Tenho o maior respeito
pelo Max Altman. Muitas vezes concordo com suas opiniões acerca da conjuntura
internacional e nacional.
Mas acho que ele está
equivocado na análise que faz da situação grega, no artigo publicado no site Opera Mundi (ver ao final).
Vejo três problemas de
fundo na análise que ele faz.
O primeiro está em não situar
a atitude de Tsipras no contexto de uma opção estratégica feita por uma parcela
da esquerda europeia.
A saber: aceitar como
limite (com o perdão da involuntária ironia) os marcos da União Europeia.
Noutras palavras: uma
parcela da esquerda europeia é radicalmente de esquerda, enquanto puder
continuar sendo europeia.
Poucos setores da
esquerda europeia estão dispostos a cruzar esta linha.
Até onde eu sei, este é
o caso do KKE e do PC Português.
Ironicamente, mas não
paradoxalmente, na direita nacionalista parece haver mais disposição de romper
com a UE.
O compromisso com a
Europa é maior, em alguns setores de esquerda, do que seu compromisso com o
Estado do Bem Estar Social ou com a “estratégia eleitoral-institucional”.
Obviamente, este
compromisso com os marcos da União Europeia torna-se dia a dia uma submissão
aos euromarcos, à política econômica
controlada pelo grande capital europeu, especialmente o alemão.
O que coloca a esquerda
que pretenda continuar de esquerda diante de um desafio mais complexo e mais
difícil de resolver, na atual conjuntura internacional, especialmente num país
pequeno, pobre e economicamente fragilizado como a Grécia.
E, tendo em vista a
situação brasileira, especialmente da esquerda brasileira de que eu e Max
Altman fazemos parte, não me sinto em
condições de emitir determinados juízos sobre a atitude de Tsipras.
Embora, óbvio,
emocionalmente preferisse que ele tivesse escolhido cruzar o Rubicão.
Acredito que Max Altman
tenha conhecimento e talvez até concorde com parte do que disse antes.
Mas uma passagem do seu
texto demonstra que sua análise contém mesmo uma questão estratégica mal
equacionada.
Refiro-me ao seguinte
trecho: “A intransigência de Angela Merkel e da troika chegou ao auge, como se
entregasse uma mauser carregada ao governo grego e dissesse: aponte a
arma para a sua têmpora e atire. O projétil não iria somente matar o futuro
grego na Europa. Iria matar a eurozona, que foi criada como fortaleza inexpugnável
de paz, esperança, democracia e prosperidade”.
Esta última frase
expressa a verdade? Ou é exatamente uma fábula que aprisiona a mente de grande
parcela da esquerda?? Merkel é uma aberração ou é uma consequência lógica da
União Europeia realmente existente???
O segundo problema de
fundo da análise de Max Altman é sua interpretação sobre o resultado do
plebiscito grego.
Refiro-me ao seguinte: 1)
o “não” ao acordo proposto pela troika mandatava o governo a ir até aonde? 2) quais
seriam as consequências caso o governo, sem nenhum tipo de preparação prévia,
fosse empurrado para fora do Euro?
Não considero possível
julgar a opção de Tsipras, sem levar em conta estes dois aspectos,
especialmente o segundo.
O plebiscito – como aliás
alertou o KKE – era entre duas alternativas de “ajuste”, o ajuste draconiano proposto
pela troika e o ajuste suave proposto
pelo governo grego.
Quanto ao segundo ponto,
os efeitos catastróficos do Grexit
foram muito bem explicados pelo ex-ministro das finanças grego, logo depois dele
ter saído do governo e antes dele ter se declarado contrário ao acordo proposto
por Tsipras.
A respeito de um Grexit, o texto de Max é quase lírico.
