O Diretório Regional do PT do Rio de Janeiro aprovou, no dia 27 de novembro, a seguinte moção:
Diante da necessidade profunda de reorganização do PT e de reinseri-lo cada dia mais no seio do povo brasileiro, em especial dos milhões e milhões de beneficiados pelas políticas redistributivas e afirmativas de nossos governos, o PT do Rio de Janeiro faz um apelo para que o Presidente Lula assuma a presidência nacional nacional do partido e lidere a realização de um amplo processo de reorganização partidária para que o PT se afirme cada vez mais como partido popular, socialista, militante e de esquerda, presente no cotidiano da vida do povo brasileiro.
Diretório Estadual do PT RJ
Dia 27 de novembro de 2016
Desconheço quantos votos esta moção recebeu.
Desconheço, também, se a proposta é para já (o que exigiria a renúncia do presidente Rui Falcão e a eleição de Lula pelo atual Diretório Nacional) ou para abril de 2017 (o que exigiria que Lula fosse candidato e eleito formalmente pela maioria dos delegados ao sexto congresso do Partido).
Seja como for, considero que trata-se de uma proposta equivocada, pelos motivos que já expus no dia 14 de setembro de 2016, na reunião do conselho da presidência nacional do Partido dos Trabalhadores.
O Partido dos Trabalhadores precisa realizar um balanço de sua trajetória, redefinir seu programa e sua estratégia, sua tática e seu modo de funcionar. E precisa -- a partir deste debate e em função das conclusões a que se chegue -- escolher uma nova direção partidária.
A eleição de uma nova direção não será o ponto de chegada, mas uma etapa de um longo processo através do qual o PT recuperará seu apoio junto a classe trabalhadora.
Os que defendem que Lula assuma a presidência do Partido parecem achar que isto facilitaria o processo, tendo em vista sua popularidade externa e interna.
Certamente Lula pode e deve contribuir para o processo de reconstrução do PT. Mas a questão é: assumir a presidência nacional do PT é a maior contribuição que ele poderia dar neste sentido?
Lula já é o presidente de honra do PT.
Se o PT fosse um país, Lula seria o chefe de Estado e o presidente do Partido seria o chefe de governo, uma espécie de primeiro-ministro.
Na vida real, quem defende que Lula assuma a presidência do Partido está propondo que ele acumule as duas funções: a de "chefe de Estado" e a de "chefe de governo".
No caso concreto de Lula, trata-se de um acúmulo brutal de tarefas, especialmente se lembrarmos que ele é vítima de uma perseguição judicial e também nosso pré-candidato à presidência da República.
Ou seja, Lula teria que -- entre outras coisas -- coordenar sua própria pré-campanha à presidência da República e coordenar a sua própria defesa contra as arbitrariedades judiciais, além de coordenar a ação cotidiana do Partido.
É impossível dar conta, com qualidade, deste conjunto de tarefas. Na prática, muitas delas teriam que ser transferidas para terceiros.
É o que ocorre em vários estados e cidades onde a direção do Partido é exercida por pessoas que exercem, simultaneamente, mandatos parlamentares ou executivos.
Na maioria dos casos, o exercício efetivo da direção partidária é transferido para outras pessoas, que não foram eleitas para esta função.
O que faz a discussão voltar ao ponto de partida... precisamos de um coletivo dirigente que tenha capacidade politica e legitimidade na base do Partido. A ausência deste coletivo contribui para nossa crise; querer resolver este problema através de Lula nos levaria... de volta ao ponto de partida.
Mas vamos supor que Lula fosse um super-homem capaz de assumir tantas e concorrentes tarefas ao mesmo tempo.
Vamos supor, também, para facilitar a argumentação, que uma candidatura de Lula à presidência do PT fosse tão unânime quanto sua candidatura à presidência da República; e que Lula tivesse aptidão e vontade para exercer mais uma vez as tarefas da presidência partidária.
Mesmo assim, o acúmulo de tarefas e funções seria um presente para os adversários e para os inimigos de Lula e do PT. Daria a eles um alvo único para atacar. E, no sentido inverso, seria impossível fazer uma divisão de tarefas entre Lula e o PT.
