quarta-feira, 7 de junho de 2023

Subsídios para a delegação

Filmes

1/Um filme antigão e hollywoodiano sobre a guerra do ópio

https://www.youtube.com/watch?v=H2qeWX2rTA8

2/Um filme sobre a revolução republicana, que derrubou o último imperador

https://www.justwatch.com/br/filme/1911

3/Um filme sobre a fundação do Partido Comunista

https://www.youtube.com/watch?v=DiTq2prNq6A

4/Um filme sobre a fundação do Exército Popular de Libertação

https://youtu.be/YFcbFwiORF8

5/Um filme sobre a invasão da China pelo Japão (este filme é interessante, porque é feito no estilo “nós contra eles”, ou seja, os heróis do filme não são comunistas, mas soldados chineses “em geral”, ou seja, do governo contra o qual o Partido Comunista estava lutando até a invasão japonesa

https://youtu.be/kbikn8Q148c

6/Um filme sobre a fundação da República Popular

https://www.youtube.com/watch?v=fs3099Cv-zc

7/Um filme épico sobre a guerra da Coréia

https://www.youtube.com/watch?v=o-R0QVh8ljg

8/Um filme diferente, sobre um grupo de dançarinos durante a Grande Revolução Cultural Proletária, é um filme de amor adolescente, ao estilo chinês. Infelizmente não consegui o youtube gratuito deste.

https://www.imdb.com/title/tt6654316/

9/Finalmente, um filme genial, que conta a história da China até o início das reformas, Tempos de Viver. O filme é de 1994 e se só puderem ver um, vejam este. O diretor é mega-famoso. 

https://youtu.be/HorOrml6hKg


A questão chinesa

Em outubro de 1984, ocorreu a primeira visita oficial de dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) à China. Wladimir Pomar e sua companheira, Rachel Pomar, acompanharam Jacó Bittar e Luiz Gushiken num roteiro que passou por várias cidades, onde foram recebidos por membros do Partido Comunista local. Neste período, Bittar era secretário-geral Nacional do Partido; Gushiken era presidente do Sindicato dos Bancários de SP.

Em 1989 o PT rompeu relações com o PC da China.

Em 2004 as relações foram reatadas, durante uma visita realizada à China por uma delegação encabeçada por José Genoíno.

Na referida visita foi assinado um protocolo de cooperação.

Deste então temos realizado diversas atividades conjuntas, por exemplo, intercambiando delegações e realizando seminários.

O primeiro seminário foi realizado em maio de 2008. 

Nessas atividades, é preciso estar atento para as diferenças existentes entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido Comunista da China.

A primeira diferença: o Partido Comunista da China construiu sua visão sobre o socialismo, ao longo de 102 anos de atuação, desde 1921. Já o Partido dos Trabalhadores foi fundado em 1980. 

Portanto, o PT tem menos tempo de vida e passamos por menos experiências que o PCCh, que antes de tomar o poder passou por três guerras civis e uma guerra contra a ocupação japonesa.

A segunda diferença: o Partido Comunista da China dirigiu uma grande revolução e está no poder há quase 70 anos. 

Já o Partido dos Trabalhadores não dirigiu uma revolução e não estamos no poder. Nós ganhamos cinco eleições presidenciais e hoje estamos no governo, que é uma parte do poder, mas não é todo o poder. 

Portanto, comparativamente o PCCh tem mais poder na China do que o PT tem no Brasil.

A terceira diferença: o PC da China está há quase 70 anos tentando construir o socialismo. 

Nós estamos tentando fazer reformas democráticas e populares, no interior de uma sociedade capitalista. 

Portanto, o PCCh têm uma experiência concreta de melhorar a vida do povo através da construção do socialismo, enquanto nós do PT temos uma experiência de lutar por melhoras na vida do povo, mas por enquanto dentro capitalismo.

Uma quarta diferença é que o PC da China foi formado numa época em que havia mais certezas do que dúvidas, acerca do que é o socialismo. 

Já o PT foi formado numa época em que havia mais dúvidas do que certezas, acerca do que é o socialismo.

Uma quinta diferença importante: o Partido Comunista da China tem uma matriz teórica, composta por várias partes: o marxismo, as contribuições de Mao, de Deng, as quatro representatividades, o desenvolvimento científico e agora o pensamento de Xi Jinping. 

