O texto abaixo é um subsídio ao debate sobre forças armadas, apresentado por mim ao Diretório Nacional do PT. Tomei como base, para elaborar este subsídio, um artigo escrito pelo companheiro José Genoíno para a revista Esquerda Petista. O tema das forças armadas e da segurança pública não é nem pode ser secreto. É um tema que precisa ser tratado abertamente, publicamente. Esta é a única forma de estabelecer o primado civil sobre o militar, o primado da nação sobre a corporação. Um último esclarecimento: o DN do Partido não deliberou a respeito do tema e, portanto, não existe "posição oficial" a respeito.
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO SOBRE AS FORÇAS ARMADAS
1.O Partido dos Trabalhadores foi criado em 1980, quando a
ditadura instalada pelo golpe militar de 1964 estava vivendo seus últimos
momentos. Até 1989, quando ocorreu a primeira eleição presidencial direta desde
1960, nosso Partido esteve na linha de frente de todas as lutas democráticas. Na
Constituinte, por exemplo, combatemos a tutela militar estabelecida pelo artigo
142, assim como combatemos outros dispositivos que compunham o chamado entulho
ditatorial, a exemplo da Lei de Segurança Nacional.
2.O Partido dos Trabalhadores governou o Brasil entre 2003 e
2016. As gestões Lula e Dilma investiram nas Forças Armadas e mantiveram um
relacionamento respeitoso e profissional com seus comandantes e com o conjunto
das tropas.
3.Os exemplos citados nos parágrafos anteriores servem para exemplificar
a posição do Partido dos Trabalhadores: o Brasil necessita de forças armadas à
serviço da defesa nacional, totalmente subordinadas ao poder civil e integralmente
respeitosas da democracia e dos direitos humanos.
4.O governo Bolsonaro representa o oposto disto: defende
forças armadas subordinadas ao Comando Sul dos Estados Unidos, tutelando o
poder civil, desrespeitando a democracia e os direitos humanos.
5.A atual cúpula das forças armadas é cúmplice desta conduta
do governo Bolsonaro. Não há como separar as FFAA da catástrofe que é o governo
Bolsonaro. Transformaram-se em peça
fundamental desde o apoio ao golpe contra a presidente Dilma, à prisão do Lula
e construção da candidatura do atual governante. Mais do que participar do
governo, avalizam e conduzem as diretrizes políticas e orientações
governamentais, aceitam o programa neoliberal de ajuste fiscal, que envolve a
eliminação de direitos e privatizações, a supremacia do capital financeiro e
submissão à hegemonia americana. Estão comprometidas na imagem e no conteúdo
com o desastre em curso em nosso país; alguns de seus líderes aderiram aos
valores obscurantistas, outros silenciam diante deste desgaste da instituição.
6.As FFAA são uma força importante de governo Bolsonaro,
ocupando cargos, exercendo funções chaves e definindo orientações. Exercem uma tutela
velada e aberta, garantindo os privilégios corporativos e ocupando de maneira
autônoma funções no Estado. Ora aparecem mais ajuizadas nas formas de governar,
ora assumem posições conservadoras nos assuntos relacionados ao meio–ambiente,
educação, racismo, defesa dos indígenas e aos temas relacionados com o que
alguns chamam de “agenda comportamental” (mulheres, sexismo, LGBTQ+, etc.).
7.Temas que antes não uniam os militares como a hegemonia
americana e o papel do Estado, hoje os unificam política e ideologicamente na
defesa do programa neoliberal. Portanto, a relação das forças armadas com o
governo Bolsonaro é mais do que simples apoio: existe hoje em dia uma
identidade ideológica e política nas questões de Estado, mesmo aparecendo
divergências de algumas personalidades, na forma de governar.
8.A partir da crise internacional de 2008, da redefinição
geopolítica dos Estados Unidos, da disputa de mercados, recursos naturais, da
espionagem, inclusive contra o Brasil, e da guerra “contra a corrupção”,
construiu-se uma influência através da CIA, ANS, FBI e Departamento de Justiça,
uma espécie de “guerra híbrida” objetivando construir a política “América para
os americanos”. Fortaleceram-se os laços históricos que vêm da Guerra Fria, das
operações durante o período da Ditadura Militar e da submissão vassala aos EUA.