Vejamos o que ele diz
que Tsipras deveria ter feito: “Deveria retornar ao seu país e convocar uma
grande manifestação, transmitida por rede de televisão e rádio. Informar à
população de um país pobre como a Grécia dos graves riscos decorrentes da
negativa em aceitar as imposições da “troika”. Dizer claramente que poderiam
advir desabastecimento, fome, inflação, desemprego, bancarrotas, agruras de
todo tipo. E perguntar ao povo se estaria disposto a resistir. Certamente
receberia uma vigorosa resposta afirmativa. Ato contínuo, partir para o
entendimento interno com sindicatos, movimentos sociais, instituições públicas
a fim de manter alguma ordem e evitar o caos. Arrumar as malas e se dirigir aos
povos dos países atingidos pelas mesmas mazelas apelando à solidariedade.
Diplomaticamente, buscar apoio internacional, em governos amigos, nas Nações
Unidas, no papa Francisco, na Igreja Ortodoxa grega. Alargar a fenda entre
França e Alemanha, jogar com Obama que tem um olhar distinto do problema da
dívida externa. Enfim, lutar, resistir, com coragem e inteligência”.
Certamente receberia uma
vigorosa resposta afirmativa? Certamente, de alguns setores. Mas certamente
também receberia uma vigorosa resposta negativa, que não se expressaria apenas
em caos, desabastecimento,
fome, inflação, desemprego, bancarrotas, agruras de todo tipo. Max
parece esquecer que Tsipras ganhou uma eleição, não conquistou o poder. E que a
Grécia está no campo de ação da OTAN.
Mas o pior está na ilusão
acerca de certa solidariedade
internacional. Tsipras disse publicamente que bateu na porta dos Estados
Unidos, da Rússia e da China. E não teve
apoio.
Podemos criticá-lo por
não ter seguido adiante, mesmo sem apoio? Podemos criticá-lo por não tentar
repetir, agora, o que fizeram os heroicos guerrilheiros comunistas gregos, na
metade do século?
Sim, sempre podemos,
embora como já disse eu não me sinta muito bem cobrando dos outros uma valentia
que anda escassa por aqui.
Mas acima de tudo não acho
que seja pedagógico minimizar os problemas, desconhecer as tentativas feitas e
omitir as recusas recebidas.
Para que fique claro, eu
não tenho dúvida de que o melhor -- estrategicamente falando -- para a Grécia e
para o restante é uma ruptura com os marcos (!!!) do Euro.
Acho que o julgamento
histórico do Syriza e de Tsipras serão definidos pelo que eles venham a fazer
em direção a isto, no presente e futuramente.
Mas acho, também, que
uma ruptura lançaria a Grécia numa situação de crise, que exigiria uma
estratégia totalmente distinta daquela adotada pelo Syriza.
E, para citar (em mal
espanhol) um ditado que Max certamente conhece, qual é mesmo o sentido de pedir
peras a olmos?
O terceiro problema que
vejo na análise de Max Altman está na interpretação unilateral que ele faz de lutar,
resistir, com coragem e inteligência.
Sou totalmente a favor disto
tudo.
Mas, como Max sabe muito
bem, aliás sabe muito mais do que eu, as vezes para lutar e resistir é preciso
dar dois passos atrás.
As vezes o mais
inteligente e o mais corajoso é saber quando é chegada a hora de recuar.
Quero deixar claro, mais
uma vez: não sei se Tsipras fez o certo. Mas acho um total
absurdo a comparação que Max faz entre Tsipras e Fidel.
Max tem consciência de
que sua comparação pisa em terreno perigoso. Reconhece que “comparações
históricas são imprecisas e reducionistas”. Mas mesmo assim insiste em fazer,
por um “impulso vital” que na minha opinião tem mais que ver com o Brasil do
que com a Grécia.
Max diz o seguinte: “O
que me ocorre é o que aconteceu com Cuba em seguida à derrocada da União
Soviética. Fidel foi à Praça da Revolução e perguntou à multidão ali reunida se
estava disposta a resistir. Resistiram, passaram fome, iam a pé para o trabalho
pois não havia combustível para os veículos, assavam folha de bananeira à guisa
de filé de carne, apagões diários e intermináveis … Resistiram anos e
mantiveram a dignidade e a soberania. Aos poucos, com a solidariedade
internacional de povos e medidas locais e internacionais, a situação tendeu a
melhorar”.
