quinta-feira, 5 de abril de 2012

Edição de abril do Página 13

Hoje começa a circular a edição de abril do Página 13, número 107. O texto abaixo é seu editorial.

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Este Página 13 107, de abril de 2012, aborda alguns temas centrais: o debate sobre o golpe de 1964, a preparação do PT para as eleições 2012, os encontros setoriais do PT, a situação internacional.

Fica para a próxima edição uma análise do caso Demóstenes/Cachoeira, demonstração flagrante não apenas da hipocrisia, mas principalmente da promiscuidade entre a direita brasileira e o crime organizado. E revelador da urgência com que o PT deve retomar a iniciativa por mudanças profundas na política brasileira, articulando isto com nosso projeto de desenvolvimento.

A história brasileira, ao longo do século XX e neste início do século XXI foi marcada pela disputa entre dois projetos de desenvolvimento. Ambos projetos de natureza capitalista, um deles ainda hegemônico, a saber: aquele que preserva e acentua o caráter dependente, monopolista e anti-democrático do capitalismo brasileiro.

O outro projeto, que busca combinar capitalismo com soberania nacional, bem-estar social e democracia, nunca foi hegemônico no Brasil. E não foi, entre outro motivos, porque para combinar estes componentes, ou bem o capitalismo brasileiro precisaria ter a seu dispor colônias de onde sacar recursos extraordinários; ou bem precisaríamos ter uma correlação de forças interna que obrigasse a classe dominante a ceder anéis, para não perder os dedos.

Pelo menos desde os anos 20 do século XX, não foi a burguesia, mas sim a esquerda brasileira (progressista, nacionalista, democrática, trabalhista, socialista, comunista) quem defendeu a via democrática de desenvolvimento para o capitalismo brasileiro.

O que criava uma espécie de círculo vicioso: a única força capaz de sair da armadilha imposta pelo capitalismo, preferia defender uma variante capitalista de desenvolvimento, variante esta que nunca se materializava, entre outros motivos por não ter apoio suficiente entre os próprios capitalistas, mais interessados em associar-se com os latifundiários escravistas do passado e com os imperialistas estrangeiros do presente.

Desde 2003, com a posse de Lula, vivemos numa etapa superior deste círculo vicioso: a esquerda faz parte do governo de um país capitalista, em coalizão com frações burguesas, buscando implementar um modelo de desenvolvimento econômico que crie as condições de bem-estar social, democracia politica e soberania nacional. Mas isto supõe fortalecer o Estado, o que exige tributar uma classe capitalista que não quer ceder nada, e sem financiamento somos levados a um rebaixamento sistemático dos horizontes da esquerda, tanto na prática de governo quanto no debate teórico-programático.

É neste contexto que trava-se o debate entre os desenvolvimentistas conservadores privados (para quem desenvolvimento se traduz em empresas privadas fortes, o que implica em reduzir salários e o que eles chamam de gastos sociais do Estado), os nacional-desenvolvimentistas (para quem o centro está no fortalecimento do Estado brasileiro, o que em determinadas condições pode implicar no mesmo remédio proposto pelos desenvolvimentistas conservadores), os social-desenvolvimentistas (que vinculam desenvolvimento à expansão do mercado interno de massas, incluindo aí a oferta de serviços públicos pelo Estado) e todas as variantes intermediárias.

Neste debate, a esquerda socialista oscila entre dois extremos. Alguns rendem-se totalmente ao desenvolvimentismo, aceitando como horizonte ideológico e teórico o próprio capitalismo, transformando o socialismo em valores morais ou no máximo em uma tensão de tipo social-democrata (leia-se: bem estar social). Outros querem fugir do círculo vicioso, saltando fora dele: são os que negam qualquer desenvolvimentismo, defendendo que a saída está, ora quem diria, no socialismo.

De nossa parte, assumimos a postura do bardo: encontrar, no centro da própria engrenagem, a contra-mola que resiste. Ou seja: tensionar por dentro e por fora a disputa entre desenvolvimentismos. Por dentro, apoiando e radicalizando a defesa de medidas nacional e social-desenvolvimentistas, pois no limite estas medidas tensionam a natureza mesma do capitalismo brasileiro. Por fora, estimulando a luta da classe trabalhadora por maiores cotas de poder, renda e riqueza.

Traduzimos esta postura naquelas palavras já conhecidas dos leitores de Página 13: um desenvolvimentismo democrático-popular, articulado com uma estratégia socialista.  O que exige um Partido dos Trabalhadores tão preocupado em organizar a luta direta da classe trabalhadora, quanto se preocupa em disputar eleições; e que consiga superar a degeneração que anos de americanização da política introduziram entre nós.

Os editores

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