terça-feira, 18 de março de 2025

A louvação de Sarney é imerecida

O ex-presidente José Sarney foi vítima, nos últimos dias, de uma quase beatificação.

A beatificação vem de todos os lados, inclusive da esquerda.

Vou dar dois exemplos.

O primeiro é a entrevista de Moacir Assunção ao Brasil de Fato.

A entrevista pode ser lida aqui: https://www.brasildefato.com.br/2025/03/15/politico-oriundo-da-ditadura-que-se-converteu-a-democracia-avalia-historiador-sobre-sarney/

Outro é o artigo de Tereza Cruvinel, no Brasil 247.

O artigo pode ser lido aqui: https://www.brasil247.com/blog/pouca-festa-e-muitos-dilemas-nos-40-anos-da-democracia-brasileira

Moacir Assunção diz assim: “O Sarney foi presidente do partido da ditadura, do PDS, mas ele acabou sendo uma surpresa boa para democracia, digamos assim, porque ele se comportou como um democrata em todos os períodos do mandato dele. Embora ele tenha sido um político oriundo da ditadura, ele manteve todos os ministros do Tancredo, e poderia ter feito isso. Digamos que, ao poucos, ele foi se convertendo à democracia”.

Tereza Cruvinel diz assim: "Erros e falhas certamente aconteceram em seu governo, herdeiro de tantos problemas deixados pela ditadura. O inegável é que ele nos livrou dos retrocessos, guiou-nos à Constituinte e às eleições diretas, aquelas que haviam levado milhões de brasileiros às ruas, na campanha do ano anterior. A maioria parlamentar servil à ditadura negou os votos necessários à emenda Dante de Oliveira, mas nós somos brasileiros e não desistimos nunca: Fizemos a transição como foi possível. Tudo teria sido diferente se tivéssemos feito uma transição como a da Argentina, condenando e prendendo os generais e torturadores, muitos dizem hoje. Teria, mas não tivemos aqui uma correlação de forças que nos permitisse tomar outro caminho".

Que Sarney seja apresentado como um "democrata" diz muito sobre o que é a democracia realmente existente nesse nosso Brasil. 

Vide sua opinião sobre a Constituição de 1988: https://www.conjur.com.br/2008-set-14/constituicao_88_tornou_pais_ingovernavel_sarney/

Vide, também, o que fez o clã Sarney no estado do Maranhão, tratado por eles como se fora propriedade feudal.

Se "não tivemos aqui uma correlação de forças que nos permitisse tomar outro caminho", se a mal denominada "transição democrática" foi como foi, é porque fomos derrotados. Quem nos derrotou? Entre outros, Sarney. 

E não se trata de um debate sobre o passado. Afinal, fazer deste cidadão um democrata, rebaixar nossas expectativas sobre o que é a democracia, não contribui absolutamente nada para melhorar a correlação de forças neste ano de 2025.


ps. Um amigo escreveu: “Vale lembrar 1988, quando por ordem do Executivo o exército invadiu a CSN de Volta Redonda em greve, e matou 3 jovens metalúrgicos, de 27, 22 e 19 anos”.





Um comentário:

  1. Sarney era da UDN Bossa Nova e se converteu, ou foi cooptado pelos militares ao regime até sua ruptura por conta de Maluf, mas foi escolhido pelo PFL para entrar no MDB e disputar o Colégio Eleitoral.
    O PT cresceu, se expandiu além do ABC e Sudeste durante seu governo, mas foi a oposição de direita "carismática" de Collor que venceu as eleições de 1989. Dizem que Sarney votou em Lula e de fato, Collor fez oposição mais pessoal ao "marajá" do Maranhão.
    Mesmo de maneira limitada, é bom lembrar que seu governo fez uma moratória da dívida externa, expondo a exploração que a burguesia brasileira sofre do capital imperialista. Sarney foi presidente indireto de um país semicolonial dependente.
    É preciso uma nova Constituinte que garanta a soberania nacional. É isso?

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