9.A relação entre o governo Bolsonaro e as forças armadas possui
meandros específicos, já que as FFAA preservam sua autonomia em relação ao
poder político e, também, em relação às instituições estatais. São parceiras
orgânicas nos assuntos governamentais e se necessário exercem o poder tutelar.
Os militares da reserva e da ativa agem como se fossem um corpo só, muitas
vezes nem as formalidades são preservadas. A politização entra nos quartéis, os
militares dão aparência de normalidade enquanto passam a “boiada”; eles têm unidade
nas questões programáticas e no combate à esquerda.
10.O desastre no enfrentamento da pandemia, o agravamento da
crise econômica e social, o isolamento internacional do Brasil, a degradação
institucional, o desastre administrativo e a crise ambiental, o negacionismo
fundamentalista e o incentivo aos valores neofascistas atingem a própria imagem
das FFAA como instituição. A destruição aniquiladora das potencialidades do
Brasil no plano regional e internacional atingem a autoestima e a confiança do
país na relação com Governos, instituições multilaterais e opinião pública
internacional.
11.Um outro exemplo deste desastre é a negação da política
cultural, a eliminação das instituições de apoio e fomento à cultura e a perda
das grandes potencialidades do Brasil neste terreno. No plano interno as FFAA
avançam na ocupação de órgãos públicos, de fiscalização e controle, mudando
regras, eliminando instituições e ocupando espaços do poder político civil. A
defesa do governo, da política da Ditadura Militar, da tortura e dos
torturadores visa legitimar e resgatar os 21 anos do período ditatorial e
aplicar uma política autoritária, buscando criar uma hegemonia destes valores
antidemocráticos.
12.A “lei e a ordem” é uma orientação de Estado que busca
preservar uma das características das FFAA ao longo da nossa história. Das sete
constituições brasileiras, apenas duas não falam deste princípio que está hoje
na Constituição de 1988, no artigo 142. Esse conceito político serve para
institucionalizar a intervenção nas questões de segurança pública, na tutela
sobre os poderes da República e para normalizar uma supremacia sobre os demais
poderes.
13.Essa visão doutrinária está presente na história militar
do Brasil, principalmente a partir da proclamação da República de 1889. Nos
tempos atuais esse conceito atende às exigências do modelo neoliberal, contra a
democracia e os direitos, viabilizando as reformas econômicas que interessam ao
Capital, criminalizando a política e assim chegando a vedar as alternativas de
esquerda. Esse modelo antidemocrático reproduz no Brasil a influência da
direita internacional na reestruturação do capitalismo e nos novos parâmetros
da geopolítica global. Por outro lado, é em nome dessa política que os
militares defendem uma espécie de revanchismo em relação às experiências
democráticas da transição política, da Nova República, da Constituição de 1988,
do governo FHC e dos governos Lula e Dilma.
14.A atualização desta política está sendo decisiva para
viabilizar o processo de construção de um autoritarismo conservador e de
conivência com as manifestações neofascistas e milicianas, influenciando a
pauta fundamentalista contra os direitos das mulheres, dos negros e das negras,
da comunidade LGB-TQ+ e das populações originárias.
15.Ao longo da nossa história, nas crises políticas do
século XX, as FFAA exerceram um intervencionismo político em nome de uma ordem
genérica que serve para tudo; na verdade, servem para defender o status quo e
invariavelmente se associarem com os interesses das classes dominantes. Este
elemento, constitutivo na formação do Estado brasileiro, tem que ser enfrentado
a partir de uma visão radicalmente democrática na organização do Estado de
direito. Sem isso, mesmo nos momentos de democracia liberal, como de 1946 a
1964 e de 1989 a 2016, o regime democrático fica como algo inconcluso.
