quinta-feira, 30 de abril de 2015

A esquerda marxista ataca novamente


Sei quem é Riobaldo Tatarana: personagem principal de Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa.

Viver é perigoso, dizia Riobaldo.

Mas eu não sei quem é Riobaldo Tartarana (sic), autor de artigos publicados no blog www.marxismo.org

Debater é perigoso, deve pensar este outro Riobaldo.

Discordo dele: acho ótimo que vivamos num ambiente de certa liberdade democrática, que nos permite debater abertamente e de cara limpa todas as questões.

Digo certa liberdade, porque o ocorrido ontem no Paraná é um lembrete dos limites destas liberdades democráticas.

De toda forma, mesmo sem saber quem é ou mesmo se existe, se é um nome de guerra ou um apelido coletivo, vou tentar responder ao texto intitulado “Fica Valter Pomar. Enquanto isso, trabalhadores e jovens dizem adeus”.

O link e a íntegra deste texto estão ao final.

Quem tiver interesse em ler os momentos anteriores deste debate, aqui estão os links.


Deixando de lado os floreios e indo direto ao ponto: não concordo que sair do Partido dos Trabalhadores seja uma solução para a situação que estamos vivendo.

Quem quer anular, destruir, interditar, criminalizar e cassar o registro do PT é uma parcela importante da direita, do oligopólio da mídia e do grande capital.

Os inimigos de classe querem acabar com o PT. E contam com a ajuda indireta daqueles setores do próprio Partido que adotam uma linha política e um comportamento equivocado.

A EM & Riobaldo só consideram um aspecto do problema: os erros cometidos pelo setor que hoje é majoritário no Partido. E desconsideram e/ou minimizam o outro aspecto: os objetivos do nosso inimigo de classe.
Neste seu texto, o inimigo de classe tem papel secundário. Quem aparece com destaque é o PT ou o governo, apresentados como instrumento direto ou indireto deste inimigo de classe.

Partindo deste ponto de vista e não considerando os vários aspectos do problema, cometem o seguinte equívoco: para tentar derrotar a “direita do PT”, fazem o jogo da direita contra o PT.

Incapazes de dizer para onde vão depois que decidiram sair do PT, EM & Riobaldo apresentam o seguinte álibi: não tem mais cura, não tem mais retorno, não tem mais o que salvar, o novo não nasceu mas o velho já morreu, o melhor que podemos fazer é guardar distância do cadáver fedorento.

Até agora foram palavras minhas.

Vamos reproduzir agora o que diz Riobaldo: “A decisão da Esquerda Marxista de saída do PT está centrada no fato de que os jovens já abandonaram o partido há um bom tempo e os trabalhadores seguem o mesmo caminho”. 

O problema é real, mas está posto de maneira parcial.

Parte importante da classe trabalhadora nunca foi petista, nunca votou nas candidaturas do PT, nunca seguiu as orientações das organizações de massa dirigidas pelo PT, mantendo-se na órbita de influência da direita. É por isto, aliás, que as candidaturas presidenciais do PSDB arrecadam dezenas de milhões de votos.

Outra parte da classe trabalhadora mantém uma relação instável com o PT, estando sob disputa.

Finalmente, há uma parte da classe que mantém uma relação de apoio ao Partido dos Trabalhadores.

Se tomarmos 1980-2001, 2002-2010 e 2010-2014 como pontos (aproximados) de observação, o que podemos concluir?

Entre 1980- 2001 o primeiro e o segundo grupo (os contrários e os em disputa) reuniam a maior parte da classe, mas a tendência era de crescimento dos apoiadores.

Entre 2002-2010, o segundo e o terceiro grupo (os em disputa e os leais) reuniam a maior parte da classe, mas a tendência continuava sendo a de crescimento dos apoiadores.

Entre 2010-2014 o primeiro e segundo grupo (os contrários e os em disputa) voltaram a ser maioria. E a tendência passou a ser de ampliação dos contrários, com redução acentuada dos apoiadores e dos em disputa.

