No dia 21 de
outubro, participei de um debate na Escola de Sociologia e Política de São
Paulo.
O debate foi
organizado pelo professor Aldo Fornazieri (ESP) e tinha três temas: a “derrota
das esquerdas”, “prévias populares para 2018” e “organização da frente
progressista e democrática”.
Além de mim
e do Aldo Fornazieri, participou também o professor Marcos Nobre (USP). Estava
prevista a presença da Natalia Szermeta, que por motivos alheios a sua (dela)
vontade não pode estar presente.
O primeiro a falar foi o Aldo Fornazieri. Sua abordagem
corresponde ao que tem dito em artigos publicados recentemente pela imprensa.
Um destaque ficou para o que Fornazieri considera um bom
exemplo para a esquerda brasileira, a saber, a Frente Amplio do Uruguai.
Sobre isto, expliquei que o PT tem ótimas relações com a FA,
que realmente há o que aprender, existindo entretanto diferenças profundas
entre os dois países, inclusive de cultura política, motivo pelo qual querer
copiar o modelo organizativo “uruguaio” incorreria no mesmo erro dos que
desejavam, nos anos 1970 e 1980, copiar um suposto modelo “russo” de partido.
Além disso, a Frente Amplio é um partido, não uma frente de
partidos e movimentos. E no caso brasileiro, precisamos construir uma frente de
partidos e de movimentos sociais.
Após o professor Aldo Fornazieri, coube a mim apresentar um
balanço do primeiro turno das eleições municipais. O que disse corresponde, no
fundamental, ao que está no texto disponível seguinte endereço: https://espacoacademico.wordpress.com/2016/10/12/a-esquerda-frente-a-derrota/
O terceiro a falar foi o Marcos Nobre. Ele informou ter saído
do PT em 1995, quando o Zé Dirceu foi eleito presidente do Partido; apresentou
um balanço da situação política do país; e apresentou a proposta de prévias
para definir a candidatura a presidente em 2018.
Seu ponto de vista sobre a situação política pode ser
encontrado neste e noutros artigos disponíveis no mesmo sítio: https://textosmarcosnobre.wordpress.com/2016/10/03/a-velhice-do-novo-e-a-novidade-do-velho/
Destaco deste artigo uma frase que ele repetiu no debate: “O
PT tem diante de si a tarefa dificílima de reconquistar a posição de líder do
campo da centroesquerda”.
Discordo deste ponto de vista; similar ao Aldo Rebelo, Marcos
Nobre parte de um problema real (a esquerda precisa liderar um campo para além
da esquerda) de maneira inadequada (pois antes de qualquer outra coisa, precisamos
reconstruir uma frente política e social de esquerda, na qual há muito
questionamento acerca do papel que deve ser jogado pelo PT).
Este ponto de vista – reconquistar a liderança da
centro-esquerda -- tem muita importância para a maneira como Marcos Nobre
defendeu, no debate, a proposta de prévias presidenciais.
Embora ele seja um dos impulsionadores da proposta, não faço
ideia se o ponto de vista dele é também o dos demais. A esse respeito, sugiro
ler o seguinte: http://www.compartilhadores.queroprevias.org.br/#block-2830
Desconheço se o Marcos Nobre escreveu algum texto, antes ou
depois do debate, detalhando seu ponto de vista. De toda maneira, prefiro não
reproduzir aqui o que anotei de sua fala, inclusive para evitar ser inexato.
A seguir rememoro, de forma editada, algumas de minhas respostas
ao que entendi de sua (Nobre) opinião.
1. A esquerda brasileira está chamada a produzir uma nova estratégia.
É com base nesta estratégia que definiremos como abordar as eleições em geral e
as presidenciais de 2018 em particular. Mas o centro desta nova estratégia não
pode ser a disputa de eleições, nem mesmo presidenciais. Deste ponto de vista,
a proposta de prévias não pode nem deve ser considerada como o “eixo” (nem
teórica, nem organizativamente) ao redor do qual se reorganizará as esquerdas.
Quem faz isto reincide num erro muito comum e que contribuiu para estarmos como
estamos hoje, a saber: colocar os temas organizativos, táticos e eleitorais no
centro do debate, em detrimento dos temas estratégicos e programáticos;
2. A esquerda brasileira precisa construir frentes políticas,
sociais e culturais. O processo de constituição destas frentes está apenas no
início. A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo são expressões tanto
das potencialidades, quanto das limitações deste esforço frentista. Se tivermos
êxito neste processo, disputaremos as eleições presidenciais de 2018 com uma
única candidatura. Entretanto, além de ser errado em si (pelos motivos citados
no ponto anterior), será muito mais difícil construir uma frente de esquerda
tendo como primeiro ponto de pauta a definição de nossa candidatura em 2018;
3. A esquerda brasileira deve ter como objetivo influenciar,
hegemonizar, atrair, dirigir outros setores políticos e sociais, que não
compartilham nossos objetivos de longo prazo. Neste sentido é correto falar
que, para além de uma frente de esquerda, devemos também construir uma frente
de centro-esquerda. Porém, a experiência recente demonstrou que a ordem dos
fatores altera o produto. Construir uma frente de centro-esquerda sem antes
construir uma forte unidade de esquerda pode conduzir, na prática, a dividir e
enfraquecer a esquerda, dando aos setores de centro (e centro-direita) a hegemonia
de fato. Neste sentido, a pergunta é: com que tática e com qual política de alianças
pretendemos disputar as eleições de 2018? Com um programa e com uma política de
alianças de esquerda ou de centro-esquerda? Responder estas questões é algo preliminar
a qualquer debate sobre o processo de escolha de candidaturas.
