quarta-feira, 27 de junho de 2018

Aspectos da tática até 15 de agosto

A questão central para o lado de lá: o grande capital vai conseguir forjar uma candidatura capaz de vencer as eleições presidenciais de 2018 e seguir aplicando o programa “ponte para o futuro”?

Até o momento, todas as tentativas de forjar esta candidatura foram frustradas, entre outros motivos e principalmente porque cresce o mal-estar da população, devido aos efeitos econômico-sociais do golpe. Até o momento este mal-estar resulta em três desdobramentos eleitorais: Lula, Bolsonaro e o "ninguém" (branco/nulo/abstenção)

Até o momento, prender Lula não foi suficiente para tirá-lo do primeiro lugar nas intenções de voto. 

A aposta de que a prisão causaria uma imensa erosão de votos não se verificou. A erosão que efetivamente ocorreu no fundamental reforçou o branco/nulo/abstenção. E à medida que o PT mantém a posição de inscrever Lula no dia 15 de agosto, isto contribui para manter Lula na liderança, o que por tabela dificulta enxergar quais das candidaturas preferidas pelo grande capital teria efetivo potencial eleitoral.

Até o momento, a candidatura de Bolsonaro é a única candidatura golpista que revela potencial de crescimento e um estoque de votos suficiente para ir ao segundo turno, se a eleição fosse hoje. 

A aposta de que a exposição da campanha e os ataques desinflariam Bolsonaro até agora não se verificou. E a piora nas condições econômico-sociais, num ambiente ideologicamente envenenado pela campanha que o grande capital financiou contra Lula e o PT, estimula não apenas eleitores de alta renda, mas também eleitores pobres a votar em Bolsonaro.

Até o momento, há um grande percentual de eleitores que ainda não decidiu em quem vai votar. Mas os sinais são de que parte expressiva deste eleitorado pode se inclinar pelo voto branco/nulo/abstenção, com outra parte se dividindo entre as principais candidaturas já postas. E dada a fragmentação das demais candidaturas, o resultado é -- se nada for feito -- a polarização Lula-Bolsonaro pode continuar predominando na reta final da campanha.

Uma questão para o grande capital consiste, portanto, no seguinte: não basta prender Lula; é preciso convencer a maioria da população de que ele não será candidato, e é preciso fazer isto o mais rápido possível, tendo como prazo fatal o período entre o final da Copa (supondo que o Brasil siga disputando e, portanto, retardando parte do debate político) e a inscrição das candidaturas no dia 15 de agosto.

Esta lógica indica que o grande capital precisa que seus operadores políticos, judiciais e midiáticos antecipem a interdição de Lula, para tentar desinflar sua candidatura “no tempo certo”. Por “tempo certo”, entenda-se: a tempo de dificultar uma hipotética transferência de votos para outra candidatura e igualmente a tempo de testar (num cenário sem Lula) qual candidatura do grande capital teria potencial de ir ao segundo turno e vencer.

Um problema é que a operação contra Lula não tira Bolsonaro do cenário. Pelo contrário, pode reforçar o voto em Bolsonaro, dada a confluência entre o voto de direita estimulado pelo anti-petismo, com o voto popular de protesto “contra tudo isso que está aí”, mais o fato do restante do eleitorado ser mais atraído pelo voto branco-nulo-abstenção, do que pelas candidaturas do grande capital.

Esta lógica indica que ao tirar Lula, o grande capital pode se ver diante do seguinte dilema: ter que disputar o segundo turno contra Bolsonaro. Neste caso, não está descartado que o “plano B” da burguesia tenha de ser uma candidatura capaz de atrair o eleitorado progressista, inclusive o eleitorado lulista, com o discurso de “derrotar o fascismo”. É este o cálculo feito, aliás, por certos apoiadores da candidatura Ciro Gomes.

Mas tampouco está descartado que, neste cenário, a burguesia opte por "comprar" a candidatura Bolsonaro, numa operação que seria mais arriscada (para eles) e muito mais trágica (para a maioria do povo brasileiro) do que foi o apoio a Collor em 1989. Esta operação de "compra" seria facilitada pela trajetória de Bolsonaro, que aderiu ao conjunto das bandeiras programáticas da "ponte para o futuro".

Como se depreende do que foi dito antes, o grande capital tem várias alternativas (forjar uma candidatura própria, cooptar uma candidatura progressista, "comprar" a candidatura Bolsonaro). E todas estas alternativas passam pelo golpe dentro do golpe: impedir a candidatura Lula antes que ela chegue a um “ponto de não retorno”. Entendendo por “ponto de não retorno” aquele em que Lula ruma diretamente para a vitória, ou pelo menos tem condições extremamente favoráveis para decidir o que fazer.