Dito de outra forma: a redução da influência do PT é acompanhada do crescimento da influência da direita, do oligopólio e do capital. Este “detalhe” some da análise feita no artigo da EM & Riobaldo.

Ou melhor: os fatos são apresentados como se o afastamento em relação ao PT fosse o crescimento de uma crítica de esquerda. E isto é simplesmente falso.

Claro que parte dos que saem do PT vão para grupos que estão à esquerda do PT. Mas isto se dá nos marcos de uma redução geral da influência da esquerda.

Ou seja: o percentual de trabalhadores que são influenciados pela esquerda diminui, mesmo quando o percentual de militantes que estão à esquerda do PT possa crescer.

Fenômeno que --- no caso da juventude – também ocorreu na segunda metade dos anos 1960: cresceu a radicalização na vanguarda da juventude (contra as posições oficiais do PCB) ao mesmo tempo em que crescia o conservadorismo político no conjunto da juventude. O que fez a vanguarda da juventude se radicalizar na contramão do comportamento da massa.

O que descrevemos acima, relativo a classe trabalhadora, ocorreu também com outras classes e setores sociais. E se não podemos falar de trabalhadores em geral, menos ainda podemos falar de juventude em geral.

O comportamento da juventude trabalhadora e dos jovens filhos/as de trabalhadores apresenta uma dinâmica diferente do comportamento da juventude vinculada a outros setores sociais.

Exatamente por que analisam equivocadamente o comportamento e o estado de ânimo dos vários setores da classe e da juventude, a EM & Riobaldo rejeitam a importância da reforma política. 

Claro: quem acha que estamos num ambiente de radicalização pela esquerda das massas, acredita que a reforma política é contraditória com “atender aos anseios concretos que levaram milhões às ruas”, considera um retrocesso qualquer proposta centrada em democratizar as instituições políticas do Estado burguês.

Pelos motivos que expus acima, considero que o principal erro da EM & Riobaldo não está nas críticas que fazem ao PT.

Aliás, parte do que eles dizem, até Lula diz.

O principal erro da EM & Riobaldo não está nos “detalhes”, está no conjunto da obra, na visão equivocada que eles têm sobre o estado da arte da luta de classes no Brasil.

É esta visão de conjunto que os leva a sair do PT. Não o balanço que eles fazem do PT.

Mas como é difícil sustentar a visão idílica que eles têm acerca da luta de classes como um todo, Riobaldo & EM optam pelo caminho mais fácil: a crítica aos defeitos do PT.

Neste sentido, a referência que Riobaldo faz a Lênin é mais do que reveladora: “Estar ou não em um partido, para os revolucionários, não tem relação direta com a quantidade de erros e traições da direção desse partido (Lenin, por exemplo, aconselhou os comunistas ingleses a intervirem no Partido Trabalhista, por conta da ligação desse partido com o movimento operário, mesmo os trabalhistas tendo apoiado sua burguesia na 1ª Guerra Mundial). A intervenção dos marxistas em um partido está ligada à relação que ele tem com os jovens e trabalhadores. O quanto ele segue sendo uma referência para as lutas dos oprimidos pelo capitalismo. E convenhamos, o PT não consegue atrair e mobilizar as massas para nenhum combate mais, aliás, a direção do PT, por sua política, teme as massas nas ruas. É por isso que mesmo quando atacado, não convoca mobilizações na base para defender o partido”.

Pelo visto, Riobaldo acha: 1) que os trabalhistas de então tinham mais “ligação com o movimento operário” do que o PT possui atualmente; 2) que os trabalhistas de então eram “uma referência para as lutas dos oprimidos pelo capitalismo” maior do que a do PT atualmente.

Recomendo a Riobaldo reler a literatura a respeito, pois suspeito que ele está equivocado.