16.Na oposição sistêmica ao governo Bolsonaro, às suas
políticas e seus apoiadores, é necessário enfrentar, além do lawfare do sistema
de justiça e do monopólio midiático, a tutela política das FFAA como parte
integrante do consórcio oligárquico burguês do Estado brasileiro. A situação
política, a avaliação do atual governo e o seu fim, têm relação direta com as
mudanças democráticas e estratégicas no papel das FFAA com desdobramentos
inevitáveis nas suas funções constitucionais e na mudança das questões
propriamente militares. Pouco adiantam mudanças cosméticas como já ocorreram no
passado.
17.Os compromissos são mais profundos do que aparentam, os
vínculos nasceram na campanha, na montagem do atual governo e na viabilização
de suas políticas. Não podemos ter ilusão em manifestações individuais de
integrantes das FFAA, já que a instituição está se comprometendo com decisões
políticas, o que terá consequências profundas, negativas ou positivas, no desenlace
do atual momento político. Nesse tipo de abordagem a democracia é primordial na
condução das mudanças políticas e constitucionais, inclusive nas questões
especificamente militares.
18.A negação de uma geopolítica de cooperação regional na
América do Sul, baseada no apoio mútuo e sem conflitos antagônicos, é
fundamental para viabilizar as ações complementares numa região estratégica do
ponto de vista de recursos naturais, de aspectos geográficos e de mercado. Não
podemos perder o protagonismo e nos tornarmos insignificantes no cenário
mundial, isso algo inimaginável e ultrapassa todos os limites do razoável; a
perda de protagonismo regional trará prejuízos para o que representamos como
nação soberana. Portanto é inaceitável a condição de submissão e vassalagem
perante os Estados Unidos, já que a política nacional de Defesa deve
orientar-se para a boa relação entre a política externa Sul-Sul e a diplomacia
militar. Isto é, uma política externa “ativa e altiva”.
19.A política nacional de defesa adotada durante os governos
petistas tinha os seguintes objetivos:
I. Garantir a soberania, o patrimônio nacional e a
integridade territorial;
II.Defender os interesses nacionais, as pessoas, os bens e
os recursos brasileiros no exterior;
III.Contribuir para a preservação da coesão e unidade
nacionais;
IV. Contribuir para a estabilidade regional;
V. Contribuir para a manutenção da paz e da segurança
internacionais;
VI. Intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações
e sua maior inserção em processos decisórios internacionais;
VII. Manter as Forças Armadas aprestadas, modernas e
integradas, com crescente profissionalização, operando de forma conjunta e
adequadamente desdobradas no território nacional;
VIII. Conscientizar a sociedade brasileira da importância
dos assuntos de Defesa do país;
IX. Desenvolver a Base Industrial de Defesa Nacional,
orientada para o desenvolvimento e consequente autonomia em tecnologias
indispensáveis;
X. Estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades,
dotando-as de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos
e operacionais;
XI. Desenvolver o potencial de logística de defesa e de
mobilização nacional (BRASIL. Ministério da Defesa. Política Nacional de Defesa
e Estratégia Nacional de Defesa. Bra-sília, 2012. Disponível em:
<https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defe-sa/pnd_end_congresso_.pdf>
Acesso em janeiro de 2021;).
20.Estas definições estratégicas não foram acompanhadas de
mudanças estruturais na organização estatal, entre as quais as orientações para
as FFAA. Predominou em alguns momentos uma visão burocrática e rotineira no
tratamento dos comandos militares e no próprio Ministério da Defesa. Não
alteramos padrões e normas de funcionamento na área da formação e da
inteligência militar.
21.A Comissão Nacional da Verdade deveria ter se instaurado
no primeiro mandato Lula e deveríamos ter construído uma orientação política
para que os militares admitissem a prática de terrorismo de Estado e assumissem
uma reparação pública perante a sociedade. Ao invés disso, a lei de Anistia foi
convalidada pelo Supremo Tribunal Federal, o crime de tortura não foi
considerado imprescritível e predominou o conceito de Anistia recíproca.
22.No 6º Congresso do PT (2017), aprovamos uma resolução que
dizia o seguinte: “Esse processo de democratização inclui o fortalecimento e a
reformulação do papel das Forças Armadas, com sua dedicação exclusiva à defesa
nacional e a programas de integração territorial. Também são imprescindíveis a
aplicação das recomendações prescritas pela Comissão Nacional da Verdade acerca
dos direitos humanos e a alteração dos currículos das escolas de oficiais,
expurgando valores antinacionais e antidemocráticos como o elogio ao golpe de
1964 e ao regime militar que então se estabeleceu.”
