Junto, o CeCAC envia o link de um manifesto e uma carta de Anita Leocadia Prestes ao Senador Inacio Arruda (PCdoB/Ceará).
Nesta carta, datada de 4 de abril de 2012, Anita Leocádia afirma o seguinte:
Na qualidade de filha de Luiz Carlos Prestes e de sua colaboradora política durante mais de trinta anos, devo declarar minha repulsa e indignação com a proposta de sua autoria de que seja declarada nula a decisão do Senado que cassou, em 1948, o mandato do senador Luiz Carlos Prestes. Meu pai jamais aceitaria semelhante medida individualmente, isolada, sem que as centenas de parlamentares comunistas cassados (deputados federais, deputados estaduais e vereadores) juntamente com ele tivessem também devolvidos seus legítimos direitos constitucionais. Todos que o conheceram sabem o quanto Prestes, nesse sentido, era intransigente.
Na realidade, a proposta encaminhada ao Senado Federal por um representante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) revela, mais uma vez, algo que Prestes denunciou incessantemente durante os seus últimos dez anos vida: o reformismo desse partido, sua adesão aos interesses das classes dominantes do País, seu compromisso espúrio com o Governo Sarney, nos anos 1980, compromisso confirmado no texto da mensagem ora encaminhada à apreciação do Senado. Luiz Carlos Prestes sempre deixou claro que a legalidade dos comunistas deveria ser conquistada nas ruas, pelo povo, e não através de conchavos de bastidores, como aconteceu, no caso do PCdoB, em 1985. Prestes também não aceitaria a anulação da cassação do seu mandato de senador através de manobra do PCdoB, cujo objetivo evidente é tirar proveito político do inegável prestígio do Cavaleiro da Esperança.
O comitê central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) divulgou nota apoiando as posições da professora Anita Leocádia, criticando o que eles consideram como nova tentativa oportunista do PcdoB de sequestrar a história do PCB, usando despudoradamente o prestígio nacional e internacional de Luiz Carlos Prestes que, para nossa honra, foi durante décadas o Secretário Geral do PCB e o protagonista principal da divergência que deu causa à fundação do PcdoB, em fevereiro de 1962.
A polêmica entre o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) vem desde 1962. Seu aquecimento, nas últimas semanas, está vinculado ao aniversário de 90 anos da criação do Partido Comunista no (atentem: no) Brasil, criação ocorrida no dia 25 de março de 1922.
Alguns fatos:
1) o Partido criado em 1922 era denominado Partido Comunista do Brasil e usava a sigla PCB;
2) a ampla maioria (algo como 90%) da direção do Partido Comunista do Brasil (PCB) decidiu, no ínício dos anos 60, alterar seu nome para Partido Comunista Brasileiro;
3) a minoria (algo como 10%) entrou em disputa com a direção, foram expulsos ou afastados e criaram o Partido Comunista do Brasil (PCdoB);
4) tanto o Partido Comunista Brasileiro (PCB) quanto o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) sempre reinvidicaram ser a continuidade legítima do Partido criado em 1922;
5) hoje o PCB está na situação em que o PCdoB já esteve várias vezes: sua reduzida influência política reduz a credibilidade de sua reinvidicação histórica.
Uma opinião: há algo de extremamente curioso neste debate.
O PCB ataca violentamente o PCdoB. O PCB reivindica ser a continuidade do partido criado em 1922.
Ocorre que entre 1956 e 1962, o velho PCB (ainda denominado Partido Comunista do Brasil) executou políticas semelhantes àquelas que o PCdoB implementa hoje.
A minoria que formou o PCdoB em 1962 se constituiu contrapondo-se àquelas políticas, vitoriosas no V Congresso do PCB (então ainda chamado Partido Comunista do Brasil).
A minoria de 1962 defendia, frente ao governo Jango, políticas que lembram as atuais políticas do Partido Comunista Brasileiro.
A curiosidade é ainda maior no caso de Prestes. Nos anos 80, a batalha principal de Prestes não era contra o PCdoB, mas sim contra o PCB, seu próprio Partido. Se a memória não me trai, Prestes foi expulso pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).
As criticas que Prestes fazia ao PCB de então são muito semelhantes às críticas que o PCB de hoje faz ao PCdoB.
A curiosidade e os paradoxos estão relacionados com o movimento pendular do movimento comunista no Brasil. Já o sectarismo ao lidar com tais paradoxos tem outras raízes.
Quem sabe no aniversário de 100 anos, os comunistas do Brasil e Brasileiros, os que estão dentro e os que estão fora dos atuais partidos comunistas, possamos fazer uma comemoração unificada...
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