Mas o principal equívoco não exige ler terceiros, basta reler o que o próprio Riobaldo acabou de escrever.

Segundo Riobaldo, “o PT não consegue atrair e mobilizar as massas para nenhum combate mais, aliás, a direção do PT, por sua política, teme as massas nas ruas. É por isso que mesmo quando atacado, não convoca mobilizações na base para defender o partido”.

Mesmo supondo que isto fosse verdade (e não é: basta pensar na greve dos professores de SP ou nas ações da CUT contra o PL 4330, todas conduzidas por petistas), mesmo relevando a confusão que Riobaldo faz entre o PT e determinados dirigentes, ainda assim cabe perguntar: “a intervenção dos marxistas em um partido está ligada à relação que ele tem com os jovens e trabalhadores” ou está ligada à capacidade de “atrair e mobilizar as massas para (o) combate”?

São coisas diferentes. As vezes, estar ligado à classe exige evitar alguns combates. A não ser que acreditemos que a maioria da classe está sempre mobilizada para o combate...

O fato é que Riobaldo afirma (com Lênin) uma idéia certa (relação permanente) para logo em seguida deslizar para uma idéia errada (combate permanente).

Este deslizamento está vinculado ao que disse antes: é uma visão de conjunto que os leva a sair do PT. Não o balanço que eles fazem do PT.
É também esta visão de conjunto que faz Riobaldo & EM defender uma política de alianças... sem alianças, estigmatizando qualquer aliança como “colaboração de classes”.

Acredito que Riobaldo, seja lá quem for, estava no congresso do PT em que Rui Falcão, em defesa da “prioridade para o PMDB”, pediu a delegados e delegadas que derrotassem a proposta de resolução que falava em aliança prioritária com os partidos e setores de partidos que defendem o programa democrático e popular.

Em nossa opinião, esta política continua justa: o problema da atual política de alianças do PT não está na presença do PMDB, mas no papel dado ao conjunto do PMDB, que abriu espaço para que este partido hoje controle a vice-presidência da República, a presidência do Senado e da Câmara.

Por isto defendemos que o PT deve construir um campo de alianças prioritário com os partidos e setores democráticos e populares.
Riobaldo acha que isto é vago, mas Rui Falcão não achou nada vago e tratou de derrotar nossa proposta, pois sabia que na prática nossa posição poderia conduzir a uma ruptura com o PMDB.

Para além das alianças eleitorais, há um tema mais amplo: houve “colaboração de classes” quando o PMDB não estava no governo, continua havendo com o PMDB no governo e haverá “colaboração” sempre e quando a classe trabalhadora precisar fazer alianças com setores inimigos.

A questão é: estas alianças devem ser rejeitadas sempre? Ou são necessárias em determinadas circunstâncias?? Toda aliança é “colaboração” no mal sentido da palavra???

Achamos que em determinadas circunstâncias alianças são necessárias. Quem não entende isto pode se achar marxista, mas não passa de maximalista.

Exatamente por ser um governo de coligação (de partidos e de classes), o governo Lula e o governo Dilma não são nem nunca foram “petistas” nem “de esquerda”.

Como são governos de coalizão, os governos Lula e Dilma aplicaram e aplicam políticas que também interessam a setores da burguesia. 

Mesmo assim, tais governos merecem ser defendidos sempre e quando eles estiveram em conflito com a fração dominante do capital, do oligopólio da mídia e da direita oposicionista, para não falar do imperialismo.

Riobaldo & EM sabem disto, pois estiveram no PT de 2003 até 2015. E não me consta que tenham defendido a ruptura do PT com o governo. E pediram voto em Dilma e Lula em todas as eleições.

Portanto, é bastante curioso que só agora considerem que “a política deste governo é indefensável do ponto de vista marxista, de independência de classe”. Antes não?

Oportunista não é quem aceita cargos em ministérios ou estatais. Oportunista é quem defende uma política que não é baseada em princípios, que não tem coerência com nossa ideologia e estratégia.

