sábado, 24 de maio de 2025

A carta de José Dirceu

 A retórica é uma arte.


Lembrei disso ao ler a carta que José Dirceu escreveu, em defesa da candidatura de Edinho Silva.

A carta apresenta as posições de Dirceu acerca de Deus e seu tempo.

Posso concordar ou discordar. Mas são as posições de Dirceu, não as de Edinho.

E são posições cuja implementação exigiria que o PT tivesse à sua cabeça alguém que não se comporte como correia de transmissão do governo.

Edinho tem demonstrado, desde que iniciou sua campanha, que está léguas à direita do que Dirceu expressa nesta carta.

E também tem demonstrado, não só agora mas antes, que seu estado de ânimo é a de ministro de um governo parlamentarista, não a de presidente de um partido de combate

Se ainda assim Dirceu o apoia, é na minha opinião por razões e motivações que estão apenas implícitas e sugeridas na sua “carta”. 

Entre elas a famosa “unidade da CNB”, que terminou sua Batalha de Itararé sem que o distinto público fosse informado acerca do que de verdade ocorreu, para que uma aparente paz prevalecesse onde antes pululavam violentas e públicas acusações recíprocas.

Infelizmente para todos nós, a realidade dura e crua é que a carta de Dirceu coincide com mais uma rodada de cortes orçamentários, confusão no governo e uma onda de ataques que demonstram que a linha política defendida pela cúpula da CNB e materializada pelo governo não está resistindo ao teste da prática.

Contra isso não basta retórica. É preciso uma inflexão na política. 

O que Edinho e a cúpula da CNB - leiam a tese inscrita - oferecem ao Partido não é uma inflexão na política, mas uma insistência dogmática no erro: “mais e melhores alianças com a direita”, temperada com concessões e capitulações frente ao capital financeiro.

Não está dando certo e simplesmente não vejo como possa dar certo. Reconheço que a alternativa que propomos a isso é difícil e arriscada. Entretanto, como Dirceu sabe muito bem, combater sempre é arriscado. Mas combater também é sempre melhor que capitular, não importa com qual retórica se justifique isso.

Por tudo isso e mais um pouco, seguimos lutando para que o Partido gire à esquerda. Acreditamos que isso ajudará a superarmos a difícil situação que enfrentamos desde o início de 2025 e, também, ajudará a conquistarmos, em 2026, um quarto mandato Lula em condições de ser superior ao atual.

Mas, acima de tudo, uma inflexão à esquerda contribuirá para que nosso Partido - Dirceu, Edinho e a CNB incluída - tenha bem mais que um grande passado pela frente.

#

Abaixo o texto criticado:

Mais uma vez nosso PT renovará suas direções, e agora por eleições diretas depois de dois PEDs

indiretos e uma prorrogação de mandato. Temos de reconhecer a árdua e difícil tarefa que as últimas direções do PT enfrentaram sob a presidência do companheiro Rui Falcão e depois de nossa presidente Gleisi Hofmann em condições de ataque e guerra jurídica contra o partido e o nosso projetovpolítico.

 

O momento político exige de nós a luta pela unidade da CNB e do PT, na sua diversidade e no

seu pluralismo, além da construção de uma maioria que vá além da CNB e assegure ao partido a governabilidade nos próximos quatro anos. Essa unidade se expressa na participação de todas as correntes e tendências políticas na direção nacional e em sua executiva, e no reconhecimento das candidaturas, todas representativas e legítimas: o companheiro Rui Falcão, militante político da luta contra a ditadura, com experiência na presidência do PT, parlamentar e de governo; Romênio Pereira, dirigente experiente do PT que representa o Movimento PT; e, por fim, Valter Pomar, militante e dirigente do PT, historiador e professor, que representa a Articulação de Esquerda.

