quinta-feira, 23 de abril de 2015

A guerra não é "do" PT. É contra o PT

A direita brasileira adora trocar palavras. 

Fala que retrocesso é reforma, chama golpe de revolução.

Mas a versão clássica é transformar a vítima em agressor.

É o que faz o jornal O Estado de São Paulo, no editorial "A guerra do PT", publicado no dia 23 de abril e reproduzido ao final.

Analisando várias teses inscritas para debate no quinto congresso partidário, o editorial do Estadão acusa: "o PT julga que está em guerra". 

E pergunta: "De que guerra falam os petistas? Contra quem eles acreditam travar batalhas de vida ou morte, em plena democracia? Qual seria o terrível casus belli a invocar, posto que todos os direitos políticos estão em vigor e as instituições funcionam perfeitamente?"

Quem pergunta, quer resposta, assim aqui vai: existe um setor da direita, do grande capital e do oligopólio da mídia que trabalha abertamente pela interdição do PT, incluindo aí a cassação da legenda partidária, a prisão de dirigentes e a desmoralização política do petismo.

Se o PT fosse o único alvo, seria um problema apenas dos petistas.

Mas o alvo é mais amplo: está na mira o conjunto dos direitos das classes trabalhadoras brasileiras.

Não por acaso, o ataque contra o PT coincide com a votação da PL 4330 (que rasga a CLT), com a ameaça de adoção do voto distrital (questionando a democrática representação proporcional) e com uma nova campanha pela privatização do petróleo.

Não por acaso, o editorial do Estadão contra o PT ataca também "a inversão moral que levou o governador petista de Minas, Fernando Pimentel, a condecorar o líder do MST, João Pedro Stédile, um notório fora da lei, com a Medalha da Inconfidência, que celebra a saga libertária de Tiradentes".

Aliás, a respeito de Stédile recomendamos assistir ao editorial do "Grupo Bandeirantes", disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=d3mVna6N8as


Para aqueles setores da direita, do grande capital e do oligopólio da mídia, atacar e interditar o PT é um passo indispensável para romper um impasse político de fundo, a saber: nosso sistema político-eleitoral não agrada nem a oposição de direita, nem agrada a esquerda.

A oposição de direita assistiu as atuais regras do jogo permitirem (ou não impedirem) ao PT vencer por quatro vezes a presidência da República.

A esquerda assistiu as atuais regras do jogo permitirem (e estimularem) a formação de maiorias congressuais de centro-direita.

A esquerda tenta resolver este impasse político através de uma reforma política democratizante, Assembléia Constituinte e participação popular.

A direita tenta resolver o impasse via reforma política conservadora, judicialização da política e criminalização da mobilização social.

O impasse político desgasta a esquerda (que não consegue maioria congressual para implementar mudanças) e fortalece a direita (que sonha com utilizar a maioria congressual não apenas para achacar e sabotar o governo, mas também para fazer o impeachment).

Uma solução popular para a crise política passa por mais democracia, não por menos democracia. 

Por isto nossa defesa da Assembleia Constituinte, da participação popular e da legitimidade dos processos eleitorais. Se a oposição de direita quer nos derrotar, que se organize para disputar as eleições de 2016 e 2018.

O impasse político decorre, por sua vez, de um impasse econômico-social de fundo. 

Assim como 1954 e 1964 não foram por acaso, o que está ocorrendo agora também não é por acaso.

Toda vez que o Brasil teve governos que adotaram uma política externa soberana, que garantiram progressos na qualidade de vida do povo e certa ampliação nas liberdades democráticas, as classes dominantes reagiram em favor das medidas opostas: dependência externa, restrições às liberdades, desigualdade social.


Hoje vivemos mais um destes momentos de definição entre dois caminhos para o Brasil: ou bem regressamos ao desenvolvimento conservador de viés neoliberal, com dependência externa, restrições às liberdades democráticas e aprofundamento da desigualdade social; ou bem avançamos em direção a um desenvolvimento de novo tipo, democrático-popular e articulado ao socialismo.

Isto dito, não existe uma guerra "do" PT.

Existe uma guerra "contra" o PT e contra os direitos da maioria do povo brasileiro.

E tanto o PT quanto a maioria do povo podem e devem exercer seu direito de defesa.

Não é preciso ser petista nem de esquerda para perceber e concordar com isto.


ps. quem tem dúvidas acerca do estado de ânimo da direita, recomendamos ler e ouvir o que reproduzimos a seguir.