Pergunto de novo: se agora o governo Dilma é “indefensável”, como caracterizar a política de quem participou de um partido que apoiou governos similares entre 2003 e 2014??

É fato que o governo foi à direita em 2015. Mas o governo não é o PT e o PT não é a direção nacional do PT. Quem quer que esteja participando das atividades partidárias sabe que existe disposição de reagir e de mudar a linha. Exemplo disto tem sido a atitude da direção da CUT, que é majoritariamente petista e majoritariamente vinculada às tendências moderadas do PT. Sair neste momento pode ser revelar um erro similar aos que saíram no segundo turno do PED de 2005.

As tendências moderadas do PT ainda são amplamente majoritárias entre os trabalhadores organizados. Basta comparar os votos da EM no congresso da CUT com os votos da Articulação Sindical. Sair do PT não contribuiria em nada para mudar a linha política destes setores da classe trabalhadora organizada.

Ironicamente, ainda que do jeito errado, foi isto que a EM tentou fazer no debate acerca do chamado mensalão. Adotaram uma linha errada, mas a motivação era digamos justa. Agora, que a burguesia dobra a aposta em relação ao que fizeram em 2005, agora em que a CUT adota uma postura melhor que a adotada em 2003, exatamente agora Riobaldo & EM decidem sair do PT...

Por fim, embora ache meio cansativo isto, quero lembrar a Riobaldo & EM que para divergir não é preciso forçar a mão.

A direção nacional da AE está discutindo nossa orientação para a votação das MPs. Minha posição pessoal é votar contra e espero que seja esta a posição da direção. Mas fazer do voto de um parlamentar algo mais importante do que a postura de milhares de dirigentes em todo o país é... cretinismo parlamentar.

Até porque, independente de nossa postura no parlamento, nossa posição desde o início foi a favor da retirada das MPs. Veja por exemplo o que está no principal documento aprovado pelo segundo congresso da AE: “coerente com o compromisso firmado pela presidenta Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral, de manutenção dos direitos sociais e trabalhistas, o Governo deve retirar as MPs 664 e 665”.

Portanto, Riobaldo, voce simplesmente não fala a verdade quando diz que poderíamos “exigir” que “que o governo retirasse as MPs. Mas vocês não fizeram isso. E continuam sem fazer”.

O texto citado, caso queira conferir, está aqui: 

http://www.pagina13.org.br/pt/um-partido-para-tempos-de-guerra-contribuicao-da-tendencia-petista-articulacao-de-esquerda-para-o-5o-congresso-do-pt/#.VUJMLtJVhHw

Voce tampouco fala a verdade quando nos ataca dizendo que “não adianta criticar só a direita, quando a direita está na composição e na política do próprio governo!”.

Basta ler o documento supracitado para ver que fazemos exatamente esta crítica. A diferença é que o fazemos para tentar corrigir os rumos do governo, proteger o PT e defender a classe trabalhadora.

Por fim: ficar impactado pela situação que estamos vivendo e às vezes pensar que “sair” poderia ser uma solução é sinal de saúde mental.

Mas sair do PT seria uma solução para os problemas que estamos vivendo?

Quando observamos estes problemas sob o prisma da luta de classes, sobre o ângulo da luta da classe trabalhadora pelo poder, a conclusão é que sair do PT não é solução, apenas contribuiria para agravar o problema.

O PT é uma das conseqüências de uma situação histórica aberta no final dos anos 1970 e que define até hoje os marcos estratégicos dentro dos quais lutamos.

Se a direita tiver êxito, se com a inestimável ajuda de uma linha política equivocada o PT vier a ser derrotado, então veremos o encerramento de um período histórico, mudarão os marcos em que lutamos pelo poder e, portanto, a estratégia que a maior parte da esquerda defende hoje não fará mais sentido. Por isso, o debate sobre o PT não diz respeito apenas ao PT, diz respeito a se vamos encerrar o atual ciclo histórico com uma radicalização pela esquerda ou com um retrocesso pela direita.