Não vou discutir o que
aconteceu em Cuba nos anos do período especial e depois. Limito-me a lembrar um
detalhe que Max sabe mas omite: Fidel
era expressão do poder, Tsipras é chefe de governo.
Suas condições para
resistir, hoje, são totalmente diferentes das que tinha Fidel, naquela época.
Se Tsipras fosse chefe
de um governo revolucionário e capitulasse, ele poderia ser cobrado de maneira
mais dura? Claro que sim!
Mas mesmo assim,
lembremos o que fez Lenin, chefe de um poder revolucionário recém-conquistado,
frente às exigências alemãs em Brest Litovski. Resistiu ou capitulou?
O raciocínio de Max autoriza
a perguntar: que posição defenderiam certos críticos de Tsipras, se pudessem
opinar na época (não agora, que já sabemos o que aconteceu, mas na época) sobre
as negociações de Brest Litovsk?
Defenderiam as mesmas
posições de Trotsky? De Radek? De Bukharin? Ou Lenin, que “traiu a revolução” e
“capitulou frente aos alemães”, como se dizia na época??
Repito, não sei se
Tsipras agiu corretamente. Não sei o que fará. Não sei o que vai acontecer. Mas
acho que este tipo de julgamento no fundo moral feito por Max – para quem
Tsipras “dobrou os joelhos, perdeu a honra e não terá como respirar nem arrumar
a casa” – desconsidera variáveis políticas essenciais.
Como disse antes,
entendo o “impulso vital” que nos leva a vociferar contra quem nos parece estar
desperdiçando uma grande oportunidade histórica. Mas prefiro ser mais paciente
com os gregos e concentrar energias em mostrarmos, nós mesmos e aqui mesmo, que
estamos à altura do que a história exige.
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Max Altman: Tsipras teve a
ousasia de se rebelar, mas não está à altura de Fidel Castro
Por Max Altman, no Ópera Mundi
As exigências
financeiras feitas pela “troika” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu,
Fundo Monetário Internacional), sob a hegemonia da Alemanha, durante os anos a
partir de 2008, destroçaram a economia grega, levaram ao desemprego em massa,
que atingiu duramente 25% da população economicamente ativa, ao colapso do
sistema financeiro. As drásticas medidas de austeridade impostas empurraram a
dívida externa dos 128% para os 177% do PIB, absolutamente impagáveis. A
economia se deteriorou dramaticamente com as receitas fiscais em queda livre,
produção, emprego e renda em forte descenso, quebra de empresas e negócios com
avidez de capital que não mais existia.
O impacto social e
humanitário foi espantoso: 40% das pessoas passaram a viver na pobreza,
boa parte na miséria, os suicídios se multiplicaram, a mortalidade infantil
cresceu aceleradamente e o desemprego entre os jovens chegou perto de 50% entre
outras drásticas mazelas.
Uma disseminada
corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal endêmica e uma contabilidade
fraudada do governo grego anterior do social-democrata Pasok estiveram na
origem do problema da dívida. O povo grego arcou então com boa parte da
austeridade, verdadeiro arrocho, imposto pela chanceler alemã, Angela Merkel:
salários foram cortados; gastos sociais governamentais, podados; pensões,
reduzidas; privatizou-se; e, as relações de trabalho foram desregulamentadas,
com aumento de impostos. Uma conjuntura econômica que não era vista na Europa
desde os anos 1929-1933. O medicamento prescrito por Berlim e pela “troika”
longe de curar a doença, provocou hemorragia.
Com esse cenário de
fundo, feriram-se as eleições de janeiro de 2015. O partido de esquerda Syriza
venceu o pleito valendo-se de uma plataforma de nítido enfrentamento à política
de austeridade da “troika”. Seu líder, o jovem Alexis Tsipras, foi conduzido à
chefia de governo.