Mas vamos supor, ainda, que nós conseguíssemos superar estas dificuldades todas.
Ainda assim, pergunto: não seria melhor aproveitar a presença de Lula para ajudar a formar outros quadros (homens e mulheres) capaz de assumir desde já a presidência efetiva do Partido? Porque adiar esta inevitável e necessária renovação?
Falando de outro jeito: se Lula fosse de fato a única solução, isto seria uma confissão de que o PT está muito mais débil do que imaginam nossos inimigos. Afinal, 37 anos depois, a única pessoa que supostamente teríamos capaz de assumir a presidência do Partido, seria aquele que foi o seu primeiro presidente, em 1980.
Entendo que alguns setores do Partido não vejam outra solução. Olham para si mesmos, para suas próprias alternativas e não enxergam ninguém capaz de dar conta da tarefa. E ai lembram de Lula.
Recomendo a estes setores que olhem para outras alternativas no seu interior, e que olhem também para além de si mesmos. Noutras tendências e fora das tendências há ótimos nomes, capazes de assumir a direção nacional do PT.
Não custa lembrar que o Partido é maior do que todas as nossas tendências e grupos. Se não temos entre nós nenhum nome à altura, não é preciso recorrer a Lula: há várias outras alternativas, que permitiriam a Lula cumprir as tarefas que já cumpre e que permitiram ao PT iniciar imediatamente o processo de requalificação e renovação de sua direção nacional.
Deste ponto de vista, escolher Lula seria retardar desnecessariamente o processo de renovação do Partido. Teria o efeito oposto ao pretendido pela referida moção aprovada pelo Diretório do Rio de Janeiro. E incorreria no erro de outros partidos de esquerda, no Brasil e no mundo, que desenvolveram verdadeira dependência em relação a um dirigente específico ou a um grupo muito restrito de quadros.
Considero que este tipo de proposta padece do mesmo defeito de algumas polêmicas que tomaram conta do PT nos últimos meses.
Renúncia da direção? Congresso plenipotenciário? PED? O Partido já consumiu imensas energias debatendo estes e outros "entretantos". E vem deixando em segundo ou terceiro plano o debate sobre os "finalmente", sobre qual a linha política que devemos adotar.
E sem uma nova linha política, não há presidente nem direção coletiva que seja capaz de resolver o problema.
Um último comentário: quando falamos de uma nova linha política, não estamos pensando em abstrações sobre cenários de médio e longo prazo.
A crise do governo golpista e a ofensiva reacionária contra os direitos exigem resposta imediata. É também no terreno destas lutas concretas que forjaremos desde já uma nova estratégia, um novo programa, um novo modus operandi e uma nova direção para o Partido dos Trabalhadores.
Diante da necessidade profunda de reorganização do PT e de reinseri-lo cada dia mais no seio do povo brasileiro, em especial dos milhões e milhões de beneficiados pelas políticas redistributivas e afirmativas de nossos governos, o PT do Rio de Janeiro faz um apelo para que o Presidente Lula assuma a presidência nacional nacional do partido e lidere a realização de um amplo processo de reorganização partidária para que o PT se afirme cada vez mais como partido popular, socialista, militante e de esquerda, presente no cotidiano da vida do povo brasileiro.
Diretório Estadual do PT RJ
Dia 27 de novembro de 2016
Desconheço quantos votos esta moção recebeu.
Desconheço, também, se a proposta é para já (o que exigiria a renúncia do presidente Rui Falcão e a eleição de Lula pelo atual Diretório Nacional) ou para abril de 2017 (o que exigiria que Lula fosse candidato e eleito formalmente pela maioria dos delegados ao sexto congresso do Partido).
Seja como for, considero que trata-se de uma proposta equivocada, pelos motivos que já expus no dia 14 de setembro de 2016, na reunião do conselho da presidência nacional do Partido dos Trabalhadores.
O Partido dos Trabalhadores precisa realizar um balanço de sua trajetória, redefinir seu programa e sua estratégia, sua tática e seu modo de funcionar. E precisa -- a partir deste debate e em função das conclusões a que se chegue -- escolher uma nova direção partidária.
A eleição de uma nova direção não será o ponto de chegada, mas uma etapa de um longo processo através do qual o PT recuperará seu apoio junto a classe trabalhadora.