Setores importantes da direita, do oligopólio, do grande capital e do imperialismo não querem apenas a destruição do PT. Querem a destruição, a desorganização, a desmoralização da vanguarda da classe trabalhadora, vanguarda em grande parte criada nas lutas do final dos anos 1970.  Se a direita tiver êxito, isto levará à fragmentação da esquerda (como ocorreu depois de 1964).

A direita pode ter êxito, com a ajuda inestimável dos erros cometidos por setores do próprio PT. Como diria o (outro) Riobaldo, viver é mesmo muito perigoso. Mas já que é perigoso, melhor correr perigo fazendo a coisa certa: tentando impedir que a direita faça aquilo que ela mais deseja neste momento.

SEGUE ABAIXO O LINK E A INTEGRA DO TEXTO CRITICADO

http://www.marxismo.org.br/blog/2015/04/29/fica-valter-pomar-enquanto-isso-trabalhadores-e-jovens-dizem-adeus

Fica Valter Pomar. Enquanto isso, trabalhadores e jovens dizem adeus.
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29/04/2015 - 17:15
Riobaldo Tartarana
http://www.marxismo.org.br/sites/default/files/pictures/articles/pomar.jpgO diabo mora nos detalhes, diz um ditado popular. Assim sendo, Valter Pomar no começo da sua tréplica (veja aqui) ao meu artigo, ironiza que errei no título do seu texto (e ele tem razão) utilizando duas letras maiúsculas ao invés de minúsculas.
Mais à frente, veremos alguns outros detalhes, um tanto mais relevantes, que Valter esquece. O fato central é que continuamos discordando nas avaliações políticas e ele erra quando me acusa de estar contra a “esquerda marxista” (em minúsculo).
Valter polemiza com nossas posições, o que é seu direito. Mas também é meu direito considerar que ele está muito longe do marxismo no método, nas análises e nas posições políticas.
A decisão da Esquerda Marxista de saída do PT está centrada no fato de que os jovens já abandonaram o partido há um bom tempo e os trabalhadores seguem o mesmo caminho. A direção do PT olha, impotente, sua base social se distanciar, pois está presa por seus compromissos com a burguesia e o imperialismo.
A juventude, em especial, não conhece o PT da luta contra a Ditadura, só conhece o PT no governo. E este governo (do PT) é aquele que mantem as universidades públicas cada vez mais sucateadas e com vagas insuficientes, é o governo que colocou à disposição, através do ministro da justiça, as tropas da Força Nacional de Segurança para o governador Geraldo Alckmin (PSDB) reprimir as manifestações em São Paulo contra o aumento da tarifa no começo de junho de 2013, é o governo que se alia aos inimigos, aperta a mão de Maluf, abraça Collor e Sarney, curva-se aos capitalistas.
De 2003 a 2013 esta situação foi se acumulando. Explodiu nas jornadas de junho de 2013. A resposta do governo (e do PT) a esta situação foi a “Reforma Política”, apoiada pela maioria do partido, incluindo a Articulação de Esquerda (AE), corrente de Valter Pomar. Só que esta resposta está longe de atender aos anseios concretos que levaram milhões às ruas por transporte, saúde e educação, públicos, gratuitos e para todos. Por essas e outras, a juventude vê o PT como um partido igual aos outros, o que foi admitido pelo próprio Lula na melancólica comemoração dos 35 anos do PT. Este partido não atrai mais a juventude, pois deixou de ser um instrumento para a organização e o combate por um mundo novo, mais justo, livre, fraterno e igualitário.
Como dissemos na Carta Aberta a Lula, Dilma e à direção do PT, logo após o 2º turno, o PT recebeu uma última advertência na eleição de 2014. O governo e o PT, desde então, decidiram ir mais à direita. Isto só poderia provocar o abandono definitivo de toda uma camada de trabalhadores que ainda acreditava no PT.