Já o Partido dos Trabalhadores possui, na sua formulação teórica, a contribuição de várias matrizes teóricas diferentes, por exemplo: o marxismo, a Teologia da Libertação, correntes democrático-radicais e correntes nacional-desenvolvimentistas.

Observando estas diferenças, pode parecer que eles têm uma grande vantagem sobre nós. O que é verdade, se observado o cenário de curto prazo. Mas se observarmos o cenário de médio prazo, as nossas possibilidades são imensas. Principalmente se aprendermos com os erros e acertos da experiência chinesa.

Entre 1848 e 1949, a China correu o risco da fragmentação nacional, da submissão colonial ou semicolonial. 

As escolhas feitas pelo Partido Comunista foram fundamentais para que isto não ocorresse, para que a China continuasse existindo como nação soberana, independente e no fundamental com continuidade territorial (exceto, à época, por Macau, Hong Kong; e, ainda hoje, por Taiwan). 

Entre 1911 e 1949, a China estabeleceu a república, superou o feudalismo, representado principalmente pelos senhores de guerra, derrotou a invasão imperialista japonesa, realizou uma revolução e implantou uma república democrático-popular, mudando as condições de vida de mais de um bilhão de pessoas. Deste ponto de vista, realizou aquela que foi até hoje a maior revolução da história.

O grande protagonista deste processo de libertação foram as massas camponesas; e as grandes beneficiárias foram as mulheres e a juventude. As escolhas feitas pelo Partido Comunista Chinês foram fundamentais para destruir o poder milenário do latifúndio feudal e semifeudal.

Entre 1949 e 1978, a China viveu sob tripla pressão: dos Estados Unidos, da União Soviética e da própria revolução interior.

Os Estados Unidos acompanharam e buscaram influir desde o início nos rumos da revolução chinesa, as vezes apoiando (como fizeram no caso do Kuomitang e da luta contra o Japão), seja guerreando (como na Guerra da Coreia e na subversão no Tibete).

A União Soviética também foi um protagonista ativo da revolução chinesa, como exemplo, como retaguarda, como apoio ativo, mas também buscando que a China fosse uma aliada subalterna e uma replicadora do “modelo” soviético de socialismo.

Entretanto, as pressões dos EUA e da URSS foram suplantadas pelo impulso interno da revolução chinesa, seja no sentido do “comunismo imediato” buscado pela Grande Revolução Cultural Proletária, seja no sentido das Grandes Modernizações que buscavam superar o atraso e impedir a recolonização.

E, a partir de 1978 e até hoje, sem interrupção, a China adotou um caminho de desenvolvimento baseado na combinação entre Estado e mercado, entre mercado interno e mercado externo, o chamado socialismo com características chinesas, também classificado como socialismo de mercado.

O resultado disto foi que, enquanto a URSS se dissolveu em 1991, a China em 2020 superou os Estados Unidos em grande número de indicadores econômicos, em especial no produto interno bruto. Novamente, as escolhas feitas pelo Partido Comunista chinês foram fundamentais para este desfecho.

Foi especialmente a partir de 2008, que a crise mundial colocou a China diante de uma situação de novo tipo: não só a de suplantar os Estados Unidos, mas também a necessidade de combinar duas outras variáveis: “exportar capitais” e reduzir as desigualdades internas.

Será possível exportar capitais, sem converter a China em um imperialismo de novo tipo? 

Será possível suplantar os Estados Unidos, sem que o mundo seja empurrado para conflitos militares de escala ciclópica? 

Será possível reduzir a desigualdade, na escala e velocidade exigidas por uma sociedade transformada por apenas 40 anos de socialismo de mercado?

As perguntas acima resumem parte do desafio posto, hoje e nas próximas décadas, ao Partido Comunista da China. 

Não há como prever se terá ou não êxito. 

Até porque a natureza do desafio pode converter em antagônicas as três variáveis que até o momento se compuseram de maneira contraditória, mas não antagônica: a defesa de uma nova ordem internacional, a defesa dos interesses da Nação chinesa e a defesa do socialismo (compreendido aqui em duplo sentido: na elevação da qualidade de vida das massas e no controle imposto ao capitalismo).

Os comunistas chineses, que algum dia já levantaram o dedo acusador contra o social-imperialismo soviético, são as vezes acusados de estarem construindo um imperialismo de novo tipo, com características chinesas.

