Esta carta, que trazia como subtítulo "Em defesa da verdade", foi distribuída aos delegados do 9º Encontro Estadual do PT-SP, realizado em 1993, precedente ao Oitavo Encontro Nacional do PT. A carta foi redigida por Candido Vaccareza, David Capistrano e Valter Pomar.
Pela primeira vez, a Articulação se apresenta dividida num encontro estadual: duas teses, duas chapas, dois candidatos a presidência.
De um lado estão os defensores da tese Por um governo democrático e popular, que lançaram no início do ano o Manifesto A hora da verdade e que defendem Arlindo Chinaglia para presidente estadual do PT. De outro lado, estão os signatários da tese Unidade na Luta.
Essa divisão criou a expectativa de que o 9º Encontro Estadual seria marcado pelo debate franco das divergências. Não é isso o que está acontecendo.
Os mesmos companheiros que há menos de 60 dias propunham que o PT namorasse o governo Itamar, agora fazem discursos de inflamada oposição.
Os mesmos que defendiam uma política de alianças baseada em negociações eleitoreiras, agora disputam para ver quem ataca mais o PSDB.
Os mesmos “notáveis” que ainda ontem tentavam dirigir o partido através da imprensa, agora se apresentam como os campeões da democracia interna.
Os mesmos que hoje dizem defender a unidade da Articulação, ontem propunham formar uma tendência reunindo a Articulação com o Projeto para o Brasil, dos deputados José Genoíno e Eduardo Jorge, na conhecida Operação Comodoro.
Os mesmos que criticam a Articulação Hora da Verdade por buscar a unidade da esquerda petista, já consumaram um acordo político e eleitoral com a direita petista. Acobertam aqueles que defendiam a ida do Partido para o governo Itamar. Absorvem os que propunham aproximar nosso partido do governo Fleury. Protegem aqueles que chamaram a militância de burra, por ter optado maciçamente pelo presidencialismo. Defendem aqueles que querem levar o PT para a social-democracia.
Esta atitude dos que dirigem a Unidade na Luta está impedindo a discussão política no Encontro. Este jogo de cena, este oportunismo de palanque, destina-se a confundir os delegados e a garantir o controle da direção partidária.
Nós, militantes da Articulação, signatários da tese Por um governo democrático e popular, entendemos que a apresentação leal das divergências faz parte da ética na política. Repudiamos os conchavos de que participa um pequeno número de dirigentes. Preferimos deixar claro o que pensamos.
Achamos que para dirigir a campanha Lula e a ação partidária, num momento em que a burguesia tenta desqualificar nosso partido e nosso candidato a presidente, é necessária uma direção firme, que recuse as ambiguidades e as vacilações.
Uma direção que busque atrair e dirigir nossos aliados, e não seguir a seu reboque. Uma direção que tenha a ousadia de proclamar a falência das elites dirigentes do país, a necessidade de reformas profundas, e que tenha a coragem de assumir os enfrentamentos que a mudança vai exigir de um governo democrático e popular.
Com base nesse programa e num partido democratizado, coerente e revitalizado, se tornará possível realizar uma campanha eleitoral de massas, um verdadeiro movimento por reformas estruturais, que ganhe milhões não apenas para votar mas principalmente para apoiar ativamente um governo comprometido com o fim do apartheid social e com a luta pelo socialismo.
Esses são os motivos pelos quais apresentamos nossa tese, nossa chapa, nossos candidatos. Evitando os acordos de cúpula, garantiremos que a decisão seja realmente dos delegados, das bases. Para que a unidade seja realmente construída na luta.
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