23.Se é verdade que a Comissão Nacional da Verdade não foi
capaz de construir a posição política de que houve a prática de terrorismo de
Estado pelos militares no período da Ditadura Militar, e de reparação perante a
sociedade dos crimes contra os direitos humanos, é também verdade que pela
primeira vez na história política brasileira o Estado promoveu um levantamento
minucioso e detalhado sobre uma experiência histórica e os crimes de Estado.
24.É fundamental, no que diz respeito à formação doutrinária
dos militares, modernizar os conceitos de Defesa nacional, romper com a visão
binária “amigo e inimigo” e enfrentar com uma política dissuasória as nossas
vulnerabilidades pelo mar, pelo espaço e no campo cibernético. Esta é uma
política dissuasória, que não tem nada a ver com o conceito de inimigo interno
e de atividades de garantia da lei e da ordem.
25.As diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa elaborada
no Governo Lula definiram claramente os novos desafios, e mesmo que tenham sido
só aceitas e não assimiladas pelos militares, seguem sendo um excelente ponto
de partida. Destacamos as seguintes diretrizes:
I.Dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras
terrestres e nos limites das águas jurisdicionais brasileiras, e impedir-lhes o
uso do espaço aéreo nacional. Para dissuadir, é preciso estar preparado para
combater. A tecnologia, por mais avançada que seja, jamais será alternativa ao
combate. Será sempre instrumento do combate;
II.Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio
monitoramento/ controle/mobilidade e presença. Esse triplo imperativo vale, com
as adaptações cabíveis, para cada Força. Do trinômio resulta a definição das
capacitações operacionais de cada uma das Forças;
III.Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o
espaço aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras. Tal
desenvolvimento dar-se-á a partir da utilização de tecnologias de monitoramento
terrestre, marítimo, aéreo e espacial que estejam sob inteiro e incondicional
domínio nacional;
IV.Desenvolver, lastreada na capacidade de
monitorar/controlar, a capacidade de responder prontamente a qualquer ameaça ou
agressão: a mobilidade estratégica. A mobilidade estratégica – entendida como a
aptidão para se chegar rapidamente à região em conflito – reforçada pela
mobilidade tática – entendida como a aptidão para se mover dentro daquela
região – é o complemento prioritário do monitoramento/controle e uma das bases
do poder de combate, exigindo das Forças Armadas ação que, mais do que
conjunta, seja unificada. O imperativo de mobilidade ganha importância
decisiva, dadas a vastidão do espaço a defender e a escassez dos meios para
defendê-lo. O esforço de presença, sobretudo ao longo das fronteiras terrestres
e nas partes mais estratégicas do litoral, tem limitações intrínsecas. É a
mobilidade que permitirá superar o efeito prejudicial de tais limitações;
V.Aprofundar o vínculo entre os aspectos tecnológicos e os
operacionais da mobilidade, sob a disciplina de objetivos bem definidos.
Mobilidade depende de meios terrestres, marítimos e aéreos apropriados e da
maneira de combiná-los. Depende, também, de capacitações operacionais que
permitam aproveitar ao máximo o potencial das tecnologias do movimento. O
vínculo entre os aspectos tecnológicos e operacionais da mobilidade há de se
realizar de maneira a alcançar objetivos bem definidos. Entre esses objetivos,
há um que guarda relação especialmente próxima com a mobilidade: a capacidade
de alternar a concentração e a desconcentração de forças, com o propósito de dissuadir
e combater a ameaça;
VI.Fortalecer três setores de importância estratégica: o
espacial, o cibernético e o nuclear. Esse fortalecimento assegurará o
atendimento ao conceito de flexibilidade. Como decorrência de sua própria
natureza, esses setores transcendem a divisão entre desenvolvimento e defesa,
entre o civil e o militar. Os setores espacial e cibernético permitirão, em
conjunto, que a capacidade de visualizar o próprio país não dependa de
tecnologia estrangeira e que as três Forças, em conjunto, possam atuar em rede,
instruídas por monitoramento que se faça também a partir do espaço. O Brasil
tem compromisso – decorrente da Constituição e da adesão a Tratados
Internacionais – com o uso estritamente pacífico da energia nuclear.