Caso não tenha êxito na operação de impedir Lula, qual será a atitude do grande capital? 

Aceitar a derrota eleitoral e construir uma tática para influir no futuro governo? Ou trabalhar para mudar o regime político (parlamentarismo, adiamento das eleições, golpe militar)? 

Até o momento, a grande burguesia encontra-se dividida sobre o que fazer num cenário de derrota eleitoral. E talvez não tenha tempo para construir uma política unificada, antes da eleição. O que nos garantiria uma janela de tempo para operar, entre a eleição e o início do novo governo.

A questão central para o lado de cá: a classe trabalhadora vai conseguir manter em primeiro lugar a candidatura de Lula, até o “ponto de não retorno” e, com isso, permitir a vitória dos que defendem implementar um plano popular de emergência, revogar as medidas golpistas e convocar uma Assembleia Constituinte?

Até o momento, a candidatura de Lula é a única que demonstra ser capaz de vencer as eleições e a única com organicidade e legitimidade para implementar o referido programa.  As demais candidaturas da esquerda (Boulos e Manuela) não reúnem, ao menos por enquanto, essas condições. E a candidatura Ciro -- que deixa claro não ser de esquerda -- não trabalha nesta perspectiva.

O principal obstáculo contra a candidatura Lula é a decisão, por parte da grande burguesia e de seus operadores políticos, midiáticos e jurídicos, de impedir seu registro eleitoral, de preferência impedir antes de 15 de agosto, o mais tardar pouco depois desta data.

A posição do PT frente a isto – respaldada, segundo as pesquisas de opinião, por mais de 80% dos que se declaram petistas e simpatizantes – é: manter a candidatura Lula e inscrever a candidatura no dia 15 de agosto. 

Esta opção embute duas apostas: 1/no cenário mais otimista, a pressão popular impede que cassem o registro da candidatura; 2/no cenário mais pessimista, a candidatura chega no dia 15 de agosto tão forte e consolidada, que poderemos “decidir o que fazer” nas melhores condições.

Por “decidir o que fazer”, leia-se preferencialmente uma das seguintes alternativas: 1/manter a candidatura de Lula, mesmo que não aceitem o registro; 2/indicar um representante de Lula, para receber os votos em nome dele.

A posição do PT enfrenta dois grandes obstáculos.

Um obstáculo é a campanha midiática em favor de um plano B, ou seja, a campanha em favor de que desistamos da candidatura Lula, de que façamos nós aquilo que o grande capital quer fazer, de que cometamos nós a violência que setores da justiça eleitoral querem cometer etc. 

Esta campanha midiática, organizada de fora para dentro do Partido, conta com pequenos apoios internos (que reclamam pelo canto da boca contra uma suposta “interdição do debate”); e conta com vários apoios externos (especialmente dentre candidaturas de outros partidos, que sonham em receber, senão um apoio formal, pelo menos parte dos votos do eleitorado petista).

O outro obstáculo enfrentado pelo PT é a possibilidade de que os operadores jurídicos da grande burguesia tentem antecipar a interdição da candidatura Lula. Estes operadores acreditam que, antecipando a interdição, a candidatura começaria a “sangrar”, a perder força, antes de 15 de agosto, impedindo Lula e o PT de “decidirem o que fazer” em melhores condições.

Frente a este segundo obstáculo, o Partido atua em duas direções: por um lado intensificando a campanha de massas pela liberdade de Lula; por outro lado, intensificando a campanha de massas pelo direito de Lula ser candidato (o que, na prática, significa intensificar a campanha de massas da pré-candidatura Lula).

A campanha de massas pela liberdade de Lula não se baseia principalmente em argumentos “jurídicos”. Os principais argumentos em favor da liberdade de Lula são políticos, isto porquue nosso interlocutor não é o judiciário, mas a maioria do povo. 

Claro que Lula está preso porque a justiça foi injusta, porque o juiz foi parcial, porque se condenou sem provas etc. Mas não se deve confundir os meios com as finalidades. Lula está preso para impedir que ele vença as eleições, Lula está preso para que possam massacrar o povo, Lula está preso para que eles possam pisotear a democracia, Lula está preso para permitir que destruam o Brasil. Lula é um preso político!!

A campanha de massas pela liberdade de Lula é ampla, capaz de somar apoios de quem não apoia sua candidatura. Mas atingir este objetivo não implica nem exige despolitizar a questão. A campanha pela liberdade de Lula só ganhará as massas se o povo for capaz de identificar a relação entre o preço do botijão de gás e a prisão de Lula.