Cinco meses de intensas
negociações se passaram para a reconfiguração da dívida. Esse duro processo,
conduzido pela “troika” numa inesgotável sucessão de chantagens,
condicionamentos e pressões, tinha por objetivo central impor uma humilhante
derrota à pretensão de Atenas de manter, ainda que minimamente, sua soberania
política e o controle das finanças. Tramava-se e se preparava o terreno — e
isto foi denunciado pelo ministro grego Yanis Varoufakis — para que a Grécia
fosse retirada da zona do euro (o chamado ‘Grexit’) com o fim de disciplinar os
Estados membros que viessem a resistir aos seus planos. O que se exigia a
capitulação todo o transe.
Na tradicional e
histórica postura germânica — vocalizada pela chanceler Merkel — não se buscava
apenas a derrota da Syrisa e sim a imposição de uma humilhante rendição que
servisse de alerta para outros países europeus igualmente envolvidos em pesadas
dívidas com os organismos internacionais. O látego sobre o lombo dos gregos
estava erguido: que não ousassem incorrer na audácia de desobedecer as
exigências dos banqueiros e dos dirigentes políticos que agem em seu nome. E
que o açoite servisse de advertência a outros países europeus vergados sob o
peso da dívida externa. Se na Grécia a proporção da dívida sobre o PIB era de
177%, na Itália, Portugal e Espanha rondava os 120%, na Irlanda, 110% e 106 %
na Bélgica.
A intransigência de
Angela Merkel e da troika chegou ao auge, como se entregasse uma mauser
carregada ao governo grego e dissesse: aponte a arma para a sua têmpora e
atire. O projétil não iria somente matar o futuro grego na Europa. Iria matar a
eurozona, que foi criada como fortaleza inexpugnável de paz, esperança,
democracia e prosperidade.
Tsipras,
inesperadamente, convoca um plebiscito e comanda uma curta e acirrada campanha
pelo “Não”. O povo grego iria dar a resposta se curvava a espinha e aceitava as
determinações da “troika” ou se rebelava-se. A resposta, digna e justa, de 5 de
julho foi um contundente “Não”: 61,3% contra 38,7%.
O mundo desenvolvido — e
a Alemanha em particular — foi colhido de surpresa pela valente atitude do povo
helênico. Insatisfeitos e incorformados, os credores trazem de volta o candente
tema da dívida à mesa de discussões. E esse crucial assunto transborda para
amplos setores da opinião pública mundial.
Para Paul Krugman e
Joseph Stiglitz, prêmios Nobel de Economia, assim como para Thomas Piketty,
Feffrey Sachs e tantos outros, a postura de Berlim e da “troika” , tomada sob a
inspiração dos cães de guarda do neoliberalismo, era um tiro de misericórdia ao
projeto comum europeu. Do estrito ponto de vista da política econômica, a lista
de exigências elaborada pelos ministros de Finanças do euro era simplesmente
“uma loucura”. O ultimato de rendição incondicional era para Krugman, “um ato
de pura vingança que carregava em si a total destruição da soberania nacional
grega sem qualquer esperança de alívio ou resgate”.
O que conta agora para
Merkel e a “troika” são os interesses do capital financeiro e sua insaciável
voracidade. Se para tanto for necessário assistir à tragédia da destruição da
Grécia, amém! Onde está a nobre tradição humanista e libertária nascida do
Iluminismo? Onde ficam as alardeadas consignas da “Europa dos povos e das
nações”, insistentemente repetidas pelos hipócritas burocratas da União
Europeia? A democracia, os direitos humanos e a solidariedade para certos
chefes de Estado não passam de fachada cujo objetivo é assegurar a sacrossanta
taxa de lucro do grande capital.