Os que defendem que Lula assuma a presidência do Partido parecem achar que isto facilitaria o processo, tendo em vista sua popularidade externa e interna.
Certamente Lula pode e deve contribuir para o processo de reconstrução do PT. Mas a questão é: assumir a presidência nacional do PT é a maior contribuição que ele poderia dar neste sentido?
Lula já é o presidente de honra do PT.
Se o PT fosse um país, Lula seria o chefe de Estado e o presidente do Partido seria o chefe de governo, uma espécie de primeiro-ministro.
Na vida real, quem defende que Lula assuma a presidência do Partido está propondo que ele acumule as duas funções: a de "chefe de Estado" e a de "chefe de governo".
No caso concreto de Lula, trata-se de um acúmulo brutal de tarefas, especialmente se lembrarmos que ele é vítima de uma perseguição judicial e também nosso pré-candidato à presidência da República.
Ou seja, Lula teria que -- entre outras coisas -- coordenar sua própria pré-campanha à presidência da República e coordenar a sua própria defesa contra as arbitrariedades judiciais, além de coordenar a ação cotidiana do Partido.
É impossível dar conta, com qualidade, deste conjunto de tarefas. Na prática, muitas delas teriam que ser transferidas para terceiros.
É o que ocorre em vários estados e cidades onde a direção do Partido é exercida por pessoas que exercem, simultaneamente, mandatos parlamentares ou executivos.
Na maioria dos casos, o exercício efetivo da direção partidária é transferido para outras pessoas, que não foram eleitas para esta função.
O que faz a discussão voltar ao ponto de partida... precisamos de um coletivo dirigente que tenha capacidade politica e legitimidade na base do Partido. A ausência deste coletivo contribui para nossa crise; querer resolver este problema através de Lula nos levaria... de volta ao ponto de partida.
Mas vamos supor que Lula fosse um super-homem capaz de assumir tantas e concorrentes tarefas ao mesmo tempo.
Vamos supor, também, para facilitar a argumentação, que uma candidatura de Lula à presidência do PT fosse tão unânime quanto sua candidatura à presidência da República; e que Lula tivesse aptidão e vontade para exercer mais uma vez as tarefas da presidência partidária.
Mas vamos supor, ainda, que nós conseguíssemos superar estas dificuldades todas.
Ainda assim, pergunto: não seria melhor aproveitar a presença de Lula para ajudar a formar outros quadros (homens e mulheres) capaz de assumir desde já a presidência efetiva do Partido? Porque adiar esta inevitável e necessária renovação?
Falando de outro jeito: se Lula fosse de fato a única solução, isto seria uma confissão de que o PT está muito mais débil do que imaginam nossos inimigos. Afinal, 37 anos depois, a única pessoa que supostamente teríamos capaz de assumir a presidência do Partido, seria aquele que foi o seu primeiro presidente, em 1980.
Entendo que alguns setores do Partido não vejam outra solução. Olham para si mesmos, para suas próprias alternativas e não enxergam ninguém capaz de dar conta da tarefa. E ai lembram de Lula.
Recomendo a estes setores que olhem para outras alternativas no seu interior, e que olhem também para além de si mesmos. Noutras tendências e fora das tendências há ótimos nomes, capazes de assumir a direção nacional do PT.
Não custa lembrar que o Partido é maior do que todas as nossas tendências e grupos. Se não temos entre nós nenhum nome à altura, não é preciso recorrer a Lula: há várias outras alternativas, que permitiriam a Lula cumprir as tarefas que já cumpre e que permitiram ao PT iniciar imediatamente o processo de requalificação e renovação de sua direção nacional.
Deste ponto de vista, escolher Lula seria retardar desnecessariamente o processo de renovação do Partido. Teria o efeito oposto ao pretendido pela referida moção aprovada pelo Diretório do Rio de Janeiro. E incorreria no erro de outros partidos de esquerda, no Brasil e no mundo, que desenvolveram verdadeira dependência em relação a um dirigente específico ou a um grupo muito restrito de quadros.
Considero que este tipo de proposta padece do mesmo defeito de algumas polêmicas que tomaram conta do PT nos últimos meses.