Estar ou não em um partido, para os revolucionários, não tem relação direta com a quantidade de erros e traições da direção desse partido (Lenin, por exemplo, aconselhou os comunistas ingleses a intervirem no Partido Trabalhista, por conta da ligação desse partido com o movimento operário, mesmo os trabalhistas tendo apoiado sua burguesia na 1ª Guerra Mundial). A intervenção dos marxista em um partido está ligada à relação que ele tem com os jovens e trabalhadores. O quanto ele segue sendo uma referência para as lutas dos oprimidos pelo capitalismo. E convenhamos, o PT não consegue atrair e mobilizar as massas para nenhum combate mais, aliás, a direção do PT, por sua política, teme as massas nas ruas. É por isso que mesmo quando atacado, não convoca mobilizações na base para defender o partido.
Internamente, o aumento dos filiados “virtuais” e a criação do PED (Processo de Eleição Direta) desvirtuou a democracia operária presente na origem do PT. Agora, os congressos e encontros reúnem uma maioria de funcionários de gabinetes parlamentares ou de cargos de confiança. Os trabalhadores tiveram pouca vez e voto para mudar o rumo catastrófico que a direção conduziu e continua conduzindo o partido.
Valter declara em seu artigo “Eu não mudei”. Verdade. Eu li as decisões da AE que Valter cita (www.pagina13.org.br). E, confesso, não tinha lido o texto Comemoração e Luta
E para provar que Valter não mudou, ressalto um parágrafo desse último texto, lançado após o 2º turno:
“De imediato, isto exige que nossa tática para 2016 e 2018 seja construída tendo como aliado preferencial não o PMDB(grifo nosso), mas sim esta esquerda política e social que foi às ruas garantir nossa vitória. Precisamos organizar uma Frente Popular, unificando os partidos de esquerda e os movimentos sociais, numa coalizão estratégica para disputar o comando do Estado. Não será um movimento fácil, pois temos o PMDB na vice e com grande influência num Congresso Nacional ainda mais conservador do que em anteriores legislaturas. Mas é um movimento necessário, pois não haverá vitória sem mudança enão haverá mudança tendo o PMDB como aliado prioritário(grifo nosso). Aliás, como suposto aliado prioritário, pois a maior parte do PMDB já opera contra nós há anos.”
O que salta aos olhos neste parágrafo, em meio a palavras bem de esquerda, é que a AE continua com a posição que o PMDB não pode ser o “aliado prioritário”. E como o diabo mora nos detalhes, já que a AE não está propondo claramente romper a aliança com o PMDB, o que ela propõe nesse texto, então, é continuar a tratar o PMDB como um aliado... “não prioritário”. Isso vai aparecer novamente na resolução de seu último Congresso, quando diz:
“Embora a tática eleitoral em 2016 tenha aspectos locais, cabe ao Partido definir os parâmetros nacionais do processo, em torno das seguintes diretrizes: apoio ao governo Dilma, defesa de uma plataforma de aprofundamento das mudanças e prioridade para os partidos de esquerda nas alianças.”
Ou seja, priorizar partidos de esquerda, mas manter a porta aberta para partidos de direita.
Valter pode falar que defende há tempos uma “mudança global na estratégia do partido”, belas palavras, mas que não mudam o fato de que ele e sua corrente não combateram as alianças de Lula e Dilma nas eleições anteriores e, no PED 2013, dizia vagamente que a política de alianças para a eleição de 2014 deveria ser “orientada pelo programa de reformas estruturais”, deixando claro que o debate não deveria ser “com ou sem o PMDB” e que as alianças precisariam se ampliar no segundo turno, caso contrário cairíamos no beco sem saída “ou ganhamos no primeiro turno, ou perdemos no segundo turno”. Isso tudo está na nota de esclarecimento redigida por Valter Pomar e publicada em nosso site naquela oportunidade, e que agora ele indica em seu novo texto, na tentativa de convencer os leitores de que ele sempre combateu a colaboração de classes. Como nós já constatávamos na introdução da nota de esclarecimento de 2013: “De todo modo, não há nenhum empecilho para a colaboração de classes na sua posição”.