4. A esquerda precisa atualizar seu programa, tanto de curto
quanto de médio prazo. Em tese, quando um partido faz prévias para escolher
candidaturas, o programa já está dado. Nesta situação, escolhe-se entre
candidaturas (supostamente) comprometidas com um determinado programa. Mas a proposta de “prévias abertas” (ou seja,
em que votam pessoas de diferentes partidos e sem partido) introduz um problema
de outro tipo: qual o programa comum com o qual o escolhido vai se comprometer?
Se a intenção for transformar uma prévia aberta em mecanismo de escolha
simultânea da candidatura e do programa, objetamos o seguinte: uma prévia não é
o mecanismo mais adequado para a definição de um programa. Ademais, escolher ao
mesmo tempo programa e candidatura tende a “fulanizar” o processo de definição
do programa, em benefício das posições programáticas de quem é mais conhecido.
Vale dizer que – especialmente no âmbito de uma eleição presidencial -- isto ao
menos por enquanto não prejudicaria a nós do PT, mas poderia prejudicar muito outros
setores, que veriam suas posições programáticas “esmagadas” pela força
estritamente eleitoral dos concorrentes. E se o objetivo for contar com um
amplo leque de setores da esquerda, é preciso levar em conta este problema.
5. Além das questões acima resumidas, de natureza mais política,
programática e estratégica, há outras dificuldades envolvidas na proposta de “prévias
abertas”. Desde 1996 até recentemente o PT acumulou uma larga experiência em
realizar prévias para definir nossas candidaturas à presidência da República, a
governos estaduais e a prefeituras. Os problemas acumulados foram tão grandes
que é muito forte, no Partido, a crítica ao processo de prévias para escolha de
candidaturas. Por exemplo: houve casos em que outros partidos e inclusive governos
buscaram incidir no processo de escolha de nossas candidaturas. Como evitar
este e outros problemas políticos e logísticos envolvidos num processo de “prévias
abertas”?
6. Por tudo isto, seria de se esperar que os impulsionadores
da iniciativa estivessem dialogando mais com os partidos de esquerda. A não ser
que a intenção seja “impor” a ideia aos partidos, de fora para dentro. Ou que a
intenção seja converter este processo em plataforma para o lançamento de uma
alternativa partidária (ou de determinada candidatura presidencial). Dito de
outra forma: se apresentaria já completamente formatada uma proposta, que seria
abraçada apenas por um determinado setor ou candidatura. Uma das muitas questões
a ser tratada previamente com os partidos, por exemplo, é: haverá (ou poderá
haver) mais de uma candidatura por partido? Caso a resposta seja positiva, isto
significaria que os partidos teriam que abrir mão de sua autonomia e soberania,
que seria transferida para um corpo eleitoral por enquanto indefinido. Não se
trata de uma questão trivial para quem milita e defende a importância dos partidos
políticos.
7. É preciso levar em conta várias experiências
internacionais, entre as quais as primárias nos Estados Unidos e o processo de
escolha das candidaturas na Argentina. Neste último caso, é bom lembrar que o
processo é regulamentado por lei e implementado por órgãos de Estado. Suponho
que não se esteja pensando em fazer isto em nosso caso.
Por fim: considero que a proposta de prévias abertas deve ser
analisada com interesse pelo PT e por outras forças partidárias e sociais de
esquerda, entre outros motivos porque tenta ser uma resposta para uma questão debatida
na Frente Brasil Popular (e suponho que também na Frente Povo Sem Medo), a
saber: quais serão os mecanismos através dos quais a militância não organizada
em partidos, sindicatos e movimentos poderá influir organizadamente?
Responder a esta questão é muito importante. Começar a
responder tendo como foco um processo eleitoral, mais exatamente as
presidenciais de 2018, poderá muito facilmente converter-se no oposto do desejado.
A este respeito, aguardemos o que dizem os impulsionadores da proposta, que
aparentemente será oficialmente divulgada dia 8 de novembro.
Petistas de granito é o que precisamos!...Fora os oportunistas!...
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