Entrevista concedida ao jornalista Renato Godoy, do Brasil de Fato, sobre a concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília.
Em primeiro lugar, qual sua opinião sobre o processo que levou à cessão dos aeroportos? O Estado não teria condições de realizar as reformas de modernização dos terminais?
Minha opinião é que a concessão era economicamente desnecessária e politicamente incorreta. Economicamente desnecessária porque o Estado dispõe dos meios gerenciais e financeiros para realizar a modernização, ampliação e administração. Politicamente incorreta, porque a concessão é utilizada pela mídia e pela oposição para nos acusar (ao PT e ao governo Dilma) de favoráveis à privatização. Havia e seguem existindo alternativas muito melhores, economica e politicamente, do que a concessão.
No aspecto político, muitos setores do neoliberalismo elogiaram a decisão e até tripudiaram, dizendo que o PT perdeu o debate sobre as privatizações, aderindo a este modelo. Qual é a sua opinião sobre isso?
O debate sobre as privatizações diz respeito a qual o lugar do Estado e do capital privado na estratégia geral de desenvolvimento. Nesta questão, PT e PSDB estavam, estão e continuam estando em posições opostas. Isto apesar de governos encabeçados por petistas, tanto agora quanto em momentos anteriores, terem patrocinado terceirizações, concessões e até privatizações. Ou seja: se olharmos o conjunto da obra, se observarmos as estratégias de cada partido, as diferenças são de fundo e seguem existindo.
Nas recentes disputas no 2º turno (em 2006 e 2010, principalmente) a candidatura do PT conseguiu pregar no PSDB a pecha de privatista (altamente prejudicial eleitoralmente). Esta acusação pode ficar mais fraca com o processo das concessões?
Não acredito. Primeiro, porque como já disse o conjunto da obra mostra que o PSDB é privatizante, enquanto o PT é a favor de um forte papel do Estado na economia. Em segundo lugar, porque embora a concessão seja uma modalidade de privatização, trata-se de uma modalidade light, muito distinta da transferência de patrimônio em troca de nada, como os tucanos fizeram com a Vale do Rio Doce e outras empresas. Em terceiro lugar, porque o ambiente geral do país é distinto, o que produz também percepções distintas por parte da população. E em quarto lugar porque eles fizeram privatarias, ou seja, uma etapa superior da privatização, na qual os envolvidos tornam-se ricos, muito ricos...
Alguns setores temem que os leilões dos aeroportos tenham dado inicio a uma retomada das privatizações no país. Você considera plausível este temor?
Não. Como já disse, o PT e o governo Dilma não são partidários de uma estratégia privatizante. Agora, existe um problema real. Se não fizermos reforma tributária e se não baixarmos radicalmente a taxa de juros, além de outras medidas macroeconômicas cada vez mais urgentes para nos proteger da crise, será cada vez maior a carência de recursos para o país continuar crescendo e cada vez menor a quantidade de recursos para crescermos com ampliação das políticas sociais. Ou seja, será cada vez maior a tentação oferecida por falsas alternativas, tão ao gosto dos tucanos, como privatização, a reforma da previdência, o corte orçamentário etc. Noutras palavras: ou fazemos algumas mudanças de fundo, ou cairemos naquelas situações aparentemente sem saída, nas quais somos levados a escolher o mal menor. Aparentemente menor...
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