Nós sempre combatemos, inclusive na eleição de Lula em 2002, as alianças com a burguesia e a submissão ao capitalismo evidenciada na chamada “Carta aos brasileiros”. A burguesia foi entrando cada vez mais no governo, em 2006 o PMDB foi agregado ao leque de alianças. No novo mandato de Dilma, representantes dos principais setores da burguesia são chamados a compor o ministério. 
Estes governos, mesmo que encabeçado por um partido com origem entre os trabalhadores (PT) é composto também por partidos burgueses (PMDB, PP, PDT, etc.), e aplica, concretamente, a política da burguesia. Para Valter, que só vê esquerda e direita, este é um governo de esquerda que precisa ser defendido. Para nós, a política deste governo é indefensável do ponto de vista marxista, de independência de classe.
E nós, que sempre recusamos cargos em ministérios ou em estatais, somos agora acusados por Valter Pomar de oportunistas. As palavras, na política, tem seu significado, e o oportunismo está evidentemente ligado à quebra dos princípios, na busca pelo poder político e econômico no interior do capitalismo. Nós sempre tivemos firmeza nos princípio de independência de classe e de luta pelo socialismo.    
Valter ainda nos critica por termos decidido sair agora, quando o PT é alvo da direita. Recordemos alguns fatos. Nós, da Esquerda Marxista, fomos os que na época do julgamento do chamado “mensalão”, apresentamos a proposta à direção do PT de um “Encontro Nacional de trabalhadores em defesa do PT e da CUT. Contra a criminalização do movimento operário e popular”, proposta ignorada pelos dirigentes e pelos próprios condenados. Nós também entramos com uma representação criminal no Ministério Público por incitação ao magnicídio contra Bolsonaro, que incitou o fuzilamento da presidente em ato público no final do ano passado. Nós que condenamos publicamente os ataques às sedes do PT em Jundiaí e no centro de São Paulo, colocando que a direção deveria chamar mobilizações para repudiar esses atentados. Nós fomos e somos contrários aos ataques da burguesia contra o PT. No entanto, é preciso constatar, a submissão do governo e do PT, que apanha sem reação, é o que encoraja estes ataques, que não tem como alvo só o PT, mas o conjunto da luta da classe trabalhadora. 
E, apesar de tudo e de todos, apesar da covardia das direções, jovens e trabalhadores vão às ruas, fazem greves e manifestações, contra a repressão e a criminalização das lutas, contra os ataques de patrões e governos, pelas reivindicações. É com esse movimento que os revolucionários precisam estar conectados e é essa disposição de luta que pode derrotar a burguesia e abrir uma saída.
Valter me acusa de criticar muito o PT e que isto é normal em uma cisão. Verdade. Mas as críticas da Esquerda Marxista à direção do PT existem há anos e foram todas expostas em nosso site, nas teses de nossas chapas e aos congressos do PT.
A maior crítica que fiz no meu artigo foi à AE (já que era uma resposta ao dirigente desta corrente) e à sua posição de cobertura da direção do PT. Valter diz que sofremos de cretinismo parlamentar ao centrar fogo na questão dos parlamentares. O problema Valter, é que vocês não dirigem a CUT, mas vocês têm parlamentares, que poderiam em alto e bom som colocar suas críticas e exigir com a CUT (posição formal) que o governo retirasse as MPs. Mas vocês não fizeram isso. E continuam sem fazer.
Nós enxergamos muito bem o movimento que faz a burguesia. E este movimento começa com a posição da direção da Petrobras, com o acordo do governo, de vender ativos da empresa para resolver o seu problema de endividamento. Ora, se a Petrobras foi roubada por um grupo de empresários e empresas, não é justo que seus bens sejam confiscados por decreto governamental, sem indenização, que todas estas empresas sejam estatizadas e que se mobilize o povo para defender isso?