 

O apoio à candidatura do companheiro Edinho

Silva, de início dentro da CNB e agora no PED,

baseia-se na legitimidade e na sua experiência

como vereador, deputado estadual, presidente

duas vezes do PT paulista, quatro vezes prefeito e ministro de Estado no Governo da presidenta

Dilma. Edinho tem uma vasta experiência na

direção do PT e nos governos que dirigiu e participou, conhece o mundo parlamentar e vem

de uma vida de lutas, nas pastorais da juventude e operária da Igreja Católica.

 

Como eu, foi office-boy, depois funcionário de uma empresa, operário na fábrica de meias Lupo e na extinta metalúrgica Climax, atual Electrolux.

Apaixonado por futebol, atuou como atleta nas

categorias de base da Ferroviária na década de

1980. Identificado com as propostas democráticas e socialistas do PT, filiou-se em 1985, aos 20 anos de idade. Foi presidente do Diretório Municipal de Araraquara e coordenador regional, assessorou nossa bancada de deputados estaduais durante a Constituinte Estadual, da qual participei como deputado. Em 2007, foi eleito presidente do PT de São Paulo e reeleito com voto de 90% dos filiados e filiadas. Em 2010, foi eleito deputado estadual com 184.397 votos, sendo votado em 500 municípios do Estado.

 

Creio que Edinho está à altura do desafio de

presidir o PT nesse momento histórico e nessa

conjuntura que enfrentamos. Tem experiência e

competência para nos dirigir com apoio do

presidente Lula e não só da CNB como também de outras correntes e lideranças do PT, respeitando a unidade na diversidade e no pluralismo do partido.

 

Temos a tarefa de praticamente reconstruir o PT

depois de uma década de ataque frontal, de

perseguição e mesmo tentativas de cassação de

nosso registro, sem falar no golpe parlamentar-

jurídico que sequestrou o mandato da nossa

presidenta Dilma e da infame prisão do nosso

companheiro Lula num processo ilegal, sumário e

político, felizmente já anulado pelo Supremo

Tribunal Federal. A tarefa de unificar toda a

esquerda numa frente que vá além do PV e do

PCdoB para enfrentar o PL e o bolsonarismo.

 

A conjuntura e as condições que governamos

exigem de nós a capacidade de fazer alianças mais amplas que a centro-esquerda, mas ao mesmo tempo criar as condições de mobilização popular, social e sindical para fazer avançar as reformas estruturais que o país reclama: a política, tributária e financeira, o que exige que nosso PT se autorreforme para retomar a capacidade de mobilização, recriando nossas sedes, nos emponderando nas redes, expandindo a formação política via EAD, ampliando e refazendo nossas relações com os movimentos sociais e nossas campanhas nacionais.

 

É preciso ainda continuar nossa transição

geracional e nosso compromisso com a diversidade e o pluralismo interno,organizar as oposições aos governos estaduais da direita, sustentar e orientar nossa atuação no governo e no Parlamento e, principalmente, reviver as instâncias partidárias e nossa democracia de base, as consultas e relações entre os diretórios municipais e estaduais, as bancadas, governos e nossa direção nacional, facilitadas hoje pelo uso das videoconferências, o que não substitui, pelo contrário, a presença dos dirigentes nos estados, municípios e principalmente nas lutas e mobilizações, e não só pelas redes.

 

Sustentar o governo do presidente Lula e suas

propostas de retomada do projeto de

desenvolvimento nacional, sintetizados na Nova

Indústria Brasil, no PAC e na transição energética-ambiental. Defender a reforma tributária progressiva, a revisão do Imposto de Renda dos ricos, a maior participação dos trabalhadores e trabalhadoras no Orçamento. Reafirmar nosso compromisso com a reforma agrária e a agricultura familiar orgânica e sustentável. Reforçar o debate sobre a liderança brasileira na COP-30 e as ações de enfrentamento à emergência climática. Defender o fim da escala 6x1, impedir o desmonte das estatais e bancos públicos, e do Estado de Bem-Estar Social conquistado com todas suas limitações na Constituinte de 1988.

 

Derrotar de novo a extrema-direita e o bolsonarismo, sem anistia ou mudanças no Código Penal que livre os golpistas de prestar contas à Justiça, mas ao mesmo tempo aumentar nossa bancada na Câmara e no Senado, nossos governos estaduais, e nossa presença nas assembleias legislativas, com atenção especial ao Senado, onde o bolsonarismo trama a retomada de seu projeto autoritário e ditatorial, criando assim as condições para dar continuidade ao nosso projeto político e reeleger o Presidente Lula em 2026.

 

O ataque ao sindicalismo e à luta em defesa do

emprego, dos direitos trabalhistas e da Justiça do

Trabalho deve ser uma prioridade frente à escalada de fortalecimento do sindicalismo patronal e do desmonte da legislação que protege os direitos conquistados na luta das últimas décadas. O PT deve priorizar a reforma política nos próximos anos, construindo uma proposta e a defendendo junto à cidadania. Trata-se de uma urgência, dada a degradação do parlamento via o desvirtuamento das emendas parlamentares e os desvios de recursos para fins eleitorais e mesmo enriquecimento ilícito, o avanço do parlamento sobre os poderes constitucionais do presidente, a indecente decisão de aumentar o número de deputados e as ameaças à independência dos poderes, seja o Judiciário ou o Executivo.

 

É preciso uma verdadeira mudança na vergonhosa concentração de renda e no cartel bancário financeiro, na política de juros e nas metas da inflação, que exigem uma radical reforma tributária e financeira, capaz de pôr fim à apropriação e expropriação da renda nacional pelo capital financeiro e agrário, num circuito entre o Banco Central e a Faria Lima, que cada vez mais concentra renda, via os juros altos únicos no mundo. O serviço da dívida pública e praticamente a isenção histórica que gozam nossas elites da obrigação de pagar impostos limitam nossa capacidade de investimento, impedem que o Estado financie o gasto social, com o agravante de que a saída de uma elite que representa 1% da população é exatamente a manutenção do status quo e o fim do Estado de Bem-Estar Social, com o desmonte dos bancos públicos, das estatais e da nossa capacidade de planejar e financiar o desenvolvimento nacional.

 

Ao PT e às esquerdas resta a tarefa histórica de

concluir a revolução social brasileira inacabada,

que exige duas condições: a soberania e

independência nacional, de um lado, e a democracia, de outro, num mundo onde

precisamos ter lado, lutar contra a extrema-direita

e o neofascismo e manter nossa política externa

independente e não alinhada, guiada pelos

interesses nacionais e pelo nosso projeto de

desenvolvimento e integração regional.

Nosso lugar é no Sul Global, nos Brics e na relação com a América do Sul e América Latina, com a África e os países árabes. Nosso norte é o bem-estar de nosso povo e a defesa de nossa cultura, nossa soberania, nossa terra e riquezas naturais, e nossa independência financeira e tecnológica. Sem isso nada será possível, mesmo com nossa riqueza e soberania alimentar e energética, com nosso mercado interno e nosso imenso território continental.

 

Com esse espírito e ânimo convido filiados e

filiadas do PT, nossa brava e guerreira militância,

a participar do PED, na construção das chapas, no debate político e votando no próximo dia 6 de

julho. Vamos dar uma demonstração da força de

nossa democracia interna e de nossa capacidade

de unir o PT na diversidade e na pluralidade, para

reeleger nosso presidente Lula em 2026 e dar

continuidade ao nosso projeto político em defesa

do Brasil democrático e popular, reiterando nosso

compromisso com a CNB e a candidatura mais

ampla do nosso companheiro Edinho Silva.

 

Saudações petistas e socialistas,

José Dirceu.

 


6 comentários:

  1. Grande Zé,
    É pra você

    Viver é melhor que sonhar
    Eu sei que o amor é uma coisa boa
    Mas também sei que qualquer canto
    É menor do que a vida
    De qualquer pessoa

    Para abraçar seu irmão
    E beijar sua menina na rua
    É que se fez o seu braço
    O seu lábio e a sua voz

    Não vou voltar pro sertão
    Pois vejo vir vindo no vento
    Cheiro de nova estação
    Eu sei de tudo na ferida viva
    Do meu coração

    Já faz tempo eu vi você na rua
    Cabelo ao vento
    Gente jovem reunida

    Nossos ídolos ainda são os mesmos
    E as aparências
    Não enganam não

    Você pode até dizer
    Que eu 'tô por fora
    Ou então que eu 'tô inventando
    Mas é você que ama o passado
    E que não vê

    Que o novo sempre vem

    Esse é o Novo Brasil

    ResponderExcluir
  2. Pra dar o rumo certo ao PT e Brasil, só Valter Pomar.

