O PT foi fundado no dia 10 de fevereiro.
Mas o aniversário de 2025 foi comemorado nos dias 21 e 22 de fevereiro.
Na manhã do 22, tivemos um ato político no qual falaram, entre outras pessoas, o presidente Lula e a presidenta Gleisi Hoffmann.
Copio e colo abaixo o discurso da presidenta Gleisi, tal e qual me foi passado por sua assessoria.
Deixo aos fanáticos comparar palavra-por-palavra o que está escrito, com o que foi efetivamente dito.
Depois de Gleisi, falou Lula.
Entre outras coisas, o presidente Lula disse que - quando Gleisi foi eleita pela primeira vez - teriam inventado contra ela a candidatura de Lindbergh Farias.
Os fatos que conheço são outros: a candidatura de Lindbergh - apoiada pela esquerda do Partido - estava em ascensão, a CNB estava dividida entre Padilha e Márcio Macedo, quando Rui Falcão sugeriu a Lula o nome de Gleisi como uma alternativa.
Voltando ao discurso de Gleisi, me parece que as palavras-chave foram - depois do próprio PT, que é citado cerca de 26 vezes - duas: "Lula" e "democracia".
"Lula" aparece 13 vezes e "democracia" aparece 8 vezes.
Para comparar: "socialismo" aparece zero vez; "soberania" aparece zero vez; "militares" ou "forças armadas", zero vez; "integração" regional aparece 1 vez; "desenvolvimento" aparece 2 vezes, indústria outras duas.
Vale dizer que também aparece no discurso "a maior reforma agrária de todos os tempos", o que realmente seria absolutamente fantástico, se verdade fosse.
Também fantástica é a ausência de referência, no discurso escrito, ao Banco Central e sua política de juros!
Aliás, para os que estávamos na tribuna, um momento curioso do discurso de Gleisi foi quando ela fez referência ao ajuste fiscal.
No texto escrito ela diz o seguinte: "Agora é avançar com firmeza, determinação e urgência na reforma do imposto de renda e no fim das desonerações indecentes, para que os muitos ricos finalmente paguem o justo e devido sobre seus lucros e dividendos, sobre o muito que extraem do país. Este é o verdadeiro desequilíbrio fiscal que o Brasil precisa resolver. Porque o orçamentário já estamos resolvendo ministro Fernando Haddad, promovendo um dos maiores ajustes fiscais de nossa história, saindo de um déficit de 2,3% do PIB em 2023 para 0,09% em 2024".
Quando leu este trecho que se referia a Haddad, a presidenta Gleisi se virou e e olhou em direção ao ministro da Fazenda, que estava sentado na última fileira do podium.
Deixo aos especialistas interpretar este momento, que para alguns pode parecer um "beijo na cruz" e, para outros, uma reedição da conhecida polêmica pública.
Gleisi concluiu seu discurso dizendo que "este momento de renovação de suas direções é a oportunidade que temos de consolidar nossa unidade interna baseada no debate e na modernização da nossa organização partidária. Não há divergência entre aliança ampla para as eleições e a defesa dos direitos do povo brasileiro".
Portanto, se entendi direito, Gleisi defende "renovar", "modernizar" e... manter a mesma linha política.
Esta postura faz algum sentido, do ponto de vista de alguém que logo logo talvez vire ministra (lembrando que este é um assunto sobre o qual o mundo fala, mas até agora nada se comenta formalmente nas reuniões da direção partidária).
Parte do que significa "renovação" e "modernização", do ponto de vista de Gleisi, apareceu na proposta que ela mesma defendeu na reunião do Diretório Nacional do PT realizada no dia 17 de fevereiro. A saber: a possibilidade de dirigentes permaneceram nos cargos, sem limite de mandatos.
O discurso de Gleisi foi acompanhado com atenção por vários candidatos a sucedê-la na presidência do Partido, entre os quais um cidadão cuja presença no palco principal não atendia a nenhum dos critérios estabelecidos pelos organizadores (ex-presidentes, executiva nacional, diretoria da Fundação, ministros, representantes de bancadas e governos).
A tentativa que alguns fazem, no sentido de "nomear" este companheiro é a maior prova de que certas alianças dificultam muito a defesa dos direitos do povo. Gerando, em consequência, a necessidade de maiores e piores recuos, concessões e alianças do tipo onde "é dando que não se recebe".
Certas alianças dificultam, inclusive, a defesa consequente da democracia.
O que talvez explique que, em um discurso preparado com antecedência e portanto refletido, Gleisi tenha escolhido citar até mesmo o nome do cavernícola, mas nada tenha escrito acerca dos militares, tampouco acerca do parlamentarismo ilegal expresso, entre outras coisas, nas famosas emendas impositivas.