Renúncia da direção? Congresso plenipotenciário? PED? O Partido já consumiu imensas energias debatendo estes e outros "entretantos". E vem deixando em segundo ou terceiro plano o debate sobre os "finalmente", sobre qual a linha política que devemos adotar.
E sem uma nova linha política, não há presidente nem direção coletiva que seja capaz de resolver o problema.
Um último comentário: quando falamos de uma nova linha política, não estamos pensando em abstrações sobre cenários de médio e longo prazo.
A crise do governo golpista e a ofensiva reacionária contra os direitos exigem resposta imediata. É também no terreno destas lutas concretas que forjaremos desde já uma nova estratégia, um novo programa, um novo modus operandi e uma nova direção para o Partido dos Trabalhadores.
Concordo. E digo mais, com Lula na presidência significa que nada se alterará em termos de estratégia, tática e ações imediatas e futuras. Os mesmos assessores atuais, os mesmos secretários permanecerão. É preciso uma mudança radical de rumo, coisa não vejo ser possível com a atual direção.
ResponderExcluirEm uma entrevista antiga Pelé falou que ele nunca quis ser capitão do time porquê dessa forma o time tinha duas "autoridades" em campo: ele e o capitão. Se todos os argumentos políticos contra a proposta de Lula ser o presidente do PT não bastarem esse é um argumento para se pensar bastante.
ResponderExcluirO texto coloca bem clara as razões políticas e de carga até mesmo física que representam para Lula, além de tudo que já é, ser presidente do PT.Mas além dessas questões, o que ganhamos na prática com Lula como presidente? Nada. Somente perdemos, como disse Pelé, um segundo capitão no time com "autoridade" para falar por ele. Hoje Lula mesmo sem abrir a boca já fala pelo PT e sobre o PT. Ao se olhar para Lula já se vê a estrela e o 13, assim como ao se olhar para Pelé já se vê a camisa 10 do Santos e da Seleção. E ao se ouvir ou conversar com Lula, ou com Pelé, se está na presença de um mito que impõe respeito por si só. Lula e Pelé são dois personagens que a simples presença já atrai todas as atenções.
E nós precisamos hoje de uma liderança que una o partido não somente pela sua forte presença em campo. Mas que nos una encaminhando as resoluções políticas do 6o Congresso e encarando a conjuntura de frente e com a coragem necessária.Uma direção, colegiada de preferência, que renove o partido e abra as portas para o surgimento e crescimento de lideranças de massa que dividam com Lula a imagem da estrela e do 13.
De Lula nesse momento precisamos que ele se concentre em sua defesa, essencial para chegar em 2018, e na sua pré candidatura, levando onde ele vai a nossa estrela e o 13.
Perfeita análise, Valter.
ResponderExcluirConcordo, O PT tem de se reconstruir com caras novas, também... Lula é importante, mas temos que começar a dá visibilidade a outras lideranças que não estão acostumadas com a burocracia partidária.
ResponderExcluirInacreditável como dirigentes e militantes tarimbados do PT não conseguem ver o grave e perigosíssimo golpe que Partido foi e está submetido.
ResponderExcluirBuscar superar de forma administrativa e burocrática esta situação é aceitar e fazer o jogo dos inimigos do PT, que lhes impuseram um guerra de extermínio.
O momento é de ação e unidade. Lula, na real, é a única liderança que pode nos conduzir para enfrentarmos, como ele e seus defensores estão enfrentado, essa ofensiva dos inimigos. Lula deve ser alçado, como deve ser em momentos de alta gravidade, a condição de Leviatã, para, sob sua liderança, de incontestável estatura política e moral dentro e fora do Partido, nos conduzir à superação desta situação e a derrota dos nossos inimigos.
O resto é fugir das soluções, agravando os problemas!...
Muito bom!
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ExcluirA CONJUNTURA URGE!..
ExcluirLIBERDADE PARA OS PRESOS POLÍTICOS DO PT, NA LAVA JATO!...
FORA A QUADRILHA QUE ASSUMIU AS RÉDEAS DO PAÍS, COM A CONIVÊNCIA DO MPF E JUDICIÁRIO, APÓS O GOLPE CONTRA A PRESIDENTA DILMA!..