Projeto de resolução para
o 3º Congresso da tendência petista Articulação de Esquerda (sem revisão)
1.A tendência petista Articulação
de Esquerda surgiu em 1993, como reação contra a “domesticação”, termo que
utilizávamos então para designar tudo aquilo que nos afastava das tradições
socialistas e revolucionárias, como é o caso da chamada “política de
centro-esquerda” e da prioridade dada à luta institucional-eleitoral.
2.Combatemos a “política de
centro-esquerda” desde o início. Apontávamos que ela nos distanciaria das
reformas estruturais democrático-populares e nos aproximaria do ponto de vista
neoliberal. Também combatemos desde o início a prioridade dada à luta
institucional-eleitoral. Apontávamos que isto enfraqueceria nossa força social
e terminaria nos convertendo em prisioneiros dos limites da institucionalidade.
3.Durante algum tempo, a
política de centro-esquerda e a prioridade institucional-eleitoral não impediu –
e em vários casos certamente auxiliou -- nossas vitórias nas disputas executivas
e legislativas. Entretanto, ao tempo que ajudava a construir as vitórias
eleitorais do PT, a Articulação de Esquerda também buscava alertar para os
riscos embutidos naquela política. Riscos que afetavam a própria tendência, que
foi vítima – como o conjunto do partido – dos efeitos colaterais da estratégia
de centro-esquerda e da institucionalização.
4.Em todos os processos
de congresso e de eleição da direção, desde 1995, sempre defendemos a necessidade
de construir outra estratégia. Enfatizamos isto, sobremaneira, durante as
crises de 2005-06 e 2015-2016.
5.Hoje, a estratégia de
centro-esquerda e institucional está esgotada. As prova disso são: a) uma
estratégia de centro-esquerda pavimentou o caminho para uma aliança de
centro-direita contra a esquerda; b) uma estratégia institucional pavimentou o
caminho para a redução de nossos espaços institucionais.
6.O esgotamento da
estratégia adotada pelo Partido desde 1995 coincide, não por acaso, com uma
brutal ofensiva reacionária e com a perda de influência do PT na classe
trabalhadora. A combinação entre os três fenômenos ameaça a sobrevivência do PT.
E uma eventual destruição do nosso Partido contribuiria para um retrocesso de
toda a esquerda, com efeitos dramáticos para a classe trabalhadora brasileira e
seus aliados na região e no mundo.
7.Frente a isto, alguns
setores dizer que nossa prioridade deve ser defender o PT, deixando para um
segundo momento o “ajuste de contas” com as práticas políticas e com as
concepções teóricas adotadas até aqui pelo Partido. Discordamos disto, por dois
motivos. Em primeiro lugar, para termos êxito na defesa do PT, será preciso
adotar não apenas outra tática, mas também outra estratégia, outro programa e
outra conduta cotidiana. Em segundo lugar, se não reconhecermos a causa de
nossos problemas atuais, podemos adotar remédios que agravem nossa situação.
8.Será preciso algum
tempo e bastante esforço para reconstruir os laços com a classe trabalhadora,
além de muita criatividade política e teórica para realizar um balanço,
construir outra estratégia e programa, assim como uma nova tática e padrão de
funcionamento. Nada disto cairá do céu e nada disto será resolvido rapidamente,
mesmo que façamos tudo certo.
9.Para contribuir com este
processo, que no caso do Partido inclui a realização do 6º Congresso, nós da
tendência petista Articulação de Esquerda convocamos nosso 3º Congresso,
realizado de 12 a 15 de novembro de 2016, ao mesmo tempo que nossa Conferência
de Mulheres.
10.O curto tempo entre a
convocação e a realização do Congresso, o imenso volume de tarefas neste
período e a dificuldade mesmo dos temas a serem debatidos, fizeram com que
adotássemos, no congresso da AE, a mesma atitude que adotamos frente ao 6º
Congresso do Partido, a saber: não se trata do final, mas de uma etapa de um
processo de elaboração de uma nova linha para o Partido.
11.No nosso caso, é
importante lembrar que realizamos desde 1993 pelo menos dez conferências
nacionais e agora três congressos, cada um dos quais produziu resoluções
bastante amplas, algumas delas publicadas em formato de livro (“Socialismo ou
Barbárie”, “Novos rumos para o governo Lula”, “Resoluções da X Conferência
nacional”). Embora esta elaboração acumulada não resolva os problemas do
presente, pode contribuir neste sentido.
12.Neste sentido, o 3º Congresso
delegou ao Conselho Editorial da revista Esquerda Petista a elaboração de uma
síntese das formulações que elaboramos desde 1993 até 2016, inclusive dos
documentos apresentados como contribuição ao debate o 3º Congresso. Isto
permitirá uma elaboração mais densa e profunda sobre os temas do balanço, da
estratégia, do programa e da análise que fazemos da atual situação nacional e
internacional, com foco na luta de classes no capitalismo contemporâneo.
13.O 3º Congresso da
tendência petista Articulação de Esquerda aprovou um conjunto de resoluções,
com destaque para um texto que apresentaremos como contribuição aos debates do
6º Congresso do PT. Nossas resoluções, especialmente o texto citado, devem ser amplamente
divulgadas para todos os setores do PT, filiados e simpatizantes, bem como para
todos os setores da esquerda brasileira, especialmente os participantes da
Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo.
14.Em todas as cidades e
estados onde a AE existe, devem ser convocadas plenárias para
apresentação das resoluções do 3º Congresso. Onde já estiver convocada uma
segunda etapa do 3º Congresso, a pauta deve incluir a apresentação da resolução
aprovada. Onde não foi realizado congresso, deve ser convocado também com esta
finalidade.