Entretanto, ao tempo que afirma a necessidade estratégica de desenvolver e
dominar essa tecnologia. O Brasil precisa garantir o equilíbrio e a
versatilidade da sua matriz energética e avançar em áreas, tais como as de
agricultura e saúde, que podem se beneficiar da tecnologia de energia nuclear.
E levar a cabo, entre outras iniciativas que exigem independência tecnológica
em matéria de energia nuclear, o projeto do submarino de propulsão nuclear;
VII.Unificar e desenvolver as operações conjuntas das três
Forças, muito além dos limites impostos pelos protocolos de exercícios
conjuntos. Os instrumentos principais dessa unificação serão o Ministério da
Defesa e o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Devem ganhar dimensão
maior e responsabilidades mais abrangentes. O Ministro da Defesa exercerá, na
plenitude, todos os poderes de direção das Forças Armadas que a Constituição e
as leis não reservarem, expressamente, ao presidente da República. A
subordinação das Forças Armadas ao poder político constitucional é pressuposto
do regi-me republicano e garantia da integridade da nação. (BRASIL. Ministério
da Defesa. Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa.
Bra-sília, 2012. Disponível em:
<https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defe-sa/pnd_end_congresso_.pdf>
Acesso em janeiro de 2021;)
26.A luta pela democracia exige o enfrentamento da questão
das FFAA na relação com o Estado e a sociedade. Devemos levar em conta as
experiências insuficientes, limitadas no tratamento deste tema, inclusive
quando governamos o país. Esta tarefa exige compreensão, definições claras e
capacidade política de enfrentar os desafios e os dilemas históricos de nosso
país.
27.A mudança do artigo 142 (da GLO) da Constituição é um
ponto importante da luta democrática. O conceito de “lei e ordem” serve a uma
política de segurança e não de Defesa nacional. Ao mesmo tempo, o próprio
artigo 142 dá margem a um exclusivismo ideologizado do conceito que se faz de
pátria para justificar o intervencionismo político e não deixa clara a relação
com os demais poderes constitucionais.
28.Defendemos a extinção do sistema de justiça militar,
objetivando diminuir o corporativismo e a impunidade. Outra questão necessária
é separar a inteligência propriamente militar da inteligência de governo; temos
que evitar o poder paralelo deste sistema que acaba corroendo o Estado
democrático de direito.
29.Defendemos a desmilitarização da segurança pública; ao
lado da reforma na segurança pública dos estados, propomos a criação da guarda
nacional vinculada ao Ministério da Justiça, com atuação nas áreas sensíveis do
crime organizado e das forças milicianas, no setor portuário e nas fronteiras.
30.Os integrantes das carreiras de Estado, entre as quais os
militares, devem se afastar das funções públicas e políticas observando o
princípio da “quarentena” (intervalo entre estas funções), com base no
princípio do ônus e do bônus: quem tem a prerrogativa de prender, investigar,
julgar, denunciar e de exercer o monopólio das armas, precisa assumir o ônus
nas escolhas de outras funções.
31.O enfrentamento estratégico da luta democrática na forma
e no conteúdo exige uma posição clara em relação ao caráter autoritário do
Estado brasileiro, que se manifestou em todas as crises políticas com soluções
arbitrárias e golpistas; é neste sentido que defendemos mudanças estruturais
nas instituições políticas, entre as quais o papel das FFAA nas suas relações
com a sociedade e com Estado e o governo.
32.Poucas vezes a questão democrática foi tratada com
radicalidade na oposição ao consórcio oligárquico-burguês, por isso não devemos
isolar as bandeiras específicas da luta democrática deste foco estratégico. O
desafio do PT e das esquerdas é fundir as bandeiras da luta democrática com uma
visão programática por novas instituições políticas, o que deve ser considerado
na discussão – já realizada pelo PT – acerca da necessidade de uma Assembleia
Nacional Constituinte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário