Quem não está acompanhando o caso, pode ler aqui:
Valter Pomar: Maricá, campeã de novas filiações ao PT
Valter Pomar: Filiações em massa: o case de Mesquita (RJ)
Isto posto, uma premissa: o PT tinha, em outubro de 2024, 2.618.007 filiados e filiadas.
No dia 28 de fevereiro de 2025, o PT passou a ter 2.949.507 filiados e filiadas.
Um crescimento modesto, de 12%. Pequeno, em comparação ao número que estimo ser necessário, a saber: 15 milhões de filiados e filiadas. E compatível com o crescimento eleitoral do Partido em 2024.
Para quem não lembra, em 2024 o Partido recebeu cerca de 6 milhões e 700 mil votos para vereador em todo o Brasil, um crescimento de 31% em relação aos 5 milhões e 100 mil votos recebidos em 2020.
Infelizmente, a média as vezes esconde problemas. Problemas que poderiam ser detectados mais facilmente, se a secretaria nacional de organização do PT (Sorg) disponibilizasse tabelas comparativas.
Mas até agora a Sorg disponibilizou apenas o número de filiados por município, comparando outubro de 2024 com fevereiro de 2025. Não forneceu, por exemplo, uma comparação com o número de votos obtidos pelo PT em cada município, nas eleições de 2024.
Se fizesse isso, talvez detectasse um fenômeno curioso, a saber: temos 45 cidades onde houve um número absoluto de filiados superior a 1 mil. Dessas 45 cidades, há pelo menos 15 onde o PT foi muito bem votado, portanto onde existe um ambiente que favorece as filiações. Mas nas demais 30 cidades, o PT foi mal votado ou nem mesmo disputou a prefeitura com candidatura própria. Portanto, são cidades onde não existe um ambiente muito favorável a filiações.
Curiosamente, nessas 30 cidades houve um grande número de filiações. Um otimista diria: capacidade de superação! Ao invés de capitular frente ao resultado eleitoral negativo, saíram às ruas para conquistar corações e mentes.
Pode ser? Pode, claro.
Mas também pode ser outra coisa. Vejamos, por exemplo, o caso de São Gonçalo (RJ), cidade com mais de 896 mil habitantes (segundo o IBGE 2022). A candidatura do PT a prefeito teve 10,55% dos votos válidos. As candidaturas petistas a vereador obtiveram 5,32% dos votos. Em números absolutos, 48.457 e 23.748, respectivamente.
Esse resultado foi pior que em 2020. Em 2020, com o mesmo candidato, tivemos 49,21% dos votos válidos para a prefeitura, ou seja, 183.811 votos.
Uma queda expressiva: de 183 mil para 48 mil.
Mas, apesar desse resultado negativo, o PT conseguiu ampliar significativamente o número de filiados em São Gonçalo.
Em outubro de 2024 tínhamos 18.825 filiados, em fevereiro de 2025 passamos a ter 29.490. Ao todo, 10.670 novos filiados e filiadas.
Não é incrível?
135 mil eleitores a menos, 10 mil filiados a mais!
Nesse ritmo, logo logo vamos acabar parecendo o PT das origens, quando em algumas cidades tivemos menos votos que filiados. Em São Gonçalo, por exemplo, o número atual de filiados supera o número de votos que obtivemos para vereador.
Ademais, calculado percentualmente, tivemos em São Gonçalo um crescimento de 56% no número total de filiados. Bem mais que a média nacional, que foi de 12% de crescimento. Com o seguinte detalhe: a média nacional se deu num contexto de crescimento da votação; enquanto que o crescimento em São Gonçalo se deu num ambiente de redução da votação.
Claro, pode ser que os números citados acima, recolhidos junto a grande imprensa, estejam equivocados. Pode ser, repito, que a Sorg disponha de outros números.
Ou então trata-se de outra coisa, que precisa ser investigada pela mesmíssima secretaria nacional de organização. Pois como diz nosso estatuto, artigo décimo, parágrafo único: "Para os casos em que as Comissões Executivas Estaduais ou a Nacional considerarem ter havido volume excessivo de novas filiações, causando prejuízos à democracia partidária, será decretado, sob sua supervisão, o recadastramento de todos os novos filiados e novas filiadas, observado o disposto no artigo 6º deste Estatuto".
Nenhum comentário:
Postar um comentário