Seja qual for o desfecho desta situação, uma coisa é certa: o Partido Comunista Chinês, as decisões que já adotou e que vier a adotar, serão decisivas na definição dos rumos da nação chinesa e do mundo como um todo.

Visto o século em conjunto, o Partido Comunista chinês foi e continua sendo o principal instrumento de uma transição, não apenas de modo de produção, mas também de natureza geopolítica, entre o que se convencionou chamar de Oriente e de Ocidente. 

É um grande feito, para uma organização que foi fundada em 1921 por 12 delegados representando 50 militantes. 

Acontece que esta organização contava a seu favor com a retaguarda de uma civilização milenar, com o impulso de uma revolução em marcha, com o estímulo da experiência soviética e com a percepção de que o marxismo era um genial guia para a ação.

Para nós, que buscamos representar os interesses das classes trabalhadoras de outro continente, é cada vez mais claro a importância de estudar a experiência chinesa. 

Estudar, sem querer copiar.

Aprender, para construir um programa e uma estratégia que nos permita construir um socialismo com características próprias. 

E, acima de tudo, lembrar que o PC chinês só triunfou porque soube, ao mesmo tempo, ligar-se com as massas e libertar suas mentes.

O movimento socialista, assim como o capitalismo, é historicamente uma criação ocidental.

Mas a primeira revolução socialista vitoriosa foi ocorrer no Império Russo, numa região de fronteira entre Europa e Ásia, entre Ocidente e Oriente.

Ao projetar o socialismo no Oriente, o governo soviético e o Partido Comunista Russo provocaram mutações no projeto e na estratégia originárias de Marx.

Para este, o socialismo seria uma etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo.

Levado ao Oriente, pouco a pouco o socialismo passou a ser apresentado (e vivido) como uma etapa de transição entre o pré-capitalismo e o comunismo.

A guerra de 1939-1945, que começou antes na Ásia, com a ofensiva japonesa de 1937, é o pano de fundo da segunda grande revolução socialista vitoriosa.

Desta vez não mais em território de fronteira, mas totalmente oriental: a revolução chinesa de 1949.

Se o Partido Operário Social-Democrata Russo (apelidado de bolchevique e, em 1918, renomeado Partido Comunista) soube ser heterodoxo frente aos seus congêneres europeus, os comunistas chineses souberam ser heterodoxos diante de muitas das orientações da chamada Terceira Internacional.

Integraram de maneira nova a teoria do imperialismo, a questão colonial, a autodeterminação dos povos e a luta pelo socialismo.

Construíram uma fórmula que fazia do campesinato força principal da revolução, mas preservando o “papel dirigente do proletariado”, na prática encarnado no próprio Partido.

Inviabilizada a cópia da insurreição urbana de tipo russo, aplicaram uma estratégia de “cerco da cidade pelo campo”, apoiada numa “guerra popular prolongada”.

E através da “Nova Democracia”, buscaram construir uma ponte de longo curso entre o atraso econômico chinês e o projeto comunista que animava a direção revolucionária.

Sessenta anos depois, seguem visíveis os três pilares daquela “ponte”: a defesa da soberania nacional, a modernização econômica capitaneada pelo Estado e a consideração pelos interesses do campesinato.

A radicalização dos camponeses pobres (sem os quais a revolução não teria vencido) é uma das principais explicações para os ziguezagues que marcaram os primeiros trinta anos do poder instalado em 1949.

O “grande salto adiante” e a “revolução cultural proletária” expressavam, em essência, a vontade de ultrapassar rapidamente o capitalismo, lançando mão do voluntarismo ideológico e apoiando-se em forças produtivas muito atrasadas.

Este socialismo camponês (ou pequeno-burguês, ou populista) fracassou em grande medida por não ter sido capaz de oferecer senão um igualitarismo na pobreza.

As reformas chinesas iniciadas em 1978 (de maneira similar à Nova Política Econômica soviética implementada nos anos 1920) representaram, por sua vez, a reafirmação de um aspecto central da tradição marxista: a idéia de que um modo de produção só desaparece quando desenvolve todas as forças produtivas capaz de conter.

Noutras palavras: só é possível superar o capitalismo, desenvolvendo-o. O que, aliás, corresponde à acepção hegeliana do termo “superação”.

Do ponto de vista teórico, o conceito de socialismo enquanto transição ao comunismo é totalmente compatível com a existência, mesmo que por um longo período, da propriedade privada, de mercado e de relações capitalistas de produção.