15.As resoluções do 3º
Congresso da AE apontam nossas tarefas políticas, de curto e médio prazo. A
principal destas tarefas é contribuir para que a classe trabalhadora brasileira se organize, mobilize
e lute contra o governo golpista e suas políticas.
16.Com este propósito,
cada instância da tendência e cada militante devem pautar e definir o que fazer
para ampliar a contribuição prática que damos para a organização, mobilização e
luta, a começar pelo que fazemos na Central Única dos Trabalhadores e em todas
as entidades que participam da Frente Brasil Popular.
17.Destamos, neste
contexto, a importância da próxima Plenária Estatutária da CUT (ainda sem data)
e também da conferência nacional da Frente Brasil Popular (nos dias 5 e 6 de
dezembro de 2016, no Sesc Venda Nova, em Minas Gerais).
18.A Articulação de
Esquerda é uma tendência petista e participará ativamente dos debates do 6º
Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores.
19.Nosso objetivo continua
sendo constituir uma nova maioria no Partido, que seja capaz de dirigir a luta
contra o governo golpista e suas políticas, capaz de defender o PT e o conjunto
da esquerda política social, capaz de implementar uma estratégia adequada à
nova situação política nacional e internacional, capaz de reconstruir os laços
do PT com a classe trabalhadora brasileira.
20.Uma nova maioria com
estas características só poderá surgir de um debate que envolva o conjunto das
bases partidárias, não de acertos prévios entre as lideranças e tendências. Um
debate crítico e autocrítico, capaz de apontar os erros práticos e teóricos
cometidos no período recente e, assim, capaz de formular uma nova política para
o período que se inicia.
21.O espaço adequado para
o conjunto do Partido aprovar um balanço autocrítico, uma nova tática, uma nova
estratégia, um novo programa e mudanças no seu padrão de funcionamento, é um
congresso plenipotenciário.
22.Uma nova direção partidária
deve ser escolhida durante o debate político e à luz do debate político. Portanto
não participaremos de nenhum tipo de composição ou acordo prévio, nem para indicar
a nova direção, nem para indicar quem ocupará a presidência nacional do Partido.
Não aceitamos fazer uma discussão de nomes antes do debate e desvinculado do
debate. Até porque estamos convencidos de que precisamos recuperar a prática da
direção coletiva.
23.Alguns setores do
Partido defendem que Lula seria o nome adequado para presidir o PT neste
momento. Não estamos de acordo com esta tese. Lula deve ser o nosso candidato à
presidência da República em 2018. Não deve ser levado a assumir a presidência
do PT, entre outros motivos porque isto seria ruim para o próprio Lula, para
nossas chances de disputar e vencer em 2018, além de ser ruim para o próprio
PT, entre outros motivos por revelar uma total incapacidade de produzir uma renovação
organizada. Aliás, se o único nome capaz de ocupar a presidência do Partido é quem
já é nosso “presidente de honra”, melhor então seria acabar com a figura do
presidente.
24.Nossa militância deve
se esforçar para que o 6º Congresso do PT incorpore, na maior proporção
possível, as diretrizes do 3º Congresso da AE. E isto implica aproveitar ao
máximo todas as oportunidades -- com destaque para o processo de eleição de
delegados/as e de dirigentes – para apresentar nossas posições.
25.Por este motivo, mas
também para evitar que as posições da AE sejam confundidas com as de outros
setores que – embora críticos a atual maioria, compartilham orientações para o
futuro diferentes das nossas --a tática prioritária que adotaremos será a de
lançar chapas claramente identificada com as posições da AE, sem prejuízo de
alianças com militantes e outros setores partidários que compartilhem nossos
pontos de vista. Estamos entre aqueles que desejam mudar o PT. Não estamos
entre aqueles que falam em mudar do PT.
26.A conjuntura nacional
exige a ampliação de nossa presença política, da circulação de nossos meios de
comunicação e de nosso trabalho de formação política.
27.A nova direção
nacional da AE aprovará um plano detalhado de viagens aos estados (inclusive
aqueles onde a AE não está organizada), de ampliação da circulação do jornal
Página 13 e da revista Esquerda Petista, assim como de ampliação dos acessos ao
endereço www.pagina13.org.br.
28.A nova direção
nacional da AE continuará organizando as jornadas anuais de formação política,
bem como auxiliando em jornadas estaduais e regionais.
29.Como parte do trabalho
de formação político-ideológica, organizaremos durante o ano de 1917 um
conjunto de atividades para marcar os 100 anos da Revolução Russa. E planejaremos
atividades similares para marcar os 200
anos de nascimento de Karl Marx (1918) e os 100 anos do assassinato de
Rosa Luxemburgo (1919).
30.Para que estas e
outras atividades sejam possíveis, teremos que ampliar nossa arrecadação
militante, assim como a venda de materiais. Mais do que nunca devemos superar qualquer
tipo de frouxidão em matéria de organização e finanças. Se amplia para 120
reais o valor mínimo da contribuição anual.
31.Os que acreditam que “vivemos
tempos de guerra” precisam reforçar seu compromisso militante, sua vigilância e
a organicidade das instâncias em todos os níveis: setorial, municipal, estadual
e nacional.
32.A tendência petista Articulação
de Esquerda tem um passado de que nos orgulhamos, especialmente o papel que
jogamos em defesa do PT nos anos de 1993 e de 2005. Evidentemente, não queremos
ser uma “tendência que tem um grande passado pela frente”. Nossa existência só
faz sentido se formos capazes de, nesta quadra difícil da vida do Partido e da
classe trabalhadora brasileira, contribuir para formular uma política que nos
ajude a retomar a caminhada em direção a um Brasil e a um mundo
democrático-popular e socialista.
É a isto que nos
dedicamos!
(sem revisão)
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