segunda-feira, 20 de julho de 2020

Malabares da madrugada


Breno Altman considera “apressada” e “retórica” minha opinião, segundo a qual sua “hipótese de apoio à fórmula Boulos-Erundina estaria apresentada com tanto otimismo que tornaria desnecessária a pressão pela candidatura de Fernando Haddad”.

Sua posição – encabeçada pelo simpático título “Resposta a um malabarismo retórico” -- está aqui:

https://www.facebook.com/1019106646/posts/10221104712580321/?d=n

Pode ser que ele tenha razão.

Mas minha impressão de “tanto otimismo” resulta de frases do próprio Breno, tais como: “eleger uma forte bancada de vereadores”; “um passo decisivo para a formação da frente popular”; “importante repercussão nacional”; “a intervenção de Lula no processo eleitoral paulistano ganharia outra dimensão, transformando a competição local em uma grande batalha contra o bolsonarismo e os demais partidos neoliberais”. 

Eu, pelo menos, achei estas frases bem otimistas.

Seja como for, sigo achando que falar na hipótese de apoiar Boulos introduz um diversionismo na discussão.

Diversionismo útil tanto para os que defendem que Haddad não seja candidato (existiria, supostamente, uma alternativa “otimista” à catástrofe), quanto útil para os que insistem que Tatto seria uma boa opção (supostamente, os que defendem o contrário estariam querendo, na verdade, abrir mão da candidatura petista em favor de apoiar outro partido).

Por falar nisso, Breno escreveu que deveríamos unificar as esquerdas “ao redor de Boulos-Erundina, caso as pesquisas dos próximos sessenta dias, antes da inscrição oficial das candidaturas, confirmem seu maior potencial eleitoral”.

Posso não ter lido com atenção, mas fiquei com a impressão de que Breno transitou de uma posição (se não Haddad, Boulos) para uma hipótese (se não Haddad, quem estiver na frente).

Não faço ideia se alguém do PSOL já foi consultado a respeito desta hipótese. Duvido que aceitem. Aliás, duvido que apoiem Haddad, caso ele entre na disputa neste momento. E lembro que, na maioria das cidades onde o PSOL tem candidaturas majoritárias e o PT também, o que prevalece não é a posição da frente de esquerda.
Sem falar que é, digamos, para lá de polêmico introduzir este tipo de critério (pesquisas) para decidir candidaturas, tanto dentro de um partido, quanto entre partidos.

Claro, esta eleição tem muitas novidades. Mas propor esperar até o dia 26 de setembro para ter uma “definitiva orientação eleitoral” supera qualquer coisa que eu já tenha visto ou ouvido.

Aliás, reitero: quem pode o mais, pode o menos.

Se é possível ao Partido abrir mão da candidatura própria em São Paulo capital, também é possível substituir Jilmar Tatto por Fernando Haddad.

Com a vantagem, neste segundo caso, de não ter efeitos colaterais.
Por falar em efeitos colaterais, registro que Breno não disse nada a respeito dos vários problemas que eu apontei.

Salvo, é claro, que seu comentário a respeito seja o simpático título a que me referi antes. 



4 comentários:

  1. Acho que tanto Brenno quanto vc estão subestimando o fator Lula. Digo isso pq se uma candidatura petista for catastrófica em SP, Lula poderá se aposentar pq ele não exerce mais tanta influência no eleitorado como antes, inclusive nesses filiados que dizem votar em Boulos. Não consigo imaginar Lula dizendo que não só vai apoiar uma candidatura petista em SP, mas q engajará como nunca nela. E depois disso não gerar efeito algum no eleitorado. Ou seja, aqueles q disseram q vão votar no Boulos continuarão com a mesma opinião, desconsiderando a opinião de Lula. Inimaginável!

    Lula preso colocou Haddad no 2o turno contra Bolsonaro. Lula, sabemos, não abandonará uma candidatura petista. E Lula será a vitamina que dará fôlego à candidatura do PT em SP seja qual for o candidato. Pensar como vcs pensam que a candidatura de Jilmar Tatto será um fracasso e desacreditar completamente no poder e no carisma de Lula entre seu eleitorado. E isso não é um surto otimista. É o que o histórico da Jaracaca diz.

    O engajamento de Lula, por si só, já seria suficiente para colocar o candidato do PT de São Paulo no 2o turno. Lula elegeu Dilma, uma pessoa sem carisma e afinidade popular. Lula apostou em Haddad contra todos q viam sua derrota para a prefeitura como um óbice intransponível para o 2o turno. Duvidar q essa força renovada chamado Lula possa fazer o mesmo com Tatto ou outro candidato petista é simplesmente não acreditar mais na maior liderança popular da América Latina.

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    1. Concordo com o ultimo paragrafo inteiro Carlos. Mas discordo do primeiro que ambos estejam subestimando o "fator Lula". Mas
      traçando cenários para tal. E concordam, ao que entendi, que trazer Haddad é o primeiro movimento e discordam do segundo.

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  2. Se Haddad é melhor em tática e estratégia. Deve ser revista essa candidatura de Tatto. Foi assim no Amazonas, nós fizemos um estardalhaço e conseguimos que a Executiva Nacional decidisse em favor de um candidato cuja tática e estratégia são melhores. Assim deve ser em SP. Nos do PT criamos espaço o tempo todo e depois entregar aos outros de Fora do PT. Muito creatina está posição.

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  3. Estava aqui lembrando que Haddad quando foi lançado para ser candidato em SP também patinava nas pesquisas e recebeu grande carga de energias contrárias e negativas. Quando foi lançado candidato a presidente, nem se fala.... Acho que o PT/SP deve promover o debate, como aqui, mesmo que muito irônico, bastante instigador, com nível. Muito ruim quando os argumentos passam a ser agressões a adversários circunstanciais que podem ser aliados em outra ocasião. Mas, sobre esta insistência em forçar Haddad quero lembrá-los que, enquanto brasileiros e não paulistanos, PRECISAMOS DE UMA CANDIDATURA FORTE EM 2022, para a presidência. Meu voto é e para Haddad. E, não o seria com tanto vigor se for proposto e aceito por Haddad a solução José Serra! Então, falam muito em 2022, mas esquecem que para hoje estão inviabilizando o amanhã. E, Lula já disse que não será candidato em 2022, o que considero certíssimo. É preciso que o PT invista em novas lideranças. Abra espaço para elas. E, destacando, por conta da distinção feita nas matérias, sou eleitora, não filiada....

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