A guerra do PT
– editorial – 
O Estado de S. Paulo
23 de abril

O PT julga que está em guerra. É o que está escrito, com todas as letras, nas "teses" apresentadas pelas diversas facções que compõem o partido e que serão debatidas no 5.º Congresso Nacional petista, em junho.
De que guerra falam os petistas? Contra quem eles acreditam travar batalhas de vida ou morte, em plena democracia? Qual seria o terrível casus belli a invocar, posto que todos os direitos políticos estão em vigor e as instituições funcionam perfeitamente?
As respostas a essas perguntas vêm sendo dadas quase todos os dias por dirigentes do PT interessados, antes de tudo, em confundir uma opinião pública crescentemente hostil ao "jeito petista" de administrar o País. O que as "teses" belicosas do partido fazem é revelar, em termos cristalinos, o tamanho da disposição petista em não largar o osso.
"Precisamos de um partido para os tempos de guerra", conclama a Articulação de Esquerda em sua contribuição para o congresso do partido. Pode-se argumentar que essa facção está entre as mais radicais do PT, mas o mesmo tom, inclusive com terminologia própria dos campos de batalha, é usado em todas as outras "teses". Tida como "moderada", a chapa majoritária O Partido que Muda o Brasil avisa que "é chegado o momento de desencadear uma contraofensiva política e ideológica que nos permita retomar a iniciativa".
A tendência Diálogo e Ação Petista conclama os petistas a fazer a "defesa dos trabalhadores e da nação", como se o Brasil estivesse sob ameaça de invasão, e diz que as "trincheiras" estão definidas: de um lado, a "direita reacionária"; de outro, os "oprimidos". A chapa Mensagem ao Partido quer nada menos que "refundar o Estado brasileiro", por meio de uma "revolução democrática" - pois o "modelo formal de democracia", este que vigora hoje no Brasil, com plena liberdade política e de organização, "não enfrenta radicalmente as desigualdades de renda e de poder".
Da leitura das "teses" conclui-se que o principal inimigo dos petistas é o Congresso, pois é lá que, segundo eles dizem, se aglutinam as tais forças reacionárias. O problema - convenhamos - é que o Congresso representa a Nação, o povo. Se o Congresso resiste a aceitar a agenda do PT, então a solução é uma "Constituinte soberana e exclusiva", cuja tarefa é atropelar a vontade popular manifestada pelo voto e mudar as regras do jogo para consolidar o poder das "forças progressistas" - isto é, o próprio PT.
Uma vez tendo decidido que vivem um estado de guerra e estabelecidos quem são os inimigos, os petistas criam a justificativa para apelar a recursos de exceção - o chamado "vale-tudo". O principal armamento do arsenal petista, como já ficou claro, é o embuste. O partido que apenas nos últimos dez anos teve dois tesoureiros presos sob acusação de corrupção, que teve importantes dirigentes condenados em razão do escândalo da compra de apoio político no Congresso e que é apontado como um dos principais beneficiários da pilhagem da Petrobrás é o mesmo que diz ter dado ao País "instrumentos inéditos" para punir corruptos. Há alguns dias, o ex-presidente Lula chegou ao cúmulo de afirmar que os brasileiros deveriam "agradecer" ao PT por "ter tirado o tapete que escondia a corrupção".
É essa impostura que transforma criminosos em "guerreiros do povo brasileiro", como foram tratados os mensaleiros encarcerados. Foi essa inversão moral que levou o governador petista de Minas, Fernando Pimentel, a condecorar o líder do MST, João Pedro Stédile, um notório fora da lei, com a Medalha da Inconfidência, que celebra a saga libertária de Tiradentes. A ofensiva dos petistas é também contra a memória nacional.
Ao explorar a imagem da guerra para impor sua vontade aos adversários - inclusive o povo -, o PT reafirma seu espírito totalitário. A democracia, segundo essa visão, só é válida enquanto o partido não vê seu poder ameaçado. No momento em que forças de oposição conseguem um mínimo de organização e em que a maioria dos eleitores condena seu modo de governar, então é hora de "aperfeiçoar" a democracia - senha para a substituição do regime representativo, com alternância no poder, por um sistema de governo que possa ser totalmente controlado pelo PT, agora e sempre.



Editorial Grupo Bandeirantes condena atitude do governador mineiro Jornal da Band band com br:
https://www.youtube.com/watch?v=d3mVna6N8as

Um comentário:

  1. A oposição de direita além de patética é cínica. Inconformada com as sucessivas derrotas eleitorais, em especial a mais recente, propôs e impôs ao PT uma guerra de agressão e de extermínio.

    Ela colocou o PT em guerra, não o contrário. Agora aguente porque a contra-ofensiva está apenas começando!

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