(Não sei explicar a escassez de referências à política internacional, não apenas sobre Palestina e Cuba, mas também sobre BRICS e COP 30.)
A rigor, o discurso de Gleisi já sinaliza uma inflexão política, uma moderação em relação ao que ela própria vinha defendendo.
Seja como for, tudo indica que a linha política do Partido e do governo vai mudar. Se para a "direita" ou para a "esquerda", será o PED quem dirá. O PED e, principalmente, a luta entre as classes e também entre os Estados em conflito no mundo.
O fato é que a orientação política que prevaleceu até agora não está se demonstrando suficiente para derrotar nossos inimigos. Por isso, se queremos "construir o futuro", precisamos “transformar o presente”, começando pela transformação da estratégia adotada, até agora, pelo nosso governo e pelo nosso Partido.
Transformar, mas pela esquerda!
Segue o DISCURSO DA PRESIDENTA GLEISI HOFFMANN
ATO DOS 45 ANOS DO PT
RIO, 22 DE FEVEREIRO DE 2025
Quero começar dizendo do orgulho de presidir o PT. É uma das missões mais importantes que tive na vida!
E foi o sr presidente Lula que oportunizou e pavimentou esse caminho. Muitas vezes lhe cobram por colocar mais mulheres em cargos políticos, ministérios, judiciário e em outros cargos de poder. É importante!
Mas não olham para o que de mais importante vc fez. Ninguém presidente abriu tanto caminho para as mulheres. Incentivou, oportunizou, construiu para que a primeira mulher, nossa companheira Dilma Roussef, se tornasse presidenta da república e para a que primeira mulher fosse presidenta de um dos maiores partidos desse país, o partido que o Sr fundou.
O valor histórico dessa sua postura foi, é e será fundamental para colocar de vez as mulheres como protagonistas na cena da política brasileira. Nenhum outro líder político ou governante proporcionou as condições importantes e simbólicas que o senhor proporcionou para empoderar mulheres. A história está registrada.
Minha homenagem aqui a todas as mulheres desse partido que fizeram a luta e conquistaram esse resultado! As mulheres brasileiras Janja, que lutam arduamente pelo espaço e dão duro por condições dignas de vida no nosso cotidiano, nossa gratidão!
Companheiras e companheiros,
Chegar aos 45 anos de luta, resistência e conquistas, com a vitalidade e a trajetória do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, é um feito que deve ser celebrado por sua importância para a história, o presente e o futuro do Brasil.
Não estaríamos aqui se não tivéssemos mantido nosso compromisso de origem com a trabalhadores e com o povo brasileiro: mudar a política, o país e a vida das pessoas.
Começamos inovando na organização política: um partido organizado de baixo para cima, nas fábricas, nos campos, escolas e comunidades de base, para dar voz e vez aos que sempre foram excluídos das grandes decisões.
Aos que sempre foram excluídos da riqueza construída pelas mãos do povo trabalhador, num país marcado a ferro e fogo por desigualdade, exploração e injustiça.
Quero homenagear os fundadores e fundadoras do PT por meio de duas pessoas aqui presentes:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
E a companheira Benedita da Silva.
Ao lado de tantos companheiros e companheiras, Lula e Bené ousaram sonhar num tempo em que a ditadura oprimia, prendia e matava.
Também homenagear os ex-presidentes do PT, em nome de dois companheiros aqui presentes: José Dirceu e Rui Falcão.
Todos nessa representatividade ousaram lutar para que nunca mais a força bruta venha a se impor à democracia e à vontade soberana do povo.
Compas,
Com a mesma coragem que demonstrou nas greves e manifestações, o PT levou a pauta da classe trabalhadora e da imensa maioria para a campanha das diretas e para a Assembleia Constituinte. E foi assim que o Brasil começou a mudar.
Combinando a luta nas ruas e nas instituições, o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras mostrou que era a alternativa real para concretizar as aspirações e esperanças de nossa gente.
E foi por este caminho, sempre coerente, que elegemos o primeiro presidente da República nascido no seio do povo e forjado nas lutas da classe trabalhadora.
Foi este presidente que colocou o país na rota do crescimento com distribuição da renda, como nunca antes na história do Brasil. E que começou a mudar a vida de milhões de pessoas.
Nada nem ninguém vai apagar que criamos 20 milhões de empregos e que o salário-mínimo teve aumento real de 74%, com inflação sob controle e o PIB crescendo em média 4% ao ano.