Ao invés disso, a Petrobras pretende vender ativos, inclusive do Pré-Sal (que já não é completamente estatal). Depois de mobilizar até navios de guerra para ameaçar manifestantes que se pronunciaram contra o leilão do campo de Libra, agora a Petrobras pretende vender o restante. Sim, acusar o Serra é fácil, ainda mais que ele está fazendo exatamente o que o governo pretende: abrir caminho para a venda do Pré-sal.
E, lembremos, o “fato positivo” que o governo pretende criar na atual situação de crise é mais concessões e privatizações, enquanto a inflação aumenta, o emprego diminui, as indústrias demitem, os juros aumentam. Não adianta criticar só a direita, quando a direita está na composição e na política do próprio governo.
Sim, estivemos (quase) todos unidos contra o PL 4330. “Quase” porque o governo foi ao congresso negociar emendas para garantir a arrecadação dos tributos e não para barrar a terceirização. É um ponto de vista de classe, o problema é o ajuste.
Por último, Valter nos acusa de não vermos as manifestações de “direita” nas ruas. As manifestações foram de um setor da pequena burguesia (as pesquisas feitas entre os manifestantes de São Paulo mostram a predominância deste setor) infladas pela burguesia (rede Globo em primeiro lugar) para pressionar o PT. E o partido então, segue sua caminhada para a direita. O governo segue com privatizações e medidas de “ajuste”, tirando dos trabalhadores para seguir o pagamento da “dívida” aos banqueiros. No momento em que Dilma, respondendo às manifestações, passa a defender um “ajuste” mais forte, o jornal O Globo passa a se posicionar com um “apoio crítico” ao governo. Critica mas defende.
E esta é a posição da maioria da burguesia. Não por acaso FHC é contra o impeachment. E Aécio oscila. Eduardo Cunha diz que vai rejeitar a entrada do pedido, simplesmente. E as manifestações desidratam-se. Diminuem de tamanho e a “marcha sobre Brasília” é noticiada com destaque na Folha com a presença de... 23 caminhantes. A pequena burguesia, sem perspectiva histórica, aparece e some.
E os trabalhadores? Esses continuam em sua luta. Mostrando que não estão acuados por uma suposta “onda conservadora”. Greves de professores, metalúrgicos e outros varrem o país. Em alguns casos, como dos professores do Paraná, adquirem o caráter de greves de massas. A direção da CUT tenta conter este processo, usando o fato de ser direção da maioria dos sindicatos e conduzindo greves isoladas de professores de norte a sul do país. Posiciona-se contra as MPs 664 e 665, mas não mobiliza a base para o combate. Nos metalúrgicos quer apressar o ACE (Acordo Coletivo Especial) onde se troca a manutenção do emprego pela redução do salário e direitos. Só que na Volks, um acordo nesse sentido foi derrotado pelos operários, que impuseram a manutenção dos empregos.
É dessa disposição de luta da classe trabalhadora e da juventude que nascerá o futuro. Destas lutas nascerá a reorganização do proletariado. O PT, no momento atual, com essa política, segue o destino que os gregos reservaram ao PASOK.
Valter tem todo o direito de ficar no PT, mas gentilmente alertamos que ele está conduzindo sua corrente a afundar no navio que ele ajudou a levar para os rochedos, apoiando a política de colaboração de classes.
Nós saímos do PT e buscamos atrair jovens e trabalhadores para construir algo novo. Estamos propondo a construção de uma Frente de Esquerda, para abrir caminho para uma organização independente da classe trabalhadora, tarefa que convocamos militantes, sindicalistas, estudantes, organizações, partidos, coletivos e correntes para dar a sua contribuição na busca de uma saída política para a atual situação.



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