terça-feira, 10 de abril de 2012

Comunistas em luta

Acabo de receber um email do Centro Cultural Antonio Carlos Carvalho (CeCAC, www.cecac.org.br) divulgando uma "Declaração de repúdio à manipulação da imagem de Luiz Carlos Prestes", denunciando a “atitude oportunista do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), que vem lançando mão da manipulação grosseira da memória histórica dos comunistas brasileiros e, em particular, da trajetória revolucionária de Prestes com vistas a prestigiar-se perante a opinião pública nacional”.

Junto, o CeCAC envia o link de um manifesto e uma carta de Anita Leocadia Prestes ao Senador Inacio Arruda (PCdoB/Ceará).

Nesta carta, datada de 4 de abril de 2012, Anita Leocádia afirma o seguinte:

Na qualidade de filha de Luiz Carlos Prestes e de sua colaboradora política durante mais de trinta anos, devo declarar minha repulsa e indignação com a proposta de sua autoria de que seja declarada nula a decisão do Senado que cassou, em 1948, o mandato do senador Luiz Carlos Prestes. Meu pai jamais aceitaria semelhante medida individualmente, isolada, sem que as centenas de parlamentares comunistas cassados (deputados federais, deputados estaduais e vereadores) juntamente com ele tivessem também devolvidos seus legítimos direitos constitucionais. Todos que o conheceram sabem o quanto Prestes, nesse sentido, era intransigente.

Na realidade, a proposta encaminhada ao Senado Federal por um representante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) revela, mais uma vez, algo que Prestes denunciou incessantemente durante os seus últimos dez anos vida: o reformismo desse partido, sua adesão aos interesses das classes dominantes do País, seu compromisso espúrio com o Governo Sarney, nos anos 1980, compromisso confirmado no texto da mensagem ora encaminhada à apreciação do Senado. Luiz Carlos Prestes sempre deixou claro que a legalidade dos comunistas deveria ser conquistada nas ruas, pelo povo, e não através de conchavos de bastidores, como aconteceu, no caso do PCdoB, em 1985. Prestes também não aceitaria a anulação da cassação do seu mandato de senador através de manobra do PCdoB, cujo objetivo evidente é tirar proveito político do inegável prestígio do Cavaleiro da Esperança.


O comitê central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) divulgou nota apoiando as posições da professora Anita Leocádia, criticando o que eles consideram como nova tentativa oportunista do PcdoB de sequestrar a história do PCB, usando despudoradamente o prestígio nacional e internacional de Luiz Carlos Prestes que, para nossa honra, foi durante décadas o Secretário Geral do PCB e o protagonista principal da divergência que deu causa à fundação do PcdoB, em fevereiro de 1962.


A polêmica entre o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) vem desde 1962. Seu aquecimento, nas últimas semanas, está vinculado ao aniversário de 90 anos da criação do Partido Comunista no (atentem: no) Brasil, criação ocorrida no dia 25 de março de 1922.

Alguns fatos:

1) o Partido criado em 1922 era denominado Partido Comunista do Brasil e usava a sigla PCB;

2) a ampla maioria (algo como 90%) da direção do Partido Comunista do Brasil (PCB) decidiu, no ínício dos anos 60, alterar seu nome para Partido Comunista Brasileiro;

3) a minoria (algo como 10%) entrou em disputa com a direção, foram expulsos ou afastados e criaram o Partido Comunista do Brasil (PCdoB);

4) tanto o Partido Comunista Brasileiro (PCB) quanto o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) sempre reinvidicaram ser a continuidade legítima do Partido criado em 1922;

5) hoje o PCB está na situação em que o PCdoB já esteve várias vezes: sua reduzida influência política reduz a credibilidade de sua reinvidicação histórica.

Uma opinião: há algo de extremamente curioso neste debate.

O PCB ataca violentamente o PCdoB. O PCB reivindica ser a continuidade do partido criado em 1922.

Ocorre que entre 1956 e 1962, o velho PCB (ainda denominado Partido Comunista do Brasil) executou políticas semelhantes àquelas que o PCdoB implementa hoje.

A minoria que formou o PCdoB em 1962 se constituiu contrapondo-se àquelas políticas, vitoriosas no V Congresso do PCB (então ainda chamado Partido Comunista do Brasil).

A minoria de 1962 defendia, frente ao governo Jango, políticas que lembram as atuais políticas do Partido Comunista Brasileiro.

A curiosidade é ainda maior no caso de Prestes. Nos anos 80, a batalha principal de Prestes não era contra o PCdoB, mas sim contra o PCB, seu próprio Partido. Se a memória não me trai, Prestes foi expulso pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).

As criticas que Prestes fazia ao PCB de então são muito semelhantes às críticas que o PCB de hoje faz ao PCdoB.

A curiosidade e os paradoxos estão relacionados com o movimento pendular do movimento comunista no Brasil. Já o sectarismo ao lidar com tais paradoxos tem outras raízes.

Quem sabe no aniversário de 100 anos, os comunistas do Brasil e Brasileiros, os que estão dentro e os que estão fora dos atuais partidos comunistas, possamos fazer uma comemoração unificada...












Nenhum comentário:

Postar um comentário