Ninguém vai apagar a maior reforma agrária de todos os tempos. O Bolsa Família, o Prouni, a Lei de Cotas. A Farmácia Popular, o Samu e as UPAS. O Minha Casa Minha Vida, as grandes obras do PAC e o Pré-Sal.
A criação dos ministérios das Mulheres, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos, agora somados ao Ministério dos Povos Indígenas. A lei Maria da Penha e as políticas contra a homofobia e todas as faces da discriminação e do preconceito.
Ninguém vai apagar que tiramos o Brasil do Mapa da Fome.
Que com o PT o país assumiu um novo lugar no mundo; protagonista da integração regional, da questão climática e ambiental, da promoção da paz e do combate à pobreza e à desigualdade em escala global.
Foi o legado dos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma que nos conferiu autoridade política para enfrentar a maior campanha de destruição contra um partido político e sua liderança em nosso país.
Uma campanha de cerco e aniquilamento, movida por interesses econômicos, políticos e sociais, dentro e fora do Brasil, fortemente contrariados pelo novo projeto de país, soberano, inclusivo e democrático.
Impuseram um golpe travestido de impeachment sem crime de responsabilidade, contra uma presidenta honesta, que não cometeu crime nenhum.
Acusaram falsamente, condenaram sem provas, prenderam e cassaram Lula ilegalmente, cassando também o direito do povo de elegê-lo presidente em 2018.
Mataram e sepultaram o PT muitas vezes nas manchetes e nos editoriais.
Mas não conseguiram tirar Lula e o PT da memória e do coração do povo brasileiro. Não foi por outra razão que ganhamos cinco eleições das nove que disputamos no regime democrático.
E aqui faço uma homenagem à mais aguerrida militância de todos os tempos: a militância do PT.
Vocês são o corpo sempre combativo e a eterna alma corajosa do nosso partido.
Na Vigília Lula Livre, por 580 dias e noites, nas manifestações e festivais, na defesa da inocência de Lula, enfrentando ofensas e violência, junto com os movimentos sociais, a militância impulsionou a solidariedade nacional e internacional para a batalha judicial e política daqueles tempos difíceis.
Este é o momento de agradecer também aos advogados, religiosos, líderes políticos, artistas, intelectuais, jornalistas independentes, a todos e todas que levantaram a bandeira Lula Livre!
Seus nomes estão inscritos na história da democracia e da Justiça no Brasil.
Compas,
As alternativas ao PT que os poderosos promoveram, desde o golpe de 2016, resultaram em governos desastrosos para o país e em terríveis ameaças à democracia.
A economia regrediu, trazendo desemprego e pobreza; a fome voltou e o povo foi parar na fila do osso. As instituições foram atacadas, direitos foram suprimidos, a liberdade foi cerceada com ódio e violência.
E jamais esqueceremos a dor de centenas de milhares de famílias que sofreram o luto na pandemia, pela mão criminosa daquele que sonegou a vacina, zombou da ciência, dos mortos e da solidariedade humana.
Esse ser agora está denunciado. Nos 45 anos do PT é um presente para a democracia. Com provas e um farto material produzido por seus colaboradores, Bolsonaro se sentará no banco dos réus. Será julgado pelo devido processo legal, coisa que se tivesse vencido as eleições não teria para ninguém. Nem por perto isso se compara com o que o sr sofreu, com o que nos sofremos na operação conduzida por Sérgio Moro, prisões ilegais, injustas, ilações, delações forjadas. Por isso dizemos bem forte é não a anistia!
Foi para para salvar a democracia à frente de uma aliança que reuniu o campo popular e de esquerda aos movimentos, partidos e setores democráticos de todo o país que o senhor se elegeu presidente pela terceira vez!
O PT chega aos 45 anos com responsabilidade dobrada: reconstruir um país devastado e fazer avançar um projeto de desenvolvimento cada vez mais inclusivo e vigoroso, sem permitir retrocessos.
Mesmo numa conjuntura nacional e internacional adversa, em que a extrema-direita e o neoliberalismo se aliam com voracidade e violência, é inegável que o terceiro governo do presidente Lula já firmou sim sua marca: mais empregos e mais salários, num país que voltou a crescer gerando renda e oportunidades.
Um país que está vencendo outra vez a fome e a pobreza, tendo restabelecido o primado da democracia.
É dessa marca que não podemos esquecer quando somos atacados por uma oposição fascista, pelos arautos de um neoliberalismo que espoliou o patrimônio nacional e manteve os muito ricos encastelados em privilégios fiscais injustos e indecentes.