A regente de toda essa
encenação é Angela Merkel, governante de um país que jamais se preocupou em
honrar suas dívidas nem cumprir com as reparações por ações de guerra não
provocadas contra outros países. A própria Grécia ainda aguarda o ressarcimento
dos horrores e destruição suportados pela ocupação nazista durante a Segunda
Guerra Mundial. Em 1953, uma conferência liderada pelos Estados Unidos, Reino
Unido e França, resolveu quitar mais de 60% da dívida que se arrastava desde a
Primeira Guerra Mundial, o que criou as condições favoráveis a um reerguimento
econômico, conduzido pacificamente. A Alemanha terminou de pagar a renegociação
mais de meio século depois, em outubro de 2010, sem se preocupar pelo
“confisco” sofrido pelos credores nem com o dogma da propriedade privada, agora
defendida belicosamente pela “troika”. Historiadores ressaltam que o
cancelamento de dois terços de sua dívida externa foi mais importante que o
Plano Marshall para resgatar a Alemanha dos escombros e encaminhá-la ao
progresso.
Na madrugada de 13 de
julho, Alexis Tsipras ouviu dos ministros de Finanças e dos diretores da
“troika” os termos de uma rendição incondicional na guerra econômica e política
em curso. Coube ao ministro de Finanças da Finlândia, Alexander Stubb, a missão
de dar a conhecer as cláusulas da capitulação. Exigiu-se da Grécia três
conjuntos de medidas, de imediata aplicação, a fim de poder receber aportes
financeiros: ratificação pelo Congresso helênico e por meio de leis, até 15 de
julho, dos itens acordados; draconianas reformas trabalhistas e
previdenciárias; e, significativo aumento de impostos: amplo leque de
privatizações e intervenção em fundos de privatização e de pensão. Compensações
e limitações alegadas como triunfos da posição grega não passam de medidas
cosméticas que em nada atingem o núcleo da questão.
Syriza teve a ousadia de
se rebelar, apostando na democracia e venceu as eleições. Tsipras teve a
dignidade de apelar a uma consulta popular para decidir o curso da ação que o
governo devia tomar para enfrentar a crise e obteve a vitória.
Há momentos cruciais, no
curso dos acontecimentos, em que um personagem ingressa, pelo seu ato,
definitivamente na História. Tsipras teve em mãos essa possibilidade e a jogou
fora. Não tinha o direito de contrariar a manifestação de seu povo, apenas uma
semana antes. Deveria retornar ao seu país e convocar uma grande manifestação,
transmitida por rede de televisão e rádio. Informar à população de um país
pobre como a Grécia dos graves riscos decorrentes da negativa em aceitar as
imposições da “troika”. Dizer claramente que poderiam advir desabastecimento,
fome, inflação, desemprego, bancarrotas, agruras de todo tipo. E perguntar ao
povo se estaria disposto a resistir.
Certamente receberia uma
vigorosa resposta afirmativa. Ato contínuo, partir para o entendimento interno
com sindicatos, movimentos sociais, instituições públicas a fim de manter
alguma ordem e evitar o caos. Arrumar as malas e se dirigir aos povos dos
países atingidos pelas mesmas mazelas apelando à solidariedade.
Diplomaticamente, buscar apoio internacional, em governos amigos, nas Nações
Unidas, no papa Francisco, na Igreja Ortodoxa grega. Alargar a fenda entre
França e Alemanha, jogar com Obama que tem um olhar distinto do problema da
dívida externa. Enfim, lutar, resistir, com coragem e inteligência.
Comparações históricas
são imprecisas e reducionistas. O que me ocorre é o que aconteceu com Cuba em
seguida à derrocada da União Soviética. Fidel foi à Praça da Revolução e
perguntou à multidão ali reunida se estava disposta a resistir. Resistiram,
passaram fome, iam a pé para o trabalho pois não havia combustível para os
veículos, assavam folha de bananeira à guisa de filé de carne, apagões diários
e intermináveis … Resistiram anos e mantiveram a dignidade e a soberania. Aos
poucos, com a solidariedade internacional de povos e medidas locais e
internacionais, a situação tendeu a melhorar.
Finda a reunião com a “troika”, Tsipras baixou a
cabeça, enfiou a papelada na pasta e voou para Atenas. Lá passou a articular a
aprovação pelo Congresso dos termos do acordo, argumentando que com os novos
aportes teria como respirar por algum tempo e arrumar a casa. Dobrou os
joelhos, perdeu a honra e não terá como respirar nem arrumar a casa.
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