A intensificação da campanha de massas pela pré-candidatura Lula exige que em todo o país se vincule a candidatura com a necessidade de derrotar o golpe, revogar as medidas dos golpistas e adotar um programa popular de emergência. Fora Temer, Volta Lula!!

Por isso devemos apresentar de maneira didática quais as medidas que serão adotadas no terceiro mandato de Lula presidente. Isto significa elaborar um programa que não seja acadêmico e/ou detalhado, e sim um programa didático, curto, de emergência, que aponte como interromper no curto prazo a destruição que está em curso.

Todas as candidaturas petistas (majoritárias e proporcionais) devem se apresentar como candidaturas de Lula. Todo dia devemos distribuir materiais impressos, em pontos de concentração popular, com as palavras e as propostas de Lula. 

Nossa intenção é que, no dia 15 de agosto, o registro da candidatura Lula seja respaldado por uma grande manifestação de massas, com centenas de milhares de pessoas em Brasília.

É este movimento – por baixo, através da intensificação da campanha de massas – que pode manter, ampliar e consolidar a candidatura Lula. Movimentos jurídicos devem ser feitos, mas sua eficácia sempre será uma derivada da pressão política.

É o movimento de massas, também, quem pode garantir a unidade da esquerda, partidária e social, no processo eleitoral, seja no primeiro turno, seja no segundo turno. Acertos eleitorais devem ser feitos, mas o êxito nesse terreno também será uma derivada da mobilização política de massas.

É a intensificação combinada das campanhas pela liberdade e pela pré-candidatura que podem manter a intenção de voto em Lula nos patamares atuais (acima de 30%), deixar claro os motivos pelos quais ele está preso, reforçar a opinião de que ele pode e deve ser candidato, bem como deixar claro que sua eleição à presidência de República é a solução popular para a crise política, social e econômica em que o Brasil se encontra.

No dia 15 de agosto, inscreveremos uma chapa: Lula presidente e uma candidatura  a vice-presidência. Dada a experiência com Temer e também dada a ameaça de interdição que paira sobre a candidatura, a indicação da vice terá uma imensa importância simbólica. 

Queiramos ou não, a pessoa que seja indicada para a vice será vista como uma potencial representante de Lula, na hipótese de interditarem sua candidatura.

Exatamente por isto, a pessoa que seja indicada para ocupar a vice deve ter como principal característica a de ser vista e reconhecida como uma representante de Lula, uma pessoa que seja sua porta-voz em qualquer circunstância, aconteça o que acontecer.

Trata-se de uma decisão que deve ser adotada o mais tardar até o dia 15 de agosto, mas que de preferência precisa ser resolvida até o dia 5 de agosto, data em que o PT realizará seu encontro e convenção nacional.

Conclusão: por iniciativa do grande capital, a luta de classes no Brasil entrou noutro patamar. As eleições de 2018 não são o último capítulo da "temporada" que se encerra. São o primeiro capitulo da nova "temporada". Para vencer, a esquerda brasileira, a começar pelo Partido dos Trabalhadores, precisa perceber este fato e tirar todas as consequências disto. Como já foi dito e repetido várias vezes: precisamos de um partido para tempos de guerra!!!

5 comentários:

  1. Excelente análise.
    No fecho, um aspecto que me parece fundamental:

    "precisamos de um partido para tempos de guerra!!!"

    Que todas as instâncias do partido reflitam sobre as novas atitudes e abordagens que o momento exige.

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  2. '...não apenas eleitores de alta renda, como eleitores pobres a votar em Bolsonaro...' isso é uma realidade! Moro em Campina Grande PB, e vejo esse quadro. Aterrorizante!Q!!!

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  3. É preciso chamar à responsabilidade os governadores do PT. Uns defendem Ciro. Os outros estão costurando apoio dos golpistas pra sua reeleição. Com a palavra a Direção do partido!!!

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  4. É preciso chamar à responsabilidade os governadores do PT. Uns defendem Ciro. Os outros estão costurando apoio dos golpistas pra sua reeleição. Com a palavra a Direção do partido!

    Vicente Gomes (UFPI)

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    1. Além do vice, acho importantíssima a costura do projeto de governo Lula para que a militância tenha bases concretas de defender objetivamente uma proposta alternativa ao que aí está. Penso que já não basta lutar pela liberdade de Lula e pelo direito de ele se candidatar. Além disso, temos que avançar, apresentando ao povo o motivo pelo qual lutamos por um novo governo PT para que a campanha não caia no vazio. E mais: esse programa deixará claro a todos que levamos a candidatura Lula a sério e desmontaria, em tese, o jargão repetido, principalmente por ciristas, de que nosso candidato será interditado. E ainda: a defesa de um programa vai além da candidatura, fortalecendo possível sucessor.

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