira, foi definido um conjunto de obras necessárias para reduzir a dependência que a região metropolitana de Campinas e a da capital têm em relação ao sistema Cantareira. Nenhuma saiu do papel. Faremos em quatro anos as obras que não fizeram em dez. E precisamos ter soluções inovadoras para o reúso da água, captação de água pluvial e uma política de preservação e proteção dos nossos mananciais.

O sr. acha a qualidade água boa? Bebe água da torneira?
Bebo e acredito muito na responsabilidade dos técnicos da Sabesp.

A tarifa do transporte pode ser zero?
Defendo um transporte mais barato, mais rápido e mais confortável. O desafio que temos hoje é implantar o Bilhete Único na região metropolitana, porque isso significará a redução de 25% [da tarifa] para o trabalhador que circula entre as cidades da região.

O metrô é a única salvação para o trânsito em São Paulo? Quantos km pretende construir?
A questão não é a quantidade. Queremos levar o metrô até o ABC, até Guarulhos, até Taboão da Serra e fazer a linha até a Brasilândia, que há anos é prometida. Na velocidade do governo atual, que faz menos de dois quilômetros de metrô por ano, não chegará nunca a Brasilândia. E queremos fazer com o metrô o que o governo federal fez com os aeroportos de Cumbica e de Viracopos: uma concessão para acelerar as obras.

Qual o seu principal projeto para a rede pública de saúde?
Reduzir filas de cirurgias e de exames. O grande gargalo que a rede pública estadual tem é que ela não ajuda os municípios a reduzir a fila de cirurgias e exames. Vamos implantar uma rede que tenha marcação de cirurgias e exames, equipamentos, hospital dia em todo o Estado e transporte para os pacientes.

Utiliza algum serviço público?
Não tenho plano de saúde. Moro no centro e, então, sou usuário do metrô.

Quem foi o melhor governador de São Paulo?
O melhor será o Alexandre Padilha.

E o pior?
Todos que governaram no período da ditadura por si só foram piores e o atual governador [Geraldo Alckmin], depois de 20 anos, perdeu o dinamismo, a força e a criatividade para enfrentar os desafios que o Estado tem pela frente.

Em que político o sr. se inspira?
Presidente Lula [2003-2010], sempre. Foi a primeira pessoa em quem votei, em 1989. É a maior liderança popular que o país já produziu.

Se for eleito, qual será a sua marca?
São Paulo, uma locomotiva do século 21.

O que não faltará no seu gabinete?
A Bíblia e o meu iPad.

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