quarta-feira, 12 de março de 2025

O Estadão prefere Edinho




Edinho foi recebido na Embaixada dos Estados Unidos, foi sabatinado pelo BTG Pactual e foi convidado para uma reunião assistida, entre outros, pelo senhor Antonio Palocci.

Mas até agora nada foi mais revelador do que o editorial publicado no dia 12 de março de 2025 pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O editorial pode ser lido ao final ou no link a seguir:


O editorial toma partido pela candidatura de Edinho.

Diz assim: “Quem suceder a Gleisi (…) dirá muito sobre a bússola que orientará o futuro imediato do partido do presidente Lula da Silva”.

OESP acusa Gleisi de contribuir “enormemente (…) para a continuidade da polarização. Ela foi uma defensora incansável de posições radicalmente opostas ao que se esperava para um governo de frente ampla. Com seus ataques à política econômica, muitos dos quais em golpes abaixo da cintura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gleisi fez do PT um caso único no mundo: o partido do presidente e líder da coalizão governista é aquele que primeiro e mais enfaticamente se opõe a iniciativas do próprio governo – uma oposição a si mesmo”.

Já Edinho é elogiado como “um político moderado e conciliador, além de próximo a Haddad e ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ele tem protagonizado o que poderia ser impensável até pouco tempo atrás: um petista que admite problemas e fragilidades do seu partido e abertamente defende mudança de rumos na legenda (…) Edinho Silva ainda padece do pecado da santificação de Lula, mas ao menos vem apontando o óbvio: o País (e, claro, o seu partido) precisa sair da armadilha da polarização e da radicalização. Não é exagero, portanto, enxergá-lo como a grande chance de um imprescindível aggiornamento do PT e, por consequência, da esquerda tradicional brasileira.”

O presidente talvez não concorde, seu preferido talvez não perceba, mas a burguesia dona do Estadão não tem dúvida: considera Edinho como um instrumento contra “o populismo arcaico do demiurgo petista”. Ou seja: um instrumento contra Lula e contra o PT.

Não sabemos como terminará a disputa entre os diferentes setores da tendência “Construindo um Novo Brasil” (CNB). Portanto, não sabemos se Edinho será candidato. E, se for, não sabemos o que farão os derrotados.

O que sabemos é que a maioria do Partido - ou seja, quem não pertence, não apoia nem vota na “CNB” - precisa disputar e vencer a eleição da nova presidência do Partido, marcada para o dia 6 de julho de 2025.

Este é o caminho mais seguro e reto para derrotar o Estadão e sua classe, abrindo caminho para a transformação do Brasil em benefício da maioria do povo brasileiro.





Segue abaixo o editorial do jornal OESP:

Opinião do Estadão

A disputa envolvendo a presidência do PT importa não só aos petistas e à esquerda: a transição do partido de Lula indicará o rumo do governo e, por consequência, do País

O Brasil não passará incólume à profunda crise que abate o PT. A fissura da legenda, levada ao paroxismo no conflito aberto entre os morubixabas que integram a sua principal corrente, envolve a sucessão de Gleisi Hoffmann na presidência do partido, posto que ela ocupava desde 2017. Não está em jogo, porém, apenas a escolha de um nome para presidir o partido – se fosse só isso, não teria a menor importância. Quem suceder a Gleisi, contudo, também dirá muito sobre a bússola que orientará o futuro imediato do partido do presidente Lula da Silva. É nessa condição que é preciso reconhecer: o que acontece hoje no PT interessa muito ao restante do País, porque os rumos do partido decerto afetarão os rumos do governo Lula.

Nesses oito anos, coube a Gleisi não só liderar o partido durante o calvário enfrentado por petistas ante a Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão do presidente Lula da Silva. Ela também esteve no epicentro de alguns dos principais conflitos envolvendo o PT, contribuindo enormemente não para a pacificação e a reconstrução de um país fraturado, e sim para a continuidade da polarização. Ela foi uma defensora incansável de posições radicalmente opostas ao que se esperava para um governo de frente ampla. Com seus ataques à política econômica, muitos dos quais em golpes abaixo da cintura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gleisi fez do PT um caso único no mundo: o partido do presidente e líder da coalizão governista é aquele que primeiro e mais enfaticamente se opõe a iniciativas do próprio governo – uma oposição a si mesmo.

Agora ministra, Gleisi se opõe duramente a outro petista, até aqui tido como favorito para lhe suceder: Edinho Silva, ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara. Conhecido como um político moderado e conciliador, além de próximo a Haddad e ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ele tem protagonizado o que poderia ser impensável até pouco tempo atrás: um petista que admite problemas e fragilidades do seu partido e abertamente defende mudança de rumos na legenda.

Como se sabe, petistas costumam viver numa espécie de metaverso, uma realidade própria na qual convivem a convicção das próprias virtudes, a transferência para terceiros de culpas e fracassos que deveriam ser creditados a si mesmos e a mitificação exacerbada dos poderes supostamente sobrenaturais de seu maior líder. Edinho Silva ainda padece do pecado da santificação de Lula, mas ao menos vem apontando o óbvio: o País (e, claro, o seu partido) precisa sair da armadilha da polarização e da radicalização. Não é exagero, portanto, enxergá-lo como a grande chance de um imprescindível aggiornamento do PT e, por consequência, da esquerda tradicional brasileira.

Mas o ex-prefeito vem sendo sabotado – e sob as barbas de Lula, que até aqui demonstrou apoio a Edinho Silva. Conflitos internos são comuns a partidos, e especialmente ao PT, onde há 45 anos convivem infinitas correntes que se digladiam na disputa pelo poder. Mas desta vez o conflito ganhou contornos de guerrilha. A combustão petista atingiu o auge no vazamento de uma reunião na casa de Gleisi, na qual Lula foi chamado a ouvir sobre a resistência de dirigentes ao nome de Edinho Silva. O grupo de Gleisi apresentou nomes alternativos: o deputado José Guimarães (CE), o ex-ministro José Dirceu (SP), o senador Humberto Costa (PE) e Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula.

Não é preciso pensar muito para reconhecer que tais nomes estão aquém dos desafios do partido, além de simbolizarem tudo o que a maioria dos brasileiros não deseja hoje: um PT (e o governo Lula, por consequência) mais radical e mais à esquerda. Mas o problema, ao que consta, não se resume à divergência de ideias e destino do partido. A tesouraria petista, hoje nas mãos de uma aliada de Gleisi, é um dos pomos da discórdia. Nem Gleisi nem Edinho abrem mão do controle do cargo, responsável pela gestão dos milionários recursos do fundo eleitoral – no ano passado, o PT recebeu quase R$ 620 milhões.

Nessa disputa por poder e dinheiro, não se sabe se o PT finalmente se atualizará e fará o governo Lula mudar de rumo, ou se permanecerá atrelado ao populismo arcaico do demiurgo petista, que se julga intérprete de um povo que não existe mais.

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