Este é o governo que restabeleceu o aumento real do salário-mínimo, fortaleceu o Bolsa Família e já criou 3 milhões e 200 mil empregos, mais que nos 4 anos do anterior. Que fez o PIB crescer acima de 6% em dois anos, mais que os 4 anos do anterior.
Este é o governo que fez a indústria crescer 3,1% no último ano, porque está investindo na inovação produtiva com apoio do BNDES, que voltou a financiar o desenvolvimento.
É o governo que isentou do imposto de renda quem ganha até dois salários-mínimos e vai isentar quem recebe até R$ 5 mil por mês. E pela primeira vez está cobrando dos ricos que mandam fortunas para fora.
Não podem proibir o Brasil de crescer!
O PT tem a responsabilidade de elaborar, propor e apoiar as políticas do governo neste rumo, algumas delas já anunciadas pelo presidente Lula.
A comida está cara, resultado da especulação com o dólar, do aumento das exportações e da crise do clima. Mas vamos vencer essa etapa. Sabemos que hoje é sua maior preocupação presidente!
Assim como conter abusos nos preços de combustíveis, especialmente do gás de cozinha, e da energia elétrica, dois setores em que o poder público foi mutilado por privatizações e constrangimentos nos anos recentes. A retomada dos investimentos da Petrobras e a desdolarização de sua política de preços mostram que é possível e necessário avançar, em benefício do país e do povo.
Conferir prioridade total, no Orçamento da União e na gestão de governo, aos programas sociais, de saúde e educação que alcançam a imensa maioria da população, sempre olhando para o povo em primeiro lugar.
Ampliar o acesso ao crédito para os trabalhadores, as famílias, a indústria e os serviços, os empreendedores, por meio dos bancos públicos e de novas linhas negociadas com o setor financeiro privado.
Agora é avançar com firmeza, determinação e urgência na reforma do imposto de renda e no fim das desonerações indecentes, para que os muitos ricos finalmente paguem o justo e devido sobre seus lucros e dividendos, sobre o muito que extraem do país.
Este é o verdadeiro desequilíbrio fiscal que o Brasil precisa resolver. Porque o orçamentário já estamos resolvendo ministro Fernando Haddad, promovendo um dos maiores ajustes fiscais de nossa história, saindo de um déficit de 2,3% do PIB em 2023 para 0,09% em 2024.
Companheiras e companheiros,
É para o futuro que estamos olhando ao defender este governo e fazer avançar as mudanças que realmente interessam à maioria da população, como as que acabamos de destacar.
É fato que o Brasil e o mundo mudaram muito nesses 45 anos: o mundo do trabalho, os recursos tecnológicos, a agenda ambiental e climática, os meios de informação e até da disputa política, que hoje se faz também em redes sociais controladas pela extrema-direita, suas mentiras e seu discurso de ódio.
O que não mudou foi o compromisso de origem do PT com a transformação do país, a nossa aliança permanente com o povo brasileiro. Não é uma pesquisa de antevéspera que vai nos abalar. Já passamos por coisas muito piores, e estamos aqui! Temos muito o que falar para o povo brasileiro. Vou repetir, ganhamos cinco das nove eleições presidenciais e sabemos lutar pelo que é justo, bom e certo, com a verdade do nosso lado.
A recente denúncia do procurador-geral da República confirma que foi contra Lula e o PT a trama golpista, autoritária e assassina, urdida a partir do momento em que o presidente recuperou seus direitos políticos e executada até 8 de janeiro de 2023, uma semana depois de sua posse.
Não enfrentamos apenas adversários políticos nas eleições, mas um projeto ditatorial que se apresenta com outras faces e disfarces, além daquelas do chefe da milícia golpista.
Por isso não temos o direito de errar, de falhar em nossos compromissos com o povo, o país e a democracia.
O PT precisa se preparar. Este momento de renovação de suas direções é a oportunidade que temos de consolidar nossa unidade interna baseada no debate e na modernização da nossa organização partidária.
Não há divergência entre aliança ampla para as eleições e a defesa dos direitos do povo brasileiro. Essa é uma falsa polêmica. Foi essa conjunção de aliança que fizemos em 2022. Essa é sua marca presidente Lula, alicerce no povo. É dela que surgem as condições para fazer uma ampla aliança para consolidar a democracia e reconstruir nosso país.
Por tudo que fizemos e pelo muito que temos obrigação de fazer, pela confiança que foi depositada em nós, o PT precisa seguir avançando, ouvindo cada vez mais o povo, dando voz e concretizando, nas ações de governo, os anseios da imensa maioria da população.
É para construir o futuro que precisamos transformar o presente.
Viva o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras!
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