Mas para os marxistas do século XIX, aquela transição era vista como temporalmente curta, uma vez que teria início nos países capitalistas avançados, que uma vez socializados ajudariam os demais a pular etapas.

A idéia de uma transição “curta” perde sentido, entretanto, quando o ponto de partida é uma sociedade essencialmente pré-capitalista, fazendo com que o Estado produto da revolução seja obrigado não apenas a controlar, mas também estimular a produtividade da força de trabalho, como meio para aumentar a riqueza social e a produtividade média. 

Os comunistas chineses consideram respeitar a tradição marxista clássica, quando sustentam que estão ainda na “fase inicial do socialismo”, que esta fase durará muito tempo e que seu objetivo nesta fase é o de construir uma sociedade “modestamente acomodada”. E que devem perseguir este objetivo relacionando-se de forma pacífica com o restante do mundo.

Entretanto, o sucesso (nos seus próprios termos) do “socialismo de mercado” chinês criou um excesso relativo de capitais.

Ao exportar estes capitais, o Estado chinês torna-se participante ativo da disputa global por mercados, matérias-primas, valorização do capital e áreas de influência.

Será possível participar desta disputa, sem adotar os mesmos comportamentos dos países imperialistas?

O Estado chinês considera essencial a preservação da paz, seja por conhecer o custo econômico-social das guerras, seja por perceber os limites que têm — para um projeto de orientação socialista — o tipo de desenvolvimento proporcionado pelo investimento no complexo militar, ou ainda por entender que neste terreno os Estados Unidos dispõe de vantagem.

Em decorrência, a China adota uma política externa que enfatiza a solução pacífica dos conflitos. Ao mesmo tempo, busca a capacidade militar necessária para defender a soberania nacional, proteger o entorno geopolítico e dissuadir ataques.

Estas duas orientações estão, em maio de 2023, sob tensão máxima, devido a guerra e às provocações dos EUA em Taiwan.

Portanto, a China implementa uma política de coexistência e competição pacífica com os demais pólos de poder mundial.

As ideias de coexistência e competição pacíficas estiveram no centro da controvérsia entre os partidos comunistas da China e da URSS, nos anos 1950 e 1960. Mas há duas diferenças fundamentais em relação àquela época.

Internamente, a China fez reformas que mudaram estruturalmente sua relação com o mundo capitalista. Externamente, a China atua num cenário totalmente distinto da Guerra Fria: não mais equilíbrio relativo entre dois campos, mas sim uma defensiva estratégica do movimento socialista.

Nos anos 1970 teve início o refluxo dos processos revolucionários: o Vietnã foi a última grande revolução socialista vitoriosa no século XX. Depois tivemos o Irã e a Nicarágua, revoluções, mas não socialistas.

Mais de quarenta depois do início das suas reformas (1978), a China consolidou a condição de principal pólo do desenvolvimento econômico mundial.

Chegou a esta condição exatamente porque no ponto de partida: a) não concentrava o estoque principal de riquezas acumuladas; b) possuia uma renda per capita baixa; c) dispunha de uma composição orgânica do capital diferente da existente nos países de capitalismo maduro.

Há fortes vínculos entre os sucessos do desenvolvimento chinês, a aceleração da expansão capitalista nos anos 1990 e a crise de 20078-2008. Entre outros aspectos, podemos estabelecer a seguinte analogia: um século depois do eixo do movimento socialista ter se deslocado a Leste, o mesmo ocorreu no âmbito do capitalismo.

Desde 1978 até o momento, o Estado chinês conseguiu administrar as tensões decorrentes do crescimento, evitando que os conflitos internos interrompessem a dinâmica atual de desenvolvimento.

Frente à crise internacional de 2007-2008, por exemplo, a China reagiu dobrando a aposta no seu mercado interno, na integração do seu entorno geopolítico e ampliando a exportação de capitais.

Se a ascensão da China já provocava apreensões e tensões – e não apenas para os Estados Unidos e seus aliados diretos –, o que poderá ocorrer nesta nova etapa de ainda mais intensa exportação de capitais chineses?

A China constitui um importante desafio para os Estados Unidos – mas também para a União Européia e o Japão — nos termos próprios da competição intercapitalista por dinheiro 12 e poder. Por este motivo, os modelos estratégicos herdados da Guerra Fria mais confundem do que esclarecem.

