quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Pimenta, o Baleia e o impeachment

Acabo de receber um texto do companheiro Paulo Pimenta.

Reproduzo o texto ao final.

Concordo com as primeiras 206 palavras do texto. Igual a Pimenta, sou dos que não tiveram ilusão sobre o fato de que estava em curso um golpe.

Mas uma conclusão que tiro daí é que não devemos ter ilusão alguma no Baleia, no Maia e no Temer.

Não concordo com a “narrativa” de Pimenta acerca da eleição de Eduardo Cunha, em 2015. Pimenta afirma que não teríamos tentado impedir a eleição de Cunha, aliás um cidadão do mesmo partido de Temer e de Baleia. Minha lembrança da época é outra, mas sobre isso quem melhor pode falar é o Arlindo Chinaglia.

Entretanto, concordo totalmente com a avaliação de que é importante derrotar Bolsonaro. O problema é: será mesmo possível derrotar Bolsonaro, usando a mão de gato do Baleia?

Pimenta parece achar que sim, porque na opinião dele “a verdade é que o Parlamento ainda ‘não caiu’.” 

Lamento, mas se isso fosse totalmente verdadeiro, Maia teria dado prosseguimento a algum dos pedidos de impeachment. Sem falar do consenso neoliberal que os anima.

Por isso, sigo achando que seria melhor para o PT ter bloco e candidatura próprias no primeiro turno, aproveitando a candidatura à presidência da Câmara dos Deputados para fazer agitação pública sobre temas centrais, como a vacina, o desemprego, a ajuda emergencial e o impeachment.

Parte do texto de Pimenta é dirigido contra quem apoia Lira, o que evidentemente não é o meu caso. Nisso estamos juntos. Mas, repito, a tática adotada não foi adequada para o PT. E, o que me parece mais grave, não está à altura do momento.

Pois se é verdade que precisamos tirar o cavernícola já, o mais rápido que for possível; e se é verdade que a vitória de Baleia depende em alguma medida dos votos do PT; por qual motivo não demos centralidade absoluta ao tema do impeachment de Bolsonaro?

Imagino a resposta, que revela os limites desta suposta operação de redução de danos.


SEGUE O TEXTO DE PIMENTA 

Ter opinião na política, mesmo na esquerda, nem sempre é o caminho mais fácil. Que diga meu amigo Wadih Damous quando junto comigo, na época em que ‘muita gente’ boa da esquerda flertava com o sucesso e popularidade da Lava Jato. Quantos ‘conselhos, recebemos sobre, a importância de não questionar a autonomia do MPF, o Juiz Moro e até mesmo para não sermos confundidos como ‘defensores de corruptos’ por enfrentarmos e denunciarmos os reais interesse da Lava Jato. Não falo com a Globo,  com a Veja,  nem com a RBS. Não passo off para jornalistas, nem faço luta política pela imprensa e sei que isso me reduz espaços.

Hoje quando olho o retrovisor sei como foi importante não vacilar e entrar de cabeça na defesa de Dilma e de Lula e como estamos perto de ver toda verdade revelada.  E Lula com seus direitos políticos recuperados.

Lembro na semana que Dilma foi afastada uma conversa com ministros onde a certeza de que o plenário não afastaria Dilma era quase uma unanimidade e planilhas e mais planilhas provavam que o impeachment era impossível.

Uma ilusão com as instituições, uma ingênua leitura da realidade ainda nutria ilusões: o senado vai impedir; o STF não vai permitir, etc, etc.

De certa forma esta infantil maneira de ignorar  a ‘luta de classes’ é que levou a um desprezo diante da importância de pelo menos termos tentado impedir  a eleição de Eduardo Cunha. Essa ingênua ilusão que fez petistas vibrarem com as indicações de Carmem Lúcia, Barroso e Fachin para o STF entre outros indicados que certamente ‘matariam no peito’ temas delicados.

Assistindo o que Trump está fazendo nos EUA para deslegitimar o resultado das eleições fico imaginando como alguns ainda insistem em não enxergar o que realmente está em jogo no Brasil. E lá os filhos dele não estão envolvidos com a Máfia, o FBI não está a serviço do crime organizado e pelo menos aparentemente Trump não teme ir parar em Bangu 8 do Tio Sam.

Bolsonaro avança de forma objetiva para controlar todas as estruturas do Estado. A PF, Receita Federal, Abin, setores do MPF e do judiciário já estão sob controle da famiglia. Com todas as limitações, a verdade é que o Parlamento ainda ‘não caiu’. A política no Brasil virou um caso de polícia desde a posse dos milicianos. Nunca se viu tamanha distribuição de cargos e dinheiro e as ameaças se tornam cada dia mais explícitas. Apoiar os candidatos do Governo rende dividendos e ajuda com certeza na reeleição de quem faz política como negócio. Não contem comigo .. não contem comigo, com certeza.

Não vejo alternativa de futuro que não passe pelo Lula. Acredito que o STF irá acolher o HC e reconhecerá que Lula nunca teve direito a um julgamento justo. Com isso ele terá seus direitos políticos restaurados e entra no jogo de 2022 ou até antes. A questão é que Brasil restará? Quanto Bolsonaro e sua gang ainda conseguirão desfigurar da CF88, da nossa soberania, da democracia, das nossas empresas públicas, dos direitos do povo brasileiro?? Que Brasil encontraremos ?

Quem acha que a eleição da Câmara e do Senado não tem nada a ver com isso,  me desculpe: não entendeu nada do que esta acontecendo. Quem acha que Lira já venceu e portanto apoiá-lo ajuda a ter emendas extras, me desculpe, estou em outra ‘vibe’. Quem acha que enfraquecer o bloco nos ajuda a ter ‘espaços’ na mesa, eu lamento o cinismo. Quem acha que é o momento de consolidar bases para 2022 é reduzir a política a lógica dos grupos, mandatos e corporações.

Acho que o que está em jogo é muito mais, e é por isso que tenho opinião, lado e não faço cálculos eleitorais. Acredito nos meus sonhos e dedico minha militância e minha vida todos os dia para tentar transformar eles em realidade.

Paulo Pimenta / PT/RS

Deputado Federal

 

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