No dia 25 de abril o jornalista Maurício Thuswolh, da Carta Capital, me entrevistou para uma matéria.
No dia 26 de abril enviei minhas respostas.
Hoje, dia 20 de maio, foi publicada a matéria.
Segue abaixo o link da matéria e a versão integral das perguntas e respostas concedidas, há praticamente um mês.
A matéria
https://www.cartacapital.com.br/politica/participacao-efetiva-de-alckmin-na-campanha-de-lula-gera-debate-no-pt/
Salve, Valter. Tudo bem? Eu me chamo Maurício e sou jornalista da Carta Capital. Eu vou escrever para a próxima edição da revista uma matéria sobre a presença do Alckmin na campanha e formação do programa de governo do Lula, qual espaço terá, que tipo de proposta pretende trazer, etc. Gostaria de contar com tua análise. Seriam três questões:
1) A tendência Articulação de Esquerda votou a favor da aliança com o PSB, mas contra a definição do nome de Geraldo Alckmin como vice de Lula. Após a votação e aprovação no Diretório Nacional, a aliança já é uma discussão pacificada no PT ou essa discussão ainda pode ser retomada até a convenção do partido em junho?
2) Existe espaço político para aproximar Alckmin de correntes internas tradicionais que votaram contra a definição da aliança?
3) Qual é a participação esperada de Alckmin e seu grupo político na elaboração do programa de governo da chapa? É possível estabelecer uma pauta mínima comum com o PT?
São essas. Te agradeço desde já a atenção e ajuda. Vou fechar esta matéria amanhã à noite. Se você topar, me diga a melhor forma para responder. Valeu! Abraço
As respostas
Olá Maurício
Seguem abaixo minhas respostas.
Atenciosamente
Valter Pomar
1) A tendência Articulação de Esquerda votou a favor da aliança com o PSB, mas contra a definição do nome de Geraldo Alckmin como vice de Lula. Após a votação e aprovação no Diretório Nacional, a aliança já é uma discussão pacificada no PT ou essa discussão ainda pode ser retomada até a convenção do partido em junho?
O Diretório Nacional do PT aprovou, por maioria, uma proposta que ainda precisa ser referendada pelo encontro nacional de 4 e 5 de junho. A decisão final será, portanto, do encontro (não se trata de uma convenção). Como terão direito a voto neste encontro os mesmos delegados e delegadas que em 2019 elegeram o atual Diretório Nacional, só um fato novo poderia produzir um resultado diferente do obtido no Diretório. Da nossa parte (AE), vamos manter a posição defendida no Diretório e, no encontro de 4 e 5 de junho, votaremos contra a indicação de Alckmin. Agora, seja quem for o vice oficializado pelo encontro nacional de 4 e 5 de junho, nossa campanha e nosso voto são e continuarão sendo para eleger Lula presidente.
2) Existe espaço político para aproximar Alckmin de correntes internas tradicionais que votaram contra a definição da aliança?
Não posso falar pelas demais, posso falar apenas sobre nossa (AE) posição. Votamos contra Alckmin pelo conjunto da obra. E até agora não enxergo o que ele teria agregado do ponto de vista eleitoral. Isto posto, se for mesmo indicado vice de Lula pelo encontro nacional do PT, a única "aproximação" que almejamos é que Alckmin efetivamente se engaje na campanha de Lula, especialmente no estado de São Paulo e junto aos setores sociais e políticos vinculados a ele. É muito pitoresco ver Alckmin aos berros elogiando Lula num encontro de sindicalistas; mas para ser eleitoralmente útil ele precisa convencer o povo do Tucanistão a votar em Lula e em Haddad.
3) Qual é a participação esperada de Alckmin e seu grupo político na elaboração do programa de governo da chapa? É possível estabelecer uma pauta mínima comum com o PT?
Alckmin se filiou ao PSB e o Partido Socialista vai participar da elaboração do programa de governo e da condução da campanha. E Alckmin, se for mesmo oficializado como candidato a vice, terá o espaço correspondente a esta posição. Agora, construir uma "pauta mínima comum" dependerá de Alckmin abrir mão de suas históricas posições neoliberais. Revogação ou não das contrareformas de Temer e Bolsonaro, recursos orçamentários para políticas públicas ou para concentrar renda, reversão ou não de privatizações e terceirizações, primário-exportação ou reindustrialização de verdade, um Banco central dominado pelo oligopólio financeiro privado ou um Banco Central a serviço do desenvolvimento, falar fino com Washington ou reconstruir a política externa Sul-Sul, em cada um destes e de inúmeros outros pontos – notadamente na área da segurança pública - Alckmin e o PT se contrapuseram desde pelo menos 1995. Claro, o papel aceita quase tudo, os discursos podem tergiversar e durante algum tempo pode-se tentar contornar os problemas. Mas, mesmo que momentaneamente o PT faça concessões em nome de derrotar Bolsonaro, mais cedo ou mais tarde os conflitos de fundo vão exigir solução. Em 2003 e 2004 Palocci se vangloriava de supostamente estar dando continuidade às políticas de FHC, depois veio a crise de 2005 e já a partir de 2006 começou uma inflexão nos rumos do governo Lula. Aliás, por uma dessas ironias da história, a derrota de Alckmin na eleição de 2006 contribuiu para a inflexão.
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