A China constitui, igualmente, um desafio para países como a Índia e a Rússia, assim como para os países do seu entorno direto, inclusive para o Japão. Por razões e de maneiras diversas, estes países são atraídos pela força gravitacional do desenvolvimento chinês.

A China também constitui num desafio importante para os países da África e da América Latina e Caribe. Por um lado, constitui uma possibilidade alternativa à hegemonia dos Estados Unidos e seus aliados. Por outro lado, independente do que pensemos acerca das qualidades do “socialismo de mercado” para a sociedade chinesa, sua projeção externa é extremamente contraditória.

A China é uma grande potência, com interesses a defender, plano em que todos os gatos parecem ser pardos. O que acaba enfatizando mais o “mercado” do que o “socialismo”.

Importa destacar que o “sonho chinês” de Xi Jinping depende muito do êxito da exportação de capitais chineses para a África e para a América Latina e Caribe.

O grupo dirigente encabeçado por Xi Jinping está diante de desafios equiparáveis aos que foram postos frente a Mao ou a Deng.

A saber: manter o sucesso do “socialismo de mercado” num ambiente de crise do capitalismo e declínio da potência hegemônica, administrando a crescente tensão entre o “desenvolvimento pacífico” e a exportação de capitais, dosando as quantidades relativas de socialismo e de mercado.

Como os países da América Latina e Caribe, particularmente o Brasil, vão se comportar neste contexto? Isto dependerá de vários fatores, entre os quais a interpretação que se faça da oferta chinesa de uma “sociedade”.

Alguns podem tomar a oferta chinesa como mera retórica, para encobrir um neoimperalismo. Mas o oferta de sociedade pode decorrer da diferença entre necessidade e meios. A China necessita muito da América Latina e Caribe. E não tem outros meios para atuar na região, que não oferecendo benefícios mútuos. O que abre um enorme espaço de cooperação estratégica, em bases distintas daquelas oferecidas pelos Estados Unidos e Europa, desde que os Estados de nossa região estejam à altura do desafio. O que inclui compreender o contexto global em que atuamos, uma crise sistêmica, crônica, prolongada e com efeitos degenerativos no terreno ideológico, político e militar.

É neste contexto que ganhou organicidade o grupo de países denominado BRICS; é também neste contexto que ganhou forma o processo de integração latino-americano e caribenho, especialmente entre os países da América do Sul; e é nestes marcos que se desenvolve a relação entre BRICS e América Latina e Caribe.

Assim como é nesse contexto que, especialmente a partir de 2009, as classes dominantes latino-americanas e caribenhas, os Estados Unidos e seus aliados, desencadearam uma ofensiva geral contra o processo de integração regional e contra a influência geopolítica chinesa na região.

Do ponto de vista das forças populares da região, uma das questões postas é como consolidar laços econômicos, sociais, políticos, militares e ideológicos, que possibilitem aos países envolvidos conviver, sem subordinação ou dependência, com o espaço geopolítico e com as dinâmicas hegemonizadas pelos Estados Unidos, União Européia e Japão.

Deste ângulo, uma das perguntas centrais é a seguinte: será possível, mais do que conviver, substituir o arranjo econômico internacional que tem nos Estados Unidos seu elemento organizador (e desorganizador) central, por um novo arranjo? E qual seria a natureza deste novo arranjo?

Estamos diante de disputas de longo curso, que serão travadas num ambiente de acentuada instabilidade, em pelo menos dois planos distintos, porém articulados: a) a disputa no interior de cada país; b) a competição entre os diferentes estados e blocos regionais.

Nesse contexto incide a “questão chinesa”.

2 comentários:

  1. São poucos os sinólogos na esquerda. As perguntas são mais importantes que as respostas e se o velho mestre observou corretamente, aquilo pode se tornar no seu contrário, como bem representa o símbolo do Yin Yang que Marx comentou curiosamente.

    Mas nestes 3 mil anos de Civilização, o Império do Centro (do Meio) do Dragão que foi incorporando seus vizinhos a partir do Rio Amarelo formou um povo que mais ajunta, que espalha.

    Minha sugestão cinematográfica fica com esse trecho de um filme sobre a Filosofia Chinesa.

    https://youtu.be/F_ZR0YQMJn4

    E Confúcio achou que fracassou....

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    1. Pomar: para vc há feudalismo na Ásia? Pq Lukacs disse que isso foi um absurdo de Stalin e de Mao em entrevista a Franco Ferreti.

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