    ResponderExcluir

  3. Comentário feito alhures.
    ................
    Papo sério: se a militância petista há muito anda desanimada, essa cartinha de José Dirceu ainda mais a desanima.
    ...
    “fazer alianças mais amplas do que a centro-esquerda, mas, ao mesmo tempo, criar condições de mobilização popular, social e sindical”

    Trade off político.
    Mais alianças em direção à direita vai justamente em sentido contrário ao da mobilização popular.
    ...
    Essa entrevista do futuro presidente do Partido dos Trabalhadores, lá no Opera Mundi, sobejamente confirma que Edinho é o nome perfeito que hoje corresponde ao que se tornou a agremiação.
    Edinho, o Dialogador, é o lulismo em estado puro.

    Para a entrevista, Edinho foi ligado no automático. Se, por exemplo, o santista Altman perguntasse “Edinho, o que fazer para que o Santos ganhe do CRB e avance na Copa do Brasil?”, a resposta seria “Diálogo.”
    A mesma coisa caso perguntasse “O que os físicos devem fazer para realizar uma fusão nuclear a frio?”.

    Não devemos encarar Edinho como um humano carne e osso: é tão somente um algoritmo lulista que nos fornece sempre a mesma resposta.
    ...
    Dizem as más línguas que o fechamento de Gleisi e Quaquá com a candidatura de Edinho esbarrava numa séria divergência ideológica quanto aos rumos do partido: com quem ficaria a Tesouraria?

    Partilha resolvida, divergência superada.

    Não há nada que um bom diálogo não resolva, não é mesmo?...

    (Jucemir Rodrigues da Silva)

    ResponderExcluir
  4. Eu gosto de escutar e ler as histórias de vida pessoal dos companheiros e companheiras, admiro, vibro, viajo nas aventuras que cada um conta como chegou até aqui. Gosto de ouvir histórias vida e superação. Cria afetos e memórias. Até o momento gostei bastante de todas as ideias levantadas pelos candidatos, mas uma ideia 💡 foi a melhor de todas, foi a ideia de trabalho para efetivar a "estatização do sistema financeiro no BR". Boa sorte sorte ao PT e boas eleições internas do partido.✊🏿⚒️💜🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟⚖️🐼🏹🌈🤩🤩🤩🤩🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Olha Valter Pomar, não sei se vc vai ler o meu comentário, mas eu gosto muito do PT e a causa que o Manifesto do PT abraça. Eu era militante do PT, mas confesso que me decepcionei com este governo do Presidente Lula, totalmente desalinhado com o q o manifesto propõe, que é a luta pela causa dos trabalhadores. Quando eu vi que o tal do Edinho Silva está candidato e q setores do governo, como por exemplo, Gleisi Hoffman, o estão apoiando me decepcionei e pedi DESFILIAÇÃO do partido. Se ele vencer vai ser por manipulações e talvez compra de votos. Não acredito que os trabalhadores estejam felizes com o atual governo do Lula, voltado para as classes dominantes, refém dos mercados e de cunho elitista, direitista e neoliberal. Não foi absolutamente para isso que eu votei no Lula, para ser um Bolsonaro menos agressivo. Se você ganhar as eleições, ou o Rui Falcão, vou voltar a militância e filiação ao PT. Caso contrário, não quero ser conivente com esse Edinho Silva e com o caráter neoliberal que o PT está tomando. Meu total repúdio ao Edinho Silva!!! Se vc vencer, nós vemos novamente dentro do partido.

    ResponderExcluir